Capítulo 2



O som emanado do motor da grande mota não tardou a irromper pelo Castelo fazendo com que muitas cabeças se voltassem, em procura do local de proveniência desse estranho barulho. Harry e Ron abriram caminho por onde, num passado tão presente, haviam conduzido um carro voador. De súbito a mota estancou e o motor parou de soar. Harry e Ron desceram, visivelmente cansados e com os músculos mal tratados devido à dureza não habitual da viagem. Há algum tempo atrás teriam sido utilizados outros meios para viajar, mas agora…não havia mesmo mais nada a fazer!
Dispersas por quase todo o Castelo estavam as mais variadas pessoas, quase todos em silêncio enquanto vagueavam de um lugar para o outro; Sim, o silêncio reinava, apenas alguns grupos de duas ou três pessoas falavam, mas não animadamente. As recordações atingiam todos, desde os mais velhos aos mais novos. Alguns tinham passado ali os melhores e piores momento das suas vidas, à muito tempo atrás, outros estudavam ali apenas há alguns anos; Harry reparou num pequeno grupo de miúdos que se encontravam sentados na relva, tinham feito parte dos alunos do primeiro ano, aqueles apenas ali tinham estado alguns meses, uma dúvida assaltou o seu espírito: seria possível que este pequeno grupo não voltasse a sentir a pura magia de Hogwarts, que não pudessem descobrir os recantos, os segredos do Castelo? Talvez tivessem sido quem menos tinha sofrido com a mudança, pois não haviam criado ainda tantos laços quanto os alunos mais velhos, contudo tinha-lhes sido vedada a possibilidade de os criar... E Harry lembrou-se subitamente: “ Enquanto houver alguém que lhe seja fiel, Hogwarts nunca fechará, Dumbledore nunca desaparecerá”, no seu pensamento surgiam agora imagens maravilhosas de momentos passados com o seu mentor, com a pessoa mais extraordinária que o mundo mágico havia conhecido. Olhou para Ron que exibia uma cara ausente, a melancolia estampada no rosto, algumas lágrimas escorriam dos seus olhos. Então Harry reparou que também chorava; Sentiu-se um pouco exposto e envergonhado. Limpou as lágrimas com esforço e bateu amigavelmente nas costas de Ron quando este fez o mesmo. Depois avançaram pelo relvado do Castelo, decididos a encontrar as suas famílias.
Não necessitaram de muitos minutos para descobrir Ginny, Hermione e os pequenos. Tinham combinado encontrar-se no salão. As portas do castelo estavam abertas, no primeiro hall passaram por algumas famílias a quem ofereceram um bom dia, recebendo em troca o mesmo cumprimento. Harry era agora uma pessoa normal, as pessoas já não o perscrutavam como acontecia no passado; isso fê-lo sentir-se bem. As portas do salão estavam abertas de par em par, entraram. Parecia ainda mais enorme que o que fora em tempos, talvez devido à ausência do tecto magico, que naquele dia certamente imitaria um céu azul claro, que transmitiria paz. Agora via-se o seu verdadeiro tecto, muito mais alto do que o que imaginara em tempos. Lembrou-se da primeira vez que ali entrara, recordou o seu fascínio por aquele lugar fantástico, iluminado por milhares de candeias que tombavam do ar, sobre quatro grandes mesas na qual se dividiam quatro grandes equipas. Lembrou as mesas que apresentavam pratos e taças de ouro e também a comprida mesa que estava no topo do salão onde se alinhavam os professores. E foi também nesse dia que pela primeira vez viu Dumbledore. Agora as mesas estavam dispostas como dessa primeira vez, contudo nada estava em cima delas e o ambiente era frio. Hermione e Ginny estavam sentadas frente a frente na mesa que pertencera aos Griffyndor. James estava um pouco distante e falava com alguns dos colegas do seu ano. Mais perto estavam Rose, Albus e um miúdo de cabelo louro que Harry identificou como sendo Scorpious.
