Capítulo 2



                                                             O Protocolo de Voldemort


-Capítulo 2-


 


Tears And Rain 


(James Blunt)
How I wish I could surrender my soul;
Shed the clothes that become my skin;
See the liar that burns within my needing.
How I wish I'd chosen darkness from cold.
How I wish I had screamed out loud,
Instead I've found no meaning.

I guess it's time I run far, far away; find comfort in pain,
All pleasure's the same: it just keeps me from trouble.
Hides my true shape, like Dorian Gray.
I've heard what they say, but I'm not here for trouble.
It's more than just words: it's just tears and rain.

How I wish I could walk through the doors of my mind;
Hold memory close at hand,
Help me understand the years.
How I wish I could choose between Heaven and Hell.
How I wish I would save my soul.
I'm so cold from fear.

I guess it's time I run far, far away; find comfort in pain,
All pleasure's the same: it just keeps me from trouble.
Hides my true shape, like Dorian Gray.
I've heard what they say, but I'm not here for trouble.
Far, far away; find comfort in pain.
All pleasure's the same: it just keeps me from trouble.
It's more than just words: it's just tears and rain.



 A lareira subitamente ficou verde e um Harry Potter muito afoito apareceu onde antes não havia nada. Com movimentos rápidos usou as mãos para limpar o pó sobre seus ombros. Era isso, finalmente haveria ação naquele trabalho.


 Ele logo achou Brendan e o estava interrogando.


 - E então? Onde foi o ataque?  - ele estava eletrizado, o que era verdadeiramente estranho considerando o real motivo de sua aparição. -Temos que ir!


 Brendan apenas o olhou com uma expressão cansada e se perguntou se aquele dia não iria acabar nunca.


 - Nós não vamos a lugar algum. Você vai. Não há nada mais que se possa fazer no local, Harry. – Ele resolveu encarar o rapaz – Os comensais atacaram e mataram uma família bruxa composta por nove membros, mas, felizmente ou não, só estavam presentes cinco quando tudo aconteceu.


 Harry sentiu o ar lhe faltar aos pulmões. Era coincidência demais... Não podia ser.


 - Nove membros? Mas... não pode. Não... – ele não sabia o que dizer – Não são os Weasley são?! – o seu desespero só fez aumentar com o silêncio que seguiu sua pergunta - Brendan quer me fazer o favor de responder?! – gritou por fim, a impaciência apoderando-se dele.


 O chefe mais uma vez olhou abatido para Harry. Após a menção do nome “Weasley” ele resolveu agir com mais calma e naturalidade, pois agora entendia o desamparo do garoto.


 - Sinto muito, Harry. – o mundo do moreno desmoronou. Como assim sente muito? Sente muito pelo o quê? Pelas barbas de Merlin, conseguir uma resposta direta estava se provando ser uma tarefa extremamente complicada. Basta responder “sim” ou “não.” – Mas as únicas informações que recebi foram essas. Por isso preciso que vá lá. Preciso de alguém para identificar a família e avisar ao restante dos familiares.


 A impaciência de Harry logo foi crescendo e se convertendo em raiva. Dentre todos os aurores dos quais o Ministério dispunha, por que logo ele era o escolhido para essa tarefa? Só a idéia de identificar corpos, que apresentavam uma probabilidade gigantesca de ser dos Weasley, o fazia querer vomitar. Ele podia agüentar a dor excruciante de um Crucio, mas ver pessoas cujas vidas foram arrebatadas injustamente? Isso era demais para ele. O fazia recordar os acontecimentos dolorosos de sua vida, como seus pais, Dumbledore, Sirius...


 - Eu não... – ele tentou argumentar.


 - Você sabe que eu não gosto de repetir minhas ordens Harry. – Brendan respondeu em tom decisivo, hoje ele não estava para negociações. - Eu mesmo iria se não estivesse tão ocupado impedindo a mídia de obter informações erradas. – Ele olhou para Harry e um pequeno sorriso sarcástico se formou em seu rosto. – Mas, se insistir mais um pouco, posso trocar com você.


 Harry tentou lançar mais um de seus olhares fulminantes capazes de assustar até Comensais, mas seu chefe tinha uma estranha capacidade de fazê-lo se sentir bem – mesmo que com tiradas irônicas.


 - Você quem manda. – Disse colocando as duas mãos ao alto em sinal de rendição. Quando viu que o chefe riu com sua brincadeira, continuou – E então, para onde eu vou?


 Brendan, inesperadamente lembrando-se de algo, foi até uma estante e pegou um objeto e o entregou ao moreno. Era uma garrafa de Tequila vazia, o que fez Harry encará-lo. O chefe se apressou a explicar.


 - É uma chave do portal. Vai sair em quarenta minutos, é o tempo que levará para os curandeiros deixarem o local. Vê se não perde a hora.


 - E você não tem ideia de para onde essa coisa vai me levar? Poderia ser uma boa pista... É para a Toca ou não. Simples assim. – Harry falou, irritado.


 Brendan realmente queria ajudar, mas estava completamente cego em relação a isso. Ele apenas recebeu ordens claras para chamar seu melhor auror, mandá-lo usar a chave e descobrir o que havia acontecido.


 - Mais uma vez, sinto muito. – Ele colocou uma mão sobre o ombro do moreno em um ato fraternal. – Mas, como já disse anteriormente, as únicas informações que eu recebi foram essas. – Sem tirar a mão do ombro de Harry, ele apertou o braço do rapaz em uma tentativa de confortá-lo, para só então continuar. – Agora vá. Essa chave não vai ficar aí o dia todo. – a menção da chave fez Harry se lembrar de questionar o estranho objeto. Após alguns segundos, o chefe percebeu que Harry não movera um único dedo. – Harry?


