Capitulo Um



Harry Potter e o Regresso Da Magia - cap I

A noite chegara fria, carregando consigo um vento uivante que embateu forte no castelo. Numa das janelas de uma das mais proeminentes torres, onde outrora se distinguiriam luzes baloiçante provenientes de velas voadoras, guardiãs de ternas noites, nada se vislumbrava a não ser a escuridão. O cenário era desolador, contudo, impressionante! O castelo surgia maravilhosamente recortado sob uma paisagem intensa, banhada num luar proeminente que parecia ter algo mais, algo mágico; dele emanava uma aura misteriosa. Se alguém se aventurasse até ali poderia ouvir os sons estranhos que dançavam no ar uma música de saudade e pura nostalgia; pareciam vozes que cantavam o passado numa ode inebriante. Mas eram poucos os que se aventuravam até aquela zona, pois o desconhecido sempre assustara os muggles, que detestavam ardentemente tudo aquilo que não compreendiam! Contudo, durante algum tempo alguns curiosos sobressaíram, libertando-se do geral desinteresse. Historiadores, oficiais e potenciais, pseudo-intelectuais ou simples curiosos, eis que várias hipóteses foram levantadas. Mas a ausência de provas, de referências históricas ou simples lendas, veio a terminar com o momentâneo surto de interesse; hoje o castelo permanecia impávido e sereno incrustado naquela terra mística.
O tempo passou e a noite foi evoluindo, o luar diminuiu permitindo às estrelas reinar na noite serena.
Muito distante dali, numa pequena casa igual a tantas outras, um homem dormitava no sofá. O dia havia sido extenuante, o ponto alto da emoção tinha sido a chegada dos seus três filhos (James, Albus e Lilly) para a época natalícia. Milhões de histórias foram contadas e recontadas sobre o que haviam aprendido, quem gostava de quem, quais os bons e maus professores, aventuras e desventuras mais ou menos perigosas. Mas até os jovens não aguentaram e deixaram que o sono os embalasse naquela doce noite. A sua mãe estava aninhada com eles, matando a saudade. O homem principiou um quase inaudível ressonar, o seu cabelo era negro e rebelde, tanto agora nos seus quarenta anos, como quando tinha onze; e eram precisamente imagens maravilhosas dos seus onze anos que lhe invadiam o sono; as cartas, a “fuga” da sua pretensa família para um lugar quase inacessível; a chegada do mensageiro e o despertar numa outra realidade…os óculos de aros redondos ameaçaram cair, mas permaneceram suspensos na ponta de um nariz não muito longo. Moveu-se, ainda embrenhado no sonho, o seu cabelo levantou um pouco descobrindo uma testa lisa, peculiar; seria perfeita não fosse a cicatriz que a ornamentava; As imagens de um dia tão distante continuavam a passar pela mente de Harry Potter; um homem enorme forçando a entrada, um bolo amassado para os seus anos e por fim a verdade “és um feiticeiro Harry”, a frase ribombou na sua cabeça de tal forma que acordou num sobressalto. Demorou algum tempo até clarear as ideias, depois, ainda ensonado, vagueou um pouco pela casa; parou junto de uma porta e olhou Ginny, que dormia abraçada com os seus filhos. Sorriu, retirou um relógio de ouro do bolso e bocejou. O objecto era bastante insólito, tinha doze ponteiros sem quaisquer números, em vez deles pequenos planetas movimentavam-se em círculo. O seu pensamento dirigiu-se rapidamente a Dumbledore, de quem tinha herdado o relógio, e com este pensamento a preocupação apareceu estampada no seu rosto. O último lugar de repouso do seu grande mentor seria transferido no dia seguinte devido aos acontecimentos recentes. E Harry não conseguia ainda perceber o que se passava. Porque razão tinha a magia abandonado os perímetros de Londres? E pararia por aí? Ou estender-se-ia, obrigando todo o mundo mágico a continuar a fugir dessa calamidade? Seriam obrigados a mudar tudo de novo? A escola, o departamento, as famílias… Harry abanou a cabeça como que tentando sacudir todos os problemas… no dia seguinte ocupar-se-ia destas questões, seguiria com os primeiros raios de sol ao encontro de Ron nas novas instalações do ministério da magia. Olhando para trás no tempo ninguém diria que teria a oportunidade de realizar o seu sonho, ser Auror. Hoje era chefe de departamento e Ron, depois de começar por ajudar George nas “magias mirabolantes dos Weasley”, tornara-se também Auror. Olhou para as escadas e pensou em subir para o seu quarto, mas, num impulso, enroscou-se ao lado de Ginny, e adormeceu profundamente.


