A queda de uma guerreira



Já eram quase nove horas naquele dia, quando Harry Potter decidiu subir as escadas para o dormitório a fim de descansar. O dia não fora como planejara e, talvez por isso, estava exausto. Ao deitar em seu dossel, Harry ainda ficou observando os flocos de neve, como pequenas faíscas, descerem velozes cortando o céu. Estava muito frio lá fora, mas ali, no aconchego de suas cobertas, ele estava muito bem, apesar de ter um persistente arrepio cruzando seu braço e levantando-lhe os pêlos como se estivesse com muito frio.



Ainda era muito cedo para dormir, portanto, Harry decidiu ler um dos livros sugeridos pelo professor Snape sobre Poções Ludibriantes. Uma vez que decidira seguir a carreira de Auror, Harry agora tinha uma missão muito importante nos estudos: recuperar-se na matéria do professor Snape que já havia declarado que só aceitava excelentes alunos em sua sala de aula.
Harry abriu o livro lentamente. Quando o livro finalmente se abriu, Harry sentiu uma sensação muito ruim. Ele estava com medo, mas não sabia do que. Tentava em vão controlar as batidas de seu coração sem que obtivesse sucesso. Então aconteceu: uma força estranha espalhou-se sobre seu corpo, trazendo em seguida uma dor tão forte que ele não pode suportar. Quando Harry estava quase perdendo os sentidos, a dor subitamente cessou.



Harry suava intensamente e levou alguns segundos para conseguir raciocinar. Seu cérebro e seu coração pareciam estar sobre um peso descomunal. Ainda muito debilitado olhou para o relógio de ponteiros luminosos: ERAM NOVE HORAS EM PONTO.....



Harry sentou-se na cama muito confuso. Não imaginava o que poderia ser aquilo que acabara de lhe acometer. No entanto, restava ainda uma desconfiança, um pressentimento de que algo não estava bem. Ainda fraco e muito mais cansado do que estava quando resolveu subir as escadas, Harry desceu para a sala comunal, onde Rony e Simas jogavam animados uma partida de xadrez de bruxo, tendo como espectadores Neville e Dino. Parvati e Lilá falavam a um canto com os irmãos Creevey e fora seu próprio desgrenho, tudo parecia estar perfeitamente bem. No entanto, faltava uma pessoa a quem verificar: Hermione Granger.



Quando ele finalmente moveu-se em direção à saída, a tela do quadro da mulher gorda girou nas dobradiças para dar passagem à professora Minerva e ao Professor Snape, ambos com uma feição estranhamente preocupada.



- Sr. Potter, queira nos acompanhar – falou o professor Snape, os lábios comprimidos como se estivesse com raiva de alguma coisa.



- Posso ir junto? – perguntou Rony, levantando-se de súbito.



- Sim, Sr. Weasley, o senhor também. – disse a professora Minerva, girando nos calcanhares e apressando o passo para juntar-se ao professor Snape que já saía da sala comunal.



Harry e Rony acompanharam os professores em silêncio por alguns corredores conhecidos. Harry sabia que estavam indo em direção à sala de Dumbledore.



- Aconteceu algo? – Harry perguntou. Mas nenhum dos professores quis responder. Minerva marejou os olhos. Parecia estar muito perturbada.



- Algo com Hermione? – Harry tornou a indagar, mas desta vez tanto Mcgonagal como Snape pararam de chofre para contemplá-lo.



- O que sabe sobre Hermione, Sr. Potter. Se a ajudou nesta tolice saiba que... – começou Snape a falar.



- Que tolice? O que aconteceu? – Rony interrompeu-o preocupado.



- Potter, por favor, por acaso você sabe o paradeiro de sua amiga Hermione? – perguntou a professora Minerva, chorosa.



- Não sabem onde ela está? – perguntou Harry assustado, começando a sentir pavor dentro de si. Sabia que aquele pressentimento não era coisa boa. Sabia que era algo muito grave, mas não sabia o que. Não queria pensar no pior.



