n. marlene mckinnon.



 ESPECIAL "O Vencedor Leva Tudo" - baile de formatura
narrador onisciente à(ao) personagem: Marlene M.


 
I don't want this moment to ever end
Where everything's nothing without you


 O barulho do sapato de salto alto fazia um tuc-tuc persistente no chão e ricocheteava nas paredes. Era algo para Marlene se distrair e acabar não pensando naquilo de novo. Ela podia se concentrar apenas nos passos ritmados e pensar nas tantas coisas que foram planejadas nesse baile de formatura. Mas era quase inevitável, como qualquer coisa que se referisse à ele. Logo veio a conversa de umas horas atrás que tivera com Lily.


  A ruiva estava terminando de se maquiar e Lene tinha acabado de sair do banho e estava enrolada em uma toalha. Lílian teria que chegar antes, como Monitora-Chefe, para dar instruções dos detalhes finais da decoração no salão de festas.

 Quieta, Marlene abriu o armário e colocou o vestido encima da cama. Depois procurou pelos scarpin preto que combinava com o azul escuro do vestido de cetim e separou-o. quando virou-se para voltar ao armário atrás da lingerie preta, notou que Lily estava de pé, observando-a. Ela ficou alguns segundos olhando para a amiga e depois suspirou e voltou ao que estava fazendo.

 - Não faça isso. – Lily pediu – você não quer.

 Lene pegou a lingerie na gaveta e começou a vesti-la, sem responder a ruiva.

 - Você sabe que não quer, Lene.

- Lil, isso tudo não é mais questão de querer. Está decidido.

 - Mas é claro que está! Vocês são tão... orgulhosos!

 A outra ficou quieta novamente. Enfiou os pés na pantufa e foi para a penteadeira a fim de arrumar o cabelo.
 
- O que eu faço? Coque?

 Lílian não respondeu, apenas cruzou os braços.

 Dando de ombros, Lene secou todos os fios rapidamente com a varinha, e eles ficaram lisos da raiz às pontas. Tinha que pensar em algo que fazer. Era uma ótima maneira de se distrair.

 - Para. – a outra disse de repente – vocês tem que resolver isso.

 - Não temos não. E não vamos.

 - Urgh, Lene, você não tem idéia do que é te ver assim.

 - Assim como? Semi-nua? – ela riu.

 - Assim, tentando fingir que não está sofrendo.

 O riso cessou e ela virou-se amarga para o próprio reflexo. Seus cabelos já haviam crescido muito desde a última vez que os cortara, na Páscoa, e antes no Natal. E não era exatamente a hora de pensar quando os cortara - porque tudo tinha que lembrar ele, afinal?

 - Eu estou bem. – ela falou, sentindo o olhar da ruiva.

 - Não está, não. Dá pra ver na sua cara. E ele também não está bem, Lene, você sabe como vocês dois são ruins para disfarç...

 - Lils, olha. – ela voltou-se para a ruiva, decidida – isso não vai acontecer, ok? De todas as brigas que eu e Sirius tivemos, essa foi a definitiva. Eu posso sentir que não haverá reconciliação alguma, porque não há o que discutir. Simplesmente acabou.

 Os ombros da ruiva caíram e ela olhou desolada para os próprios pés.

 - É que... eu me sinto tão mal vendo vocês dois assim. É claro que não querem isso, mas que diabos, olha por tudo o que passaram para ficar juntos!

 - Sim, muita coisa. – Lene virou-se para o espelho, seriamente preocupada com o que fazer com os cabelos – mas acabou.

 - Eu não quero ver você assim.

 A morena mordeu os lábios e ajeitou a alça do sutiã pelo espelho. Estava pensando se ficaria bom se amarrasse em um alto rabo-de-cavalo. Estava tentando não se lembrar da última vez que os marotos fizeram uma festa no salão comunal e ela havia ido com um rabo de cavalo, e Sirius o desfizera sem piedade depois.

 - Não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem, de verdade.

 - Você gosta dele. Ele gosta de você.

 - Lílian, eu sei que o que eu e Sirius tivemos foi um caso bem grande. Mas é como todo caso: uma hora acaba. Essa hora chegou pra mim e para ele.

 Impaciente, a ruiva bateu os pés no chão.

 - Além do mais, eu ficava pior quando a gente brigava por qualquer idiotice, e isso estava acontecendo muito.

 - Não, você ficava com raiva, e agora você está triste. É totalmente diferente, porque das outras vezes, quando a raiva passava, vocês tornavam a se encontrar pelos corredores como se estivessem em sincronia e se agarravam louc...

 - Lily, ok, chega. Eu não quero mais pensar nisso.

 A ruiva mexeu nos cabelos soltos um instante, então foi atrás da cadeira de Marlene, inclinando-se para olhá-la pelo reflexo no espelho. Lily estava muito bonita, com um vestido verde escuro que combinava com seus olhos e valorizava as curvas de seu corpo. Lene teve um rápido flash dos olhos brilhantes de James sobre o corpo da ruiva e teve vontade de rir, mas seu humor não estava tão bom assim. E quando seus olhos se encontraram no reflexo, Lils falou:

 - Eu sei como está se sentindo agora, mas tente entender, Lene, eu só quero ver você feliz.

 Marlene lhe sorriu com os lábios.

 - Se isso inclui ficar soltando fogo pelas orelhas toda vez que briga com Sirius, é isso que eu quero pra você, porque eu sei que você não vai ficar feliz com qualquer outro que não seja ele. É como se vocês...

 - Não diga se completassem porque isso vai ser totalmente clichê.

 - É como se vocês não quisessem aceitar que tem que ficar um com o outro.

 - Foi ele quem começou a me chamar de desesperada e a dar indiretas de que queria sair de Hogwarts solteiro para praticar suas biscatices no...

 - Pare de culpá-lo. Você sabe o quanto estava mesmo desesperada sem saber o que ia acontecer com vocês quando saíssem daqui.

 - Urgh, a indiferença dele me revolta. Quer dizer, revoltava. Agora a gente tá livre um do outro mesmo. Nada de desespero, nada de estresse.