- Quem diria que existiria um dia um grupo de amigos assim… um Potter, um Weasley e um Malfoy. – Disse Ron demasiado alto, pois os miúdos ouviram levando Scorpious a ficar um pouco constrangido. Rose lançou um olhar mortífero a seu Pai que corou, um pouco envergonhado;
- Sim; É sinal que tudo mudou, que tudo está bem! – Respondeu Harry, sorrindo; Mas estaria mesmo tudo bem? Fez um esforço por não tocar na cicatriz; Aproximaram-se da mesa e sentaram-se ruidosamente. Ginny olhou Harry, nos seus olhos estavam estampados a preocupação e a duvida. Harry rejeitou esse olhar com um sorriso determinado, que levou Ginny a sentir-se melhor, mais descansada. Decorridoas alguns minutos Albus chamou insistentemente a sua mãe; aparentemente queria mostrar-lhe algo que achava uma tremenda piada; Ginny levantou-se, depois de Albus lhe ter puxado o braço algumas vezes; Estavam então de novo os três juntos, Harry, Hermione e Ron. A princípio ninguém disse nada, uma qualidade entre verdadeiros amigos, não necessitar de palavras para se compreenderem; Foi Hermione que cortou o silêncio.
- Conseguiram terminar o que tinham de fazer? Já têm todas as informações?
- Sim. – Respondeu Ron;
- Já têm mais alguma ideia?
- Não; - respondeu desta vez Harry deixando transparecer um ar de desânimo;
- Eu também não; Terminei ontem já de madrugada de ler mais uma dezena de livros e não existe nenhuma referência a algum tipo de desaparecimento da magia. Penso que estamos realmente diante de um problema completamente novo; - Disse Hermione visivelmente perturbada pelo teor das suas conclusões.
- Vamos chegar à resposta – atirou Harry!
- Sim, não se lembram de tudo o que passámos? Sempre nos safámos; contando com a nossa amizade, com a coragem do Harry, o cérebro da Hermione e, bem…comigo! – Exclamou Ron, com um sorriso gigante; Harry e Hermione riram, desta vez com vontade e de forma bem audível. Estavam juntos, o que poderia correr mal?
Um sino soou, de uma forma distante, mas de alguma maneira bastante presente; Era tempo do começo da cerimónia. Levantaram-se rapidamente, Ginny e os miúdos juntaram-se a eles e todos juntos abandonaram o salão, com um último olhar de pura melancolia.
Quando deixaram as portas do castelo o sol iluminava o cenário com uma luz quente. Era curioso que tanto agora como no passado, no dia do Funeral, o tempo parecia zombar da situação, aparecendo no seu mais profundo esplendor de beleza; Tal como acontecera à tanto tempo atrás, tinham sido colocadas cadeiras no relvado, dispostas em filas e divididas ao meio por uma coxia. Na frente, via-se um túmulo de mármore para o qual se viravam as cadeiras. Ao lado surgia o lago, com a sua tonalidade espelhada. Harry viu o aglomerado de pessoas que se havia juntado ali. Quase todos os feiticeiros se encontravam lá; Reconheceu quase todos os rostos, pareciam apenas faltar as caras que não tinham sobrevivido à batalha final…Moody, Fred, Dobby…revisitou todos os que haviam perecido. Chegou à primeira fila, Kingsley apertou-lhe respeitosamente a mão, era agora Ministro da Magia tendo Percy como seu braço direito; Percy estava ali, realmente ao seu lado direito. Hagrid também; Deu-lhe um valente abraço seguindo o mesmo gesto para com todos. Estava visivelmente emocionado, balbuciava algumas palavras:
-Grande homem, Dumbledore…Grande Homem…