 O auror continuava em pé no mesmo local, segurando a garrafa.


  Levantou uma única sobrancelha.


 Brendan não conseguiu segurar por mais tempo, e logo estava rindo e abanando as mãos na direção de Harry.


 - Ta legal, foi de propósito... Achei que seria legal o toque de ironia. Além do mais, aposto que quando te mandei a coruja você estava com uma igual em mãos. – Falou e riu da cara indignada do moreno que ainda não havia feito um único movimento, afora o levantar de sobrancelha.


 Com a mão que segurava a chave, Harry apontou para Brendan enquanto deixava a sala.


 - Cuidado hoje à noite chefinho... Nunca se sabe o que pode acontecer enquanto dormimos.


 Dito isso, Harry Potter deixou a sala sorrindo internamente. Hoje seu chefe não iria pregar os olhos.


-*-*-*-*-*-


 Por que aquele barulho simplesmente não ia embora? Nossa como era irritante! Colocou o travesseiro sobre a cabeça em uma inútil tentativa de abafar o som. Não funcionou. O som foi ficando cada vez mais forte e ela não fazia idéia de onde vinha. O sono a estava confundindo. Mexeu-se na cama tentando ignorar o barulho e voltar a dormir. Mas, à medida que não conseguia, foi recobrando os sentidos e percebeu que o barulho derivava de alguém batendo na porta. Ou melhor, vinha de alguém querendo arrombar sua porta.


 Resolveu se levantar.


 Preguiçosamente, começou a se espreguiçar, se esticando sobre a cama como uma gata. Virou a cabeça e sorriu com o que viu. Logo toda a lassidão sumiu e ela já estava levantando.


 Vestiu seu robe e correu para abrir a porta antes que a mesma partisse ao meio, tamanha era força com a qual estavam batendo. Onde foi parar a educação das pessoas? Pensou, irritada.


 Ela mal abriu a porta e um vulto adentrou sua sala.


 - Harry? – ela o encarou, indignada. Isso era hora de bater na porta das pessoas? Não tinha noção de que horas eram, mas devia ser muito cedo levando em conta o sono que sentia. – Isso é hora de aparecer na casa das pessoas? Ainda são... – começou a buscar por um relógio em sua sala, mas logo percebeu que não havia nenhum. Mas não foi preciso. Harry fez o favor de completar.


 - Duas da tarde? Realmente... onde eu estava com a cabeça visitando as pessoas a essa hora?! – Ele respondeu sarcasticamente antes de se jogar no sofá atrás dele. Deixando de lado o fato de que sua amiga, que normalmente acorda às seis da manhã pronta para mudar o mundo, estava quase dormindo em pé no meio da tarde, ele continuou com o que realmente importava. – Olha, preciso que me faça um favor.


 Hermione, ainda em estado de choque com a invasão de Harry e com a descoberta de que já eram duas da tarde, sentou no sofá, ao lado do moreno. Fechou ainda mais seu robe e se aconchegou um pouco mais no sofá antes de responder.


 - Hum... Claro, Harry. Pode dizer. – Sua resposta preguiçosa e a voz ainda rouca deixaram claro que ela ainda dormia, mas mesmo assim Harry continuou. Sabia que ela estava escutando.


 - Hoje eu recebi um chamado de urgência de Brendan. Ele finalmente resolveu dá sinal de vida. – ele sabia que Hermione havia entendido quem era o ele a quem ele se referiu. Ignorando o desconforto que a garota ao seu lado sentia, ele prosseguiu. – Uma família bruxa foi atacada e ele quer que eu vá identificar os corpos e verificar tudo.


 Harry parou. Sabia que Hermione ia surtar quando desse as próximas informações.


 - Harry, eu não estou entendendo... Para que você quer a minha ajuda? Quer que eu vá com você, é isso? – Olhou-o, a confusão estampada em seu rosto. Mas logo percebeu que tinha algo mais; algo errado. – Harry?


 Agora ele é quem estava desconfortável sobre o olhar interrogativo de Hermione.


 - Não, não. Não preciso que vá comigo. O que eu preciso é que fique com Rony até eu voltar e que não deixe nenhuma mensagem do Ministério chegar até ele. – A confusão continuava pairando nos olhos da garota. – Mione, a família atacada era composta por nove membros, mas na hora do ataque só estavam presentes cinco. Faça as contas: Rony está morando sozinho agora, Charlie voltou antes de ontem da Romênia para passar um tempo com a família, Percy e Bill também não moram mais com o Sr. e a Sra. Weasley e ... – ele hesitou por um momento, sentindo uma pontada no peito -... E faz dois anos que Ginny foi embora. Sobram apenas cinco.


 Ele assistiu como sua amiga levou as mãos até a boca, abafando um grito.


 - Você não acha mesmo que... – ela falou baixinho, quase sem voz. Mas não completou.


 - Não sei. – Harry apressou-se a responder. – Não sei de nada... A chave do portal vai abrir em – ele olhou para o relógio no seu pulso – cinco minutos. Eu preciso que você prometa que vai manter Rony ocupado hoje até eu voltar.


 Hermione olhou preocupada para Harry. Odiava esconder as coisas de Rony, mas era melhor... Não queria perturbá-lo por nada. Mas antes que ela pudesse concordar com o moreno, Rony saiu do seu quarto com uma cara de sono e o cabelo completamente bagunçado.


 - Ouvi alguém dizer o meu nome. – ele resmungou. Ou pelo menos foi isso que Hermione entendeu. – Ah, oi Harry. – Ele pareceu não se importar com a presença do moreno e abraçou Hermione por trás enquanto beijava carinhosamente o pescoço da garota.  – Bom dia, você.


