Capitulo 4



Quando chegou próximo às locações, Gina parou, maravilhada com o que via. Que fortuna havia sido gasta ali! Tudo era muito bonito e luxuoso. A piscina era enorme e cercada de todo o conforto. De um lado ficava o bar, com mesas, cadeiras e o telhado coberto de palha. Do outro, um restaurante, onde, no momento, havia muita gente fazendo refeições. Naturalmente, quem quisesse também poderia cozinhar no trailer, equipado com geladeira, congelador e forno de microondas, além do tradicional fogão.


 


Também o bar estava bastante frequentado. Todos tentavam amenizar o calor com uma cerveja gelada ou um suco. Gina sentiu vontade de nadar, mas lembrou que o verão na Espanha era muito forte e ela precisava tomar cuidado com sua pele. Seria um desastre, se numa cena aparecesse pálida e na outra vermelha.


 


Aliás, agora lastimava não ter lembrado de comprar um cha­péu de aba larga que a protegesse do sol. Mas, em seus últimos dias na Inglaterra, haviam surgido tantas coisas para resolver, que nem se lembrara. Ainda bem que tinha trazido os protetores solares. Carew lhe tinha dado uns vidros de presente e ela comprara outros.


 


Mas só isso não ia resolver. Tinha que providenciar logo um chapéu. Ainda era cedo, mas o sol brilhava intenso como se fosse meio-dia.


 


Precisava ficar num lugar onde houvesse sombra. Onde? Tal­vez fosse melhor ir acompanhar as filmagens. Nunca vira Harry dirigir e estava interessada em conhecer seu método. Será que ele era do tipo autoritário que deixava os atores tensos, ou os elogiava e animava, conseguindo o que queria explorando a vai­dade profissional de cada um?


 


Gina foi para o trailer da administração. Lá encontrou Lois.


 


— Sabe onde estão filmando hoje? Gostaria de ver como vão indo as coisas.


 


— Posso levá-la até lá, se quiser. Tenho que levar uns papéis importantes para o chefão. Podemos ir num dos jipes. — Lois olhou para a cabeça de Gina, os cabelos ainda mais brilhantes pela luz do dia. Talvez não seja da minha conta, mas... não deveria estar usando um chapéu?


 


— Devia mesmo, mas acabei esquecendo de comprar um em Londres. Amanhã cedo vou até a cidade e compro um. Sabe se alguém vai para lá?


 


— Não creio. Não temos nada para mandar e, além disso, o chefão disse ontem mesmo que não quer ver ninguém saindo para a cidade. Falou que já se perdeu muito tempo e que pre­cisamos recuperar as horas perdidas. Mas, naturalmente... — Lois sorriu — abrirá uma exceção para você. O grande Harry não vai querer que uma de suas artistas principais tenha insolação, não é? Principalmente quando ela é sua esposa!


 


Gina corou até a raiz dos cabelos. Não queria que ninguém fizesse concessões para ela. Além disso, tinha certeza de que Harry seria o último a abrir uma exceção a ela.


 


— O que é isso, Gina? Moças de hoje em dia já não coram mais! Se pretende sobreviver nessa selva, é melhor aprender a se controlar! Não tem filmado muito, não é? Por isso não está acostumada. Mas fique atenta, porque os homens aqui não es­colhem muito as palavras! Devia ter ouvido o que diziam esta manhã, depois que souberam quem você é.


 


— Ah, é? E o que disseram, Lois? Estou curiosa.


 


— Bem... disseram que você deve ser uma mulher e tanto, já que conseguiu prender o chefão. As notícias correm depressa aqui, Gina, e você sabe a fama que Harry tem... a de ser um homem muito viril!


 


Gina sorriu, mas nada comentou. Ela nunca esperara que Harry vivesse como um monge, depois que haviam se separado.


 


Era muito justo e natural que ele continuasse como sempre havia sido: o sonho de cada mulher que o via. Então, por que, ao ouvir aquilo, sentira esse ciúme absurdo, que parecia querer arrancar suas entranhas?


 


Lois levou-a até um jipe estacionado sob umas árvores.


 


— Suba, Gina. Num instante estaremos lá. As duas se acomodaram e o jipe partiu.