Encontraram algumas cadeiras livres e todos se sentaram menos Harry. Este deu alguns passos decididos em frente e depressa se encontrou diante do imaculado túmulo branco que um dia, há muito tempo atrás, tinha envolvido uma mesa de mármore onde o corpo de Dumbledore descansava, sereno. E recordou o seu mestre, o seu amigo, o seu mentor! Uma pessoa extraordinária, um feiticeiro genial, inigualável. Lembrou a profunda tristeza que o havia assolado na fatídica noite na torre e sentiu-se triste. Olhou cabisbaixo para o ultimo lugar de repouso do feiticeiro que estava prestes a deixar de o ser, prestes a ser violado pela segunda vez! Virou costas ao túmulo olhando a multidão. Os centauros estavam lá, prestando a sua homenagem, bem como as criaturas do lago repetindo o gesto do passado. Sabia que teria de dizer algumas palavras, não tinha um discurso preparado, não era bom nessas coisas. Pensou numa frase que Dumbledore lhe havia dito uma vez…fechou os olhos…
- A morte é uma chama que se move internamente numa ágil dança de luz profunda, não é o fim, é apenas uma transição…a morte é a próxima grande aventura! – As palavras ressoaram pelo tempo, repletas de intensidade e emoção ecoaram por todo o castelo até se extinguirem… Harry abriu os olhos, uma lágrima escapara-se, descia agora o seu rosto. Hagrid chorava copiosamente, todos se encontravam emocionados… mas era tempo! Um pequeno grupo chegou à frente e os preparativos começaram. Como não podiam recorrer à magia fora decidido que o mármore seria cortado e o túmulo seria depois transferido para um lugar nos limiares de Londres. Aí seria transportado através da magia e colocado na sua nova localização.
Trinta minutos esgotaram-se sem que nenhum progresso fosse alcançado pois a pedra parecia simplesmente não querer ser cortada, nem um arranhão permitia na sua perfeição. Outros trinta minutos passaram, o sol foi descendo nos céus. Nada, nem um pequeno corte. Harry juntou-se então ao grupo que estava a trabalhar no túmulo. Era impossível, simplesmente impossível cortar aquela pedra. A decisão do procedimento seguinte cabia a Harry; não tinha muitas hipóteses... pensou um pouco mas sabia que a única conclusão a que poderia chegar era aquela que mais o repugnava. Não poderia ser transferido o túmulo. Teria de ser transferido apenas o corpo!
Harry olhava atentamente enquanto dois feiticeiros abriam uma porta que estava encrostada magnificamente no mármore. Ron, Hermione e Ginny estavam a seu lado. A porta foi aberta lentamente, pareceu uma eternidade….finalmente abriu…e um grito sobre-humano foi lançado no ar, de seguida um som de explosão cortou o ambiente e chamas intensas surgiram em volta de todos eles. A cicatriz de Harry latejou, primeiro de uma forma quase imperceptível, depois mais intensamente até que ele já não conseguia aguentar. Prostrado de joelhos Harry gritou…mas a dor cessou subitamente. Sentiu o se corpo a ser sugado para o interior do tumulo por uma força magica. Não teve tempo para reagir. Caiu no túmulo como havia um dia caído no interior de um diário.
Não sabia onde se encontrava; o sítio era escuro e sentia-se como se o seu corpo e alma não pertencessem àquele lugar. Uma melodia triste enchia o ambiente, falava de dor e perda de uma forma tão intensa que apenas poderia ser, sim, era…tinha de ser…era um canto de uma Fénix! Os seus olhos habituaram-se um pouco à escuridão, e depressa descobriu que se semicerrasse os olhos conseguia distinguir algumas coisas; Mas o que viu foi aterrador. Sentado contra uma parede imunda estava um velho. Sangue escorria de quase todo o seu corpo formando poças lodosas num chão cravado de sujidade. A sua cabeça estava semi escondida pela profunda escuridão. Harry conseguiu distinguir um longo cabelo branco pérola que era acompanhado por uma longa barba, também de cor branca. Distinguiu uma fraca tonalidade azul na cara do velho. E reconheceu assim os seus olhos, um azul inesquecível! Estava tão mal tratado que Harry temeu que não se encontrasse vivo. Mas uma voz surgiu, clara, distinta, poderosa:
- Olá Harry…-fez uma pausa;
- Dumbledore!!! – Gritou Harry a plenos pulmões.
