n. remo lupin.



ESPECIAL "O Vencedor Leva Tudo" - baile de formatura
narrador onisciente à(ao) personagem: Remo L.



I swore I'd never fall again, but this don't even feel like falling
Gravity can't forget, to pull me back to the ground again


 Remo quase tropeçou nas vestes de gala na terceira vez em que foi e voltou no mesmo lugar, no tapete do salão comunal, e também quase trombou em um aluno do terceiro ano que parecia decididamente tão nervoso quanto ele. Murmurou um pedido de desculpas automático e tornou a passar as mãos pelos cabelos, e a conferir o relógio.


 Estava tudo em sua cabeça. Era só chegar até ela e dizer: não tinha erro nenhum. As decisões estavam feitas e muito bem digeridas e pensadas. Nada do que ele pudesse se arrepender... só lamentar.


 Pela sétima vez, conferiu o relógio. Ainda faltavam quinze minutos, e se ele fosse até a cozinha e voltasse? Não, provavelmente gastaria muito tempo e ela estaria esperando no salão comunal quando voltasse. Aliás, não podia parecer tão nervoso. Mas que diabos, como disfarçar aquela porra de nervosismo enorme?


 - Não faz isso com os seus cabelos, Lupin – uma voz feminina falou perto da lareira de um jeito divertido – eles são bonitos, sabe.


 Remo virou-se para olhar Dora. Ela estava vestida para o baile – muito bem vestida, por sinal, ele concluiu – e estava sentada calmamente na poltrona, os ombros relaxados. O contraste foi quase sinistro – e ele riu, tentando amassar os cabelos.


 - Olá, Dora – ele cumprimentou com a voz meio rouca pela falta de uso.


 Ele havia ficado quieto o tempo todo, tentado a não meter a mão na cara de James, que voltava ao assunto Dorcas/fim do relacionamento a cada minuto. Ele também se segurou para não dar um chute no traseiro de Sirius quando soube que ele e Marlene haviam “terminado de vez” de novo – que raios, eles podiam ficar juntos e bem! Não estavam destinados a nada e...


 - Olá, Remo – ela respondeu, sorrindo com os dentes brilhantes, e levantou-se graciosamente.


 Dora Tonks foi até ele, hesitante, como se pedisse permissão para se aproximar, e sem notar resistência da parte dele, ficou na ponta dos pés para ajeitar seu cabelo.


 - Então, eu diria que você está um tanto nervoso. Coisa de primeiro encontro?


 Ele riu, um pouco afobado.


 - Quem me dera. Está mais pra coisa de... bem. Sei lá. Eu estou nervoso.


 - Suas respostas sempre me deixam meio por fora, sabia?


 - Pode querer dizer que eu não quero que saiba, Dora – ele sorriu torto.


 Ela parou de ajeitar os cabelos dele e sua expressão divertida escorreu até seus pés, indo finalmente embora. Os pés dela voltavam a tocar o chão com um barulho do salto – no geral, ela era bem menor que Remo. Bem menor que todos eles, talvez por estar no terceiro ano ou talvez por ser realmente anêmica.


 - Ah, me desculpe falar assim com você – ele apressou-se em dizer quando ela ficou impassível – estou nervoso com algumas coisas que eu não posso... compartilhar.


 Ela deu um sorriso torto, mas afastou-se dele e olhou para os lados.


 - Tudo bem – falou.


 - Hey, gente – antes que Remo implorasse desculpas de novo (o estado de ansiedade aumentava sua culpa em vários graus nas situações mais estúpidas), Emmeline Vance chegou até eles em um andar gingado com seus saltos altos.


 Remo deu uma boa olhada nela antes de cumprimentá-la. Os cabelos loiros, soltos como cascata pelas costas, e a pele pálida faziam um contraste com o vestido preto que apertava suas curvas e mostrava suas belas pernas. Ele sentiu-se corar quando ergueu os olhos e ela estava sorrindo abertamente para ele.


 - Olá, Emme – ele sorriu, amistoso – então, a Dorcas...


 - Ah, ela já está descendo, pediu pra eu te avisar – ela falou de um jeito rápido, como se não tivesse real importância.


 - Certo – ele murmurou.


 - Então, Emmeline, ouvi dizer que vai com Amos. – Dora falou.


 - É. Ele me convidou ontem.


 - Ontem?! – a outra retrucou, alto – quer dizer... meio tarde, certo?


 - Hãm, não. Na verdade, eu estava esperando alguém... bem...


 Ela deu uma olhada para Remo, que desviou os olhos no mesmo momento. Ele ouvira falar que ela tinha uma queda por ele. Assim como ouvira falar que Dora Tonks tinha um precipício. As duas eram encantadoras – como ele dizia – e inteligentes, boas de conversar. Nenhuma delas poderia substituir Dorcas Meadowes à altura. Arght, o que estava pensando? Ninguém merecia alguém como ele.


 - É, eu vou sozinha – Dora começou a falar, empinando o queixo – também esperei... Dizem que a esperança é mesmo a última que morre.


 - O duro é que ela morre, querida – Emme falou, dando um risinho de lado.


 - Inevitável.


 - Infalível – riu a loira, e a outra a acompanhou depois de fazer uma expressão melancólica.


 Remo estava pensando se as duas estavam fazendo isso para torturá-lo ou diverti-lo. Ele riu, e as duas o olharam de soslaio. De repente, Emme fez uma careta e espirrou três vezes seguidas e rápidas, xingando baixinho depois.


 Dora riu alto e Remo ergueu as duas sobrancelhas para ela.


 - Está doente? – ele perguntou, um pouco preocupado.


 - Eu não aconselharia ninguém ir à um baile com uma gripe, sabe.


 Emme deu uma risadinha falsa para ela:


 - Para infelicidade geral da nação, isso é só uma alergia. Uma garota derrubou pó de arroz no chão e eu fui ajudá-la a limpar... enfim. Eu não sabia que era pó de arroz misturado com pó de borboleta pro efeito durar mais, e me ferrei.