 Lílian ajeitou o cabelo no espelho e endireitou-se, desistindo de insistir.

 - Ok, eu tenho que ir agora para o salão ou a Minerva me mata. Depois eu te encontro no baile.

 - Bom trabalho. – riu Lene enquanto a ruiva saía, e ela parou na porta para lhe jogar um beijo.


 Quando ela percebeu, estava na frente do salão de festas, no primeiro degrau da escada, parada. Seus pés haviam se movido sozinhos até lá, mas não foram capazes de descer os treze degraus e encontrar uma mesa para sentar-se. Sozinha.

 Marlene tentou não vasculhar as pessoas enquanto corria os olhos pelo lugar procurando por alguma mesa. Seria bem frustrante ver a acompanhante de Sirius. Será que ele tinha convidado Lynn? Ou Bertha Jorkins, que se atirou em seus braços uma semana antes, quando eles terminaram tudo? Ou quem sabe Emmeline Vance, aquela loirinha da Corvinal que tinha uma séria queda por Remo? Remo só tinha olhos para Dorcas Meadowes, isso era óbvio.

 Suspirando, ela percebeu a mão de Alice voando no ar, acenando para ela. Tentou procurar outra mesa e fingir que não havia percebido a amiga, mas quando finalmente achou e deu um passo na direção oposta do salão, uma mão segurou-a pelo braço.

 - Priminha – James sorriu-lhe abertamente com todos os dentes perfeitos.

 Marlene soltou a respiração que havia prendido. Havia uma chance enorme de ser ele, mas não era.

 - Jay – ela beijou sua bochecha – onde está Lily?

 - Eu é que pergunto. Ela disse que estaria um pouco ocupada até as nove e meia, então eu tenho que me virar agora, não é?

 - Quer fingir que é meu par? – Lene sorriu torto.

James lhe ofereceu o braço, cavalheiro.

 - Eu adoraria.

Lene abaixou-se ligeiramente como que para cumprimentá-lo segurando a barra do vestido, e ele riu, dando a mão para ela de uma vez. A mão de James estava quente e segura. Ela entrelaçou seus dedos e eles começaram a descer as escadas, instintivamente na direção da mesa de Alice, comentando o trabalho que Lily tivera naquela semana por causa do baile de formatura.

 - Hey, garota solitária – Alice a cumprimentou com um sorriso.

 Lene fuzilou-a com um olhar quando se abaixou para beijar o rosto de Frank, e depois se sentou ao lado dele. James ficou em pé alguns instantes, acenando para algumas pessoas que passavam e beijando o rosto de outras. Pessoas não, garotas. Alice e Marlene trocaram um olhar e a última puxou-o pelo braço para se sentar logo, quando havia uma garota loira e uma morena paparicando-o.

 - Tente galinhar menos. Você tem namorada. – murmurou Marlene.

 - Eu sei perfeitamente disso – ele respondeu baixo também, inclinando-se ligeiramente, e deu um sorriso malicioso – como se você não soubesse que eu estou nas mãos dela. Elas vieram até mim, Lene, você queria que eu...

 - Arght, ok, ok. – ela interrompeu, um pouco irritada.

 - Hey, nervosinha – James virou-se para ela, ajeitou a franja cumprida que ela havia colocado de lado, e depois puxou-a delicadamente pelo queixo para encontrar seus olhos – o que você tem?

 - Nada. Eu estou ótima.

 Lene sabia que James ia voltar àquele assunto irritante. Diabos, aquela seria uma noite bem irritante se todo mundo continuasse insistindo que ela devia se reconciliar com Sirius. Porque ninguém estava enchendo o saco dele, também? Ela levantou-se e foi atrás de bebidas. Lily havia dito que dessa vez seriam alcoólicas, então pelo menos poderia tentar relaxar um pouco.

 Com uma taça cheia de um líquido verde e um guarda-chuvinha de enfeite, ela saiu andando a esmo, parando ocasionalmente para falar com Remo e Dorcas, e depois com Pedro, que parecia ligeiramente mais sociável naquela noite, acompanhado de uma garota baixinha da Sonserina. Depois encontrou o professor Slughorn e ele lhe deu umas cantadas baratas, convidando-a para dançar, e ela desviou dele educadamente, sentindo o cheiro forte de álcool. A professora Minerva veio logo atrás se desculpando para ela pelo professor e dizendo que ele já devia ter ido para a cama. Droga, aquela noite seria um fracasso. Parecia fadada a ser assim.

 Depois de quase uma hora em pé, zanzando entre as mesas, observando os casaisinhos se levantarem para a pista de dança que já estava cheia, ela pensou em voltar para a mesa de Alice e dos outros. A algumas mesas de distância, o viu, e parou de andar.

 Sirius Black não podia usar black tie, por Deus, quem lhe dera aquela ilusão? Pelo menos um terço da população feminina – incluindo professoras - de Hogwarts ainda estava sentada lançando olhares esperançosos para ele, que parecia não perceber. Ela podia sentir a leveza e a sensualidade natural em ondas que emanava do corpo dele, podia ver a perfeição com que sorria, com todos os dentes brancos, e viu seus olhos brilharem para James e Lílian, que riam de alguma coisa que ele havia acabado de dizer. Ótimo.

 Por um segundo, ela não conseguiu desviar o olhar deles, com a expressão impassível, os lábios um pouco entreabertos. Então ele ergueu os olhos e a avistou, e o sorriso sumiu devagar do seu rosto enquanto a avaliava com aqueles olhos de fogo. Ela agradeceu por estar a uma distância considerável, então ele não poderia notar que suas bochechas coraram por causa do calor que lhe percorreu da espinha até o ultimo fio de cabelo.

 Ela desviou o olhar ligeiramente para o lado esquerdo, para onde viu Lílian olhar com sua visão periférica. Uma garota loira, com um vestido rosa-choque tremendamente apertado ia na direção deles, sorrindo, com duas taças na mão. Era Bertha Jorkins.