 


— O que estão filmando hoje? — Gina quis saber.


 


— Uma parte das Cruzadas, mais especificamente, a cena em que Ricardo e o sultão estão discutindo a respeito dos reféns muçulmanos.


 


—  Nossa, pela escala do trabalho que recebi, essa cena já deveria estar pronta há uma semana  — Gina comentou, ad­mirada.


 


— Tem razão, mas as filmagens estão atrasadas, porque uma das câmaras quebrou e teve que ser levada à cidade para con­serto. Chegou somente ontem. Veja... — Lois apontou para as muralhas de um castelo antigo. — Esse castelo está sendo usa­do como parte do cenário. Suas paredes, no filme, vão repre­sentar as muralhas de Acre.


 


Imediatamente, Gina localizou a cena em sua mente. Como represália à intransigência do sultão Salah-ed-Din em não sol­tar os prisioneiros cristãos, Ricardo I prendera alguns muçul­manos, durante a invasão de Acre, para depois matá-los a gol­pes de espada. Para um líder cristão, fora uma atitude bárbara, principalmente porque obrigara sua irmã e a esposa a presen­ciarem o ato.


 


O roteiro era baseado em fatos históricos, embora o autor tivesse misturado um pouco de ficção aos acontecimentos reais. Um dos personagens introduzidos na história para tornar a trama mais emocionante era o de um cavaleiro cristão, Philip, que supostamente se tornara amante de Ricardo. Segundo essa nova versão, Philip é capturado pelos muçulmanos e usado para chantagear Ricardo. Sabendo do envolvimento do cavaleiro com o rei, o sultão Salah-ed-Din propõe, em vez do resgate pedido pelo rei por seus homens, a vida do amante. Ricardo se recusa a entrar nesse jogo e, na mesma hora marcada para Salah-ed-Din enviar o resgate para o campo cristão, surge Philip, à mor­te, o corpo pálido amarrado a um magnífico cavalo árabe, o sangue escorrendo de seu ferimento fatal.


 


Gina chegou ao cenário e se juntou a um grupo de extras que observavam a filmagem. O velho castelo estava bastante destruído e dava uma incrível autenticidade à cena, com suas paredes estragadas, o sol brilhando nas pedras limosas. Uma fila de bandeiras tremulava ao vento, na base da muralha, onde se erguiam as tendas listradas do acampamento dos cristãos. Um pouco mais longe havia outro grupo de tendas, pertencente aos muçulmanos. A filmagem estava acontecendo numa dessas últimas.


 


O ator que vivia o papel do líder muçulmano estava sentado, impassível, as pernas cruzadas sob o corpo, vestido com um manto branco, enquanto meia dúzia de guerreiros ficava de pé, às suas costas.


 


Oposto a ele, num banco pequeno, os braços cruzados no peito, estava Draco. Gina ficou impressionada com a transfor­mação que viu. As roupas da época, a maquiagem, a pose ti­nham transformado o rapaz no poderoso Ricardo. Imediatamen­te Gina se viu transportada para o século XII, vivendo aqueles momentos de grande emoção.


 


Salah-ed-Din falava, a voz sem expressão, o sorriso cruel:


 


— É uma pena, majestade, mas ainda não conseguimos jun­tar o dinheiro necessário para o resgate que pede. Somos um povo pobre e arranjar dinheiro, para nós, é tão difícil como achar água no deserto.


 


— É estranho ouvir isso de um homem que leva no dedo um rubi tão grande como o ovo de uma pomba... — Ricardo falou com ironia. — Conhece meus termos. Se os reféns e o resgate não forem pagos dentro de um mês, os prisioneiros de Acre vão passar pelo fio da espada.


 


O líder muçulmano sorriu, mostrando os dentes escurecidos pelo fumo.


 


— Ora, majestade, como pode estar tão seguro de si mesmo? Acho que, dessa vez, eu vou sair vitorioso! Por que eu deveria lhe entregar tanto dinheiro, se tenho outros meios? — Ele fez uma pausa. — O chefe dos meus guerreiros me mandou um presente muito valioso. Vou lhe mostrar. — Ele bateu palmas. Gina sentiu que prendia a respiração, ansiosa por ver o que ia acontecer.