 - Mesmo assim! – Dora continuou, provocando – imagine só, você estará dançando e de repente... o rosto do menino na sua frente está todo melecado. Urgh!


 Remo tentou não rir por causa da expressão furiosa da outra.


 - Isso não é um problema – Emme emburrou, cruzando os braços.


 - Por que não? – Dora continuou.


 - Porque eu vou com Amos Diggory. – ela frisou o nome acidamente.


 - E daí? Ele é lindo!


 Remo revirou os olhos enquanto acompanhava a conversa delas.


 - Mas ele é chato. – ela enfatizou de novo, e revirou os olhos – sinceramente? Não sei como a Marlene McKinnon suportou namorar tanto tempo com ele. Quer dizer, tem horas que ele é legal e tudo, e até conta umas piadas... inteligentes. Mas tem horas, principalmente quando o Black passa por ele, eu acho, que é mais entediante que o professor Flitwick.


 Dora riu.


 - E olha que isso não é fácil! – ela mesma completou, e os três riram.


 - Agora que eu estou pensando, você tem razão isso do Black... – Dora estava falando, mas de repente, de repente, a escadaria do dormitório feminino ficou incrivelmente mais interessante para Remo.


 Sem entender exatamente como percebeu que ela estava descendo, ele ergueu os olhos e encontrou-a, e não conseguiu articular nenhum pensamento, quanto mais prestar atenção na conversa das meninas. Dorcas estava com um vestido dourado que tinha um decote tentador, na opinião dele, e que valorizava as curvas da morena até a metade da coxa. Os cabelos castanhos dela estavam enrolados levemente nas pontas, e a franja presa por uma fivela com brilhantes. E, mais rápido do que imaginou que ia acontecer sob aquele sorriso, os nervos de Remo acalmaram-se, e suas dúvidas e angústias se dissiparam.


 As vozes ao seu redor foram lentamente diminuindo até que ele empertigou-se entre as duas e foi até o fim da escadaria, sem desviar o olhar de Dorcas, que se derreteu por um instante e mordeu os lábios inferiores, corando. Ela alcançou-o no último degrau, sorrindo com todos os dentes brancos e perfeitos. Remo sentiu o rosto corar de prazer ao pensar que aquele sorriso era só dele, e inclinou-se para falar no ouvido dela:


 - Eu não tenho palavras pra descrever o quanto está perfeita...


 Ele percebeu que ela continuou sorrindo, pelas maçãs rosadas da bochecha, e notou a pele arrepiada no pescoço. Remo inspirou o perfume floral dela por alguns instantes, e depois afastou-se um pouco, dando-lhe a mão.


 - Obrigada, senhor – ela disse, sem desviar o olhar do dele – você é muito gentil.


 Ele estreitou os olhos pela ironia dela, e mais uma vez aproximou-se para falar; ele gostava do efeito que a sua voz rouca produzia na pele do pescoço dela:


 - Eu sou gentil e mordo.


 Dorcas soltou uma risada alegre.


 - Pode me morder, então.


 Remo entrelaçou seus dedos e desviou o olhar dela para que fossem para o baile, finalmente. Ele não devolveu uma resposta sórdida porque seu estômago deu um salto ao se lembrar de repente que não podia continuar com Dorcas, mais, e a resposta que estava preparando se perdeu no fio do pensamento. Suspirou e mexeu nos cabelos atrás da cabeça com a mão livre, e acenou com a cabeça para Emmeline e Dora quando passaram por elas.


 Dorcas lançou um olhar de soslaio que ele fingiu não perceber quando estavam passando pelo retrato da Mulher Gorda. Estava evitando voltar a qualquer assunto, tinha que falar com ela... e como diabos se concentrar com aquele perfume?  Parecia se desprender dela e atingí-lo como ondas, cruel e lentamente. Aquilo embaralhava suas decisões de uma maneira estúpida.


 - Então...? – ela começou, quando desviavam de vários estudantes de gala no corredor.


 - O quê?


 - Oras, Rem. Eu não sou estúpida.


 - Oras, Dorcas, quem disse que você era?


 - Não tente me enrolar.


 - Minha intenções são as melhores. – ele sorriu com todos os dentes para ela, esquecendo-se dos próprios propósitos. Dorcas não continuou a provocação.


 - Você ficou estranho de repente, Lupin.


 - Desde quando você me chama de Lupin?


 - Desde quando você não fala comigo?


 Remo suspirou fundo, e tentou não encontrar os olhos dela. Aquilo seria mais difícil do que ele estava imaginando. Ele puxou-a para uma sala vazia, disfarçadamente, e fechou a porta quando entraram.


 Dorcas estava parada perto da parede, ainda com todo aquele perfume floral se desprendendo de maneira louca e intensa, com um olhar curioso e aveludado. Remo andou para trás até encontrar a mesa do professor e encostar-se ali, olhando-a, sem saber como começar. Sem saber nem o que dizer.


 - Eu sei o que você quer dizer. – ela falou depois de alguns minutos tensos de silêncio.


 Remo ergueu os olhos castanhos brilhando.


 - Eu já estava esperando isso há algum tempo, sabe – ela continuou, esfregando os braços – só que... a gente ainda tem toda uma noite pela frente, Remo.


 Dorcas começou a se aproximar. Remo mexeu nos cabelos, frustrado porque o alívio que sentira estava indo embora justamente com a intensificação do perfume dela. Ela tinha mesmo que se aproximar daquele jeito?


 - Eu sei o que está pensando... minha mãe não gosta nada de nós dois juntos e... ano que vem... bem. Você é muito planejador, sabe.


 - Eu sou precavido – ele corrigiu, limpando a garganta.


 - Quer se precaver de mim? – ela perguntou com uma vozinha sussurrante e um pouco suplicante.


 Remo suspirou alto, fechando os olhos.


 - Quero me precaver do que você vai ter que passar pra ficar comigo.


