CAPÍTULO VI



CAPÍTULO VI

Em abril Rony recebeu a notícia de que Gina tinha dado à luz um menino, o primeiro neto do conde de Campion. Embora alegrando-se ao ser informado de que mãe e filho passavam bem, sentiu uma ponta de inveja da sorte de Harry. Foi uma reação que tanto o surpreendeu quanto aborreceu, porque nunca ele havia cobiçado o que os irmãos tinham. Sentiu até remorso, embora não estivesse invejando o castelo ou a fortuna do Lobo. Ambicionava, sim, ter a mesma felicidade no casamento, poder construir uma família.
Rony olhou para a esposa, que estava no outro lado do salão. Sabia muito bem que com ela não teria nenhum filho. Essa certeza o deixou com uma inexplicável sensação de perda. Não era do tipo de homem que fazia questão de deixar uma descendência. Além disso, não tinha experiência nenhuma com crianças. No entanto, contemplando o futuro, sentia uma frustração que tanto o surpreendia quando irritava. Então examinou Hermione, vendo mentalmente o corpo esbelto que estava por baixo daquelas feias roupas.
Ele seria capaz de se deitar com ela.
Vindo do nada, o pensamento o seduziu rapidamente. Hermione não era nenhuma bruxa velha. Pelo contrário, tinha um corpo jovem e dotado de delicadas curvas, muito feminino. O rosto, quando não se transformava numa carranca, era adorável. E os lábios eram apimentados e tentadores. Na verdade, quanto mais ele pensava no assunto, menos penoso parecia cumprir as obrigações de marido. Se conseguisse dar à boca da esposa outra ocupação que não dizer impropérios, às mãos dela outra tarefa que não sacar do punhal…
Rony balançou a cabeça e procurou fazer com que o ritmo do coração voltasse à normalidade. Fosse ou não um direito conferido a ele pelo casamento, Hermione jamais concordaria. Embora casados, eles dormiam separados todas as noites, inteiramente vestidos e ambos atentos para não permitir a aproximação do outro. Mesmo que conseguisse sair ileso de um possível encontro, que prazer ele teria com isso? Nunca havia possuído uma mulher contra a vontade dela. E repetidas vezes Hermione deixava claro o que pensava do assunto, embora houvesse até parecido um pouco receptiva na estrebaria.
Rony suspirou, aborrecido consigo próprio por estar pensando naquilo. Estaria mesmo tão desesperado para produzir um herdeiro que até considerava a possibilidade de se deitar com Hermione? Ela era uma coisa selvagem, não colaborava em nada para a manutenção da propriedade, não dava a menor atenção aos súditos, só causava problemas. Ah, que mulher detestável!
Cedendo a um impulso, Rony levantou-se e caminhou até onde ela estava.
- Nasceu o filho do meu irmão. Prepare-se para uma viagem a Wessex. Vamos até lá para dar os parabéns ao casal e conhecer o herdeiro deles.
Hermione ergueu a cabeça, fitando-o por trás dos emaranhados cabelos.
- Vá você para onde bem quiser. Eu ficarei aqui.
Rony não saberia dizer se estava aborrecido por não poder ter o que tanto queria ou porque não agüentava mais as constantes discussões que a esposa provocava. Só sabia que, daquela vez, não se submeteria à birra dela. Tinha obrigação de visitar o irmão e não deixaria que Hermione fizesse das suas na ausência dele.
- Não, você vai, Hermione. E não tente resistir, porque não vou voltar atrás na decisão.
Hermione soltou um riso sarcástico.
- Santo Rony tornou-se inflexível! Estou morrendo de medo!
- Estou avisando, Hermione… - ele disse, adiantando-se um passo.
- Não me ameace, meu marido, ou encontrará a morte!
Suspirando, Rony simplesmente se voltou. Estava no limite da paciência e, se ficasse ali, acabaria recorrendo à violência.