 Marlene desviou os olhos para a própria taça, percebendo o fundo mais escuro, e brincou por alguns segundos com o guarda-chuvinha colorido. “Eu sou mesmo idiota”, ela pensou, e logo deu de costas para a mesa, sem olhar de novo. Era quase tão óbvio que a deixava entediada.

 Ela estava desviando de algumas pessoas, sem rumo, quando alguém segurou sua mão livre. Quis parar o instante para que seu coração não batesse tão rápido. Claro que não era Sirius.

 - Marlene! – era Amos.

 Ela franziu ligeiramente a sobrancelha. Há quanto tempo não falava com ele, mesmo? Muito tempo. Ele a havia apertado tão forte pelo braço daquela vez que sua primeira vontade agora foi dar-lhe um tapa na cara pela ousadia.

 - Oi. – ela falou, um pouco ríspida.

 - Como está?

 - Perfeitamente ótima, obrigada. – ela ironizou, amarga, e fez que ia desviar dele para continuar seu trajeto para o rumo desconhecido, mas ele tornou a segurá-la.

 - Não quer... dançar? – ouviu ele perguntar.

 Seria uma boa idéia, assim o cérebro de Sirius ferveria de raiva e ele provavelmente agarraria Bertha na sua frente. Como ela tinha certeza que não controlaria seus impulsos e iria lá dar um tapa na cara dele, era melhor esquecer.

 - Ahm, na verdade eu não estou me sentindo muito bem agora.

 Amos Diggory deu uma risadinha pelo nariz e soltou sua mão.

 - É claro que não está, me desculpe.

 - Não foi nada.

 - Não, Lene, me desculpe pelo baile de Natal e todas aquelas coisas. Eu fui um...

 - Idiota, sim, você foi.

 Ele riu.

 - Me deixa fazer as coisas certas.

 - Amos, eu não vou tentar ser delicada com você agora. Eu realmente esqueci que a gente teve alguma coisa no passado e lamento que você ainda pense que possamos ter. Meu humor não anda muito bom pra ficar agradando os outros, então por favor, pare de insistir nisso?

 Ele crispou os lábios e desviou o olhar do dela, e se enfiou na multidão de pessoas ali, sumindo. As coisas poderiam se tornar piores? “Oh, não”, ela pensou, ao ouvir a batida suave no ar. Tango. Alguém só podia estar de brincadeira. As coisas estavam mesmo se tornando piores.

 Os olhos castanho-esverdeados de Marlene marejaram antes de ela pensar em se mexer. Então começou a andar rápido para a saída, trombando em alguém de vez em quando, e quando estava na escada virou de uma vez a taça nos lábios, e o líquido fez o sangue correr mais rápido em suas veias enquanto a sua mente girava.

 Ela andou pelo corredor, ainda desviando de algumas pessoas animadas que estavam ali e ignorando os assovios de alguns garotos, segurando a lágrima que queria escorrer pela sua bochecha. “Droga de vida”, ela pensou. Teve a impressão de ver Remo e Dorcas atracados em um canto do corredor, mas preferiu não aprofundar aquele pensamento. Podia simplesmente ir para a cama, chorar até que as lágrimas finalmente acabassem e desabar de cansaço. Estava se sentindo realmente mal.

 Quando dobrou o terceiro corredor depois do salão de festas e o percebeu vazio, desacelerou o passo e deixou uma lágrima rolar. Brincou com a taça em seus dedos, avaliando os quadros, pensando em qualquer outra coisa para distraí-la. Ainda eram dez e meia, o baile provavelmente começaria a esquentar agora. E tudo o que ela queria era sumir, ir para o dormitório e escrever uma longa carta para Sam, sua irmã, que a estava ajudando bastante naquela semana com todos aqueles conselhos. Era melhor falar com ela do que com James, que era melhor amigo de Sirius. E Lílian e Alice pareciam decididas a fazer com que ela pensasse naquele assunto a todo instante: Sam foram só umas três vezes durante toda a semana.

 Podia ter sido um ano. Ela sentia tanta falta daquelas mãos carinhosas em sua cintura. Sentia tanta falta daqueles beijos quentes que chegava a doer. Aquilo a estava consumindo.

 Que fosse. Em duas semanas estaria fora do castelo e provavelmente pediria para seus pais a mandarem para algum país longínquo, onde pudesse esquecer de tudo. Porque tudo lembrava ele, mesmo.

 Sirius Black era um idiota. Ele provavelmente escolheria um lugar exatamente do outro lado do mundo e ficaria lá aprontando as suas galinhagens, feliz. Marlene se sentia tão estúpida por estar sofrendo. Ele não merecia aquilo.

 - Você está falando sozinha ou é comigo, moça? – Uma vozinha baixa a chamou.

 Lene percebeu que havia parado no meio do corredor e estava sibilando alguns pensamentos em voz alta, e o menino pequeno do quadro à sua frente parecia intrigado.

- Completamente sozinha. – Ela respondeu.

 Então encostou-se na parede ao lado do quadro e deslizou por ele devagar, arrastando as costas, até se sentar no chão. Pousou a taça com um baque cru na superfície de madeira, e mais do que nunca desejou ter sua varinha para conjurar uma garrafa daquele licor.

- Não pode ser tão ruim assim – O menino continuava falando com ela, curioso.

 - Acredite, é, sim.

 Marlene fechou os olhos e duas lágrimas grossas rodearam suas bochechas. Alguém bem que poderia aparecer e levá-la para o dormitório, no colo. E com uma garrafa cheira de licor, também.

 Estava um pouco embriagada nesses pensamentos quando sentiu o cheiro. O cheiro doce e amadeirado de homem que deixava sua mente completamente confusa. Mais confusa, quer dizer. O cheiro que só ele tinha e que só ela podia identificar com tanta certeza, de olhos fechados, porque era o cheiro da pele dele. Aquele perfume preencheu-lhe cada poro na sua pele com uma esperança que ela tentou repudiar e conseguiu, ao abrir os olhos e fitar o chão.

 Não podia encontrar aqueles olhos profundos, de jeito nenhum. Ele estava na sua frente, em pé, ela viu os bicos dos sapatos pretos. Maldita idéia de ir àquele maldito baile.