 Hermione se virou e encarou o sorriso bobo que brincava no rosto do ruivo. Beijou os lábios dele de leve, mas Rony achou pouco e a puxou mais para perto enquanto brincava com uma mecha do cabelo da garota e tentava intensificar o beijo.


 - Pelo amor de Merlin, vão para um quarto! – Harry falou, interrompendo o beijo do casal. Não porque achava aquilo nojento, não mesmo. Só achava legal irritar seu amigo ruivo.


 Hermione repentinamente se afastou do ruivo e riu. Tinha esquecido de Harry.


 Mas Rony não riu. Olhou aborrecido para Harry.


 - A gente estava em um, até você chegar. – Falou, resmungando enquanto se jogava no sofá em um gesto semelhante ao que Harry havia feito mais cedo. Hermione riu internamente ao constatar isso.


 Mas, ao contrário do que Ron e Hermione esperavam, Harry não retrucou. O moreno estava absorto em um detalhe que só agora tinha percebido.


 - Cueca branca, cara? Sério? – falou e logo em seguida deu um sorriso torto para seu amigo que, ele tinha certeza, ainda estava meio inconsciente. Logo ele percebeu que já tinha passado muito tempo ali. Foi até Hermione e a abraçou. – Por favor... não vai ser muito difícil mantê-lo ocupado. – sussurrou.


 Ainda sem soltar o abraço, ela respondeu baixinho no ouvido do amigo.


 - Está me devendo uma, Potter.


 Harry sorriu. Ia se despedir de Rony, mas percebeu que este já estava dormindo deitado no sofá.


 Pegou a chave do portal e, menos de três segundos depois, sentiu aquele familiar puxão.


 Hermione encarou o lugar onde antes seu amigo estava estendido. Sorriu e se voltou para o sofá. Apoiou um dos joelhos no divã enquanto beijava o pescoço de Rony, que murmurou algo enquanto sorria. A garota entendeu aquilo como um estímulo e foi subindo os beijos – maxilar, queixo, bochecha, cantinho da boca... – até que encontrou os lábios dele e os capturou. O ruivo não perdeu tempo e prontamente a enlaçou com os braços fortes, fazendo com que ela deitasse sobre seu corpo. O treinamento de auror fez muito bem a ele. Pensou Hermione.


 - Harry não está mais aqui... – ela o ouviu sussurrar entre os beijos – não precisamos ir para o quarto.


 Ela sorriu e o beijou de volta enquanto sentia as mãos fortes do ruivo tirando seu robe.


-*-*-*-*-*-


Olhou ao redor e um alívio avassalador tomou conta de todo o seu ser: ele não estava na Toca. Na verdade, encontrava-se em um lugar totalmente diferente da casa dos Weasley. Afora o conglomerado de carros da polícia e ambulâncias que se encontravam em uma das casas – o que, Harry sabia, era apenas um disfarce para os trouxas - tudo parecia bastante... pacato. Era uma rua muito bonita com casas de grande porte e imensos jardins. Mais ao longe, o moreno pôde ver um grupo de crianças brincando, como se nada estivesse errado. Tudo isso serviu apenas para confirmar as suspeitas de Harry: ele estava em um bairro trouxa.


 Mas aquilo não estava fazendo sentido algum. Afinal, a família atacada não era bruxa?


 Resolveu tirar isso a limpo. Buscou pelos funcionários do Ministério e , assim que os achou, caminhou em direção a eles. Aproximou-se de um tal de Mike, ou pelo menos era isso o que dizia o crachá pendurado em suas vestes bruxas.  Não falou nada e apenas ficou ali observando enquanto o estranho bruxo examinava minuciosamente um graveto. Harry chegou à conclusão de que nunca entenderia esses loucos.


 Em uma imitação quase perfeita de seu chefe, Harry pigarreou para chamar a atenção dos presentes. Funcionou.


 O pequeno bruxo que fora batizado com o nome de Mike saltou com o susto. Virou para Harry com os olhos arregalados e respirando rápida e pausadamente. O moreno fez um grande esforço para não rir daquela figura amedrontada. Mas Mike não demorou muito em seu estado de choque e logo um sorriso se formava em seu rosto. Ele havia reconhecido as vestes de auror que Harry trajava. E, antes mesmo que Harry tivesse a chance de protestar, o pequeno homem já apertava sua mão animadamente.


 - Ah, você deve ser o Sr. Potter, não? – olhou em expectativa para o homem assustador que tinha o dobro do seu tamanho. Quando esse não respondeu, Mike entendeu o silêncio como uma resposta afirmativa e sentiu-se na completa liberdade de continuar. – Pensei que não chegaria nunca! Tudo está uma tremenda bagunça. Precisamos da ajuda do senhor. Encontramos algo muito peculiar na residência, Sr. Potter. Gostaríamos que...


 Harry encarava abismado aquele homem e pensava se era possível alguém falar assim tão rápido e sem intervalos sem o perigo de morrer sufocado. Percebeu, infeliz, que era. E, antes que aquele homem caísse duro no chão, ele o interrompeu e foi direto ao ponto pelo qual estava ali.


 - Onde estão os corpos? – Seu tom não era grosseiro, mas também não era gentil. Ele só queria a resposta para poder continuar calmamente – ou não – com o seu trabalho.


 Mike não se preocupou em esconder a surpresa que o atingiu após aquelas palavras.


 - Perdão? – perguntou, inocentemente.


 - Eu perguntei onde estão os corpos. – o moreno objetou, sem conter a grosseria dessa vez. Faltava muito pouco para bater naquele homenzinho, que agora o encarava, mais uma vez, com os olhos arregalados em espanto.


 - Sr. Potter, desculpe-me pela persistência, mas não acho que o senhor tenha compreendido a essência do caso. Há algo realmente estranho que...