 Quando ele abriu os olhos, encontrou os dela bem próximos, a centímetros, brilhando profundamente. Seus olhos se encontraram e ficaram assim por uns bons minutos, naquela comunicação silenciosa que só dava mais certeza a Remo que toda aquela situação traria muita saudade, todos aqueles olhares, carinhos, provocações... seu coração apertou no peito.


 - Sinceramente, eu nunca vou entender tudo isso. – Dorcas falou, erguendo os dedos para corrê-los pela bochecha macia dele, o que o fez fechar os olhos para sentir – nunca vou entender você. Mas eu sei de uma coisa, Lupin – então ele abriu os olhos para percrustá-la – você pode ter os seus segredos... mas eu lhe daria a minha vida, porque confio em você.


 Remo se sentiu um pouco desesperado pela profundidade dela, daquele olhar brilhante e cheio de lágrimas, e fechou os olhos para sentir os efeitos daquelas palavras dentro de si. Eu lhe daria a minha vida... ah, diabos, aquilo seria muito difícil. E como ela sabia que ele tinha segredos? Dorcas, Dorcas...


 O calor do corpo dela aumentou e antes que Remo percebesse, estava abraçado à ela com força, sentindo a textura da pele exposta de suas costas nos dedos e não conseguiu evitar acariciá-la. Ela suspirou na curva de seu pescoço, e se afastou, olhando para o chão. Mais desesperado do que em qualquer momento naquela noite, ele viu uma lágrima cortar a bochecha rosada de Dorcas.


 - Heei – ele chamou, erguendo a cabeça ela pelo queixo, disposto a voltar atrás em todas as decisões se fosse para ela parar de chorar.


 Incrível o poder que ela tinha sobre ele.


 - Não chore, ok? – ele pediu com um sussurro.


 Dorcas sorriu tristemente e limpou a lágrima com um gesto rápido, afastando-se dele. Remo segurou-se para não apressar-se para perto dela e abraçá-la e dizer que ela esquecesse tudo aquilo, que ele não suportaria viver sem ela de qualquer maneira e que era egoísta demais para deixá-la ir... então apenas observou-a fungar uma vez, olhando para qualquer direção que não fosse a dos olhos dele.


 - Eu não vou chorar – ela falou, ainda sorrindo daquele jeito triste que o cortava por dentro – a gente já sabia que isso ia acontecer, não é?


 Remo assentiu devagar, ainda atento aos gestos dela.


 - Assim as coisas tem que ser, Dor.


 - Sim, assim as coisas tem que ser – ela começou a falar, melancólica de repente – eu já disse que não... entendo. Mas eu confio em você.


 Seus olhos se encontraram. Os dedos de Remo formigaram, e novamente ele lutou contra uma força devastadora que o empurrava na direção dela...


 - E se você diz que é assim que tem que ser, eu acho que você deve saber que é mesmo o melhor pra você.


 - O melhor pra você – ele corrigiu rapidamente. Como ela não podia ver que ele estava desesperado para mudar aquilo?


 Ela deu uma risada triste.


 - O melhor pra nós dois, então. – e fungou de novo, e embora não escorressem mais lágrimas pelas suas bochechas, Remo sentiu-se mais tentado que nunca a beijá-la e acabar com toda aquela tristeza.


 - Dorcas...


 - Não, Remo. Era mesmo o que ia acontecer, cedo ou tarde.


 Ele fechou a boca e assentiu devagar, passando as mãos pelos cabelos, bagunçando-os sem se importar que ainda nem havia entrado no baile. Que se danasse o baile e todas as pessoas arrumadas. Aquilo ia acabar com ele, de qualquer maneira...


 - Eu não vou... deixar de sentir nada por você – ela sussurrou para ele.


 O peito de Remo quase explodiu e uma série de frases relancearam em sua cabeça enquanto ele escolhia por uma delas que fosse mais adequada ao momento. Muito menos eu, Dorcas, eu amo você, e você sabe muito bem disso, todas essas sensações  que você causa em mim. Vamos esquecer tudo isso e nos foder quando for a hora? Pelo menos a gente vai estar juntos e nada dessa porra vai machucar nós dois agora, vamos aproveitar o nosso tempo juntos e...


 - Nem eu. – ele sussurrou meio rouco.


 Os olhos dela brilharam mais, e ele torceu os dedos e enfiou as mãos nos bolsos a fim de reprimir a vontade que novamente se apossou dele. Se ela chorasse de novo, ele com certeza não agüentaria e a agarraria.


 - Então, é isso. – ela concluiu.


 - É.


 - Não vamos... bem. Dizer aquilo. – ela pediu.


 - Não, não vamos. – ele concordou com a cabeça.


 - Vejo você por aí, Rem – ela acenou e seus olhos se demoraram um pouco nele antes que ele concordasse e ela saísse da sala.


 Adeus, Dorcas.


 


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 Remo caminhou pelos corredores depois de sair da sala de aula vazia. Uma aluna o olhou desconfiado no corredor, quando ele fechou a porta atrás de si, mas ele pouco se importou. Estava tão pra baixo que seria possível não se importar nem se aquela aluna estivesse apenas de lingerie e com uma pose sensual e provocante. Imediatamente ele balançou a cabeça, tentando se concentrar.


 E sentindo falta da mão de Dorcas entrelaçada à sua. Ah, que grande merda...


 - Remo? – alguém gritou atrás dele, apressado – O que você ainda está fazendo aqui?


 Sirius alcançou-o no corredor, mexendo impacientemente no colarinho e na gravata.


 - Eu estava falando com a Dorcas – ele respondeu brevemente, passando as mãos pelos cabelos, ignorando três garotas que deram risadinhas.


 Sirius olhou para elas com estranheza e voltou-se para o amigo:


 - Você a viu?


 - Quem? A Dorcas? Acabei de falar que eu estava com ela...


 - Não, sonso. A Marlene.


 - Porque eu a veria?


 - Não sei, achei que... espera. – os olhos de Sirius se estreitaram – você disse que estava com a Dorcas. Vocês... – ele fez um gesto significativo.