- Sim Harry, sou eu! – E com um sorriso do velho feiticeiro o ambiente ganhou uma nova luz…

Harry petrificou; Um crepúsculo denso inundava a sala e soprava um vento frio; não existia telhado, apenas as ruínas de quatro paredes…uma lua, no oeste, descia nos céus, brilhando espasmodicamente através das nuvens carregadas que se iam separando umas das outras. Acima do crepúsculo brilhavam estrelas frias, emitindo uma luz fantasmagórica. E Dumbledore estava ali, respirava, vivia! Harry não conseguia mexer-se; queria correr para o seu mestre, abraça-lo, curá-lo, mas o seu corpo recusava, determinantemente, qualquer movimento. E foi o velho feiticeiro quem quebrou o silêncio:
- Harry, não temos muito tempo; tenho tanto a explicar-te, mas de novo tanto que não sei explicar.
- Dumbledore…mas o senhor está morto... – Replicou Harry, absolutamente confuso;
- Oh Harry… – principiou Dumbledore fazendo uma pausa, respirando fundo; o seu corpo mutilado jazia no chão mas o seu porte era de excelência, de inquebrável classe – Será que estou mesmo morto? Será que sou apenas um pensamento, apenas um corpo, um pensamento sem corpo ou até um corpo sem pensamento? A questão é demasiado complexa para respostas simples, por isso se me perguntares se vivo a minha resposta será sim…e não! Pois aquilo que me prende à vida provém de um erro, oh…de um erro que pode ter consequências catastróficas Harry; um erro meu, apenas meu…grandes mentes tendem a fazer grandes erros Harry, oh…grandes erros.
- Dumbledore, por favor explique; onde estamos? E como pode estar vivo? - Respondeu Harry agora dirigindo-se, com passos cuidadosos, para o velho de cabelos e barba longos e prateados, de olhos de um azul intenso, escondidos atrás de óculos de meia-lua, um nariz adunco, o corpo despedaçado. O lamento da Fénix acompanhava o momento. Harry parou a escassos centímetros de Dumbledore, conseguia agora ouvir a sua respiração, longa e penosa.
- Sim, essas são as questões certas, meu rapaz – um sorriso rasgou a sua face, subitamente a sua condição pareceu melhorar, uma neblina luminosa envolvia agora os seus corpos; as brumas foram ganhando forma e a sala mudou de aparência, sete grandes pilares surgiam agora, imponentes, em pedra negra, formando um círculo. O chão revelou-se em mármore de um branco celestial. No centro um pilar negro erguia-se imponente, parecia coberto de sangue que escorria conspurcando o perfeito mármore. Por cima o céu coberto de radiantes estrelas, por baixo o mesmo céu…sim, encontravam-se num lugar suspenso nos céus; Harry olhou, abismado, era como se todo o infinito estivesse ao alcance apenas de um olhar; sentiu-se zonzo e recuou;
- É demais para um simples olhar não é?
Deu meia volta. Albus Dumbledore dirigia-se a ele com passos firmes e enérgicos, usando um lindo manto azul-escuro, o seu corpo totalmente recuperado, na sua face um sorriso rasgado.
- Como?...
- Hum, simples Harry. Não sabes onde estamos?
- Não!
- Hum... presumo que uma nossa querida amiga desconfiaria…mas claro que não são todos os que devoram os mais antigos e “pequenos” livros da história da magia. Sempre assumi que seria apenas uma lenda Harry, até que o encontrei, depois da morte mas ainda em vida…e que lugar magnífico…esta é a grande sala da magia!
- Sala da magia? – Inquiriu Harry, olhando à sua volta.
- Sim…basicamente este lugar não consiste propriamente num lugar…Harry, este lugar é a própria magia; Este lugar alimenta toda a magia que encontramos no nosso mundo, é a fonte da magia.
- A fonte?
- Sim Harry. Uma fonte em risco de secar… – As brumas voltaram poderosas…e com um som áspero de trovão a antiga sala banhada pela escuridão crepuscular ressurgiu. Harry sentiu a mão calma de Dumbledore no seu ombro, voltou-se, encarando-o de frente, percebendo nos seus olhos, percebendo agora o que acontecia…
- A fonte da magia está a secar – retomou Dumbledore – levando a que a magia se extinga do mundo Harry.