 Por pelo menos um minuto, o silêncio foi aterrador, e embora ela preferisse assim, quase sorriu quando alguém o quebrou:

 - Você é o mané que machucou a minha amiga? - O garoto do quadro acima falou.

 Lene ergueu os olhos enquanto Sirius não estava a olhando, e notou que ele parecia surpreso, olhando para o quadro. Ele tinha uma garrafa do licor azul que ela não sabia o nome em uma mão – como se tivesse lido os pensamentos dela - e a outra estava enfiada no bolso da calça social. Não se conteve e se levantou um pouco para pegar a garrafa da mão dele, enquanto ele pensava em alguma coisa para responder ao garoto.

 Ele olhou para ela ao mesmo tempo em que respondia, e ela apressou-se em desviar os olhos dele:

 - Sim, eu sou o mané.

 - Cara, você é bem idiota.

 - Eu sei. – Ele respondeu de novo.

 Marlene bufou, abrindo a garrafa com o braço depois de secar a tampinha.

 - Ela é linda, como pôde perdê-la, pamonha?

 - Eu sei, eu sou realmente estúpido, não sou? – Sirius tornou a insistir.

 - Claro que é, isso é indiscutível. Olha só como ela es...

 - Dá pra vocês dois calarem a boca? – Marlene interviu.

 Depois virou a taça nos lábios, e agradeceu o calor que aquilo lhe causou. E também agradeceu o silêncio que eles fizeram.

 - Idiota. – O menino sussurrou depois de alguns segundos, e Sirius riu baixinho.

 Ele sentou-se ao lado dela, os braços jogados folgadamente sobre as pernas erguidas como uma montanha na sua frente. Ignorando-o, ela acabou com o conteúdo da taça e tornou enchê-la. Maldito cheiro. Maldito.

 - É engraçado que – Sirius começou a falar, e então pigarreou para continuar – eu realmente cheguei a pensar que dessa vez fosse pra valer.

 - Acontece que é.

 - A gente tem que conversar, Mah.


 - Não, a gente não tem. – Ela teve vontade de quebrar aquela garrafa na própria cabeça por causa da maneira como sua voz saiu suplicante.

 - Tem sim.

 - Eu não vejo motivos.

 - Você é tão orgulhosa.

 - Como se você não fosse.

 - Ao contrário de você eu estou aqui tentando conversar. Eu sou menos que você.

 Ela tentou não pensar no quanto aquilo estava parecendo infantil. É você – não, é você. Seria irônico mostrar a língua pra ele, chamá-lo de bobo e sair correndo. Seria estúpido. Ela suspirou outra vez, girando a taça nos lábios.

 - Eu não entendo porque não ficou lá no baile com a sua acompanhante.

 - Acompanhante?

 - Bertha está tão sexy naquele vestido rosa que eu posso até aceitar mudar minha sexualidade. - ironizou.

 - Você está mais sexy do que todas as garotas em todos os vestidos no mundo. Nem pense em mudar de sexualidade.

 Os olhos dela lampejaram para a garrafa, e ela leu sem registrar a marca e o sabor do licor. Tentou não rir da última coisa que ele falara.

 - E ela não é minha acompanhante – Ele completou.

 - Vocês pareciam bem em sincronia.

 - Eu só conseguia olhar pra você. O baile todo.

 - Se você estivesse lá durante todo o baile, não é?

 - É meio difícil sair do dormitório quando você vai percorrer um longo caminho sozinho.

 - São sete corredores e uma escada, Black.

 - Você sabe o que eu quis dizer.

 Novamente, ela suspirou.

 - Eu não quero discutir com você. – Lene falou, erguendo os olhos para o teto, encostando a parte de trás da cabeça na parede. Seus olhos ainda estavam vermelhos, embora as lágrimas tivessem cessado.

 - E eu nunca quis.

 Ela podia sentir o olhar dele sobre si.

 - Então não há motivos para continuar com isso aqui.

 Marlene se levantou de uma só vez, e sua cabeça girou no mesmo instante. “Urght, ótima distração para essa noite, beber até devolver o jantar para a privada”, pensou confusamente enquanto se abaixava para pegar a garrafa. Novamente o mundo girou à sua volta e ela precisou segurar na parede para não cair.

 - Você está bem? – Sirius já estava em pé, do seu lado, com a maldita mão quente na base de sua cintura.

 O engraçado é que ela não se sentia nem um pouco bêbada. Sua mente girava e era só. Seus pensamentos estavam bem sóbrios e suas ações também. Talvez seu inconsciente estivesse colaborando para ela não cair na tentação de agarrar Sirius bem ali. “Merda, essa coisa de inconsciente é um pensamento bêbado”, pensou, virando-se de frente para Sirius.

 Ele ainda estava com as mãos na sua cintura, e seus olhos encontraram os dela. Oh, não... aqueles olhos azuis estavam um pouco acinzentados, e brilhavam como nunca. As mãos quentes estavam esquentando sua cintura e estavam servindo de apoio para sua mente, que de repente pareceu voltar ao equilíbrio. Maldito efeito Black.

 - Eu estou ótima – Ela finalmente falou – eu só quero passar o resto da noite sozinha com a minha garrafa, se me dá licença...

 - Er, essa é a minha garrafa, Lene.

 Ela estreitou os olhos para ele. Porque ele não soltava sua cintura?

 - Agora é minha. Tenta pegar, paspalho.

 Marlene não hesitou um só instante quando ele deu aquele sorriso torto que ela adorava e puxou-a para mais perto, colocando as mãos quentes nas suas costas. Ele roçou o nariz pelo pescoço dela, inspirando o seu perfume, e instintivamente ela fechou os olhos, pousando a mão no peito dele, e a outra pendeu ao lado do seu corpo com a garrafa. O calor do corpo dele era simplesmente irresistível.

 - Eu odeio brigar assim com você. – ele sussurrou perto de seu ouvido – Eu fui tão estúpido por lhe dizer todas aquelas coisas.

 - Foi. – ela conseguiu balbuciar.