 Remo lançou uma olhadela para as garotas e puxou Sirius para que caminhassem pelo corredor, em direção ao salão de festas.


 - Sim – falou, olhando para o fim do corredor para não encarar o outro – e não estou a fim de falar sobre isso agora.


 Sirius respeitou o momento dele e ficou em silêncio por alguns minutos. Quando a cabeça de Remo esfriou um pouco por se distrair com as pessoas nos corredores, ele se virou para Almofadinhas:


 - Então, vai falar com ela?


 - Claro que vou – ele respondeu prontamente, como se estivesse esperando pela pergunta – Eu não agüento mais isso, que merda. Como uma garota pode conseguir causar tanto estrago, Remo?


 - Cara, quem me dera saber.


 - Elas conseguem manipular tudo, mudar tudo à nossa volta, é uma desgraça. – Sirius riu.


 - E eu duvido que você possa viver sem ela – Remo completou debochadamente.


 - Como se você pudesse viver sem a Dorcas.


 - Almofas, se você não percebeu, é o que eu estou tentando fazer agora.


 - Ahr... me desculpe. Eu não...


 - Eu sei.


 - Ah, que droga, Remo. Me desculpe, mesmo, é só que eu não consigo parar de pensar no que diabo eu vou fazer pra Lene entender e...


 - Voltar pra você. – o outro completou.


 - Eu sou mesmo tão previsível assim? – Sirius perguntou, indignado.


 Remo riu.


 - É algo mais como situações... parecidas. Não fazem dez minutos que eu e ela terminamos, de uma maneira bem pacífica, e eu já estou louco pra que ela volte pra mim... mas de novo, eu não quero falar sobre isso. – ele retrucou quando Sirius fez menção de abrir a boca.


 O outro bufou, e uma fite vermelha cintilou no bolso de seu paletó quando Remo se virou para rir dele.


 - O que é isso?


 Sirius olhou para o próprio bolso e puxou o laço vermelho, revelando uma chave amarrada à ele desajeitadamente. Remo entendeu no mesmo instante, afinal, aquilo era bem o que pensara em fazer com Dorcas quando seus dias eram dotados de sonhos que tinham finais felizes. Ele ia chamá-la para morarem juntos fora de Hogwarts; finalmente entendeu porque Sirius parecia tão agitado, olhando para os lados e passando as mãos pelos cabelos a cada segundo, e o fato de que só conseguia falar nela e...


 - Que cara é essa? – Sirius perguntou, parado na sua frente, balançando a chave.


 - Er... não é nada. Eu acho que... vocês vão ser muito felizes, juntos.


 Sirius não riu, apenas fitou a chave.


 - Então, acha que ela vai aceitar?


 - Não com esse laço.


 - Quê?


 - Cara, sinceramente, esse laço tá horrível. Dá aqui – Remo tomou-o e o desfez, sob as reclamações e os xingamentos baixos de Sirius e seu olhar atento.


 Quando terminou, estendeu o laço fofo e perfeito para ele. Sirius olhou-o feio e bufou, mas depois sorriu e deu-lhe palmadinhas nos ombros.


 - Obrigada. Tinha esquecido que você era o meu amigo gay que sabia fazer laços.


 - De nada. Eu adoraria usar meu poder gay para persuadir Marlene a não morar com um cachorro pulguento como você quando sair daqui, sabe...


 - Gays não são tão poderosos, Aluadinho, querido.


 - Você se surpreenderia.


 - Ok, você está me dando medo – o outro riu e jogou os cabelos para trás – Não seja um traidor e não seduza a minha garota, combinado?


 - Quanto a te dar medo... – Remo ia começando.


 - Remo, pára! – Sirius interrompeu, rindo alto, e o outro o acompanhou.


 Eles começaram a andar novamente pelo corredor, Remo sentindo os ombros mais leves e os passos mais seguros. Com James e Sirius ao seu lado, não seria realmente ruim, ele pensou. Aqueles dois eram doidos e o distrairiam o suficiente, pelo menos enquanto não estivessem cada um com suas respectivas namoradas...


 De repente, Remo sentiu um puxão e quando se virou, deu de cara com duas daquelas três garotas que estavam no corredor da sala vazia que ele entrara com Dorcas, com sorrisos no rosto, e quando ele tornou a se virar, Sirius já havia desaparecido... Argh, aquela seria uma longa noite.


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  Ele não demorou muito para se livrar das garotas e se apressar para o salão de festas antes que a notícia do seu atual solteirismo corresse. Pegou um drink de whisky de fogo e encostou-se na parede, observando os outros e o salão decorado. Estava realmente apinhado de estudantes bem arrumados. Ele percebeu, com um sorriso, que Lily havia feito um bom trabalho na decoração e organização, embora desconfiasse que Pontas fosse enlouquecer porque ela não parava de andar de um lado para o outro, monitorando, ajeitando, conversando.


 Remo avistou Dorcas uma vez, perto do bar, mas ela não o viu e deu as costas, rindo algo que uma amiga havia falado perto do ouvido dela. Ele viu os outros na mesa, e decidiu não ir até lá para evitar as perguntas de James e Alice e suas exclamações cheias de certezas.


 Ficou ali encostado, pensando nas coisas que estavam acontecendo naquela noite e ignorando os olhares esperançosos que ele sentia algumas garotas lançarem à ele. Será que elas não entendiam? Ahght, provavelmente não. Elas não podiam continuar olhando para ele daquela maneira, ele não merecia ninguém. Ninguém poderia convencê-lo disso agora, além dela. Seus pensamentos vagaram para ela ligeiramente, como se eles nem tivessem mudado para outro assunto durante toda a noite. Ela estava linda com aquele vestido, as costas nuas de um jeito sensual, as pernas bem torneadas que caminhavam daquele jeito provocante... O perfume maravilhoso, a pele macia de veludo. Os lábios carnudos e deliciosos.


