Retorno à magia



As poucas horas de sono que conseguiu ter foram torturantes.


Seu sonho fazia questão de reviver o beijo de Rony e Hermione. Dor seria o melhor sentimento que descreve a sensação de ter presenciado aquela cena.


Sua consciência toda hora lhe afirmando que ela queria; que ela correspondera.


- Você confia demais no que sente – dizia sem qualquer piedade.


Joon? – Uma voz ecoava distante.


Talvez se ficasse quieta, a voz pararia.


- Joon? – A voz continuou mais perto e mais alta.


 Tentou ficar o mais imóvel possível, porém a voz não parava então, parou de ignorá-la e aos poucos ia acordando.


Nana estava com a mão encostada no braço de Joon e o sacudia com um pouco de urgência.


- Joon,vamos, tem que levantar senão vai perder a hora do trem.


Joon se cobriu, resmungou e virou de lado.


- Espero que já esteja de malas prontas. - Disse virando a mão para a janela e com um aceno de varinha, as cortinas se abriram, revelando a atmosfera nublada.


Nana se virou para Joon.


 - Carpe Retractum.


A coberta escapou de seu corpo.


- Já estamos atrasadas. Não me faça jogar um aquamenti em você.


A muito custo, Joon levantou e se aprontou sem muita animação. A noite mal dormida se manifestou em olheiras e dores no corpo.


Na hora do café, consultou o relógio e realmente estava um pouco atrasada, mas nada mirabolante.


-  Ainda faltam 10 minutos.


-  É. Os Weasley estão meio atrasados.


-  Os Weasley? – perguntou surpresa


- Sim. Você terá que ir com eles. Hoje seria folga da sua mãe, mas sabe como são os hospitais, enfim, ela pediu esse favor a Molly. Eles iam passar aqui por volta das 10:30, mas é compreensível, acordar você já é difícil, imagina ter de acordar quatro.


Ah, perfeito. As ultimas pessoas que queria ver hoje vão vir me buscar e vou ter que sorrir e fingir que estou feliz.


  Pelo menos é o que faria em reação ao casal da noite passada.


-  Desculpe o atraso Nana. É difícil vencer o tempo com muitas pessoas pra se aprontar. – disse o Sr. Weasley.


Joon se distraiu que nem percebeu que os Weasley já vinham vindo buscá-la.


-  Não se preocupe Arthur  - Joon ouviu Nana dizer e desejou intimamente que não a chamassem tão cedo.


-  Joon,  Arthur já chegou.


Alegria de bruxo dura pouco – Pensou.


Joon arrastou seu malão até a sala e para sua sorte, só o Sr. Weasley estava lhe esperando.


-  Segure-se em mim, nós vamos aparatar – Disse o Sr. Weasley ajeitando suas vestes.


-  Sentiremos saudade querida. Não se esqueça de escrever.  – Disse Nana a abraçando


-  Quando eu contar três: um...dois ..três ...


   Joon se virou. Na mesma hora teve aquela horrível sensação de que a empurravam à força para dentro de um grosso cano de borracha; não conseguia respirar, cada parte de seu corpo comprimia-se insuportavelmente, então, quando pensou que ia sufocar, a cinta invisível pareceu se romper, e ela se viu parada em um beco escuro e úmido. Logo à frente, podia ver a estação de King’s Cross. O Sr. Weasley disparou até o outro lado da rua para pegar um carrinho para a bagagem e a passos apressados, conduziu Joon até a plataforma nove e meia, que não era visível aos olhos dos trouxas. O que a pessoa tinha que fazer era atravessar uma barreira sólida que separava as plataformas nove e dez. Não machucava, mas tinha que ser feito com cautela, de modo que os trouxas não vissem a pessoa desaparecer.


     Joon virou o carrinho e examinou o relógio de pulso; duas para as onze.


    -  Não se preocupe. Pode ir correndo se estiver nervosa - Disse o Sr. Weasley bondosamente.


  Ela encarou a barreira e começou a andar em sua direção. As pessoas a caminho das plataformas nove e dez a empurravam. Joon curvou-se para o carrinho e desatou a correr - a barreira estava cada vez mais próxima - não poderia parar - o carrinho estava descontrolado – ela estava a um passo de distância - fechou os olhos e não sentiu nada...ela continuou correndo...Abriu os olhos.


   Lá estava ela, a locomotiva vermelha, arrotando fumaça escura sobre a plataforma apinhada de pais. Grande parte dos alunos já havia entrado no Expresso. Joon aspirou aqueles cheiros familiares e sentiu seu ânimo fortalecer.


   Não muito distante, a Sra. Weasley acenava para Gina e Hermione e nem percebeu a aproximação de Joon e do Sr. Weasley.


   Joon agradeceu o Sr. Weasley e quando ia falar com a Sra. Weasley, esta lhe sorriu rapidamente.


  - Depressa, depressa.


   Quando Joon tentou insinuar que ia falar algo, a Sra. Weasley empurrou a garota em direção à porta do trem. Este já começava a andar e não demorou muito para as silhuetas do Sr. e da Sra. Weasley encolherem rapidamente.