O sol nasceu trazendo uma manhã doirada. Os raios de sol emitiam um calor raro naquele Inverno. Uma janela de uma normal casa dos subúrbios estava aberta. A luz entrou deixando descobrir uma pequena sala com um espantoso aglomerado de livros. A parede estava completamente forrada com estantes de uma madeira escura, dispunham-se nelas milhares de volumes, organizados criteriosamente, com as mais variadas lombadas; desde edições que pareciam acabadas de terminar até lombadas que mais pareciam existir desde sempre. A luz avançou um pouco, incidindo mais forte sobre toda a sala. Ao centro estava uma pequena mesa que parecia ser feita da mesma madeira das estantes. Em cima desta mesa encontrava-se um exemplar de uma revista. A capa mostrava um título bizarro sob um fundo de cores berrantes. “Mimblewimble, o dragão invisível” aparecia por baixo do célebre título de “A Voz Delirante”. Uma porta abriu-se e dela saiu uma mulher de cabelos longos de tom dourado. A porta que abriu deixava perceber um quarto que novamente parecia forrado de livros, à excepção de um enorme poster de Quiditch pendurado por cima de uma cama. Nessa cama estava um homem de cabelos ruivos, que enfiou a almofada por cima da cabeça, fazendo um som irritado.
- Sai da cama Ron! - Gritou Hermione – Humpf, sempre o mesmo preguiçoso - resmungou enquanto se dirigia a casa de banho. Trinta minutos depois, quando Hermione saía magnificamente arranjada da casa de banho ainda Ron não tinha acordado.
-Ron Weasley! - Vociferou ela- Levanta-te já!
-Blas Hermione, prcs mmo a mnha mãe – tentou Ron responder, contudo pareceu engolir mais sílabas que as que pronunciou.

Hogwarts resplandecia com a luz pura que lhe incidia. Contudo, na floresta mágica, apenas alguns raios de sol mais fortes se atreviam a tocar o solo. Ali uma escuridão artificial tomava conta do tempo e do espaço. De súbito um frio cruel atravessou a floresta, as copas das árvores balançaram um pouco, o ar tornou-se gélido. Uma criatura disforme atravessou a floresta, não tinha figura e, apesar de transparente, não era um fantasma. Foi seguindo pela floresta mágica até que, de súbito, parou. Ali, junto de um pequeno pinheiro selvagem, permaneceu, como que observando o castelo.

Passeava ao lado de Dumbledore, que lhe explicava porque razão não podia estar presente na noite de natal, tinha de estar em Hogwarts, dizia, tudo estava preparado; a magia fluía a cada passo enquanto se embrenhavam cada vez mais numa luz brilhante… e Dumbledore caiu, desfalecendo lentamente em agonia completa, Harry queria ajudar mas não conseguia, permaneceu imóvel enquanto o velho sofria, gritando de dor, de loucura. E ele apareceu, a escuridão engoliu a luz…Voldemort amaldiçoava Dumbledore, com a varinha levantada…e a sua voz surgiu sibilante, como uma cobra:
- Ah, ah, ah, há mil anos e mais que estou morto, sobre um rochedo, à chuva, ao vento; não há como eu, espectro macilento; mas estou, continuo, velho tolo! Não vês que não me apanhaste? Não vês que me salvaste? - E uma gargalhada maligna soou, um jacto verde surgiu, Dumbledore não resistiu. E Harry sucumbia a cada momento que passava…
Um grito horrível soou quando Harry acordou, completamente encharcado, em lágrimas, agarrado à cabeça! A sua cicatriz latejava de uma forma que já não conhecia, a dor era intensa demais, queimava-o e espalhava-se pelo seu corpo de forma incontrolável. Ginny, assombrada, agarrava-o, consolando-o. Mas também o medo a assolou; Um vento gemedor perpassou lá fora. Os rapazes, assustados e espantados ao mesmo tempo, não ousavam emitir qualquer som, Lilly chorava ao ver o seu pai sofrer daquela forma.