- Prepare-se para a viagem. - insistiu, tomando o caminho do pátio, onde talvez pudesse encontrar alguma paz.
- Eu não vou! - gritou Hermione, mas desta vez Rony achou que havia uma ponta de medo na voz dela.
Então balançou a cabeça e continuou caminhando. Certamente aquela mulher o estava deixando louco. De outra forma, como ele teria um pensamento tão absurdo?
Nada assustava Hermione.

Hermione estava apavorada. Com mãos trêmulas segurava as rédeas do cavalo enquanto via desaparecer à distância a casa onde havia nascido e crescido. Embora quisesse expressar com gritos o desagrado que sentia, mantinha a boca fechada para não assustar o cavalo outra vez, o que já acontecera quando ela havia começado a gritar impropérios para o marido. Agora apenas olhava para ele, em silêncio, ou voltava a cabeça para o lado do castelo. Sentindo-se numa armadilha, queria agredir alguém, de preferência Rony, mas o medo a consumia.
Nunca havia saído daquele castelo. E não queria sair, mas daquela vez o santo não se dobrou à rebeldia dela. Por mais cordato que fosse, Rony tinha seus limites. Hermione já sabia disso e não queria ultrapassá-los novamente. Lembrava-se muito bem de quando tinha tido a coragem de apagar a vela, apenas para se ver derrubada, tendo que suportar o peso dele.
Praguejando em silêncio, procurou afastar da mente aquela imagem perturbadora. Apesar das ameaças dele, havia duvidado que Rony a arrastaria a força até Wessex. Chegara até a pensar em desaparecer convenientemente na manhã da partida. Poderia também causar algum problema, um problema tão insuportável que de bom grado ele a deixaria para trás.
Mas… e se alguma coisa acontecesse com ele durante a viagem?
Ela sabia das ameaças de Montgomery. Amargurado, o cavaleiro poderia armar uma emboscada para surpreender o lorde que o expulsara, como faziam os covardes. Embora ela já houvesse visto o suficiente para ter certeza de que o marido saberia se defender numa luta limpa, tinha provas também da maldade de Montgomery. E Rony não tinha ninguém para vigiar a retaguarda dele.
A não ser ela.
Desde a manhã em que o vira atravessando sozinho salão para acompanhar a retirada do perigoso cavaleiro, Hermione havia tomado para si a tarefa. Em vez de evitar o marido, procurava tê-lo sempre à vista na maior parte do dia. Quando ele se ocupava dos livros ou da contabilidade do castelo, envolvendo-se demais nessas coisas para prestar atenção no que quer que fosse, era ela quem ficava vigilante. Rony dava a impressão de não prestar atenção nisso, o que era até bom. Se soubesse que estava tendo uma mulher por guarda-costas, ele riria dela e talvez até a proibisse de continuar fazendo aquilo.
Ou poderia interpretar erradamente as intenções dela.
Hermione estava cuidando dos próprios interesses, nada além disso. Não queria um terceiro marido, um homem certamente menos tratável que o atual. Por isso estava ali, apertando as rédeas do animal enquanto o castelo desaparecia por trás de uma colina.
Estava ali, mas não gostava do fato. Teve que se esforçar para não entrar em pânico quando a paisagem começou a mudar. Num lugar estranho, sozinha com Rony e alguns servos e guardas, sentia-se nua e vulnerável, como se as paredes do castelo tivessem sido sempre um escudo para ela. Na verdade elas não ofereciam muita proteção, mas pareciam solidárias.
Num desesperado esforço para controlar o que estava sentindo, Hermione fazia constantes perguntas a Rony sobre a estrada e procurava prestar atenção no caminho. Mesmo assim não tinha certeza de que conseguiria voltar sozinha, o que a fazia sentir-se ainda mais indefesa.