  O trem ganhava velocidade, fazendo-a balançar, e transformando as casas em imagens fugidas.


   Joon tentou passar espremida entre os alunos para atingir o corredor das cabines, mas acabou tropeçando em algo desconhecido e foi de encontro ao chão.


 Alguns alunos próximos caíram na risada.


   -  Perfeito. – Ironizou.


   -  Quer uma ajuda? – Uma voz perguntou gentilmente. A última voz que desejaria ouvir. Desejo esse, que cessou assim que ergueu os olhos e Hermione Granger, sorrindo, lhe estendeu a mão.


  Joon lutou internamente antes de aceitar. A mão tão macia e rosada de Hermione lhe causava pequenas pontadas elétricas no ventre. Manter aquele toque se tornou uma tarefa difícil, uma vez que suas mãos começaram a suar e não restou outra alternativa senão soltar e secá-la discretamente nas vestes. Não foi tão discreta porque Hermione percebeu e dando um meio sorriso, abaixou levemente a cabeça. Joon sentiu - se corar mas não se impediu de acariciar a mão da outra com a ponta dos dedos.  Hermione encarou - a sem dizer nada.


      -  Hermione preciso de você aqui! – Rony gritou do final do corredor.


     Hermione virou na direção em que vinha a voz de Rony.


      -  Um minuto.


      E se virou novamente pra Joon.


       -  Eu tenho que ir.


      Joon deu nos ombros.


       -  Ok – Concordou resignada


     Ela pegou a alça de seu malão e avançou com dificuldade pelo corredor, espiando pela vidraça das cabines e descobrindo que já estavam ocupadas.


       Passando em um vagão, encontrou Harry e um menino de rosto redondo e desengonçado que reconheceu como sendo Neville Longbottom.


        Quase no final do corredor, encontrou um compartimento vazio em que, agradecida, entrou rapidamente.


Tudo acontecera tão rápido. Em um dia estava vivendo como um animal e no outro, estava de volta em sua cama quentinha, saboreando as comidas de Nana. Não tomara a decisão de voltar, simplesmente voltara e quando se deu conta disso, já estava em um trem embarcando para Hogwarts; lugar que nunca pensaria em retornar, mas que, em outras épocas, nunca pensou em sair.


      Aos poucos, gotas de chuva começavam a cair; as que se prendiam no vidro tornavam a paisagem afresco.


  O vento empurrava-as em uma corrida involuntária, cansando e atraindo o surreal...


   A porta da cabine se abriu e Hermione entrou.


Olhos pairando sobre a figura serena à sua frente. À menos de um passo, sentou sobre o banco em que a outra adormecia; inclinou-se mais em sua direção; os braços nas extremidades do corpo de Joon acariciando delicadamente os contornos de seu cabelo. Joon acordou e ficou confusa.


  -  Hermione? – Gaguejou?


  -  Shhhh. – Silenciou ponto o indicador em seus lábios.


Joon se calou e Hermione deslizou o dedo para sua nuca, formando uma espécie de concha.


 A distância foi se quebrando, a respiração a poucos centímetros; os lábios quase vencendo o espaço restante...


 


-  Joon?


 Alguém tocava no seu rosto.


Joon abriu os olhos.


   Uma garota de cabelos louros, sobrancelhas muito claras e olhos saltados que lhe davam um ar de permanente surpresa, a encarava.


    -  Estive pensando se você não estaria com fome. A mulher do carrinho já está passando pelas cabines – Disse sonhadora.


   Joon se ajeitou no banco e passou a mão nos cabelos.


 Mesmo em sua ausência, o cheiro de Hermione a abrandia de uma forma real.


    -  Eu vou acabar tendo um surto – murmurou sem pensar.


    -  Está tudo bem. São apenas os blindberts. – disse a garota de cabelos louros


    -  blindberts? – Perguntou Joon.


    - É. Pensei ter pressentido alguns por aqui – Disse procurando algo perdido no ar.


    Joon fez uma expressão estranha e achou melhor não entrar em detalhes.


    -  Desculpa. Mas quem é você?


    -  Luna Lovegood - Respondeu.


    -  Como sabia meu nome?


    -  Estava escrito na sua mala.  – Disse pegando uma revista intitulada O Pasquim e mergulhando atrás dela.


Por sorte o carrinho de lanches não demorou muito para aparecer.


    -  Desejam alguma coisa queridas? – Disse a mulher em plenos sorrisos.


    -  Tem tortinhas de abóbora? – Perguntou Luna por cima de O Pasquim.


    -  Claro que sim – respondeu a mulher em meio a covinhas.


Enquanto Luna vasculhava suas coisas à procura de dinheiro, Joon foi ver o que tinha pra comer.


    -  Um caldeirão de sapos de chocolate –ouviu Hermione dizer – Oh, olá – acrescentou assim que viu Joon.


A garota retribuiu com um sorrisinho.


    -  Aqui está – disse a mulher.