 - Olha, eu realmente não quero ser grosseiro com você – mentiu o moreno, mais uma vez interrompendo a fala do outro -, mas eu preciso ver esses corpos! – Puxando o ar com vigor para se acalmar, ele continuou – Prometo que, assim que eu terminar com os corpos, eu volto para ajudá-lo em o que você quiser.


 Finalmente se dando por vencido, Mike começou a andar e fez sinal para que Harry o seguisse. O que o moreno o fez sem hesitar. Logo os dois estavam próximos ao que Harry pensou ser algum carro trouxa que piscava e fazia um barulho agudamente irritante. Fazendo uma careta por causa do barulho que chegava impiedosamente aos seus ouvidos, ele perguntou:


 - Por que vocês mantêm esses... – ele encarou o objeto que tentava deixá-lo cego com aquelas luzes vermelhas, buscando em algum lugar profundo de sua cabeça lembrar o nome daquilo, mas não conseguiu. -... Essas coisas trouxas por aqui? Não atrapalha?


 - Ah, não. Isso é uma ambulância, Sr. Potter – sobre o olhar interrogativo do moreno, ele prosseguiu – É uma espécie de transporte médico que os trouxas inventaram. Bastante útil, se me permite dizer.  – o olhar que Harry lançou deixou bastante claro que ele não permitia – Mas, isso não importa agora. Aqui estão os cinco corpos. Muito triste, realmente trágico. – Ele terminou balançando a cabeça de um lado para outro em negativa, como se não quisesse acreditar na realidade.


 Harry não entendeu o que deixara o pequeno homem tão indignado até olhar o quinto corpo. Era uma criança, entre cinco e seis anos pelo que o moreno percebeu. Era linda, os cabelos negros e a pele muito branca, lembrando porcelana. Harry notou com horror o medo ainda evidente nas expressões da pobre criança.


 Ele estava em choque.


 Tudo bem, sabia que os comensais eram capazes de tudo, mas aquilo... o repugnava. Não era humano.


 Nenhum treinamento o preparou para isso. Era uma crueldade que ele pensou ser inexistente no mundo. Mesmo com todos os horrores pelos quais passou no decorrer da vida, nunca pensou que chegaria ao ponto de ver uma criança – um ser tão puro – morrer assim. Mas certamente estava enganado. E só agora percebia isso. Não sabendo o que dizer, perguntou:


 - Quando tudo aconteceu? – Ele ainda encarava os corpos.


 - Ainda não sabemos ao certo. O alerta que recebemos foi de um trouxa dizendo que viu um movimento estranho na casa do vizinho. Mas os corpos só foram encontrados agora pela manhã.


 O homem continuou falando, Harry tinha certeza disso, pois ouvia um eco irritante ao fundo. Mas não estava realmente prestando atenção. Ele estava mais atentado a outra coisa: manhã? Estava tão absorto com a ideia de finalmente poder espancar alguns comensais que não se apercebeu que já era manhã. Muito provavelmente sua percepção sonolenta quando foi acordado pela coruja o fez pensar que o acordaram no meio da noite. Quando tomou a nota mental de nunca mais exagerar na Tequila e rir dessa ideia absurda, resolveu que era melhor ignorar isso e responder o homenzinho que agora repetia seu nome incansavelmente.


 - Sr. Potter? Sr. Potter?


 - Hm...- puxou com força o ar em seus pulmões para não socar o rosto redondo da criatura na sua frente. – E como foi? Quero dizer, já descobriram como eles morreram? – perguntou mais para parecer um profissional e não causar uma impressão de descaso que porque realmente queria saber. Sabia que ouvir a história ia deixá-lo com ainda mais raiva – se é que isso era possível.


 - Tortura. – Uma única palavra, mas que fez Harry estremecer. – Eles os torturaram e depois usaram a maldição da morte para finalizar o serviço... – o moreno teve a premonição de que palavras não muito agradáveis iam sair pela boca de Mike a qualquer momento – menos a criança. Seu núcleo mágico ainda era muito fraco. Ela não tinha forças suficientes para suportar um nível tão alto de tortura. – e aí estava! Belas palavras, falando da forma mais irônica possível.


 O homenzinho a sua frente não precisou dizer mais nada. Ele entendera. Essa criança foi torturada até a morte. Seu choque inicial ao ver corpos agora se convertia em puro ódio. Um ódio que o estava consumindo. Se ele pegasse um daqueles bastardos ele tinha certeza de que poderia chegar ao extremo de matar. Foi com esse pensamento em mente que fez a pergunta seguinte:


 - Vocês têm alguma ideia de para onde os comensais fugiram? Porque realmente seria de grande utilidade para... – Mas o moreno não conseguiu terminar de falar, porque foi interrompido por Mike. Quem ele pensa que é? O cara com mais de 1,80 e assustador que pode interromper as pessoas aqui sou eu!


 - É o que venho tentando lhe contar desde sua chegada, Sr. Potter. – Mike respirou cansado – Não precisa de pistas para achar os comensais que atacaram essa família – agora Harry acreditava veemente que esse homem era louco – Encontramos cinco comensais mortos e um inconsciente. – ele fez uma pausa dramática, o que faria Harry revirar os olhos se a situação não fosse tão séria – Não fazemos idéia do que aconteceu.


 Se aquele homem tivesse dito que hoje de manhã acordou com um unicórnio mastigando o lençol enquanto fechava os olhos para que a luz do arco-íris que saía do seu armário não o cegasse Harry teria ficado menos surpreso. Unicórnios! Por que, diabos, estou falando em unicórnios?! Isso deve ter mexido de verdade comigo... Pensou.