E se Rony a estivesse levando para algum lugar selvagem para deixá-la lá? Ou, pior ainda, se pretendesse matá-la? Não haveria ninguém para impedi-lo de fazer isso. Agora todos os soldados do antigo exército de Voldemort já haviam jurado lealdade a Rony Potter. Mesmo que isso não houvesse acontecido, nenhum deles tinha simpatia por ela. Era uma situação irônica. Ela servia de guarda-costas a um homem que podia atraiçoá-la. Sentia-se compelida a protegê-lo, mas não confiava nele.
Ao cair da noite Hermione sentiu-se cansada e ansiosa. A perspectiva de dormir no chão duro, embora dentro de uma barraca, não contribuiu em nada para melhorar o humor dela. Na hora da refeição comeu muito pouco, atenta ao que acontecia em volta, mas os homens pareciam unicamente interessados em descansar. Finalmente, sucumbindo à exaustão, entrou na barraca e arrumou a cama com peles e cobertores.
Rony havia sugerido levar uma criada, mas ela riu da idéia. Estava acostumada a cuidar de si, já que não confiava em ninguém. Além disso, nenhuma criada parecia disposta a servi-la de bom grado. Assim sendo ela se acomodou na improvisada cama, cercada pela escuridão da barraca. Apesar do calor proporcionado pelas peles, não conseguiu dormir. Não estava gostando nada daquele confinamento. Imaginou os outros abandonando-a naquele lugar desconhecido ou entrando na barraca para matá-la durante o sono. Por isso permaneceu atenta, com a mão no cabo do punhal.
Subitamente o pano que servia de porta foi levantado e ela viu entrando uma figura de ombros largos. O fogo aceso lá fora iluminou de relance um rosto de traços bonitos. Hermione sentiu o coração palpitar quando identificou o marido, mas procurou reprimir a sensação de que estava ansiosa pela companhia dele. Também não quis pensar no que podia significar a presença de Rony.
- O que está fazendo aqui? - despachou.
- Pretendo dormir, Hermione.
Imediatamente ela se sentou. Embora vestida, apertou o cobertor em volta dos ombros, como se precisasse proteger-se. Agora tudo estava muito claro. Ele a obrigara a acompanhá-lo apenas para consumar o casamento. Naquele fim de mundo, ninguém além das poucas pessoas deitadas em volta do fogo ouviria os gritos dela. E quem entre aqueles servos correria para defendê-la, tendo que enfrentar o lorde?
- Saia daqui, Potter! Procure outra barraca!
Na escuridão, ela ouviu o suspirou de Rony.
- Só há esta barraca, Hermione, e eu estou cansado. Portanto, é aqui que pretendo descansar. Se não quer minha companhia, sinta-se à vontade para procurar outro lugar!
Aquela voz cansada pertencia a um homem, não a um santo. Relaxando um pouco, Hermione puxou os cobertores e as peles mais para o canto da barraca.
- Fique longe de mim, Potter! Se pretende fazer alguma coisa aqui além de dormir, prepare-se para morrer.
Rony soltou um riso rápido.
- Sim, Hermione. Veja só que tolice a minha. Cavalguei toda essa distância só para possuí-la aqui, neste chão duro, quando podia ter feito isso na confortável cama do nosso quarto.
Seguiu-se outro riso sarcástico e logo depois ela ouviu os sons que ele fazia ao estender no chão os cobertores que havia levado.
O comentário a atingiu. Evidentemente aquele homem não a queria! Ela havia falado como uma idiota, mas mesmo assim precisava se proteger, não precisava? Hermione procurou não pensar no corpo musculoso a tão poucos centímetros do dela. Sentiu a boca seca ao imaginar o calor e a virilidade daquele corpo.
- Falei sério, Potter. - murmurou. - Se fizer algum movimento suspeito, cortarei sua garganta.
- E se você não ficar quieta, vou ter que fazer alguma coisa para calar sua boca! - ele ameaçou.
- E o que acha que pode fazer? - provocou-o Hermione, outra vez animada pela raiva.