- Mas porque seca esta fonte? – Perguntou Harry exibindo um olhar desesperado.
- Tom Riddle. É esta a resposta para a tua pergunta.
- Voldemort? Mas como?
- Primeiro preciso perguntar-te se te recordas do que viste nesta sala, quando ela nos apareceu no seu esplendor?
- Sim, recordo sete pilares negros formando um círculo, ao centro um pilar que parecia coberto de sangue e um céu infinito.
- Muito bem Harry. Penso que aí reside a resposta a todas estas questões. Eu errei Harry, o meu plano falhou, algo que não tinha previsto aconteceu e o plano para destruir Tom não resultou. Apenas não consigo descobrir o quê Harry;
- Quer dizer que Voldemort regressou?
- Não Harry, quer dizer que Voldemort nunca desapareceu! Uma estranha ligação entre ele e a magia foi efectivada; Não percebo ainda como. Voldemort alimentou-se da magia proveniente desta mesma fonte; Era um simples bebé Harry, um simples bebé…e eu pensei que podia ajudar, pensei que o podia educar, ensinar. Soube que era ele Harry mas tentei o amor; recusei-me a exterminá-lo, propus-me a educá-lo. Mas de novo errei Harry.
- O bebé de King’s Cross…aquele bebé que chorava?
- Sim Harry; – respondeu Dumbledore sentindo o seu corpo tremer. – Esse bebé era Lord Voldemort e eu, erradamente, pensei estar morto e pensei que a minha missão seria educá-lo, para reverter o que falhara em vida, mas também falhei agora. Ele sugou a magia do mundo, alimentando-se dela…
- Por isso a magia desapareceu de Londres…- interrompeu abruptamente Harry:
-Sim! E agora ele ressurgiu, pleno de poder. Do silêncio da escuridão irrompeu um sussurro ténue, quase imperceptível. Começou num sopro leve que se avolumou na escuridão e que varreu a minha cara num ápice, afogando-me com os seus dedos gelados de morte. Lutámos, por fim, aqui neste mesmo sítio. E perdi Harry. Voldemort voltou, e com ele a magia voltou também.
Um som poderoso fez-se ouvir e de repente todas as estrelas desapareceram, o crepúsculo cessou, como se morresse. A escuridão total voltou. O canto da Fénix cessou.
- Rápido Harry, ele voltou…ele voltou. Tens de partir Harry… - vociferou Dumbledore, visivelmente assustado.
- Mas…não posso partir sozinho, recuso-me!
- Encontra o meu corpo Harry, apenas assim poderei voltar. Uma nova demanda pela paz é necessária meu rapaz pois o silêncio de sombras da morte voltou…encontra o meu corpo Harry… Dumbledore ergueu os braços no ar, viu-se uma Fénix a voar, com um movimento súbito Dumbledore juntou as palmas das mãos e tudo pareceu explodir enquanto o velho se fundia com a Fénix. As brumas voltaram, depois uma luz forte cegou Harry que gritou de dor…quando ousou reabrir os olhos encarava Ron, Hermione, Ginny e todos os outros; estava prostrado no chão de Hogwarts, Voldemort voltara, a paz já não reinava!
- Harry, Harry… - gritava Ginny enquanto o abraçava, tentando protegê-lo. Hermione, Ron e todos os outros olhavam Harry visivelmente preocupados, apreensivos, assustados. Não percebiam o que se passava. A abertura do túmulo trouxe a surpresa da inexistência do corpo de Dumbledore, Harry tinha gritado, tinha-se agarrado à sua cicatriz, depois tinha, por fim, desmaiado. Encontrava-se sem sentidos há alguns minutos. Todos os feiticeiros presentes se tinham colocado em volta de onde Harry tinha desmaiado e ali tinham permanecido, olhando e esperando que ele acordasse. E agora ele acordara finalmente, entre gritos de dor, o espanto por estar de novo ali e as preocupações provenientes do seu encontro com Dumbledore. Harry levantou-se a custo, ajudado por Ginny e Ron. De súbito um coro de perguntas chegou: “o que se passa?”, “Como estás?”, O que tens?”, “Sentes-te melhor?” etc. Este coro foi aumentando de intensidade até que já nada se percebia;
- Basta! – Vociferou Ron. – Dêem-nos espaço, deixem-no respirar. Chega!