- Achamos que a Senhorita Granger fugiu – admitiu o professor Snape.



- Não, ela prometeu que jamais o faria novamente, e eu sei que Hermione falava sério. Ela não é uma garota inconseqüente.



- Mas é o que parece. – alfinetou Snape - E se não a acharmos logo, o professor Dumbledore vai ficar furioso conosco.



- Por que eu ficaria furioso com vocês, Severo? – perguntou o diretor, surgindo no corredor em que estavam com uma expressão séria e preocupada.



- Alvo, achamos que a menina Granger fugiu. – contou a professora Minerva, olhando para o diretor como se ele pudesse resolver todos os problemas do mundo. Diante do acontecido, até Harry olhava para Dumbledore como se ele pudesse resolver tudo num simples movimento de sua varinha. Mas o professor parecia impassível, não fosse por uma ruga muito acentuada em sua testa.



- Procuraram em todo o castelo?



- Sim. – Snape e Macgonagal responderam.



- Nos jardins e na orla da floresta?



- Sim, Alvo, eu procurei. – Minerva declarou.



- Na floresta?



- Eu procurei, diretor, e Hagrid continua fazendo buscas. Ainda não a encontramos. – respondeu o professor Snape.



Dumbledore pensou, o que pareceu a Harry, por uma eternidade, antes de falar.



- Então não há outra coisa a fazer: vou alertar a Ordem de Fênix para que, Deus queira, eles a encontrem antes de... – Dumbledore olhou para Harry que continuou imóvel - ... Voldemort. E também alertarei o Ministério.



- NÃO! – gritou Harry – Não podemos alertar o Ministério. Se o ministro souber vai mandar os dementadores atrás de Hermione.



- Dementadores são uma escolha bem melhor a Voldemort, Harry – respondeu o diretor num tom sereno, apesar da gravidade da situação. – Consta-me que o senhor mesmo ensinou pessoalmente o feitiço do patrono a srta. Granger, não? E Fudge, embora muito inútil às vezes, possui um exercito muito maior que a Ordem da Fênix.



- Não, professor Dumbledore – Harry interpôs – não posso permitir isso. Tudo isso foi minha culpa e não quero que nada de mal aconteça a Hermione por minha culpa. Deixe-me procurá-la. Dê-me 24 horas, ao menos. É tudo o que eu peço para procurá-la pessoalmente.



- Isto é o que menos queremos, Harry. – respondeu o diretor – Não é uma boa idéia você fazer buscas atrás de Hermione sozinho. Não permitirei que saia de Hogwarts.



- Mas Hermione...



- Não, Harry. Eu vou fazer tudo o que eu puder para salvar Hermione, mas isto não.



- Não posso conviver com esta culpa... – Harry começou a falar, mas Dumbledore o impediu.



- Venha a minha sala, Harry, o senhor também, Sr. Weasley. Severus, Minerva, continuem as buscas.



Harry e Rony continuaram pelo corredor atrás de Dumbledore. Logo subiram a gárgula de pedra e alcançaram o escritório do diretor.



- Sentem-se. – Dumbledore esperou que Rony e Harry sentassem para dar a volta em sua mesa e sentar-se defronte a eles.



Harry esperou que Dumbledore falasse, mas este apenas cruzou as mãos sobre o abdômen, fitando os garotos com uma expressão paternal.



- E então? – Dumbledore perguntou por fim.



- Então, o que? – perguntou Rony, confuso. – Não estou entendendo.
Harry entendia...




TRÊS MESES ATRÁS....



Em Little Winging (Capítulo 2)



- Eu ainda não acredito que eles estão mortos. Acho que a qualquer momento eu vou receber uma coruja dizendo que eles estão a salvo... – Hermione começou a chorar novamente. Harry enxugou com os dedos suas lágrimas.