- Eu a beijarei.
A ameaça a fez conter a respiração. Em vez de choque ou horror, porém, o que ela sentiu foi um traiçoeiro calor nas entranhas. Abriu a boca para dizer umas verdades, mas achou melhor não pôr à prova a determinação do marido. Para ser sincera, também não estava confiando muito em si própria.

Exausta por causa do pouco costume que tinha de viajar Hermione estava de péssimo humor quando eles entraram nos domínios do Lobo. Havia chovido no dia anterior, um dilúvio que parecia querer atingi-la nos ossos, além de deixá-la com medo de adoecer. Uma gripe tornava qualquer pessoa fraca e vulnerável, presa fácil dos inimigos. Assim havia morrido a mãe dela, sem nenhuma assistência do marido. Muito pequena, ela não havia podido ajudar.
Hermione apertou as rédeas, como se uma demonstração de força pudesse superar aquela lembrança amarga. Respirando fundo, prometeu a si mesma que continuaria saudável.
E odiando Wessex. Desprezava aquele feudo pela desgraça que ele representava para ela e para o povo de seu castelo. Mas agora, vendo o lugar com os próprios olhos, estava perplexa. Então o pai dela havia morrido por causa de um castelo tão velho e feio? Era maior do que o castelo de Voldemort, e certamente muito mais fortificado, mas a construção não tinha a menor graça.
- Parece um monte de ruínas. - disse Hermione rindo. - Não sei como as paredes ainda não caíram em volta do Lobo. - acrescentou, pensando na hipótese de Rony também cobiçar aquele lugar.
- Comporte-se, Hermione. - ele respondeu, com calma.
Hermione percebeu que o santo havia ressurgido e franziu a testa. Por algum motivo inexplicável, parte dela preferia o Rony da noite anterior, agressivo, mas humano. O homem Rony.
Emudecendo os lábios subitamente secos, Hermione lançou um olhar irado ao marido, como se quisesse negar o que havia pensado. Depois olhou em volta. Embora achasse boa a perspectiva de ficar ao abrigo da chuva e dormir numa cama macia, não tinha a menor intenção de ficar por muito tempo naquele lugar. Bem, tomaria providências para que eles retornassem logo a casa. Visitantes indesejáveis eram sempre incentivados a ir embora, pensou, com um meio sorriso, no instante em que o Lobo em pessoa saiu do castelo para recebê-los.
O suserano ficou evidentemente surpreso ao vê-la, por mais que procurasse esconder isso. O desagrado dele era muito claro, mas Hermione também não demonstrou satisfação. Erguendo a cabeça, dirigiu ao homem um olhar de absoluta frieza, até que o Lobo desviou os olhos. Depois de dar efusivas boas-vindas ao irmão ele os convidou a entrar.
O grupo desmontou rapidamente e Hermione reparou que mais uma vez era objeto do olhar do Lobo. Ótimo. Ele devia mesmo se acautelar. Depois a atenção dela foi chamada pelo marido. Santo como era, ele ofereceu-lhe o braço educadamente. Hermione aceitou e os dois atravessaram a alta e larga porta.
O salão parecia muito grande em comparação com o de seu castelo. Muitas pessoas circulavam por ali, algumas parando para ver os recém-chegados, e Hermione sentiu-se centro da curiosidade daquela gente. Antigos constrangimentos retornaram, mas ela os ignorou. Saberiam aquelas pessoas quem era a visitante? Se não, logo ela se faria conhecer!
Depois Hermione examinou com interesse uma mulher que se destacou de um grupo e começou a atravessar o salão na direção deles, com um largo sorriso que produzia covinhas nas faces. Era uma mulher de baixa estatura, de cabelos vermelhos parcialmente cobertos por uma boina da mesma cor da túnica, a roupa mais bonita que Hermione já tinha visto. A túnica era de um azul, brilhante, feita de um tecido que tinha finas listras douradas no sentido da altura. Hermione sentiu uma pontada de inveja, mas prontamente se recriminou. Para que precisaria de roupas finas ou jóias?