 


— É verdade que o rei da França vai nos deixar? — O sultão perguntou, quando seu guerreiro saiu.


 


— Não está em dia com as notícias — Ricardo respondeu. — Ele já se foi.


 


Houve barulho e movimento por trás da tenda que os atores ocupavam. Gina mordeu o lábio, em suspense. Era uma boba! Sabia que nada daquilo era real, e, no entanto, parecia estar vivendo uma cena histórica cheia de terror.


 


— Ah! Aqui está meu presente — o sultão exclamou com satisfação, quando seus homens voltaram, carregando o que parecia ser um pacote de trapos. — Traga-o aqui para que o rei Ricardo possa vê-lo.


 


Obedientes, os homens largaram a trouxa no chão. Um ho­mem estava ali dentro, a pele muito branca, horrivelmente fe­rida, o sangue manchando a palma de suas mãos, o cabelo es­curo, a respiração arfante e a túnica branca ostentando a cruz dos Cavaleiros de Malta.


 


— Levante a cabeça dele — o sultão ordenou.


 


Gina olhou para Ricardo. Ele estava totalmente absorvido pelo homem posto no chão.


 


— Meus homens estavam curiosos para testar o método pelo qual seu profeta Jesus morreu — Salah-ed-Din falou. — Feliz­mente, consegui controlar o entusiasmo deles antes que fossem longe demais.


 


A câmara chegou mais perto do ferido, se detendo nas palmas machucadas, no peito que vazava sangue, na testa rasgada e dilacerada.


 


Gina tremeu, apesar do calor da tarde.


 


— Ele não vai reconhecê-lo, meu caro rei — As palavras eram ditas lentamente, para aumentar o suplício de Ricardo. — Ele foi obrigado a tomar uma droga. Nossos médicos, no entanto, podem salvá-lo. Está em suas mãos. Esse homem, a quem tanto ama, lhe será dado como um belo presente, no lugar do resgate.


 


— Não!


 


A negativa escapou dos lábios crispados do rei, seu rosto uma máscara de sofrimento.


 


Gina prendeu a respiração de novo, e suas mãos se ume-deciam de suor.


 


— Não? — Salah-ed-Din tornou a perguntar.


 


— Não — Ricardo I respondeu, agora mais firme, com menos angústia. — Mesmo que os termos de nosso acordo fossem ape­nas um dinar e um prisioneiro, eles não poderiam ser alterados. Nem esse meu amigo querido gostaria que fossem. Ricardo se ajoelhou e passou a mão nos cabelos escuros do amigo. Depois tirou o sangue que se acumulava nos lábios inchados, para de­pois beijá-los numa agonia rápida. Em seguida se levantou e saiu da tenda. Antes, porém, virou-se e falou com voz potente:


 


— Você tem catorze dias para arranjar o dinheiro do resgate.


 


— Minha nossa! — Gina ouviu o comentário às suas costas.


 


—  Que gente corajosa! — Houve risos, mostrando o alívio da tensão.


 


— Pode mandar revelar — Harry disse ao seu assistente, para depois se aproximar de Draco.


 


—  Satisfeito, ó mestre? — Draco perguntou com ironia. — Não vou repetir a cena, Harry! Já suei até sangue por causa dela!


 


— Por isso mesmo conseguiu uma atuação de primeira clas­se! — Harry falou baixo, como se fosse só para ele escutar.


 


Mas Gina, ouvidos atentos, se surpreendeu com o elogio. Naturalmente, Draco tinha realmente feito um ótimo trabalho, mas Harry não era homem de fazer elogios.


 


—  Vou tirar este sangue do rosto — o ator que vivera o amante de Ricardo estava dizendo. Gina logo o reconheceu, era de uma série de televisão, em que fazia o papel de espião. — Não sei como se sente a respeito dessa cena, Draco, mas, para mim, a única maneira de fazê-la é fechando os olhos e pensando em você como uma garota sensual e cheia de curvas, que apenas está disfarçada com roupas de homem!


 


 


Todos riram com o comentário e os grupos começaram a se dispersar.


 


— Quer uma carona para voltar ao acampamento? — Draco se aproximou de Gina.