 Ele riu, e seu hálito a entorpeceu mais que o licor. Então ele beijou atrás de sua orelha com uma leveza que a fez querer esmurrá-lo. Segurando esse pensamento, Marlene se afastou do corpo dele, e a falta daquelas mãos em suas costas fez a dor parecer quase física.

 - Pode ficar com a garrafa – Ela estendeu-a para ele, que não fez menção de mover-se para pegá-la.

 - Eu não quero.

 - Pode ficar, eu insisto.

 - Eu estava só te provocando, Lene. Porque você está fazendo isso?

 - Acabou, Sirius. – a sua voz tremeu um pouco ao dizer o primeiro nome dele.

 - Eu quero ficar com você, Marlene. - aquele tom de voz arrastada era tão injusto.

 - Você quer agora que já saiu com todas as garotas da escola.

 - Como assim?

 - Você não saiu com todas as mulheres do mundo ainda.

 Ele franziu a sobrancelha, em uma expressão inocente que lhe caiu perfeitamente. Quer dizer, qualquer expressão lhe caía perfeitamente. Seus lábios se crisparam em uma linha fina e Sirius pareceu pensativo.

 - Então você está pensando que é isso? Que quando sairmos de Hogwarts eu não vou mais querer você?

 Marlene deu de ombros. Ela virou a garrafa nos lábios para conseguir desviar o olhar do dele. O sabor do álcool era tão forte.

 - Acha que eu não vou mais querer você porque haverão outras mulheres lá fora?

 - Quando você fala em voz alta é mais cruel ainda.

 - Marlene. – ele a segurou pelos braços de uma maneira urgente – o que diabos você tem nessa sua cabeça?

 - Agora? – Lene fingiu-se de pensativa – O seu perfume. E o cheiro desse licor também. Ah, e um monte de pensamentos negativos, mas eu estou tentando não me concentrar neles agora e...

 - Pára. Agora.

 Marlene encolheu-se nas mãos dele por causa do tom firme. Seus olhos ficaram um pouco chocados, porque ele não estava apertando a mão em seus braços ou coisa assim. Ele estava sendo simplesmente firme. Não estava irritado.

 E isso a irritou.

 - Não, eu continuo. Foi você quem me dispensou como se eu fosse um copo descartável, porque eu estava falando sobre o futuro com você, não foi? Você quem deu a idéia pra gente acabar com tudo, Sirius, foi só você!

 - Marlene, por Merlin, eu não te dispensei! Você saiu do salão comunal como se eu tivesse feito isso, agiu toda a semana como se eu tivesse feito isso, mas eu não fiz isso!

 - Tem razão, Sirius, eu sempre sou a culpada.

 As mãos dele se afrouxaram e caíram ao lado do seu corpo quando ele suspirou.

 - Por favor. – Ele pediu – só pare para me ouvir um pouco.

 Ela olhou para ele, tentando ser dura. Não podia deixar que aquele por favor tão exagerado naquela voz macia a derretesse. Estava entendendo perfeitamente o que estava acontecendo.

 - Ok. – Ela falou – se você não tentar me agarrar como fez agora a pouco.

 - Eu não estava te agarrando – Sirius ergueu uma sobrancelha com um ar risonho – Eu acho que você mais do que ninguém entende o que acontece quando eu agarro.

 Marlene revirou os olhos nas órbitas.

 - Cachorro.

 Sirius deu uma risada baixinha, aquela que lembrava um latido, e Marlene ficou com uma vontade enorme de ouvir aquela risada bem perto, em seu pescoço.

 - O que você ia me dizer? – Ela perguntou.

 Quanto mais rápido se livrasse dele, mais chance teria de resistir.

 - Vamos para outro lugar. – ele deu uma rápida olhadela para o lado.

 Marlene olhou para o menino no quadro que o fitava furiosamente. Ele parecia se segurar para não despejar impropérios em Sirius por causa da conversa que eles estavam tendo. Ela não se conteve e soltou uma gargalhada; havia se esquecido completamente do garotinho. Desviando de Sirius, ela deu uma piscadela para o menino no quadro, e murmurou:

 - Depois eu te conto tudo, gracinha. – E foi andando.

 Seus pés a guiaram instintivamente. Era quase um código. Um lugar para conversar no meio da noite. Um quadro de frutas, chocolate quente, banquinhos altos. A cozinha sempre seria um refúgio.

 Sirius a acompanhou de perto. Algumas vezes Marlene sentiu a tontura voltar à sua mente e precisava segurar no braço dele para não cair, e todas as vezes saía praguejando consigo mesma por ter ficado mais tempo do que precisava com a mão ali.

 Quando entraram no lugar, ela ficou ao lado da mesinha em que costumavam se sentar. Nos últimos meses, só ela e Sirius. Eram raras vezes em que James e Lílian os acompanhavam até lá; às vezes o primo dava umas indiretas, como o lugar ser sagrado para algumas pessoas ou coisa assim. Como ela não se sentava, Sirius também não o fez. Ele pediu para um elfo uma xícara grande de capuccino com chantilly – para Marlene, ele sabia que ela adorava – e um chocolate quente para ele. Com whisky, claro.

 O elfo colocou as bebidas na mesa e eles não se moveram. Marlene estava esperando que ele falasse alguma coisa. Não faria nada enquanto ele não fizesse. Foi aí que ele suspirou e deu alguns passos na direção dela, abraçando-a por trás tão calorosamente que ela quase se esqueceu da condição.

 - Não-me-agarre.

 - Eu não estou agarrando você. – Ele respondeu com a voz rouca perto de seu ouvido.

 E logo ela esqueceu das bebidas na mesa.

 As mãos de Sirius acariciaram sua barriga e seu peito arfou nas costas de Marlene, enquanto ela fechava os olhos para sentir aquele calor. Como seu corpo estava com saudades dele! As mãos dela reagiram instintivamente, segurando as dele. Ele soltou uma mão e afastou o cabelo de Marlene do pescoço para beijá-lo de um jeito gostoso – aquele jeito que fazia as pernas dela enfraquecerem. Sirius sussurrou baixinho, e sua voz macia dançou perto do ouvido de Marlene:

 - Eu tenho um presente pra você, meu amor...