 Remo suspirou, sem evitar que seus olhos a procurassem. Foi fácil demais achá-la, como se alguém a tivesse posto bem na sua frente e afastado todos os outros alunos para que ele tivesse uma visão completa da sua Dorcas sendo paparicada pelo idiota do William Stone, um setimanista da Lufa-Lufa mais alto e mais forte que ele. Dorcas estava ligeiramente inclinada para trás enquanto o outro fazia cortesias demais, se aproximava demais...


 Tomado por um acesso de ciúmes e encorajado pelo calor que subiu furioso pelo seu rosto, Remo se esqueceu por um segundo que não era forte suficiente para lidar com Stone e também se esqueceu que Dorcas era livre para sair com quem quisesse; então ele caminhou até os dois, atento.


 Eles pararam de conversar com a sua presença. Os olhos de Dorcas se derreteram para ele, e os de William o fuzilaram.


 - Boa noite, Stone. – Remo cumprimentou, sorrindo amistosamente – Está uma bela noite para dar em cima das garotas dos outros, não é?


 O outro estreitou os olhos mais um pouco.


 - ‘Noite, Lupin. Eu achava que vocês tinham terminado – ele falou, lançando um olhar significativo à Dorcas.


 Ela apressou-se em segurar o braço de Remo com as mãos.


 - Ah, claro que terminamos – Remo respondeu simplesmente, e puxou Dorcas para longe dali.


 - Remo, o que foi isso? – ela perguntou na primeira oportunidade.


 - Ah, Dorcas, sinceramente, eu... – ele ia dizendo, determinado, então a sua voz se perdeu com um muxoxo de desagrado.


 - Sim? – ela pediu que ele continuasse.


 - Ah, eu não sei. Você deveria voltar lá, com ele.


 - Eu quero ficar aqui com você.


 Eles haviam parado perto da escadaria pela qual Remo tinha acabado de chegar. O olhar dela estava tão brilhante que por um instante ele somente cogitou a hipótese de...


 - Isso vai ter mais difícil do que eu pensava – ele murmurou, ajeitando uma mecha do cabelo dela só para tocá-la.


 - Sim, terrivelmente difícil – ela concordou.


 - Seria melhor se nem eu nem você saíssemos com... pessoas do sexo oposto... sabe, por enquanto.


 - É, ajudaria. – ela falou, e Remo lutou para não pensar na maneira que ela olhava, desejosa, para seus lábios.


 - Ajudaria, também, se a gente...


 - Não ficasse junto, certo.


 - É. Se a gente tentasse manter distância, um pouco.


 - Ajudaria.


 - Isso.


 Remo afastou-se um pouco e soltou a cintura dela, que nem havia percebido estar acariciando. Diabo, aquilo era tão instintivo. Tão natural, entre eles, e tão bom...


 - Aquela é a Marlene? – ela perguntou depois de algum tempo, apontando para alguém que subira as escadarias apressada.


 - Er, eu acho que é... ela e Sirius iam se acertar essa noite e...


 Ele parou no meio da frase. Dorcas deu uma risadinha.


 - ...e ficarem juntos de uma vez.


 - É. Eles vão... morar juntos, acho.


 Ela concordou com a cabeça e não fez mais comentários durante alguns segundos.


 - Bem, lá vai ele – ela apontou com a cabeça.


 - Tomara que se acertem.


 - Tomara que eles sejam felizes, são boas pessoas...


 - Dorcas, eu...


 - Ah, Rem, está tudo bem – ela limpou discretamente uma lágrima na bochecha – aproveite sua noite, está bem? Como combinamos. Tudo vai ficar bem. – ela beijou sua bochecha demoradamente antes de partir.


 A última frase dela ficou se repetindo em sua cabeça até que ele se sentisse idiota o suficiente para ir até os amigos.


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 Depois de conversar com James sobre Dorcas e sentir-se ligeiramente inclinado a não conseguir pensar em outra coisa durante toda a noite, Remo percebeu que tinha que dar uma volta para espairecer. James e Lily estavam juntos (ela havia acabado de dizer à Remo que havia ouvido sem querer Dorcas conversar com uma amiga, e parecia estar realmente mal), Sirius estava com Lene (eles já tinham brigado mais duas vezes desde que se reconciliaram, naquele romance vai-e-volta sem fim), e Frank com Alice. Pedro estava em qualquer lugar com uma sonserina, não interessava, realmente.


 Com esse objetivo, acenou para James e fugiu para fora do salão de festas. O saguão principal estava apinhado de gente também, quase como se ali fosse a saída do baile, e as grandes portas de entrada estavam abertas, deixando entrar o ar fresco dos jardins.


 Ele foi lá para fora, rodando o conteúdo da garrafa de whisky que parecia não estar fazendo efeito algum para melhorar seu humor. Sentou-se em um banco de pedra sem encosto que tinha logo na beira do jardim e virou a garrafa nos lábios, sentindo a garganta arder. Seus olhos lacrimejaram por causa do grande gole e ele fechou-os com força, tentando não invocar a imagem...


 Remo arregaçou as mangas da camisa nos cotovelos. Seu blaser estava em algum lugar no salão, Lílian cuidaria daquilo para ele. Talvez. Ele não estava se importando. Pouca coisa estava importando de verdade.


 - Uh, lá lá – uma voz engraçada o alcançou.


 Ele virou-se no banco, sentindo a cabeça girar sem dó, para ver Emmeline Vance descer os jardins com os sapatos de salto na mão, pisando nas pontas dos pés.


 - Olha só quem está aqui. – ela ainda estava com a voz engraçada quando se sentou ao lado dele – Remo John Lupin.


 - Esse sou eu – ele falou, e surpreendeu-se ao constatar a própria embriaguez.


 Porque aquilo? Seus pensamentos estavam bem sóbrios. Bem sóbrios. Tão sóbrios quanto... quanto... arght, apenas sóbrios.


 - O que faz aqui sozinho, se você tem namorada, hein? – ela perguntou, franzindo as sobrancelhas exageradamente e aproximando-se perigosamente.