 


Antes que ela tivesse tempo de responder, Harry lhe segurou o braço.


 


—  Não é preciso, obrigado, Draco — Harry falou. — Ela vai voltar comigo, não é, querida? — Inclinou-se e pousou os lábios sobre os dela.


 


Gina foi tomada de tanta surpresa que nem conseguiu rea­gir. Apenas entreabriu os lábios, sentindo-se suspensa no es­paço, a cabeça zonza, um suspiro tentando escapar de sua gar­ganta. Fez um esforço para se afastar, mas Harry a mantinha apertada nos braços. Poucos segundos depois, ele moveu os lá­bios para as orelhas dela, causando-lhe um arrepio por todo corpo.


 


— Por favor... me solte... — ela murmurou em voz baixa.


 


— Me beije também, Gina — ele falou num fio de voz mas em tom bastante autoritário.


 


Gina sabia que o marido não a perdoaria, se ela não obe­decesse. Queria humilhá-la na frente de Draco, tinha certeza. Fechou os olhos e começou a beijá-lo de leve. As mãos de Harry se entrelaçaram em seus cabelos, forçando a cabeça dela para trás e prolongando o contato das bocas.


 


— Se isso é o melhor que pode fazer... então não é boa atriz, Gina.


 


— Fico tão furiosa quando me toca que nem consigo repre­sentar! Eu te odeio! — ela respondeu, notando que Draco havia se afastado.


 


Harry não a largou. Continuou a apertá-la nos braços e, com a língua, contornou a boca pequena, provocando-a, até que, num suspiro seguido de um gemido, ela entreabriu os lábios para recebê-lo.


 


— Se se atreve, diga de novo que me odeia — Harry falou depois, olhando-a profundamente.


 


Gina tinha as faces em fogo, os olhos brilhantes, fuzilando de raiva.


 


— Que pena que Draco não ficou aqui para comprovar o quan­to você me detesta — Harry falou com sarcasmo, e a soltou. — Talvez assim ele pudesse imaginar como me senti, ao encontrar vocês dois juntos, poucas horas depois de você ter afirmado que aceitava ser minha esposa.


 


— Onde está tentando chegar, Harry? — Encarou-o, o cabelo em desalinho. — Quer mostrar seu talento de ator? Merecia uma plateia para aplaudi-lo em pé! — Tremia de má­goa, dor e tristeza. — Estou cansada e gostaria de ir para o acampamento. Se não quiser me levar, posso voltar da mesma maneira como vim, com Lois.


 


— Você vai comigo. Nós já vamos embora.


 


Gina ficou observando os encarregados das câmaras en­quanto guardavam seus equipamentos. Outros cuidavam dos cenários. Concluiu que as filmagens do dia tinham terminado.


 


— Harry, meu querido, ainda vai demorar muito? — Sarah Frey surgiu de repente, com o andar ondulante de uma estrela.


 


— Vai ter que arranjar outra pessoa para levá-la, Sarah. Eu e Gina vamos à cidade.


 


Gina se virou e percebeu que a moça não tirava os olhos dela. Era o olhar de um inimigo.


 


— Ora, mas você não disse que nem atores nem funcionários podiam ir à cidade? — Sarah perguntou, com delicada ironia.


 


—  É verdade, mas posso mudar um pouco as regras para mim mesmo. Tenho bons motivos para isso. Eu e Gina nos reconciliamos há pouco tempo e vamos comemorar.


 


Harry pegou a mão de Gina e a levou aos lábios, para depois virá-la e passar a ponta da língua na pele sensível da palma. Mesmo contra sua vontade, ela teve que admitir, contrariada, que seu corpo era tomado de desejo. Harry e Sarah lhe observavam as reações.


 


—  Quero levar minha esposa para jantar fora. Não posso deixar a ocasião passar em branco.


 


Sarah mordeu o lábio com raiva. Não podia dizer nada, mas não quis se deixar vencer com tanta facilidade.


 


— RJ vai me telefonar mais tarde — ela falou, em declarado desafio. — Ele está sempre me perguntando como vão as fil­magens. Meu pobre amorzinho, está tão preocupado com o in­vestimento que fez! — Sarah passou a língua pelos lábios ver­melhos de batom. Achou que tinha alcançado seu objetivo. Suas palavras, embora veladas, queriam dizer exatamente: "Não brinque comigo, senão posso lhe causar problemas com um dos produtores".