- Harry…Harry…Ouve-me! – Ginny abanava-o pelos ombros; - Conta-me o que se passa! Por favor.
A dor pareceu passar mas durante algum tempo nada se disse. Até que Harry falou.
- Ginny – A sua voz transmitia medo – A cicatriz, doeu de novo.
- Mas não pode ser ele. Ele morreu! Há muito tempo atrás; É impossível;
- Sim, tens razão, certamente que há uma explicação – Mas a sua voz soou trémula, insegura; levantou-se e dirigiu-se à casa de banho onde tomou um duche quente enquanto revisitava o sonho, passo a passo, vez após vez! Ouviu Ginny bater à porta, ouviu-a dizer que era tempo de sair, que estava atrasado, mas demorou mais um pouco. Quando saiu não falou no que acontecera. Preparou a expressão facial mais normal que conseguiu e acompanhado pelos seus filhos e Ginny saiu para o ar fresco da manhã.
Tudo estava combinado. Ginny levaria James, Albus e Lilly para Hogwarts onde se encontrariam com Hermione, Harry seguiria para o ministério, levaria a moto de Sirius, que ainda guardava, tendo até recentemente procedido a algumas modificações. Subiu para aquele que fora o seu primeiro transporte depois do ataque de Voldemort à sua família. No seu pensamento mil coisas corriam. Era impossível parar de pensar no sonho, apesar de aparentemente existirem coisas de maior importância para resolver. Ligou o motor que roncou de alegria. Elevou-se nos céus com extrema rapidez e seguiu rápido ao encontro de Ron.
Não demorou muito a chegar ao seu destino. Não queria nem recordar todo o trabalho que tivera com a mudança da sede do ministério. Estava localizado por baixo de um mercado da cidade de Rochester, que surgia perto da periferia de Londres. A entrada continuava a ser disfarçada por uma cabine telefónica, em tudo semelhante à utilizada nas antigas instalações, que se encontrava inserida numa rua pouco movimentada. Harry não conseguiu evitar que as recordações lhe assaltassem o espírito, subitamente recordou o seu espanto quando MR Weasley o conduzira ao Ministério , para a sua audição, a uma zona quase deserta onde apenas se vislumbrava alguns escritórios e um bar com mau aspecto… sim, agora ele recordava tudo, incluindo as suas expectativas goradas quando percebeu que o Ministério não tinha uma localização imponente, mas se escondia através de uma entrada que lhe parecera naquela altura extremamente bizarra; Abriu a porta da cabine telefónica de cor vermelha e entrou. Marcou um número, primeiro um seis, seguido de um dois, um quatro… Ouviu-se por fim uma voz feminina, que de forma fria pronunciou: - Bem-vindo ao Ministério da Magia. Diga o seu nome e posto de trabalho.
- Harry Potter, Chefe de Departamento dos Aurors, aqui para encontrar com Ron Weasley, Auror número treze mil e trezentos.
Respondeu Harry, afastando momentaneamente os sentimentos de saudosismo.
Subitamente a cabine pareceu afundar-se no solo, descia gradualmente levando consigo um homem que um dia mudara o mundo mágico. Após mais ou menos um minuto, embora lhe parecesse sempre muito mais, uma luz dourada começou a iluminar a cabine, começando por iluminar os seus pés, depois, lentamente começando a subir pelo seu corpo. A luz era quente, agradável. Finalmente a luz cobriu todo o seu corpo, incidindo especialmente na sua cara, fazendo com que os seus olhos lacrimejassem. Por fim a porta abriu num ápice e a voz soou de novo: - O ministério da Magia deseja-lhe um dia agradável.
