Capítulo Único



Lágrimas e mais lágrimas escorriam pela face de Hermione. Ela simplesmente não conseguia controlar seus impulsos que vinham em forma de litros de água. Assim que tudo acontecera, fora correndo para o banheiro feminino, o qual estava há dois dias interditado devido a um vazamento. Lá parecia o lugar certo para ela se lamentar por alguém que não a merecia; alguém que lhe tinha dado esperanças de um provável sentimento. Só agora percebia que foram essas mesmas esperanças que lhe haviam conduzido para dentro de um poço profundo, do qual era difícil de escapar.
Hermione olhava para o seu próprio reflexo no espelho, mas era como se não enxergasse nada. Ela não fixava seu olhar em si mesma para não ver o que o amor fizera com a sua vida. Ela sabia que a imagem que veria seria o fruto de um sentimento impossível e, muito mais do que isso, seria tudo culpa de Draco Malfoy. Como ele pudera se aproximar dela e fingir que poderia existir algo entre eles? Seus encantos persuadiram-na para um caminho pelo qual nunca imaginara passar.
Ela foi até a pia e ligou a torneira para lavar o rosto e tentar melhorar sua aparência, por mais que isso parecesse impossível. A verdade era que enquanto sua alma não voltasse ao estado de antes, nada mais voltaria.
Fixou por um instante o seu olhar em um canto do espelho, o qual trazia o reflexo de um pedaço de papel. Por um momento, Hermione começou a imaginar como teria sido sua vida caso aquele papel, mais especificamente aquela carta, não tivesse chegado às suas mãos. Ela até já havia pensado em várias possibilidades para que aquele recado fosse falso e ela pudesse finalmente voltar para os braços de seu amado. No entanto era difícil enganar a si mesma, pois a verdade já havia se evidenciado e ela doía muito. 
Hermione tirou a sua atenção do espelho e de seu reflexo, concentrando-se somente na carta. Resolveu apanhá-la e relê-la com o intuito de se convencer, de uma vez por todas, de que o que estava acontecendo era, de fato, real.


“Hermione, você merece saber a verdade. Eu a iludi o tempo todo e o que tínhamos nunca existiu. Sim, é exatamente isso o que está pensando. Eu realmente fingi tudo e agora estou aqui, escrevendo esta carta para avisá-la de um jeito ou de outro que é para você me esquecer e seguir em frente. Não me arrependo do que tivemos, mas agora já chega. Quero manter distância de você e de tudo que tiver relação com a Grifinória e muito mais do que isso, com Potter. Talvez você realmente tenha tido algum sentimento por mim, porém agora isso não interessa. Eu não ligo para as lágrimas que você provavelmente derrame ou até mesmo para a raiva que você certamente irá sentir de mim daqui para frente. Se parar para pensar, você sempre sentiu raiva da minha pessoa desde que nos conhecemos, então faça de conta que esse sentimento nunca mudou. Simplesmente apague tudo o que aconteceu entre nós dois da tua memória. Não dirija mais a palavra a mim e tudo ficará bem. Você é inteligente e certamente consegue fazer isso. Volte a ficar com seus amiguinhos da Grifinória e me deixe em paz! Eu não quero mais nada de você.”