- Tem uma coisa que não entendi. Você disse que Malfoy não só te salvou como alertou sobre o ataque aos Weasley’s?



- Sim, isto mesmo. Se não fosse por ele, eu estaria morta também.



- Mas... – Harry balançou a cabeça, como se não entendesse. – Ele não gosta de você, nunca gostou. Sempre te chamou de “sangue-ruim” e o pai dele foi preso por nossa causa...



- Eu sei, Harry. Também não entendi. Acho que talvez Draco não seja tão mau assim.



- Hum... eu duvido...



Harry parou de falar subitamente. Um barulho chamara sua atenção. Sobre o parapeito da janela da cozinha, uma coruja branca balançava as asas.
Ele abriu a janela para Edwiges que sobrevoou o aposento vindo pousar bem perto de Hermione que a acariciou perdida ainda em pensamentos.
Harry retirou o pedaço de papel que sua coruja lhe trouxera e abriu o pergaminho. Era uma carta de Dumbledore.




“Prezado Harry,




Certifiquei-me pessoalmente de que os Weasley não foram atacados. Tampouco creio que um dia serão: Molly é uma excelente auror.
Há muito tempo desconfio que Voldemort tem feito muito mais do que incutido pensamentos em sua mente. É minha opinião de que Tom tenha varrido sua mente a procura de qualquer indicio que possa comprometer sua vida. O ataque de Hermione foi uma prova disto. Voldemort sabe que ela é muito importante para você. Proteja-a. Não a deixe sair da casa de seus tios até que tenhamos um plano.
Voldemort sabe que agora você esta fazendo Oclumencia, não há como atingi-lo mais. A única maneira é utilizar alguém a quem você confia. Ele poderia ter seu amigo Rony como alvo, mas é Hermione que oferece maior perigo. O discernimento de Hermione, em muitos momentos de sua vida, Harry, foram vitais para sua segurança. Voldemort sabe que Hermione é seu braço direito. Sem ela, você ficará em desvantagem nesta batalha que promete ser a pior do mundo místico, tanto que ela é tão importante quanto VOCÊ. Ela já sabe disto. Você é quem precisa saber agora.



Alvo Dumbledore”.



- De quem é, Harry? – Hermione perguntou. Harry olhou para a amiga e mesmo não sabendo a razão, quis protegê-la de certas informações que pudessem perturbá-la ainda mais.



- Rony. Ele disse que já está no Largo Grimmauld. – mentiu Harry.



- Os Weasley estão bem?



- Sim, estão todos bem.



Harry ficou muito abalado com o que Dumbledore revelara, embora, no fundo, já constatasse isto no momento em que Hermione aparecera em sua porta.



Hermione terminou a sopa que ele lhe preparara e subiu para o quarto que ele costumava usar. Ele foi deitar-se sobre a cama no armário que agora, depois de quatro anos, tinha mais aranhas do que quando a ocupava. Ele não conseguiu dormir pensando em Hermione durante toda a noite. Depois de revirar-se umas cinqüenta vezes, Harry resolveu levantar-se e conferir se Hermione estava bem.



Ele subiu lentamente as escadas para não fazer barulho e entrou no quarto. Estava muito escuro no inicio, mas depois se acostumou a escuridão e fechou a porta atrás de si.



Hermione dormia profunda e tranqüilamente. Sobre o criado-mudo, Harry viu a garrafa de um remédio que tia Petúnia utilizava sempre para dormir. Com certeza a tia dera à garota para ajudar-lhe a dormir, depois de tantas coisas ruins que a acometeram naquele dia.



Harry sentou-se na beirada da cama, de modo que pudesse contemplá-la melhor. Tirou alguns fios de cabelo que teimavam em cair-lhe sobre o rosto. Ela parecia tão linda, apenas sob a luz fraca do luar. Harry nunca a tinha visto daquela maneira. Ela parecia tão desprotegida e ao mesmo tempo tão sedutora!