E assim todos foram dispersando, voltando os seus focos de interesse para o súbito mistério do desaparecimento do corpo do maior feiticeiro de todos os tempos. A magia desaparecera, o corpo de Albus Dumbledore desaparecera, tudo parecia precário, prestes a desaparecer no ar.
Harry esfregou um pouco a sua cicatriz, já não doía. Olhou os seus filhos que choravam, abraço-os um a um com carinho, assegurando-lhes que tudo estava bem, como era difícil mentir-lhes; Com calma assegurou o mesmo a Hagrid, Kingsley e muitos outros, não contaria nada antes de falar com Ron, Hermione e Ginny. Estes esperaram pacientemente até que por fim conseguiram fazer sinal a Harry e todos juntos partiram em direcção a um lugar muito especial, um lugar que lhes daria, agora, toda a segurança para falar. Harry tinha tanto a dizer, tanto em que pensar; tudo de novo, o terror de novo… Dirigiram-se ao castelo, entraram. Subiram as escadas que já não se moviam, entraram numa sala, evitando o quadro da dama gorda que já não se mexia. A sala comum dos Griffyndor aparecia sublime, tão igual, tão familiar a todos eles. As recordações tentaram entrar nos seus pensamentos mas as preocupações foram mais fortes. Sentaram-se silenciosos, nos seus lugares preferidos perto da lareira. Esperaram um pouco. Harry respirou fundo. Olhou-os, os seus olhos denotavam uma profunda preocupação.
- O que tenho para vos dizer é duro e estranho mas é verdade. – Fez uma pausa. Lá fora o sol brilhava, escarnecendo da situação. – Vou começar pelo princípio: Quando o túmulo foi aberto eu fui sugado subitamente para o seu interior, mas não fisicamente. Foi de forma mágica, como se caísse nas memórias de alguém; E o que vi foi incrível. Quando consegui vislumbrar alguma coisa distingui apenas quatro paredes imundas, ruínas. E ali, caído contra uma parede, completamente ferido, estava o Dumbledore…
Harry falou durante algum tempo sempre acompanhado pelas expressões de espanto e de pânico dos seus interlocutores. Quando terminou ninguém falou. Ron apresentava uma expressão de terror, nas faces de Hermione e Ginny vislumbravam-se algumas lágrimas. Muito tempo passou até que Hermione quebrou o silêncio:
- A fonte da magia, uma lenda, nunca pensei tratar-se de outra coisa. Mas deveria ter-me lembrado. Mas porque consegue Volde…
- Hermione – gritou Ron – Não pronuncies o seu nome, por favor! Ele voltou Hermione, ele voltou!
- Está bem. Porque consegue o Quem Nós Sabemos alimentar-se da magia. Qual é a sua ligação à magia?
Harry levantou-se e seguiu até à janela. Conseguia ver todos os que ainda se encontravam no castelo, perto do túmulo. Parecia existir lá em baixo uma grande agitação. Algumas pessoas corriam de um lado para o outro de forma frenética, outras pareciam festejar alguma coisa, erguendo os braços no ar, exibindo rostos felizes, tão felizes. Voltou-se para responder a Hermione, ainda que bastante intrigado sobre o que se passaria lá em baixo. Abriu a boca para falar, mas quando o ia a fazer James irrompeu pela sala gritando:
-A magia voltou! A magia voltou! – Entre os gritos retirou a sua varinha e, apontando-a a um quadro pendurado na parede, exclamou: reducto! O quadro tremeu um pouco, depois, como que contra a sua vontade, encolheu, tornando-se num quadro microscópico.
Os olhares de Harry, Ron, Ginny e Hermione encontraram-se no ar. Os seus lábios não sorriam. Nas suas mentes uma verdade surgia: A magia voltara, Voldemort voltara!

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