Sim ~ Kollynew
Sim
por Kollynew
E ela disse que me queria. E eu permaneci em silêncio, apenas por não ter coragem de responder.
E ela disse que tinha sonhos. E eu apenas respondi que não podia compartilhá-los.
E ela disse que eu tinha medo. E eu não contestei.
Naquela época eu já sabia o significado de uma escolha errada e eu não queria cometer um novo equívoco.
E eu disse “não”. E eu tive medo. E eu percebi tarde demais que o erro que eu temia cometer, já fora cometido. Eu não compreendi Ginny Weasley, pois tive medo.
E eu a deixei, e eu fugi. E Astória disse “sim”.
A palavra que eu mais desejava ouvir nunca me pareceu tão errada, pois não era a voz dela. Não havia os olhos castanhos, nem as sardas que sempre odiei. Não havia as risadas e ela já não zombava mais de mim. O ano terminou, a guerra acabou, os nossos sonhos se foram. Como eu sempre imaginei que aconteceria, e como sempre tive medo de admitir.
E foi justamente a minha falta de coragem que nos afastou, fazendo com que ela fosse sonhar em outros braços. E eu encontrei Astoria. E Astoria disse “sim”.
E a partir dali já não havia mais o castanho dos olhos de uma garota sardenta e respondona.
Pois, Astoria disse “sim”.
Mas tudo me incomodava, porque ela era tudo o que Ginny jamais seria. Ela, com seus olhos claros e cabelos escuros, irritava-me com suas palavras polidas e cheias de educação. Ao ver seus sorrisos comedidos, senti falta da espontaneidade, das risadas e da falta de modos. Em outros tempos eu me importaria com isso, mas nunca quis entrar em uma luta que colocaria uma vida inteira a perder. Nem mesmo por seus olhos castanhos e seus sorrisos.
Justamente por minha falta de coragem eu agora pertenço a Astoria e ela ao Harry...
Não é irônico como isso parece soar errado?
Já não importa, pois Astoria disse “sim”, colocando um fim nas esperanças que eu ainda tinha.
E não posso reclamar. Eu errei primeiro. Eu a vi primeiro, a notei antes mesmo que ela percebesse quem era de fato. Vi por trás do que parecia ser uma garota tímida, fascinada pelo herói. Eu percebi seus olhos, sua força e seus cabelos.
E eu nunca gostei de vermelho.
E eu sempre soube que nada se destacava quando essa cor estava por perto. Talvez apenas o castanho dos seus olhos, ou o amarelo do seu cachecol, ou até mesmo os lábios rosados que sempre tinham uma palavra malcriada e respondona.
E mesmo longe, ela ainda me intimida, não apenas pela cor dos seus cabelos.
Só que foi Astoria a dizer “sim”. E Ginny é como um fantasma que me assombra, como que para me mostrar que ainda vivo em um pesadelo.
E eu torci para que fosse mentira. E eu briguei com a minha própria consciência, pois fui eu quem errou primeiro. Nossos tempos não eram iguais, nossos pensamentos eram opostos. E eu nunca soube o que ela realmente imaginou que aconteceria quando eu disse “não”.
Não a deixei por medo. Ao menos tento me convencer de que essa não foi a verdadeira razão, mas sim por saber que não havia futuro para algo que tinha começado errado. Como pude ser tão covarde?
E eu disse “sim”, mas para a pessoa errada.
E eu olho para o meu passado recente e me pergunto se realmente foi melhor dessa forma. Com o tempo nós vamos crescer, formar nossas famílias e talvez esquecer. Apenas talvez, pois penso que o sentimento de que algo ficou inacabado sempre vai persistir em cada um de nós.
Mas Astoria disse “sim” e agora ela está ao meu lado. Minha família. E nada é mais importante do que isso, pois aos poucos as coisas retornarão aos seus lugares devidos.
E agora eu sei. E eu tento acreditar. E eu minto para mim mesmo a cada vez que digo que nunca gostei de vermelho.
N/A.: Ficlet escrita para o Projeto Broken do Forum 6 Vassouras
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