 - Você é tão estúpido de tentar me comprar. - ela fechou os olhos, esticando o pescoço, e sua voz saiu um pouco arfante por causa do desejo.

 - Na verdade, não é um presente pra você, não, é mais pra mim. – Ele arrastou os dentes na orelha dela, e toda a sua pele se arrepiou.

 - Primeiro você tem que saber de uma coisa. – Marlene começou em tom de esclarecimento, abrindo os olhos; Sirius pousou o queixo em seu ombro para escutar – Eu só comecei a brigar com você porque eu estava desesperada com a idéia de você não me querer mais, de você querer se livrar de mim, porque você não me falava o que diabos estava planejando fazer quando saísse de Hogwarts, e droga, isso é uma coisa que os namorados conversam, sabe, mesmo qu...

 - Marlene... eu sei. – Ele interrompeu em seu ouvido.

 Outro arrepio.

 - Eu sou mesmo a culpada dessa vez, Six.

 - É mesmo.

 - Pode sair correndo para a Bertha agora.

 - Pode calar a boca agora.

 Ela bufou com a ordem, mas ficou quieta. Os lábios dele ainda roçavam em seu pescoço fazendo movimentos insinuantes e de vez em quando seus dentes se arrastavam e mordiam bem de leve.

 Foi quando sentiu uma coisa fria e metálica entre os dedos, que Sirius lhe entregou quando voltou a mão para a sua. Ela demorou alguns instantes para abrir os olhos e perceber que era uma chave.

 - O que é isso?

 - Desde quando você é tão cega?

 - Eu sei o que é, quero dizer... ah, isso abre o que?

 - O nosso apartamento na rua Victoria Embankment. Marlene – ele depositou um beijo atrás de sua orelha e virou-a, segurando sua cintura e fixando seu olhar no dela – você quer morar comigo?

 Ela precisou de um instante para registrar aquele pedido, sob os olhos ansiosos dele. A chave girou em seus dedos como se estivessem acostumadas com o contato entre eles. Era dourada e tinha uma fita vermelha prendendo-a, como um laço de presente. Marlene tornou a olhar para ele, e de repente sua voz não saiu.

 - Eu não consigo ter a idéia de que há um futuro sem você. – ele murmurou, o olhar variando entre os olhos e a boca dela – Eu estava esperando para te dar depois da formatura, mas é claro que você tem que enlouquecer, não é?

 Ela riu pelo nariz, mas não prolongou o riso. E nem respondeu. Sua mente girou uma ou duas vezes mas aquilo não era nada comparado ao que seu coração estava fazendo. Tão, tão rápido!

 - Tudo bem se você tiver que voltar para Manchester com seus pais... ou ir passar um tempo na Austrália, como disse que gostaria. É seu sonho, afinal, mas volta pra mim depois, eu vou ficar lá te esperando e...

 - Sirius. – ela finalmente conseguiu articular.

 Ele ergueu os olhos.

 - Essa é a hora que você cala a boca.

 E se jogou nos braços dele, deixando-se resistir. Que fosse para o inferno todo o mundo! Sirius Black queria morar com ela, passar todos os dias com ela. O corpo dele estava tão quente que ela se agarrou nele como se fosse a última vez, os braços em seu pescoço.

 Sirius riu e a abraçou, subindo as mãos pela sua cintura bem firme. Os corpos bem colados. Marlene de repente percebeu. Como pudera ter a sombra da idéia de que tudo aquilo que eles passaram estava acabado? Ela não podia nem pensar de novo. A chave ainda estava bem presa entre seus dedos, e ela só tinha a certeza de que era aquilo que era o certo. Que ele era perfeito para ela, e que o amava.

 - Eu posso te agarrar agora? – ele perguntou.

 Marlene deu uma risada e afastou a cabeça de seu pescoço para olhá-lo, sorrindo com os lábios. Sirius mordeu os dele e acariciou a bochecha dela, fazendo um círculo na sua covinha, e estreitou um pouco os olhos.

 - Eu amo você, Six. – a voz dela saiu um pouco embargada – eu não suporto mais que você não me agarre.

 O sorriso dele foi incrível, com todos aqueles dentes brancos e enfileirados, e o hálito dele foi cruel. Foi Marlene quem se inclinou para beijá-lo e tomou os lábios macios dele entre os seus, bem devagar, fazendo lembrar o primeiro beijo. As mãos dele imediatamente se tornaram mais firmes em suas costelas e ele suspirou, e depois correspondeu daquele jeito gostoso que só ele sabia fazer.

 Ela não soube exatamente em que instante e quanto tempo durou, porque a sua mente viajou para outro planeta e voltou no mesmo minuto e aquilo era um pouco desorientador. Quando abriu os olhos e ofegou, colando a testa na dele, ela já estava sentada no banco alto, de frente para ele, que estava em pé com as mãos em suas coxas e costas. Completamente sem ar.

 - Eu amo você também, pequena – ele falou com toda aquela sinceridade palpável na voz arrastada e macia, com os olhos fechados.

 Lene acariciou os cabelos da nuca dele, o olhar perdido nas bochechas coradas e nos lábios inchados de Sirius. Ela estava pensando que a noite mais ridícula de sua vida estava para se tornar a melhor. Quer dizer, tinha se tornado.

 - Não briga mais comigo – ele pediu de repente, em um tom divertido – eu não tenho culpa se sou lerdo ou não sei demonstrar o quanto você é importante pra mim.

 - Você está errado – Lene falou, a voz arrastada como a dele, e isso o fez abrir os olhos, curioso – você sabe demonstrar perfeitamente. Você me ganhou só com o sorriso, Six.

 Ele sorriu com os lábios, e ela pressionou os lábios nos dele devagar.

 - Não sei o que eu faria se não tivesse você de volta.

 Lene riu baixinho.

 - Você nunca me perdeu, seu bobo.

 - Huum, assim é melhor.

 Ela riu e ele puxou-a para saltar do banco, para em seguida beijá-la com tanta urgência quanto antes.