Hermione pegou o pequeno caldeirão e com uma última olhada na garota, entrou em uma cabine próxima. Joon suspirou e se voltou na direção do carrinho; comprou 4 tortinhas de abóbora e tiras de alcaçuz.


    -  Tome – ofereceu Joon estendendo as tortinhas para Luna.


    Esta a encarou sem piscar.


    -  Não precisava fazer isso. – Informou


    -  Mas já fiz – Cortou Joon – Só aceita ok?


 Luna perdeu momentaneamente a vagueza e lhe olhou ternamente.


    - Obrigada.


    - Não foi nada – Respondeu por fim.


No restante da viagem, Luna, que pelo jeito simpatizara-se com Joon, fez questão de explicar cada detalhe da revista e das viagens de descoberta que realizava com o pai.


     -  Papai acha que pondo assuntos interessantes, vai aumentar ainda mais as vendas -Explicou ela.


Joon podia imaginar esses assuntos ‘‘interessantes’’, mas não teve coragem de falar nada, apenas tentava fazer um esforço para parecer interessada uma vez que, sem as esquisitices, Luna se mostrava uma pessoa bem agradável.


      Depois de se trocarem, o trem finalmente começou a reduzir a velocidade.


Houve uma zoeira de alunos que corriam a preparar a bagagem e os animais de estimação para o desembarque.


      As duas saíram lentamente da cabine e aos poucos foram atingindo a porta. Joon sentiu o cheiro de pinheiro que cercava a trilha.


      À saída da estação de Hogsmeade, as carruagens os aguardavam.


Na carruagem mais próxima, Joon pôde ver uma juba de cabelos castanhos por meros momentos, suficientes para agarrar Luna e apressar o passo.


      -  Tudo bem se a gente for com vocês? – Perguntou olhando para o nada dentro da carruagem.


     -  Claro, entra ai ! – Ouviu a voz de Gina.


 Com todos os lugares ocupados, as rodas rangeram, entrando em movimento.


Sentou-se de frente para Rony.


Um feche de luz -Joon viu a mão de Rony e Hermione entrelaçadas - outro feche - e Hermione viu pra onde a garota olhava -um terceiro feche- a mão de Hermione agora segurava Bichento.


    Uma linha de satisfação dominou-a internamente mas tentou não espelhá-la.


     Entre às copas das árvores, partes do castelo iam aparecendo em torrões muito negros que por vezes resplandecia alaranjada em algumas janelas no alto.


    Sorrindo suavemente, não teve pressa ao descer da carruagem e contemplar o gramado sob seus pés e a imensa porta de carvalho a poucos metros.


    -  É bom voltar para casa – ouviu Harry que já caminhava em direção ao saguão de entrada acompanhado de Rony, Hermione e Gina.


     Ainda fascinada, sentia a magia retornar e engrandecer dentro de si, levando as mágoas do passado. Seria essa uma nova chanse de esquecer o passado e retomar a vida?


   -   É pura magia – murmurou Luna ao seu lado.


   -   É – Concordou – Então, vamos entrar?


   Luna concordou e as duas se juntaram ao grande número de alunos que subiam rapidamente as escadas para entrar no castelo.


    No salão principal, as quatro mesas compridas dispostas no salão foram se enchendo sob um céu escuro e sem estrelas exatamente como o céu do lado de fora do aposento. As velas flutuavam um tanto distantes das mesas e iluminavam os fantasmas prateados que pontilhavam o chão e os rostos dos alunos que conversavam pressurosos.


     -  A gente se vê depois? – Perguntou Luna parando na mesa da corvinal.


     -  Er...claro  - Disse dando um sorriso forçado; tinha se esquecido que Luna e ela não ficariam na mesma mesa.


     Soltou um suspiro e se sentou em um canto da mesa da Lufa-lufa.


À primeira vista, pareceu que ninguém a reconheceu, o que para Joon, foi bem recebido.


Do outro lado extremo do salão, podia ver Harry e Rony lado a lado com Hermione de frente para eles passando a mão pelos cabelos que se refletiam ao pavio em diferentes tons de castanho velados sob seu chapéu coco. Ao que pareceu, Hermione percorreu os olhos pelo salão o que fez Joon voltar os olhos para a mesa e se surpreender com uma mão empossada de um anel de madeira com uma pequena pedra de um rubi rústico.


 Seguindo o caminho da mão, encontrou um rosto conhecido dominado por imperceptíveis marcas do tempo.


Sofia Jostein despontou um sorriso sôfrego em seu rosto corado enquadrado em negros cabelos rutilados.


     -   Quanto tempo – Começou Sofia


 O anel ainda mantinha a atenção de Joon. Percebendo isso, Sofia prender os cabelos e se demorou mais tempo que devia.


     -   É – respondeu Joon encabulada – desde...- mas não terminou.


     -   Tudo bem – Confortou a menina – O tempo vem para curar as feridas.


     -   E trazer novas – Subjetivou Joon enquanto olhava Rony brincando com os dedos de Hermione.

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