 Remo riu baixinho, e seu riso transformou-se em gargalhada apenas porque ele confirmou conscientemente que Emmeline estava tão bêbada quanto ele.


 - O que é tão engraçado? – ela quis saber, rindo junto.


 - É só que... ah... – ele falou entre os risos.


 De repente, ele percebeu que Emme estava rindo tão gostosamente quanto ele, ambos inclinando-se para trás. A mente de Remo girava com uma intensidade estranha, como se fosse a primeira vez que ele estivesse de porre.


 - Como vocês são hilários – outra voz mais engraçada ainda para Remo fez-se ouvir – rindo como hienas loucas.


 - Olá, Dorinha – cumprimentou Emme.


 A loira puxou Remo para que ele ficasse no meio do banco, e Dora sentou-se do outro lado dele. Ele nem se perguntou se ela estava bêbada também, afinal, ainda tinha algum controle de suas funções motoras, tinha certeza de que aquilo logo ia passar e...


 - Dora. – ele sorriu torto para ela, o olhar meio estreito.


 - Bêbados nojentos – ela xingou, rindo – porque a Dorcas não está cuidando de você, Remo?


 O riso sumiu do rosto dele com uma velocidade incrível. Só voaram imagens desesperadoras na cabeça dele, tanta saudade dela...


 - Eu quero ela de volta. – ele explicou, melancólico.


 - Vocês... largaram? – Emme interveio, a voz mais alta que a dos outros – Terminaram?


 Ele apenas assentiu e girou a garrafa nos lábios. Que noite terrível.


 - Eu sinto muito – Dora falou, intensa, e Remo sentiu os dedos dela na parte de trás de sua nuca, carinhosos.


 Ele só conseguiu fitar o lago escuro e calmo no horizonte.


 - Ah, isso é tão triste! – exclamou Emmeline de repente – Isso deveria ser um baile, sabe, a gente deveria estar se divertindo e...


 - Hei, porque você está chorando? – perguntou Dora.


 Remo virou a cabeça rápido para ver se a loira estava mesmo chorando. Ela limpou uma lágrima de uma maneira tensa e desviou os olhos deles.


 - Não estou chorando. É essa brisa maldita de verão, entrou um cisco no meu olho e...


 Antes que ela dissesse qualquer coisa, deu três espirros rápidos, e o último fez um barulho engraçado, como se o ar tivesse entrado pelo nariz. Remo arregalou os olhos para ela, divertido, e os olhos claros de Emme brilharam para ele, intrigada.


 Então, como se um pó mágico tivesse soprado o momento anterior, Remo começou a rir alto, inclinando-se para trás, já sem fôlego nos primeiros segundos. Ele riu como nunca, até a barriga doer e lágrimas se formassem em seus olhos ardentes. Emmeline e Dora o acompanharam, às vezes parecendo não entender, e então, depois de uns bons dez minutos, quando Remo começou a se perguntar porque diabos todo mundo estava rindo (era uma coisa bem louca a cabeça dele naquela hora), e sua barriga estar doendo tanto, que ele parou.


 Ele ainda ficou observando Dora e Emme rindo uma da outra, fazendo piadinhas sádicas e ousadas uma da outra e dando indiretas descaradas à Remo. A imagem do sorriso triste de Dorcas ainda não havia saído de sua cabeça.


 - Se eu estivesse no último ano, como vocês – Dora estava na frente deles, andando de um lado para o outro como se fizesse um discurso engraçado e trôpego – sinceramente, eu aproveitaria essa noite como se fosse a última da minha vida. Sabe, vocês não vão mais voltar aqui depois de umas semanas. É bem provável que nem se vejam lá fora e...


 - Cala a boca, Dora – Emmeline interveio – nós vamos tooodos trabalhar como aurores no Ministério, não é, Remo? – a loira abraçou-o pelo ombro.


 Remo virou-se para ela, percebendo o quanto estava próxima, e sorriu de lado. Como um lobisomem se tornaria auror? Mas é claro que ela não poderia saber.


 - Se Merlin quiser. – respondeu, voltando-se para frente de novo.


 - Assim seja! – Emme ergueu os braços para cima, feliz.


 - Mas não vão me ver. – continuou Dora, ofendida, segurando o quadril com as mãos em uma pose autoritária.


 - Ooown, Dorinha – Emme e Remo se levantaram, rindo, e foram na direção dela.


 Dora fez um sorriso melancólico enquanto os abraçava.


 - Nós vamos sempre lembrar de você – Remo falou.


 - Mesmo você sendo uma pirralha encardida – Emme completou, arrumando os cabelos da outra.


 Dora fez uma careta.


 - E mesmo que quando você sair de Hogwarts nós já vamos estar casados e com sete filhos.


 Remo observou Emmeline olhá-lo daquela maneira que dizia indiferentemente que eles dois estariam casados, sabe, no mesmo casamento. Marido e mulher. Não conseguiu evitar uma risada abafada e as duas o olharam curiosas.


 - O que foi? – quis saber Emme.


 - Ahm, garotas... Dora tem razão, vamos dançar? – ele perguntou.


 As duas trocaram grandes sorrisos e começaram a subir pelo jardim. Remo, mais alto que as duas, postou-se no meio e abraçou-as pelos ombros, e elas o abraçaram pela cintura, e voltaram para o baile.


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 O estado meio dormente de embriaguez passou em Remo muito mais rápido que passaria normalmente em um bruxo – essa era uma das vantagens (ou desvantagem?) de ser lobisomem: a cura do corpo. Minutos depois que entraram no salão de festas, Remo sentiu que as coisas paravam de girar e os pensamentos se encaixaram devagar, enquanto observava Emmeline e Dora dançando na pista. Ele percebeu que a última não estava tão bêbada quanto pensara e que tinha controle do que falava e fazia, apenas estava se divertindo; Emmeline, pelo contrário, dava altas gargalhadas das coisas mais ridículas – de algumas pessoas, por exemplo – saía andando desabalada, dançava loucamente, erguendo os braços e mexendo nos cabelos. Não estavam chamando muita atenção, afinal, porque haviam estudantes bêbados mais escandalosos, como Fletcher Grunt, que estava encima de uma mesa ensaiando um strip-tease, e já estava sem a camisa quando Lílian mandou uns amigos dele darem um jeito.