 Seu olhar voltou para os corpos ainda a sua frente.


 Não querendo passar mais nem um segundo encarando o corpo sem vida que um dia pertenceu a uma criança desperta e alegre, apressou-se em sair dali e cumprir com sua promessa de verificar o recinto.


 Pediu a Mike que o explicasse a situação, mas o homem apenas respondeu que era melhor Harry ver por ele mesmo.


 A porta da casa já estava aberta e, dentro, vários funcionários do Ministério andavam de um lado para o outro como se, assim, as respostas fossem aparecer. Harry bufou. Pediu para que o deixassem sozinho na casa. Não queria pessoas não treinadas fuçando tudo e fingindo que sabem o que aconteceu.


 - Senhor... – um homem com vestes pretas com um crachá indicando que trabalhava para o Ministério estendeu a mão para Harry o cumprimentando, mas o moreno logo percebeu que o homem não sabia quem ele era. Por isso, apressou-se em ajudá-lo.


 - Potter. Pode me chamar de Sr. Potter. – disse um pouco seco e com um quê de impaciência.


 - Potter. Muito bem. – disse o homem, debilmente, percebendo que o moreno a sua frente não dera nenhum sinal de que iria retribuir o aperto de mão, mas quando ia abaixar o braço viu que Harry retirava a mão do bolso para cumprimentá-lo de volta. – Me senti na obrigação de avisá-lo que...


 - Realmente agradeço que o senhor queira ajudar. – disse Harry, feliz por voltar a exercer seu papel e interromper a fala do outro. – Mas eu preciso ficar um pouco sozinho para entender o que aconteceu. Depois irei procurá-lo para mais informações. Obrigado.


 O homem ainda abriu e fechou a boca, repetidas vezes, sem saber o que dizer, o que lembrou a Harry um peixe fora d’água. Por fim o funcionário resolveu atender ao pedido de Harry e se retirou.


 Ele já estivera em diversas situações semelhantes à em qual se encontrava agora, mas em nenhuma delas a imagem perturbadora de uma criança morta ficava martelando em sua cabeça. Era meio difícil se atentar aos detalhes quando estava tão distraído. Balançou a cabeça para espantar todos os pensamentos que o estavam atrapalhando.


 Sua primeira percepção foi de que só havia cinco corpos de comensais no chão. Onde estava o sexto? A dúvida não pairou muito tempo sobre sua cabeça, pois deduziu que, como o comensal sobreviveu, provavelmente já devia estar preso a essa altura. Voltou a observar os mesmos lugares pelos quais já tinha passado, mas dessa vez prestando um pouco mais de atenção. Foi quando viu, pendurado na lateral esquerda da lareira e bem escondido, um saquinho. Aproximou-se e pegou o objeto em suas mãos, apenas para constatar o que ele já sabia: era para ele. Amarrado ao saco encontrava-se um pedaço de pergaminho onde tinha escrito: Harry Potter.


 Mas não foi por encontrar seu nome ali que ficara tão surpreso e sim porque era impossível não reconhecer aquela caligrafia. Um arrepio percorreu todo o seu corpo, deixando-o arrepiado. Não podia ser, ou podia?


 Não pensou muito, pois logo estava sendo puxado pelas pernas e caiu no chão. Não se deu o privilégio de ficar ali deitado como um alvo fácil. Guardando o saquinho na sua capa, se levantou e com um movimento rápido sacou sua varinha. Não pensou nem em olhar quem o havia atacado, se encarregaria disso após ter certeza de que estava em segurança. Com um único movimento ele lançou o feitiço.


 - Estupefaça!  - ele falou em um murmúrio quase inaudível. Ouviu o baque surdo do corpo do seu agressor batendo contra a parede.


 Virou-se e se deparou com um comensal desmaiado. Ele não podia acreditar que aqueles inúteis do Ministério deixaram solto um comensal que estava vivo. Quanta burrice e ignorância! Pensou, indignado. Já tivera demais por aquele dia, precisava ir para casa. Ver seu nome escrito com aquela caligrafia realmente mexeu com Harry. Calculou que se ficasse ali mais um só minuto seria capaz de matar o infeliz que o atacou e que, ele sabia, era o responsável pela morte daquela pobre menininha. Certificando-se de que o saquinho com seu nome estava bem guardado, murmurou um último feitiço para o comensal antes de deixar a casa e desaparatar.  


 


*-*-*-*-*


 


 - França -


 


 Ela esperou a poeira baixar antes de deixar a lareira. Encarou seu apartamento do qual cuidava com todo o carinho e não conseguiu sentir pena dele enquanto se jogava, mesmo que imunda, no sofá estrategicamente localizado no centro da sala. Estava exausta e tudo o que mais desejava era tomar um banho bem tomado, entrar embaixo dos lençóis macios da sua cama e só acordar no outro dia. Mas, quase que prevendo que isso não seria possível, assustou-se ao escutar alguém falando no escuro da sua sala.


 - Posso saber onde a senhorita estava? – A voz de Holly a sobressaltou e ela caiu do sofá se chocando destrambelhadamente com o tapete sob a pequena mesinha de centro.


 - Pelas barbas de Merlin, Holly! Já pensou em avisar quando resolver vir aqui me visitar?! – a ruiva falou enquanto ficava de joelhos para poder encarar a causadora de sua queda vergonhosa.


 Holly teve que se esforçar muito para não começar a gargalhar. Ginny estava simplesmente hilária. Holly podia ver a cabeça da amiga sobre o sofá e a cabeleira ruiva estava uma verdadeira bagunça. E também tinha o fato de que Ginny estava extremamente vermelha, de forma que a cor da sua pela se assemelhava à cor de seu cabelo: Holly podia conviver com ela há anos, mas nunca deixou de achar aquilo engraçado. Segurando o riso e recompondo sua carranca de amiga preocupada, recomeçou seu sermão.