O Lobo caminhou até a mulher e passou um braço em torno dos ombros dela. Muito espantada, Hermione sentiu uma saudável admiração pela desconhecida, que nem se encolheu ao ser tocada pelas patas do gigante. Pelo contrário, olhava para ele como se o adorasse. Pobre criatura. Devia ser a amante dele, pensou Hermione.
Como se estivesse lendo o pensamento dela, a mulher pequena, mas bem-feita de corpo, tomou a palavra.
- Bem-vinda à nossa casa, lady Potter. Eu sou lady Wessex, mas, já que agora somos irmãs, espero que me chame de Gina.
Por um momento Hermione ficou com os olhos arregalados, perplexa. Não se tratava de nenhuma concubina, mas da esposa! E obviamente aquela Gina tinha o tipo de charme que Rony possuía. Mas Hermione já havia adquirido prática em se esquivar das falsas amabilidades dele e sabia muito bem que não era bem-vinda ali. Abaixando a cabeça ela cuspiu no chão, bem diante da mulher.
Um murmúrio de espanto se espalhou pelo ambiente, logo seguido por um pesado silêncio. O Lobo adiantou-se, como se fosse atacá-la, e Hermione pôs a mão no punhal, preparando-se para se defender. Mas o homem deu apenas um passo e ela se espantou ao ver que ele era retido pela mão delicada da esposa. Por Deus, a mulher tinha muita coragem! Certamente seria espancada mais tarde pelo marido por causa da insolência, pobrezinha.
O Lobo não fez nada contra ela, mas deixou bem claro que estava aborrecido.
- Vai ter que se comportar na minha casa, Granger, ou se arrependerá da hora em que cruzou aquela porta.
- Agora ela se chama Potter, Harry. - corrigiu-o Rony, com brandura. - Lady Potter.
Depois, com seu jeito naturalmente furtivo, ele se postou entre o irmão e a esposa. Sem dúvida queria proteger o Lobo da língua dela e do afiado punhal, pensou Hermione.
- Estou certo de que Hermione pretende se comportar com civilidade. - prosseguiu Rony, depois de dirigir a ela um enraivecido olhar de advertência.
Hermione ficou olhando para ele, ressentida com aquilo. Ainda com a mão no punhal, sentiu algo como uma dor imaginária de uma perna amputada… ou de um coração que há muito tempo houvesse deixado de bater. Entre todos ali, só Gina não havia perdido a compostura.
- Venham. - chamou a lady, obviamente querendo consertar a situação. - Vocês precisam conhecer o novo membro da família! Gostariam de ver o bebê?
Enquanto falava ela mantinha os grandes olhos de corça na visitante, como se suplicasse a aceitação da Paz, e Hermione precisou se esforçar muito para não assentir ao pedido. Estava acostumada ao medo e à violência. Aqueles modos gentis só havia começado a ver no marido.
- Não sei se… - começou o Lobo, evidentemente pouco inclinado a apresentar o filho a uma inimiga.
Divertida com aquilo, Hermione abriu a boca para ridicularizar o herdeiro dele, mas Rony se antecipou.
- Eu gostaria, sim, mas primeiro quero levar Hermione ao quarto.
- Talvez você possa providenciar também para que sua esposa fique desarmada. - sugeriu o Lobo, olhando ostensivamente para o punhal dela.
Hermione olhou para Rony aflita. Havia esperado ser expulsa, até se esforçando para isso, mas nunca ficar desarmada. Por alguns instantes eles ficaram se olhando e ela pensou ver arrependimento naqueles olhos. Ou seria um pedido de desculpa? Pretendia ele ficar do lado dela contra o irmão e suserano? Há! Hermione não acreditaria nisso nem por um instante, fosse ele santo ou não.