 É, ele tinha com que se distrair. E não pensar, não. Queria que aquele estado de zonzeira não passasse, e ainda estava tomando whisky para ver se voltava, mas tudo o que conseguia era uma leve tontura, aquela felicidade sem motivo, e então tudo voltava mais lúcido que antes. Ele quase pediu a James para lhe dar uma droga trouxa que havia experimentado uma vez, nas férias, com uns primos dele, porque aquilo tivera um efeito durável e mais alucinógeno que a bebida em seu corpo – mas então encontrou o olhar de Lílian, que lhe sorriu, doce, e lembrou-se que aquilo não era exatamente legal. Se bem que ele estava se lixando pra legalidade das coisas, agora. Só ela... não. Não podia lembrar. Diabo.


 - Rem! – gritava Emme, vindo em sua direção com os braços abertos – você disse que ia dançar comigo!


 - Er, Emme, eu não quero dançar, ok? – perguntou, como se falasse com um bebê.


 Ela estava puxando-o pelo pescoço, e Remo segurou-a pela cintura quando sentiu que ela estava para cair no chão e estatelar-se. Emme fez um bico e uma expressão de pena.


 - Por favorzinho. – pediu devagar, o rosto muito próximo do seu.


 Diabo, se Dorcas visse aquilo... diabo.


 - Na-não, Emme. – ele apressou-se em soltá-la, e ela fez uma careta para ele e saiu correndo em direção à James.


 Mais tarde, Remo a viu convidando Sirius para dançar da mesma maneira que fizera com ele, quando as meninas não estavam por perto, mas os dois amigos a rejeitaram de um jeito cavalheiro. Mais tarde ainda, Remo a viu beijando Amos Diggory, o chato que era seu acompanhante, e ela não pareceu preocupar-se muito com isso enquanto ele apertava sua cintura, enroscados como enguias.


 Foi mais ou menos aí que Remo reparou que o baile estava esfriando. A banda estava tocando músicas excessivamente melosas, ele e os amigos já haviam sentado na mesa de novo, todos sem blaser e as meninas com os cabelos amarrados em rabos-de-cavalo. Sirius e Marlene haviam sumido há algum tempo. Lílian disse que logo anunciaria o fim da festa, então Remo aproveitou essa deixa para dizer que ia voltar ao dormitório porque estava se sentindo mal.


 Era de se esperar que estivesse se sentindo mal. Havia acabado com pelo menos duas garrafas de whisky e outras de bebidas igualmente fortes que ele não sabia o nome. E, embora qualquer pessoa normal agradeceria por poder beber, se acabar e não passar pela ressaca, Remo odiou aquilo naquela noite.


 Ele passou a mão pelos cabelos, puxando-os atrás, como costumava fazer, enquanto ia desviando das mesas para a escadaria. Subiu-as sem olhar para os lados. Sua mente estava vazia. Vazia...


 Uma explosão de pensamentos o acometeu quando alcançou o corredor cheio de casaisinhos. Que grande merda. O sorriso triste de Dorcas. O beijo dela. O cheiro que se desprendia do seu pescoço, inconfundível. Infalível. Ele esfregou os olhos a fim de tentar se livrar da imagem do corpo dela, mas isso só serviu para lembrá-lo de como era senti-lo.


 E lá estava ela. Remo havia andado por vários em direção ao salão comunal automaticamente, sem prestar atenção em nada. E lá estava ela.


 Dorcas estava encostada na parede do corredor anterior ao das escadas que se mexem, com as mãos para trás, o olhar curioso sobre ele. O cheiro dela estava por toda parte. Remo olhou-a enquanto se aproximava, e seus passos foram ficando mais lentos sem que ele percebesse. Parou na frente dela, e virou-se para encostar no corredor paralelo ao que ela estava.


 E, de repente, eram só os dois. Toda a angústia que sentira no maldito baile se fora.


 - Então, aqui estamos – ele conseguiu murmurar, rouco.


 Dorcas riu pelo nariz.


 - É, fim de noite, e aqui estamos.


 Remo abaixou um pouco a cabeça, embora não desprendesse o olhar do dela.


 - Duas garotas, hãn? Você é rápido. Achei que estivesse levando à sério o que a gente disse sobre não sair com ninguém por enquanto, e fiquei bem surpresa quando te vi voltando para o baile de algum lugar misterioso com duas garotas.


 Remo arregalou os olhos ligeiramente, e atravessou o corredor quando notou que os olhos dela tinham se enchido de lágrimas. Ele se aproximou, relutante, e segurou-a pelo pulso para dizer:


 - Dorcas, eu só consegui pensar em você a maior parte da noite. A outra parte eu estava tentando me distrair pra não fazer isso. Sem sucesso, é claro.


 O olhar dela, antes duro, se derreteu. Remo suspirou e, devagar, como se ela pudesse se esfarelar com qualquer gesto brusco, ele inspirou seu perfume floral e o seu humor melhorou vários graus.


 - Você não tem que fazer isso, sabe.


 O corpo dela estava muito próximo. Remo não conseguiu se afastar, embora a razão gritasse em sua cabeça. Os dedos de Dorcas estavam em sua nuca, acariciando.


 - Não tem que parar de pensar em mim, Remo. – ela recomeçou a falar com a voz macia, e o seu hálito acariciou cruelmente o rosto de Remo – Eu não quero que faça isso. Eu não vou conseguir parar de pensar em você, de qualquer maneira.


 Ele fechou os olhos. Tinha que ser mais forte. Por que não conseguia se afastar? Ah, colocar as mãos na cintura dela não ajudava. Embriagar-se com o cheiro dela não ajudava, também. Tudo isso ia acabar, e...