Draco Malfoy


O sangue de Hermione fervia dentro de suas veias. Seu coração estava devastado pelos restos de um amor enganoso, o qual a corrompia por dentro e por fora. Embora sentisse ódio do que estava acontecendo, o que mais a incomodava era o fato de, apesar de tudo, ainda amar aquele imbecil. O amor era um sentimento do qual ela nunca havia provado antes e parecia ser até mais forte do que seu corpo e alma, quase que incontrolável. Aquele fora um algo avassalador e que a pegara de surpresa. Descobrir que na verdade nada daquilo fora real era indescritível. A única coisa que a garota parecia saber fazer naquele momento era chorar como se não houvesse um amanhã.
Descontrolada, Hermione começou a rasgar a carta até não sobrar mais nada que pudesse ser lido ou ao menos reestruturado. Aquelas palavras só seriam do conhecimento dela e de quem as escrevera. Era humilhação demais mostrar aquilo para alguém, era humilhante demais admitir que cedera aos encantos de alguém tão desprezível. Ela havia se apaixonado por um garoto que não existia, já que Draco Malfoy sempre fora o mesmo cafajeste de sempre. Seu coração havia sido fisgado por alguém carinhoso, inteligente, sensato e amoroso, porém tudo não passara de um fingimento, uma mera máscara para ele conseguir provar da sangue-ruim.
Agora a carta jazia picotada no chão. Hermione estava tão absorta em sua raiva que nem ouvira passos de pés se chocando contra a água que estava vazando do banheiro. A garota nem se quer percebeu que uma nova imagem havia se projetado no espelho e ela nunca se quer imaginou que essa pessoa fosse Draco Malfoy.
- Eu queria fazer exatamente isso com essa carta. – disse ele enquanto observava os restos de papel que se encontravam no chão molhado.
Hermione esfregou o rosto e tentou esconder o fato de estar chorando. Não queria mostrar o quanto fraca na verdade era em relação a ele.
- Se preza a sua vida, vá embora enquanto pode. – As palavras saíram quase como um sussurro feroz. Ela estava tentando conter ao máximo sua raiva, porém com Draco Malfoy ali a sua frente, tudo ficava muito mais difícil.
- Hermione, me escute por um instante... – começou a murmurar ele.
- Não preciso escutar mais nada. – retrucou enraivecida – Eu já sei tudo o que era para eu saber! Eu li a sua carta Malfoy, não está óbvio?
- A carta! É justamente isso! – exclamou Malfoy se aproximando dela – Esse pedaço de pergaminho foi o maior erro que eu já cometi!
- Não quero saber dos seus erros! Tudo o que está escrito ali partiu o meu coração em uma quantidade de fragmentos que você jamais imaginaria contar! – respondeu Hermione se afastando dele.
- Não doeu mais para você do que para mim. – disse Draco com um fio de voz – Eu te amo Hermione.
- Pare! – gritou ela – Não me confunda mais do que eu já me confundiu! Não me faça sofrer mais, eu não vou aguentar! – Hermione caiu de joelhos no chão e começou a chorar ainda mais. Draco por sua vez, se aproximou dela e a abraçou. Seu abraço era quente e carinhoso, mas não mudava em nada a situação. Ela tentou rejeitar seus braços fortes, e não teve sucesso. Ele a agarrou como se precisasse disso tanto quanto ela. Malfoy afagou seu rosto e levantou seu olhar até o dele, de modo que ambos se encarassem.
- Eu escrevi aquilo tudo, pois queria te proteger. – começou a dizer – Ah Hermione, cada palavra que estava naquela carta rasgou meu peito como se fosse fogo.
- Eu não acredito em você! Só não entendo o que quer aqui agora! Você já teve o que queria, não vê o meu estado? - Ela tentou sair de seus braços, porém ele a abraçou mais forte ainda.
- Eu estou aqui porque simplesmente não aguentei pensar que você estaria sofrendo por causa de uma mentira. A carta é a única mentira dessa história. Eu amo você e nada poderia ser mais verdadeiro do que isso!
- O que você está dizendo?
- Estou dizendo que eu fui um idiota o tempo todo, mas um idiota cujo coração pertencia inteiramente a você. - Suas palavras soavam tão sinceras. Ele abaixou o olhar por um instante e suspirou. Sua expressão mostrava dor e vergonha. Era como se ele tivesse raiva e vergonha de si mesmo. - Eu estava fazendo um trabalho para Voldemort, Hermione. – explicou ele – E mesmo eu de fato não querendo, fui obrigado e não tive escolha. Se eu falhasse, não era só eu que sofreria as consequências, mas todos ligados a mim também! Se eles descobrissem sobre você... Eu nem quero imaginar. Eu tinha que te proteger! Eu tinha que saber que você estava fora de perigo. Então eu fiz o que fiz. A verdade é que eu me arrependo! Você foi a melhor coisa que já me aconteceu e agora eu simplesmente preciso disso pra viver.
- Então você só fez tudo aquilo porque...
- Porque eu te amo. – Disse ele por fim.
- Eu merecia saber o que estava acontecendo! Você podia ter me dito a verdade, Draco.
- A questão não era a verdade, mas sim a sua segurança. Você era tudo pra mim naquele momento e continua sendo até hoje. Mesmo que não me perdoe, o meu amor não vai morrer. Eu sempre vou dar a minha vida por você, mesmo que não queira.
Hermione olhou fundo em seus olhos e viu o garoto inseguro que há alguns meses ela descobrira. Lembrou dos momentos intensos que passaram juntos e de todo o amor que insidia em seu peito. Ela precisava dele, não importava o quanto as coisas estivessem difíceis e foi então que seus lábios se tocaram. Ambos sabiam que estavam pondo suas vidas em risco, sabiam que teriam de enfrentar todos os tipos de obstáculos para poderem ficar juntos, mas nada mais importava, pois eles tinham um ao outro.
- Você sabe no que está se metendo, não sabe? – perguntou ele assim que seus lábios se desgrudaram.
- Sei, mas nada importa desde que estejamos juntos. – respondeu Hermione abrindo um sorriso que ela nunca pensou que voltaria a dar - Nunca mais quero passar pelo que passei hoje.
- Não se preocupe com isso. - disse Malfoy - Só se preocupe com o fato de que o mundo está um inferno lá fora. Voldemort está a solta, nós podemos ser mortos...
- Eu já disse que não me importo! Você não entende que eu... - interrompeu Hermione.
- Você não me deixou terminar a frase. - Draco olhou para a garota a sua frente e soube mais do que nunca que ela era o seu passado, presente e futuro. Tudo o que ele mais queria era fazê-la feliz. - O que eu queria dizer é que o mundo está um inferno lá fora, Voldemort está à solta e podemos ser mortos, mas pelo menos eu posso ter a certeza de que ainda passarei o resto de minha existência, não importa o quanto pequena ela possa ser, ao seu lado. Nada poderia ser mais perfeito do que isso. – completou ele enfim.
Após ouvir as palavras de Draco, Hermione corou e sorriu apaixonadamente, acrescentando logo em seguida:
- É, parece que nem tudo está perdido afinal.
- Com certeza. – concordou ele – Mas só porque tenho você.

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