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 - Huum, exatamente como eu imaginava. – James riu, quando eles chegaram na orla da pista.

 Ele estava sentado na mesa, sem o blaser, parecendo um pouco cansado. Lene riu, alegre, e soltou-se dos braços de Sirius para correr para a pista, onde Alice e Lílian estavam dançando. Ela acompanhou-as até a música acabar e depois ergueu a chave na altura dos olhos delas, fazendo um passo de dançar engraçado.

 - O que é isso? – Alice sorriu de orelha à orelha, segurando-a pelo braço para que parasse quieta.

 - O que diabos é isso, McKinnon? – gargalhou Lily, segurando a amiga pela cintura.

 - A chave do meu futuro, amores. Eu vou morar com Sirius!

 Lílian e Alice trocaram um olhar perplexo primeiro, e depois começaram a atirar milhares de perguntas altas e alegres. Bertha estava no grupo de garotas bem ao lado delas, e a sua dança começou a ficar mais lenta quando ela prestou atenção no trio com o olhar meio gélido. Quando Marlene percebeu, o sorriso em seu rosto desapareceu lentamente, e sua expressão ficou indefinida. Aquilo era estranho: Bertha Jorkins não era o tipo de garota que fazia joguinhos, como Lynn fizera um dia.

 Alice aproximou-se dela e falou perto do seu ouvido:

 - Esquece essa garota, Lene.

 - Eu tenho que perguntar. – Ela falou de repente – Sirius veio com ela?

 Alice e Lílian trocaram um olhar cúmplice, e ela entendeu. Seu cérebro pifou por alguns instantes.

 - Ok, não precisa dizer. Ah, droga... – Lene colocou uma mão sobre o olho, sentindo um arrepio na espinha – Ele mentiu pra mim.

 - Lene, não é nada disso, eles não vieram juntos. Eu acho. – Alice começou a falar.

 - Parece que Bertha estava saindo com Trevor e eles brigaram no meio do caminho, e Sirius a encontrou e ela...

 Lene percebeu pela expressão dela.

 - Ela confundiu as coisas? – Perguntou, erguendo as sobrancelhas.

 - É. – Lil disse com uma careta – Não é culpa do Sirius.

 - Claro que não. – Lene fez um gesto com as mãos, sorrindo com os lábios, e girou os calcanhares para o lado das meninas.

 Passou por Bertha, que a olhava estranhamente, e continuou andando. A única coisa que estava pensando era que não podia ir morar com um homem que começou mentindo. Sobre o que mais ele mentira?

 - Lene! – Sirius a chamava.

 Ela fingiu que não ouviu e tentou andar mais rápido entre as pessoas, mas elas pareceram se aglomerar todas na sua frente no mesmo momento. “Droga”, pensou, desolada, rodando a chave entre os dedos. Estava tocando With Me, do Sum 41 (n.a: aconselho ligar as caixinhas/ música perfeita! ), e ela suspirou por um segundo, dividida entre pular encima de todo mundo e... Maldito. Ele segurou o braço dela e a girou para que o encarasse.

 Ela ficou um pouco surpresa com a expressão séria dele. Sirius puxou-a para mais perto, deixando o rosto a centímetros do seu, e ela sabia que não era apenas para que pudessem se ouvir direito – era porque ele sabia do efeito que aquela maldita proximidade causava nela. O perfume dele. Diabos.

 - O que foi agora? – ele perguntou.

 - Eu já descobri do seu romance mal acabado, amor.

 - Oh, Marlene... pelo amor de Merlin...

 - O quê? Vocês se beijaram! Porque não me contou?

 - Ia adiantar eu te contar quando você estava fervendo de raiva de mim? Você não ia ouvir nem o que eu tinha pra te falar de mais importante! Eu ia te contar depois!

 - Depois do quê? De me trair com setecentas?

 - Eu não te traí. – ele falou pausadamente, a voz mais alta que antes – ela veio me beijando, você sabe muito bem. E a gente nem tava junto.

 - Você disse que ela não era sua acompanhante.

 - E ela não é! Droga, Marlene, eu fiquei essa porcaria de semana inteira pensando em um jeito de te pedir desculpas e te fazer entender que eu TE AMO! Não existe outra garota na face da Terra pra mim além de você!

 A música entrou no refrão e Lene se perguntou se aquele momento estava mesmo perfeito do jeito que ela estava pensando.


I want you to know, with everything, I won’t let this go
These words are my heart and soul


 As bochechas de Sirius estavam coradas e ele respirava com um pouco de dificuldade, o olhar profundo no dela, e Marlene percebeu o que estava fazendo. Por alguns segundos, só conseguiu pensar no quando tinha sorte de ter Sirius e no quanto seria feliz ao lado dele pelo tempo que durasse – porque ele ia atrás dela, ele deixava que ela pirasse com qualquer coisa pra depois ela mesma pedir desculpas, e principalmente, ele tinha o fogo que ela precisava. Segundo Lily, segundo ela mesma, e segundo qualquer um que tivesse olhos e ouvidos.

 Quando o refrão voltou a tocar, Lene soltou os próprios braços das mãos grandes de Sirius, puxando os ombros para trás, e observou enquanto ele fazia aquela expressão desolada. Aquela de cachorro que caiu da mudança – aquela que ela amava. Não conseguiu segurar um sorriso torto quando pensou nisso, e, dando uma rápida olhadela para o lado, notou que algumas pessoas haviam parado de dançar para prestar atenção neles. Será que eles tinham ouvido o que Sirius tinha dito? Não importava.

 Marlene pegou as mãos dele, que haviam caído ao lado do corpo, e colocou-as em sua cintura. Os olhos dele brilharam mais e ele a puxou devagar para perto, enquanto ela passava os braços pelo seu pescoço, e sem se dar conta que metade do salão os observava, ele a beijou de um jeito doce.

 E a levou para o céu. Aqueles beijos de reconciliação eram tão intensos que Marlene duvidava que se esqueceria deles algum dia na vida. Assim como todos os beijos dele. As mãos dele subiram para suas costelas, puxando-a mais contra si, e ele mordeu o lábio inferior dela com uma força contida, o que a fez sorrir.