 


— Não precisa se preocupar tanto, Sarah. Ele está muito sa­tisfeito. Falei com ele hoje de manhã e lhe contei que a câmara já tinha chegado e que podíamos prosseguir com o trabalho sem maiores problemas. Inclusive, até o convidei para vir aqui para verificar pessoalmente o que fazemos com os investimentos dos produtores.


 


Sarah deixou escapar um suspiro fundo, depois se virou e foi embora, cheia de raiva.


 


— Ufa! — Harry sacudiu a cabeça como um mergulhador quan­do surge na superfície. O sorriso no rosto fez com que ele pa­recesse muito mais jovem e atraente, mas Gina procurou não se deixar levar pela sensibilidade. Sabia com quem estava li­dando e Harry já havia derrubado muitas de suas defesas. Não, não ia permitir que isso acontecesse de novo! — Pegue seu cha­péu e vamos, Gina. Um casal de amigos nos convidou para jantar.


 


— É mesmo? Por que não me disse antes? Não posso ir a um jantar vestida assim! — Gina sentiu-se presa numa arma­dilha. Por que havia dito uma coisa tão boba, admitindo inclu­sive que ia acompanhá-lo? Não queria jantar com ele e ponto final. — E não adianta me mandar pegar o chapéu. Não tenho nenhum. Esqueci de comprar, em Londres. Mas amanhã vou cuidar disso.


 


— Precisa mesmo! Sabe qual é a temperatura aqui? Isso aqui é um forno! — Harry fez um gesto indicando o castelo e as pla­nícies desoladas do deserto. — E você, com essa pele fina e clara de ruiva, tem pouca resistência ao sol.


 


— Já me preveni. Passei bastante protetor solar no rosto e nos braços, antes de sair de casa.


 


— Sim, mas, que eu saiba, o protetor solar não foi feito para passar na cabeça, certo? E também estou preocupado com in­solação... Ele passou os dedos pelos cabelos, como se estivesse tentando se controlar. — Quanto a não estar convenientemente vestida para o jantar, podemos dar um jeito. Eu também gos­taria de tomar uma ducha, antes de ir. Portanto, vamos passar no trailer e nos arrumaremos como pede a ocasião.


 


— Mas então... então... Sarah poderia ter vindo conosco!


 


— Eu sei, mas já aguentei Sarah demais para um dia. Não queria levá-la.


 


— Não gosta dela, não é?


 


—  É uma caçadora de homens, e nem ao menos consegue ser útil. E você me conhece, Gina... — Ele se divertiu, vendo-a corar intensamente. Depois, com os olhos, percorreu lentamente o corpo bem-feito, detendo-se nos seios desenhados sob o tecido da blusa, nas coxas bem torneadas dentro do jeans apertado. — Sabe que eu é que sou o caçador.


 


— Um caçador cruel que gosta de machucar e destruir suas vítimas — Gina acrescentou com amargura. — Sim, conheço bem você...


 


— Então vai atender ao meu pedido de não querer que nin­guém desta companhia desconfie que não somos um casal feliz, que se reconciliou depois de anos de separação. Não tente agir de outra maneira, ou... vai se arrepender.


 


— Vou me arrepender... de novo? — Gina respondeu com raiva, e imediatamente o rosto de Harry ficou sombrio. — Que coisa mais monótona!


 


— Posso lhe garantir que nunca mais serei monótono, Gina. O inferno pode ter várias aparências, não acha?


 


Gina tremeu com o impacto da ameaça. Por que o destino os tinha colocado lado a lado novamente? Sabia por que Harry não queria que ninguém da companhia desconfiasse que eles não estavam felizes. Era apenas para evitar que tomassem co­nhecimento da história do seu caso com Draco. O pior é que algumas horas junto de Harry já eram suficientes para fazê-la sentir-se sob o domínio sensual que ele ainda exercia sobre ela. A confiança em si mesma, que havia conseguido criar depois da separação, começava a desmoronar... Será que ia aguentar tudo aquilo?