 - Não tente mudar de assunto, Weasley. – Deixando os braços caírem livremente ao lado do corpo, Ginny suspirou em desistência. – Onde você estava Ginny?


 A ruiva, a esta altura do campeonato, já estava de pé e tentando domar o cabelo bagunçado, mas parou momentaneamente para responder à amiga.


 - Trabalhando ora. Onde mais? – Deu de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia de todo o mundo bruxo.


 Os olhos azuis e penetrantes de Holly se cravaram em Ginny.


 - Ah claro, e eu menstruei hoje. – falou a morena ironicamente. – E fui hoje para o hospital e me disseram que você não foi trabalhar. E, além do mais, esse não é seu uniforme. – disse apontando para as vestes pretas que Ginny trajava. Mas a ruiva resolveu apenas ignorar o comentário.


 - Você não devia fazer brincadeiras sobre a sua gravidez.


 - Você está mudando de assunto de novo, Ginevra – Holly só chamava esse nome quando estava falando realmente sério. – Olhe para você! Está com arranhões por todo o corpo, com indícios de hematomas nos braços e também está obviamente exausta.


 Ginny desistiu e, pela segunda vez desde que chegara em casa, se jogou no sofá.


 - Ok, ok. Eu estava trabalhando. Mas não no hospital. – a ruiva lançou um olhar sugestivo para Holly – Estava trabalhando naquela outra coisa...


 A morena soltou a respiração, exasperada.


 - Ginny, eu sei que prometi de ajudar, mas eu não tinha ideia de que você ia acabar se machucando nessa brincadeira.


 A ruiva encarou a amiga com raiva, muita raiva.


 - Só para começar: não é uma brincadeira. E depois, olhe quem está falando! Quando pensa em dizer ao seu chefe que está esperando um bebê?


 Holly optou por dar de ombros. Não tinha pensado muito sobre o assunto ultimamente.


 - Não sei. Enquanto eu puder disfarçar, irei fazê-lo. – Sobre o olhar de repreensão de Ginny, continuou. – Só estou com um mês de gravidez, Ginny. E não quero que me afastem do trabalho.


 - Essa é realmente a mesma pessoa que há duas semanas estava reclamando que não aguentava mais trabalhar? – a ruiva perguntou, surpresa. E ficou mais surpresa ainda ao perceber que Holly começara a corar.


 - Eu conheci alguém... – começou a morena, claramente envergonhada. – No novo trabalho, sabe? Comecei a trabalhar com alguns aurores ingleses. E ele... Bem, ele é simplesmente lindo! Muito gato. Juro como tenho vontade de lamber o corpo dele todinho toda vez que o vejo.


 - Deixa de ser tarada menina! – Ginny falou entre risos. – O que há com você? Ultimamente não pode ver um homem em uma calça apertada que fica toda...


 - São os hormônios da gravidez! – disse a morena interrompendo o comentário nada discreto da amiga – O curandeiro disse que eu ia ficar assim por um tempo.


 Ginny encarou Holly com uma mescla de dúvida, surpresa e diversão nos olhos.


 - E você teve coragem de falar para o seu curandeiro que você... – Ginny parou para rir mais um pouco. Sabia que estava deixando Holly constrangida. – Eu realmente não sei como dizer isso. – mais risos – Você contou a ele que fica excitada só de olhar para uma fruta?! – A ruiva não agüentou mais e explodiu em gargalhadas. Segurava o abdômen dolorido de tanto rir com as mãos.


 A morena do outro lado da sala pareceu não apreciar muito a brincadeira.


 - Ei! Aquilo aconteceu só uma vez... – mais uma vez Holly começou a corar – E não foi por causa da fruta em si. Foi culpa do homem.  – falou envergonhada para, depois, completar com um pouco de indignação – Quem, afinal, come uma maçã daquele jeito?!


 Ginny, que já tinha se recuperado da crise de risos anterior voltou a rir compulsivamente. Ela nunca iria se esquecer de quando fora com sua melhor amiga fazer um lanche na semana passada e se deparou com aquele homem e a maçã.


 Holly esperou que os risos de Ginny cessassem para poder continuar. Ela encarava os dedos da mão, que se mexiam de forma nervosa.


 - Olha, também não estou tão tarada assim. – sentiu o olhar de Ginny pesar sobre ela e resolveu se corrigir – Tudo bem, estou. Mas com ele é diferente, sabe? Não é só atração física, tem algo mais. Sabe sobre o que eu estou falando?


 Se sabia? E como sabia! Mas preferia não saber. Ainda lembrava o perfume de Harry, das mãos fortes fazendo carinho em seu rosto, dos cabelos rebeldes, do olhar penetrante... Como sentia falta dele. Sentia falta da segurança que ele transmitia, falta de amar e ser amada. Falta de se sentir inteiramente feliz.


 Deixando de lado seu passado, percebeu que deixara o clima tenso na casa ao não responder. Para desopilar, resolveu brincar com a morena.


 - Acho que alguém está se apaixonando...  – cantou alegremente e sorriu ao ver que surtiu efeito. A almofada que estava na mão de Holly agora voava em sua direção. Abaixou-se para desviar do ataque e começou a rir de novo.


 - Ah, cale a boca! – falou a morena enquanto ia para a cozinha. – E vê se toma um banho; você está fedendo – da sala, Ginny pode escutar Holly gritando – Estarei aqui comendo alguma coisa enquanto te espero!


 A ruiva sorriu sozinha e murmurou antes de se dirigir para o banheiro.


 - Para variar...