Quando o silêncio se tornou constrangedor, o Lobo voltou a falar, como se censurasse Rony.
- O pai dela quase me matou aqui mesmo neste salão. Não quero que a filha ameace nenhuma das pessoas que moram aqui.
Contente por obrigar o grande guerreiro a ser cauteloso, Hermione soltou uma gargalhada.
- Está com medo de mim, uma simples mulher?
O silêncio seguiu-se ao desafio e ela achou que a paciência do Lobo havia se esgotado, mas outra vez ele foi retido pela mesma mão pequena. Era inacreditável. Como aquela Gina podia ter tanto poder sobre um cavaleiro duas vezes maior do que ela? Então Hermione abriu a boca para provocar ainda mais o Lobo, mas Rony a deixou muda com um olhar que parecia de um selvagem.
Hermione quase se encolheu. Pela primeira vez ele se parecia com o irmão e ela se recriminou por ter se esquecido de que havia se casado com um Potter. O homem não era nenhum santo, mas um cavaleiro, um guerreiro que não se deixaria deter por nada quando quisesse alcançar um objetivo. Como se fosse para comprovar o que ela acabava de pensar, ele tomou a palavra, a voz carregada de ameaça.
- Entregue-me o punhal, Hermione.
Erguendo a cabeça, ela fez os cabelos caírem para trás e deixou à mostra o rosto que sabia estar pálido. Não poderia se privar da única proteção que tinha. Não ali, onde estava cercada por desconhecidos e inimigos. Depois recuou um passo, achando que havia criado um abismo entre ela e os outros: o gigantesco Lobo, a esposa dele e o marido dela, que finalmente se decidia por um dos lados. Embora há muito tempo esperada, a traição de Rony a surpreendeu. Hermione sentiu a mesma dor imaginária de antes enquanto olhava para o rosto dele. Um rosto cheio de determinação.
Ignorando a estranha dor ela aprumou o corpo. Era uma Granger e nunca desistiria! Queria agredir alguém, de preferência Rony, por ter se casado com ela, por beijá-la, por fazer com que ela o visse como um homem.
Depois a razão prevaleceu. Mesmo cega de raiva Hermione podia ver que não teria como resistir. Estava na casa alheia e ninguém ali parecia ter medo dela como devia. Até mesmo Gina demonstrava sentir outra coisa, o que fez Hermione se encolher. Por Deus, a última coisa que ela queria era ver pena nos olhos de alguém, mas era isso o que a lady parecia estar sentindo.
Hermione arrancou o punhal da bainha e jogou-o aos pés de Rony, só para mostrar a todos que não precisava daquilo. Podia proteger-se de mãos limpas. Era uma Granger.
Embora o Lobo emitisse um resmungo quando a arma atingiu o assoalho, Rony não disse nada. Apenas inclinou graciosamente o corpo para recolher a arma. Quando se ergueu novamente, voltou a estender a mão.
- O outro. - disse, com a mesma calma de antes.
Hermione franziu a testa. Como ele podia saber da faca escondida na bota dela? Soltando um palavrão, ela retirou a faca do esconderijo e jogou-a no chão. Outra vez ele se abaixou para recolher a arma, com a elegância de sempre. Depois, para surpresa dela, voltou a fitá-la.
- Agora o que está na sua perna.
Diabo de homem! Hermione cerrou os punhos e soltou um grito tão forte que fez todos os servos em volta recuarem; mas Rony permaneceu onde estava. Finalmente ela ergueu a saia da túnica e pegou o pequeno punhal escondido na coxa, disposto a atirá-lo contra a cabeça do marido. Quando olhou para ele, porém, ficou sem ação.
Rony estava olhando para as pernas dela, parecendo aturdido.