 Houveram alguns assovios e risadas, mas eles nem perceberam; continuaram se beijando como se estivessem em um mundo só deles e não houvesse ninguém por perto. Porque na verdade estavam, mesmo.


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 Lílian havia acabado de anunciar o fim do baile, e todos os alunos fizeram algum tipo de protesto ao mesmo tempo, mas todos obedeceram e começaram a se retirar do salão de festas. As escadas de repente ficaram tão lotadas que tinha que andar arrastando os pés para não ficar parado por sete segundos cada vez que dava um passo.

 Mas Marlene e Sirius não tiveram problemas com isso. Quando ouviram a voz de Lily, eles já estavam no corredor do andar de baixo.

 Sirius pressionou o corpo contra o de Marlene na parede, e o beijo foi ficando mais feroz do que já estava. Ela ergueu a perna direita para encaixar-se no corpo dele, puxando seus cabelos e sentindo a mão quente entrar pelo seu vestido e apertar sua coxa, completamente quente, arranhando com leveza. Marlene suspirou e afundou as unhas no ombro dele, e Sirius começou a beijar seu pescoço de um modo que arrepiou toda a sua pele.

 Lene arfou e acariciou seus cabelos por um instante, até que ele desceu os beijos para o seu colo, a mão que segurava sua coxa se aventurou um pouco mais para trás, e a outra tentou apertá-la mais ainda contra si – foi aí que ela começou a desabotoar a camisa dele, de baixo para cima. Desabotoou três botões e acariciou a barriga dele com as unhas, ouvindo-o suspirar alto e erguer a cabeça para o seu pescoço para beijá-lo com mais volúpia e dando mordidas ocasionais.

 Quando ela desabotoou todos os botões e as duas mãos passearam entre o peitoral de Sirius e suas costas, sentindo os músculos sobressalentes sob a pele quente, ele parou de beijá-la e puxou a outra perna dela, a esquerda. Lene pendurou-se ali enquanto ele começava a afastar-se da parede para a porta mais próxima.

 - Como você cogitou a idéia de viver sem isso? – ele suspirou em seu pescoço.

 Lene riu, e sugou seus lábios uma vez, com as mãos nos cabelos dele, antes de responder:

 - Eu não tinha pensado exatamente... nisso. Eu estava com raiva.

 - Pois eu fiquei pensando nisso a semana inteira.

 - É que você é um safado.

 - Não fala desse jeito... – ele ronronou em seu pescoço como um cachorro quando recebe carinho.

 Marlene ouviu uma porta se abrindo e Sirius a chutou com o pé. O lugar estava completamente escuro e ela não desgrudou dele.

 - De que jeito eu devo falar, então? – ela perguntou com um ar risonho.

 Sirius riu baixinho.

 - Acredite, você não ia gostar dessa resposta.

 Lene deu um tapa em seu ombro, rindo junto com ele. Sirius sentou-a na carteira do professor e continuou entre as suas pernas.

 - Você é tão cachorro... – ela suspirou ao mesmo tempo que fechava os olhos.

 Sirius estava beijando seu pescoço de novo. Ah, maldito. Ela afastou as mãos dele do seu corpo – as mãos, não os lábios – e passou as próprias por dentro da camisa, até encontrar os ombros, e puxou a camisa para fora. Lene não se conteve e abriu os olhos para conferir: diabos, Sirius Black tinha um corpo inimaginável. Perfeito para ela e seus dedos exploradores, que logo estavam passeando pelo tanquinho, nas entradas no final da barriga.

 Ele estava arfando de novo, dessa vez em sua orelha, e passando os dedos pela alça azul e fina do vestido dela para abaixá-lo quando a porta abriu devagar.

 Instintivamente, eles se soltaram, mas permaneceram tão próximos quanto antes.

 - Sirius? – uma voz conhecida chamou.

 Sirius fez uma careta para Marlene, encolheu os ombros enquanto ela ria, e virou-se para cumprimentar James.

 - Jay, amigo de todas as horas!

 O outro não sorriu, do contrário, franziu a sobrancelha e suas bochechas ficaram vermelhas. Ele não respondeu, e Lílian apareceu atrás dele, com a mão na boca, aberta em O, sorrindo imensamente para Sirius por trás do namorado. Sirius piscou para ela e acenou com a mão.

 - O que está fazendo aqui? – James perguntou com uma voz raivosa.

 - Estou eh... hum... como eu posso...

 - Hey, James, ele está comigo! – Lene ergueu a cabeça de trás do ombro de Sirius.

 James bufou e saiu pisando firme pelo corredor. A risada que Lily não conseguiu segurar saiu pelo nariz enquanto ela pegava a maçaneta da porta.

 - Eu não sei por que ele fica tão bravo se estava com a mesma intenção na cabeça e... ah, que seja. Boa noite pra vocês. – e fechou a porta.

 - Wooa. – os ombros de Sirius relaxaram, e Lene deu uma risada enquanto apertava os músculos na base posterior do pescoço dele, sentindo-os sob a pele quente – isso foi... estranho.

 - Deixa o James... – ela fez, e apressou-se em colar o busto nas costas de Sirius.

 Ela roçou o nariz pela extensão da orelha dele sentindo os seus ombros relaxarem mais, e depois roçou os dentes, para então beijar. Mordiscou levemente a pele atrás da orelha e sussurrou:

 - Onde a gente tinha parado, mesmo?







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n.a: u.a.u. Quantas mudanças no f&b, hãn? adorei a paradinha de pôr imagens de volta :D ainda vou lutar com a minha inteligência para descobrir como diabos põe a música naquele troço, mas eu vou. ah, e sobre o especial, espero de verdade que gostem! Eu escrevi isso tudo muito rápido, então ainda não caiu a ficha se ficou bom ou não.. então está nas mãos de vocês! :D comentem, se expressando, quer coisa mais linda que se expressar? *--*
em breve, no próx. capítulo, uma short J/L ;) Beijos!

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