 


*-*-*-*-*


 - Londres –


 


 Pronto. Estava tudo terminado. Seu trabalho já estava feito e agora ele finalmente podia matar a curiosidade e descobrir o que estava escondido dentro do saquinho que achara no local do crime pela manhã. Despiu-se da capa e pegou o pequeno pacote no bolso antes de jogá-la sobre o sofá. Não abriu; pensou no lugar onde o havia encontrado: próximo a lareira. Era coincidência demais.


 Viu-se atraído pela porta de vidro que fechava a passagem para varanda. Estava chovendo do lado de fora, constatou. Abriu a cortina vermelha que caia graciosamente sobre a porta e passou a observar as gotas de chuva escorrendo pelo vidro: uma confusão de gotas escorrendo para diferentes direções. Não soube dizer muito bem em que momento, mas Harry Potter logo se viu envolvido por lembranças; ótimas recordações.


 Harry estava no final do seu quinto ano, mas se sentia muito mais velho do que realmente era. Foram muitos acontecimentos em um espaço muito curto de tempo. Estava sem rumo. Sem Sirius...


 Agradeceu a Merlin por ter feito Dumbledore perceber que o melhor lugar para ele passar essas feias era a Toca. Não podia se sentir mais satisfeito por estar no sofá da sala dos Weasley observando o crepitar do fogo na lareira do que estava agora. Era tão aconchegante e o lembrava um... lar.


 Um barulho o sobressaltou e ele buscou por quem o tinha provocado. Olhou para a escada apenas para se deparar com uma imagem que jamais iria esquecer: Ginny estava parada no último degrau da escada – provavelmente surpresa por perceber que não era a única acordada àquela hora da madrugada – trajando um shortinho branco com vários pomos-de-ouro desenhados e uma blusinha também branca – para combinar com o conjunto – com a palavra “seeker” escrita em dourado bem no centro; os cachos ruivos estavam emaranhados, mas Harry não lembrou de tê-los visto mais bonitos em outra ocasião. Harry também percebeu que as bochechas da ruiva estavam levemente rosadas – talvez pelo embaraço de estar trajando pijamas na frente dele, pensou – e, naquele instante, Harry decidiu que simplesmente adorava aquilo. Os olhos castanhos, grandes e intensos guardavam uma inocência e pureza que o moreno nunca tinha notado. Outra coisa na qual Harry nunca tinha reparado eram os lábios carnudos e vermelhos bem contornados formando uma figura semelhante a um coração. Ela estava linda!


 Recobrando os sentidos e se recuperando do susto de encontrar Harry ali na sala, Ginny terminou de descer a escada e se aproximou do sofá no qual o moreno estava sentado.


 - Harry? O que faz acordado? – Ela perguntou com a voz ainda rouca por causa do sono.


 O menino-que-sobreviveu sentiu os pêlos da nuca se arrepiarem ao ouvir a voz rouca da ruiva. O que estava acontecendo com ele?!


 - Insônia. – respondeu simplesmente com um encolher de ombros – E você? Não está com cara de quem está sem sono. – brincou, rindo feliz ao ver que as bochechas da menina ficaram mais vermelhas.


 - Qual é! Não estou com a aparência tão ruim assim, estou? – Ginny perguntou, acompanhando Harry e começando a rir da brincadeira.


 O moreno ouviu a risada doce e brincalhona da menina e percebeu o quão diferente era das risadas falsas e estridentes das outras alunas de Hogwarts. Harry sentiu-se um pouco assustado ao se dar conta de que nada do que Ginny fazia o desagradava.


 - Não, você está linda com cara de sono. – o garoto só se deu conta do que tinha falado quando as palavras já deixavam sua boca. Tentando mudar de assunto e não dar à Ginny a oportunidade de comentar, brincou com ela. – Gostei do pijama de quadribol.


 A ruiva, pela terceira vez naquela noite, ruborizou. Harry sorriu e aceitou que nunca cansaria de observar o rosto dela corando.


 - Ah, isso? – a menina falou pegando no pijama e rindo nervosamente – Sei que parece infantil, mas minha paixão por quadribol é incurável. – riu.


 - Você não respondeu a minha pergunta. – o moreno falou, não respondendo ao comentário do quadribol, mas fazendo a nota mental de nunca esquecer aquilo: parecia surreal uma menina louca por um esporte – Por que está acordada?


 - Nada demais – se levantou – É que os meus irmãos vivem procurando meu diário, aí eu só posso pegá-lo quando eles estão dormindo. – ela se abaixou um pouco e sussurrou para Harry com um sorriso brincando nos lábios – Questão de segurança sabe? – o moreno não conseguiu deixar de rir com aquele comentário.


 A menina se virou e começou a andar, só parando quando estava ao lado esquerdo da lareira.


 Ginny tirou o diário que estava atrás de um porta-retrato que ficava exposto na lareira e virou-se para mostrar a Harry. Mas, ao girar, percebeu que o moreno estava logo atrás dela. Olhou para cima para poder encarar Harry nos olhos. Ele podia ser menor que Rony, mas não deixava de ser enorme: a cabeça de Ginny batia no queixo do moreno.


 - E você chama esse esconderijo de seguro? – o menino perguntou zombeteiro.


 Ginny apenas sorriu e replicou sabiamente.


 - Às vezes, Harry, perdemos tanto tempo procurando por algo que não percebemos que elas estão bem embaixo de nossos narizes.


 A ruiva podia sentir a respiração quente de Harry e o hálito fresco de menta quando ele voltou a falar.


 - Engraçado, ultimamente eu tenho procurado tanto... – ele parou, abaixando a cabeça para encarar Ginny melhor – E você está bem aqui, embaixo do meu nariz.