 


— Vou dar uma chegadinha até a administração e checar meu trabalho de amanhã — Gina avisou, enquanto Harry abria a porta do trailer. — Volto logo, enquanto isso, você toma seu banho.


 


— Está bem, mas não me obrigue a ir procurá-la, Gina.


 


O bar ao lado da piscina estava cheio, assim como o restau­rante, Gina cruzou-o e logo ouviu seu nome. Virou-se e encon­trou Lois.


 


— Estava à sua procura, Lois. Houve alguma mudança no que tenho marcado para amanhã?


 


— Não. Só aquilo mesmo: falar com a figurinista. Não quer sentar um pouco?


 


— Não posso, obrigada. Harry vai me levar para jantar.


 


—  Olhe, pelo jeito como o grande chefão se comportou com você hoje, pensei que não quisesse dividi-la com ninguém... nem mesmo num jantar.


 


Gina sabia que Lois estava apenas brincando, mas as pa­lavras da moça lhe trouxeram à mente a forma como tinha correspondido aos carinhos de Harry. Era incrível como ele havia conseguido fazê-la sentir-se vulnerável novamente.


 


— O que há com você, Gina? Como está pálida! — Draco se aproximou, segurando-lhe a mão.


 


— Estou bem, só tive uma vertigem. Já passou, deve ser o calor.


 


—  Está esgotada, isso sim. Também, depois do espetáculo com Harry, esta tarde, só podia estar exausta. Sabe por que ele age assim, não é? Está usando você para manter Sarah a dis­tância. Harry acha que, arrumando uma esposa, vai conseguir se livrar de Sarah e ainda manter RJ como produtor. Ele sempre foi muito esperto, tenho que reconhecer. Por isso, tenha cuida­do, Gina. Não mergulhe nisso mais fundo do que precisa. Se conheço Harry, ele vai fazer de tudo para que sua reconciliação pareça verdadeira, — Draco olhou para a mão de Gina, que desaparecia na sua. — Não sou um anjo, mas pelo menos uso o sexo com um pouco mais de emoção. Harry é um diabo sem coração. Sempre foi assim.


 


—  O que está tentando me dizer Draco? — Gina estava nervosa. Está procurando me prevenir, insinuando que Harry po­derá querer... fazer amor comigo? — conseguiu falar, sentindo um tremor passar por seu corpo à simples idéia de ir para a cama com o marido.


 


— É melhor acreditar em mim. Ele deseja você, Gina. Os olhos denunciam o que ele sente.


 


— Não! Está enganado, Draco!


 


— Mas por que seu coração bate tão depressa? Sim, ele a deseja, Gina. Ele a quer porque teme que eu a roube dele. Harry sempre foi um mau perdedor, esqueceu?


 


Gina retirou a mão, sentindo a angústia tomar conta de seu coração. Deus! Não agora! Não queria que Draco lhe lem­brasse o passado, que já tinha lhe causado tanta dor! O sofri­mento ainda corroía sua alma, destruindo sua fé no ser humano, na sua capacidade de amar, de se entregar a um homem... A traição de Harry a seu amor ainda estava muito nítida em sua memória. Ele havia usado palavras doces e ternas e a cegara com as promessas de um futuro. Ela, muito tola, tinha acredi­tado! E tudo não passara de um jogo sujo!


 


Como um autômato, afastou-se do bar. Pouco depois se viu diante do trailer. O Sol estava se pondo, tornando as nuvens cor-de-rosa. Ainda sob a emoção das lembranças, ela parou de andar, um nó se formando em sua garganta, impedindo-a de respirar direito. Preferia não entrar no trailer e, ao mesmo tem­po, temia as consequências, se não o fizesse.


 


Segurou o trinco e a porta se abriu. Harry estava ali, uma toalha amarrada em torno da cintura, os cabelos ainda molha­dos pingando em suas costas. Como ele era bonito e másculo! Gina não conseguia afastar os olhos, consciente do fascínio daquele corpo atlético e viril sobre ela.