Não queria pensar no que faria se acontecesse algo de ruim a Hermione. Faria qualquer coisa para protegê-la, nem que para isso rompesse os laços de amizade e carinho que havia entre eles. Talvez, assim Voldemort se convencesse de que ela não era tão importante como achava e desistisse de persegui-la.





DIAS ATUAIS....




- E então, Harry? – Dumbledore perguntou novamente.



- Eu tive que fazer o que fiz, não? – Harry perguntou a Dumbledore.


Sim. Sim... – Dumbledore respondeu.



O velho levantou-se da cadeira e começou a perambular pela sala, vindo parar ao lado de Fawkes. A ave notadamente gostava de Dubledore, pois levantou o pescoço para bicar carinhosamente a face do velho.



- O único trunfo que possuímos é que Voldemort ainda não sabe o que diz a profecia.



Harry não compreendia o que Dubledore quis dizer, Rony ao seu lado tampouco, já que este fazia caretas de incompreensibilidade.



- A verdade é dura e cruel mas é a melhor arma que possuímos. Eu mesmo, um velho tolo, me certifiquei disto no ano passado. Até hoje a morte de Sirius me alarma. A culpa me consome, Harry, foi isto o que eu quis lhe dizer a dois meses atrás. Eu quis proteger-lhe durante toda a sua vida... da verdade, Harry, da verdade. Porque julgava que era um peso grande demais para sua vida. Você estava tão feliz. E eu cometi erro em cima de erro redimindo-me cada vez mais com falsos argumentos: eu queria protegê-lo. Isto custou a vida de um homem bom. Custou a vida do seu padrinho. Custou a vida de um guerreiro que iria lutar do nosso lado nesta guerra. É isto o que estou tentando dizer este tempo todo, Harry. GUERRA! Estamos em guerra e não podemos mais pensar individualmente ou morreremos todos. Um por um, guerreiro por guerreiro. E Voldemort é esperto, vai lhe tirar os guerreiros mais importantes.



- A verdade... – Harry repetiu para si mesmo. – Eu não podia dizer a verdade. Eu compreendo agora o que o senhor tentou fazer por mim. O senhor quis proteger-me, e eu só quis protegê-la e agora a arremessei contra meu pior inimigo. É minha culpa se acontecer algo a Hermione. Eu preciso fazer alguma coisa, eu preciso procurá-la.



- Harry. Sei que por mais que eu queira, eu não posso impedi-lo, mas sair à procura de hermione sem saber seu paradeiro só vai fazer você cair nas garras de Voldemort. Afinal não sabemos se ele está com ela. Devemos ser prudentes.



- Eu acho que está! – Harry respondeu.



Dumbledore virou-se para ele.



- Eu sinto que está – Harry repetiu.



- Sente? – Dumbledore perguntou, franzindo o cenho – Como?



- Não sei, não consigo explicar. Agora a pouco tive um mau pressentimento. Uma dor. Como se alguém tivesse me lançado um feitiço muito poderoso. Mas não havia ninguém lá. E isto aconteceu antes.



- Quando? – Dumbledore tornou a perguntar.



- Quando os pais de Hermione foram atacados. Eu senti que tinha alguma coisa errada. Quando eu a vi na porta da casa de meus tios eu sabia que o que eu tinha sentido dizia respeito aos sentimentos de Hermione. E...



- E...?



- Durante todas as noites... quando Hermione estava em Azkaban.... todas as noites eu era assolado por lembranças terríveis. Lembranças que não eram minhas....



Dumbledore parecia amedrontado pela primeira vez.



-E o senhor disse que sentiu dor agora pouco não?



- Sim.



- E depois...



- Nada.



- Nada? Nem dor, alívio?



- Nada. Por que?



- Você precisa ser forte, Harry.



- Por que?



- Temo que Hermione não esteja mais entre nós.



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