Surpresa com a descoberta, Hermione ficou sem ação porque ninguém jamais havia olhado para ela daquele jeito. Por um bom tempo ficou parada, os dedos segurando o cabo do punhal preso à coxa, enquanto um calor muito grande se espalhava pelo corpo, ameaçando derreter os ossos. Raramente ela pensava no próprio corpo, a não ser para maldizer o fato de ter nascido mulher, mas naquele momento estava muito ciente de cada milímetro da pele que deixava exposta aos olhos do marido. Sentiu uma louca vontade de erguer mais a saia da túnica, contrair os músculos da coxa e observar a reação dele. Queria expor-se à admiração de Rony. Queria…
Hermione sacudiu a cabeça, expulsando da mente aquela idéia absurda. Sentindo um inesperado frio, controlou-se para não estremecer e retirou o punhal da bainha amarrada à coxa, soltando-o no chão. Rony demorou algum tempo para recolhê-lo, como se antes precisasse recobrar a respiração, e Hermione sentiu um entontecimento enquanto ele voltava a se erguer.
- Vou lhe mostrar o seu quarto. - ele disse, finalmente, numa voz estranhamente rouca.
Hermione demorou algum tempo para entender o que acabava de ouvir. Ah, sim, seria conduzida para o quarto. Sentia um estranho embaraço, além de algo que não conseguia definir, provavelmente a mesma obsessão que a deixara tentada a se mostrar para ele.
- Com licença. - disse Rony, olhando para os outros.
Enquanto o Lobo mantinha o semblante fechado, Gina abriu um sorriso jovial.
- É o mesmo quarto em que você ficou antes, Rony. - disse, quando eles começaram a se afastar.
Hermione fitou-a. Não estava gostando nada de ouvir o nome do marido vindo dos lábios daquela mulher nem do doce sorriso de covinhas que ela mostrava com tanta facilidade.
Por um instante sentiu-se tentada a arrancar uma certa porção dos ondeados cabelos da esposa do Lobo, mas pensou melhor na situação. No momento havia preocupações mais importantes, como o fato de que ela estava presa em Wessex sem nenhuma arma. Percebendo a enormidade daquele problema, Hermione ficou com as mãos trêmulas. Sentia-se desorientada naquele lugar estranho, vendo gente desconhecida que cochichava entre si enquanto olhava para ela. As paredes de pedra pareciam muito frias e, desarmada, ela seria facilmente dominada.
Rony certamente sabia muito bem o que estava fazendo. Nas últimas semanas vinha tentando acalmá-la com sorrisos e olhares convidativos, mas, como ela sempre havia suspeitado, aquilo era um ardil que já devia ter sido praticado com muitas outras donzelas. E agora, estando ela indefesa, ele poderia fazer o que bem quisesse… até mesmo jogá-la no calabouço do irmão!
Hermione enroscou os dedos trêmulos no tecido da túnica, tentando não entrar em pânico. Poderia fugir, mas para onde iria? E não estava disposta a dar ao Potter a satisfação de afugentá-la. Não. Primeiro precisava recuperar os punhais, depois atacaria, se fosse preciso.
Quando eles começaram a subir a escada, os olhos de Hermione se iluminaram ao verem a bainha da espada de Rony, que balançava enquanto ele movimentava as longas pernas, um passo à frente dela. Depois de umedecer os lábios secos olhou para o cabo da espada, que estava bem ao alcance da mão dela. Rony era tão esperto quanto rápido, mas ela também sabia agir com rapidez.
E a surpresa era sempre uma arma poderosíssima.



N/A: Mais um capitulo postado. Espero que estejam gostando. Abraços.
Agradecimentos especiais:
(-( Duda Pirini )-): que bom que gostou, a Hermione é mesmo durona e vai resistir ainda por algum tempo. Próximo capitulo Segunda-Feira, 02/03. Abraços.
Bianca: Rony superprotetor, ele ainda vai tomar o partido da esposa muitas vezes enquanto todos os outros estarão acusando Hermione. Beijos.



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