 - Dorcas, você tem que ser razoável comigo.


 - Eu não vou ser.


 - A gente tem que... Tem que ser forte. E acabar com isso de uma vez por todas.


 - Se você quisesse realmente acabar com isso...


 - É claro que eu não quero.


 - Eu não consigo suportar essa idéia, Remo. Me afastar de você e...


 - Dorcas...


 - Fica comigo. – ela pediu mais decidida – Fica. Não vai... Embora.


 Remo abriu os olhos. Ela estava perto, muito perto. Tão perto que seus lábios roçaram, e imediatamente as mãos de Remo se tornaram firmes e quentes nas costelas dela, e ele fechou os olhos ao sentir os lábios mais urgentes nos seus. Uma onda de calor muito respectiva do beijo dela o assolou. A sua mente pifou antes dele ter um assomo de razão e se afastar:


 - Não – ele conseguiu dizer – A gente tem que ser forte, lembra? Você vai embora ano que vem e eu também, a gente vai ficar longe, esse relacionamento não vai dar certo.


 - Está muito claro pra mim que tem tudo pra dar certo. – ela replicou – Nós não temos que sofrer essa separação antecipadamente.


 Remo estremeceu sem que ela percebesse. Diabo, ela estava sofrendo. A última coisa que ele queria no mundo.


 - Eu quis dizer que não vai dar certo quando a gente se separar, Dorcas.


 - Eu entendi perfeitamente, Rem. Assim como estou entendendo que não suporto ficar longe de você.


 Nem eu. Estou louco pra te abraçar, te beijar e não soltar mais. Diabo, diabo...


 - A gente tem que ser forte, Dorcas. – ele repetiu com um tom de quem encerra o assunto, ainda com a testa colada à dela.


 Ela suspirou e afastou-se alguns centímetros para olhá-lo. Remo segurou o olhar dela, tentando manter a decisão. À medida que ela se afastou mais alguns centímetros e a dor foi quase física, tudo ficou muito claro pra ele também.


 - Eu tentei tudo que eu sabia – ela sorriu tristemente – Pra te ter essa noite. Você sempre tem um às na manga, certo?


 Ele não respondeu. Estava olhando-a atentamente, esperando que ela desabasse. Mas Dorcas sempre o surpreendia.


 - Boa noite, Rem. – ela disse, e desvencilhou-se dele para começar a andar pelo corredor.


 De novo, ele ficou quieto, observando os movimentos dela, sentindo o seu cheiro desprender-se em ondas e atingi-lo, como que provocando. Remo suspirou fundo, e tomou a única decisão que o fez feliz naquela noite.


 Que se danasse toda a porra de dor que ele fosse sentir.


 Deu uns três passos largos e alcançou-a pelo braço, virando-a para trás com força e imediatamente a segurou entre seus braços. O corpo dela estava quente, e seus olhos brilharam intensamente quando encontraram os seus, mas apenas por alguns segundos – afinal, ele não podia mais esperar. Seus lábios se encontraram com o desejo guardado de toda a noite, e pareceu ser o desejo guardado por toda a vida – Dorcas agarrou-se aos cabelos dele e afundou as unhas da outra mão em suas costas por dentro do blaser, aprofundando ainda mais o beijo.


 Remo puxou-a para a parede, apertando seu corpo contra o dela enquanto Dorcas mordia seus lábios com força. Ele sorriu e, sem parar de tentar tocar tudo o que podia do corpo dela, parou de beijá-la apenas para descer os lábios para seu pescoço, beijando e mordendo e fazendo o que quisesse enquanto podia. A respiração apressada de Dorcas foi cortada por um gemido baixinho que Remo ficou satisfeito de ouvir, quando suas unhas arrastaram devagar pelas coxas dela.


 - Sabe, nós realmente deveríamos nos afastar o quanto antes – ele ofegou com a boca no ouvido dela, e arrastou os dentes ali antes de dizer: – Mas o que acha de deixar pra ser forte amanhã?


 Ela deu uma risada trôpega pela boca e pelo nariz. Remo olhou-a de soslaio antes de beijar a sua orelha, e a viu com os olhos fechados, um sorriso sensual nos lábios carnudos e vermelhos que estava mordido pelos dentes perfeitos.


 - A gente sempre tem o amanhã. – ela murmurou, puxando-o pelo cabelo para que parasse de beijá-la.


 Surpreso, Remo obedeceu, procurando seus olhos. Os castanhos aveludados estavam tão brilhantes quando diamantes. Ele sabia que brilho era aquele, e tinha certeza que os seus próprios olhos também estavam brilhando daquela maneira. A respiração dela estava ofegante, e seu peito subia e descia com pressa. Então ela sorriu torto e aproximou-se dos lábios dele carinhosamente, sugando os inferiores devagar.


 - Ou depois de amanhã. – sussurrou ao afastar-se, e logo voltou a sugá-los de novo, e Remo sentiu todo o corpo pegar fogo – ou depois...


 - É, quando você quiser, Dor – ele entregou-se, e beijou-a com urgência antes que ela conseguisse enlouquecê-lo.











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n.a: uau, espero que ninguém fique meio revoltado com o tamanho, sabe. big size rules! ;x hahaha bem, eu achava que ia ficar melhorzinho, sinceramente. mas não estou muito habituada a escrever sobre o Remo, então.. well, a música lá encima pra quem não sabe é Halo/Beyoncé, e a tradução é: Eu jurei que nunca mais iria cair, mas eu nem me sinto como se estivesse a cair/ A gravidade não pode se esquecer, de me colocar no chão outra vez. E "cair" está no sentido "estar apaixonado", eu acho ;x essa parte é tão fofinha! *--* na verdade demorei pra escolher um trecho da música, sabe, toda ela é perfeita. hum, antes que eu escreva uma fic de n.a, MUITO obrigada pelos comentários! aaaamo vocês, beijo beijo!

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