 A ruiva só teve tempo de entender o que ele quis dizer com aquilo e logo sentiu Harry se aproximando e os lábios dele tocando os seus. E, pela primeira vez, Harry não sabia o que sentia em relação à irmã caçula do seu melhor amigo.


 Uma, duas, três lágrimas escorreram pelo seu rosto.


 Naquele dia Harry havia descoberto o amor. E agora ele estava descobrindo a dor de não tê-lo. Queria sentir sua ruiva ali, próxima a ele e ao alcance de suas mãos. Queria poder beijá-la e dizer o quanto fazia falta. Mas não podia.


 Abriu o pacote que segurava nas mãos e se deparou com um frasco que Harry reconheceu ser um dos que eram usados para guardar memórias. Junto ao frasco havia um pedaço de pergaminho que dizia “Sei que você pode vê-la. Assista a lembrança e vá para Toulon, na França: ele estará lá”.


 Harry não precisou ler duas vezes para saber que o ele a quem a frase se referia era Voldemort. Entrou no seu quarto e buscou pela penseira que herdara de Dumbledore. Mergulhou naquela memória e decidiu que, ao acordar no outro dia pela manhã, a primeira coisa que iria fazer era ir direto para a França.


 Com a decisão tomada, deixou-se ser engolfado pelo sono e por seus pesadelos.


 - Crucio!


 A voz de Voldemort preencheu o local e foi seguida por um silencia mortal. Mas o silêncio não durou muito.


 Harry mordeu o lábio inferior até que sangue escorria dele, tentando inutilmente não gritar. Não queria demonstrar fraqueza em frente ao seu maior inimigo, mas estava impossível agüentar. Nunca sentira tanta dor em toda a sua vida, ele podia sentir o ódio de Voldemort para com ele em cada pontada de dor que o atingia, uma mais intensa que a outra.


 Logo seus gritos ecoavam pelo ambiente caótico e, a cada grito, seguiam-se risadas – dos comensais, ele tinha certeza.


 Hermione, um pouco distante de onde Harry se encontrava caído no chão, observava com lágrimas nos olhos enquanto seu melhor amigo – ou melhor, irmão – sofria nas mãos daquele ser horrendo. Queria poder ajudá-lo, queria ser capaz de fazer qualquer coisa que fosse para ajudá-lo, mas estava literalmente paralisada, assim como Rony que tentava a todo custo fechar os olhos para não ser obrigado a ficar encarando aquela cena. Mas não foi necessário muito esforço da parte de ruivo porque, de repente, tudo parou. Os gritos, as risadas... tudo subitamente parou.


 Harry estranhou, mas não reclamou. Quando as dores provenientes da maldição cessaram, ele finalmente foi capaz de respirar normalmente. Seu corpo estava todo dolorido e ele podia sentir o líquido quente escorrendo do seu nariz.


 Voldemort apenas encarava o moreno com um sorriso desprovido de qualquer emoção estampado no rosto. Ainda com a varinha apontada em direção ao peito de Harry, Voldemort falou da forma mais fria possível:


 - Onde está a sua tão conhecida coragem agora, menino-que-sobreviveu? - Harry percebeu a ironia presente na voz daquele homem (se é que ele pode ser classificado como tal) ao chamá-lo por esse nome.


 Harry não respondeu de imediato. O moreno encarou seus amigos e seu chão sumiu ao ver o desespero nos olhos de Rony e Hermione. Então uma lembrança tomou conta da sua mente: um sorriso, uma fragrância, um toque, o vermelho vivo em forma de belos cachos. E mais uma vez o pânico se apossou de Harry quando ele percebeu a presença de Voldemort em sua cabeça. Estava muito fraco para bloqueá-lo. Queria tirá-lo dali, não podia deixar que ele descobrisse sobre Ginny. Começou a lutar mentalmente, mas oclumência nunca foi seu forte. Após um grande esforço, ele conseguiu fazer com que Voldemort deixasse sua mente. O desespero fora tanto que agora voltava a respirar pesadamente.


 - Me parece que, no final, o tão precioso amor irá destruí-lo, Harry Potter. – O Lorde das Trevas falava pausadamente e foi se aproximando do garoto a cada sílaba que deixava sua boca. Quando voltou a falar, já segurava o rosto de Harry em sua mão – Diga-me, salvador – fez questão de dar ênfase ao “apelido” -, será capaz de salvar sua amada traidora do sangue no estado em que se encontra? – Soltou o rosto do moreno com brutalidade e riu.


 Ele suava frio, mas já estava acostumado, afinal, revivia aquela noite toda vez que fechava os olhos. A lembrança dos olhos de Hermione banhados em lágrimas o preocupação lembrou o moreno de avisar a amiga que a família atacada não era os Weasley. Ela devia estar furiosa pela demora, e foi pensando nisso que Harry achou melhor deixar a tarefa de entregar o recado para Edwiges.


 Rabiscou uma mensagem rápida em um pergaminho, colocou em um envelope e entregou para a coruja branca parada no parapeito da janela. A bela ave branca piou e saiu feliz para cumprir com seu dever.


 


N/A: Atrasei um dia, me desculpem... mas eu não estava conseguindo entrar no site do fanfiction.net e só gosto de postar nos dois sites (fanfiction e Floreios) ao mesmo tempo. Esse capítulo já foi maiorzinho kkkkk Espero que tenham gostado. Peço, por favor, que comentem. Eu preciso saber se vocês estão gostando!


 Quem já assistiu ao filme?!  Fui antes de ontem para a pré-estréia e eu AMEI o filme. Principalmente porque ficou parecido com o livro. Ficou lindo, chorei litros com a morte de Dobby :/


 Até o próximo capítulo que eu acho que vou postar próxima sexta, dia 26/11... Mas depende, vou ver. Beeijos

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