 


— Vai ficar aí a noite toda? — ele perguntou, impaciente. — Você sempre consegue atrasar as coisas importantes, não é, Gina? Ainda me lembro de como demorou a fazer aquela cena em Shakespeare, em que eu finalmente a carregava para a cama. Talvez por isso tenha resolvido casar comigo, mesmo dese­jando Draco. A propósito, quanto tempo durou seu caso com ele? Gina tremia tanto que precisou se apoiar na parede.


 


— O que é isso, Gina? Está tremendo como uma virgem que nunca lidou com um homem antes! Mas nós dois sabemos que isso não é verdade. — Harry não tirava os olhos do rosto que alternava o rubor intenso com a palidez mortal. — Ora, minha cara, aquilo não foi tão importante assim, foi? Não depois que teve Draco para fazê-la esquecer a única vez que estivemos juntos!


 


— Não... — ela ia dizer que isso não era verdade, mas era melhor que Harry a encarasse como uma mulher vivida, e não como uma tola. Mudou de idéia: — Não acha que está dizendo coisas muito baixas?


 


—  Bem, pelo menos eu só digo, ao passo que você faz! — Seguiu-se uma pausa tensa, antes de Harry falar outra vez: — É melhor ir se arrumar. Não precisa pôr uma roupa muito for­mal. Vamos jantar com um casal espanhol bastante descontraí­do. Leve um casaco, pois a previsão diz que vai chover.


 


—  Harry... — Ela se armou de coragem para falar. — Não poderíamos fazer uma espécie de trégua, pelo menos enquanto duram as filmagens? — finalmente pediu. Não suportava con­tinuar a receber sucessivos ataques e acusações do marido.


 


- Uma trégua? — Ele riu com vontade. — Nada disso, Gina. Não é o que pretendo. Bem, o banheiro já está livre. Poderíamos tê-lo usado juntos, mas sempre foi um tanto puritana, não é? Ou... Draco conseguiu modificá-la?


 


Puritana! Gina sentiu como se Harry tivesse cravado uma faca em seu coração. Sabia que tinha sido tímida e inexperiente, quando fizera amor com ele, mas isso não justificava que a rotulasse de puritana. Pelo contrário, havia se entregado sem reservas.


 


— Isso você nunca vai descobrir! — ela falou com raiva, en­trando no banheiro. Não se deu conta de que, da forma como falou, a afirmativa mais parecia um desafio do que uma certeza.


 


Entrou no banheiro e, apesar da porta trancada, sentiu-se desprotegida. Depois do banho, colocou um vestido de seda azul que tinha um discreto decote nas costas. Deixou os cabelos caírem naturalmente sobre os ombros e foi ao encontro de Harry. Ele a observou de alto a baixo.


 


— Algum problema com minha roupa?


 


— Nenhum. Acho apenas que vai se dar bem com nosso an­fitrião. Ele tem idéias meio antiquadas.


 


— Pois me considero bem moderna e...


 


— Não acho, e isso me deixa intrigado. Como conseguiu ser amante de Draco e manter suas idéias puritanas? Ou você o amava tanto que conseguiu calar a própria consciência?


 


— Não... não quero falar sobre isso — ela respondeu, procu­rando manter a dignidade, embora se sentisse desesperada. — O passado já não existe, Harry. Não quero me lembrar dele.


 


— Lógico que você não quer! Gostaria de ter a mesma faci­lidade para esquecer!


 


Com raiva, Harry abriu-lhe a porta. Na passagem estreita, ela esbarrou nele, sentindo o calor e a intensa sensualidade que emanavam clele. Foi como se um choque elétrico atravessasse seu corpo.


 


Naquele instante, o tempo em que ficaram separados parecia não ter existido. Então, não havia aprendido nada com seu so­frimento? Continuava a ser a mesma garota bobinha que en­contrara o grande amor de sua vida?


 


Porque, ela tinha que admitir agora, ainda amava Harry, como uma louca ou uma tola, não sabia dizer. A verdade é que ainda o amava desesperadamente!


 


 


 


 


(...)


 


 


 


 


Ana Eulina: Entendo o seu lado, não andei postando antes porque tava e to sem tempo. O estudos andam me tirando todo o tempo.


 


Isa Kolyniak : POKSOOKASOKAOSKOAKSOKAS´ Não vai prestar mesmo :D


 


 


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