Mas o dia seria tudo menos agradável e Harry sabia-o. Mudar o último lugar de repouso, do seu mestre, amigo, mentor…nunca seria agradável.
Saiu da cabine entrando num hall simples e pequeno. Nada que se parecesse ao edifício original com os seus halls enormes e brilhantes em tons dourados, com um chão de madeira negra magnificamente polido. As únicas semelhanças eram as lareiras que se dispunham ao longo de um corredor que irrompia a partir daquele hall de entrada. O ministério estava deserto, tal como Harry suspeitara e ardentemente desejara. Por enquanto não lhe apetecia encontrar ninguém além de Ron. Passou a mão pela testa, sentindo o relevo da cicatriz, como que esperando encontrar uma resposta…mas nada aconteceu, e, conformado com essa situação, Harry caminhou ao longo do feio corredor que parecia não ter fim. Era um pouco escuro e Harry, como sempre fazia, segurou a varinha e pensou “lumus”… e mais uma recordação o atingiu… Hermione apresentou-se no seu pensamento, tentando a todo o custo ensinar Harry e Ron a executar feitiços sem os proferir. Era uma noite normal na sala comum dos Gryffindor, sentados perto da lareira tentaram e tentaram aprender enquanto Hermione desesperava… a luz da sua varinha chegou a uma porta de madeira escura que estava impregnada de forma grosseira na parede. Estava semi aberta, “Ron já tinha chegado” pensou. Entrou; a sala era oval, de uma forma desorganizada dispunham-se várias secretárias, bem como objectos de culto utilizados na defesa contra a magia negra. Mas agora os problemas eram outros, não existiam ataques há já tanto tempo, a paz reinava. Contudo lutavam agora com um inimigo que não conheciam, e as respostas eram necessárias, eram fulcrais. Ron estava sentado numa cadeira disposta por trás da sua secretária. Ou pelo menos do que se assemelhava com uma secretária; pois a forma como se ela encontrava desarrumada era fantástica. Dispostos sobre um pequeno tampo de madeira podiam ser avistados centenas de papéis desalinhados, ficheiros, jornais, etc…
- Bem se a Hermione vê essa secretária…ou o que resta dela! – exclamou Harry incapaz de conter um sorriso.
- Bom dia também para ti. Eu arrumo, um dia…mas hoje não me apeteceu; e Ron ria também.
Sentindo-se muito melhor Harry escolheu uma cadeira e sentou-se. Estar perto de Ron animava-o sempre. Por momentos quase esqueceu os acontecimentos daquela manhã. Falaram de coisas triviais por um momento, depois organizaram algumas informações que haviam recolhido bem como o resultado de algumas experiências que tinham sido realizadas para obter respostas, até que um som incaracterístico se ouviu. Era um som agudo que começava num tom baixo mas que depressa subia até se tornar massador. Harry retirou do bolso o antigo relógio de Dumbledore e com um gesto quase mecânico de pulso o som cessou.
- É tempo – disse Harry enquanto se levantava. Ron levantou-se também e seguiu-o. Apesar de Ron não apreciar nada a mota de Harry, não existia para eles outra hipótese, nem sequer seria possível voar com a moto até ao fim, pois a magia tinha de facto abandonado Londres, e nada de magico funcionava, a magia extinguira-se, como se houvesse esgotado as suas baterias. Harry conduziu a mota num voo de pequena duração, depois seguiu por uma estrada em más condições, que tornou a viagem muito desagradável para ambos. Harry seguia em silencio, ainda não havia decidido qual a melhor forma de abordar Ron sobre o seu sonho. Certamente que ele lhe iria responder “ não pode ser…de certeza? Mas não pode ser o quem-nós-sabemos pois não? Não, era impossível, não deve ser nada” e assim a conversa terminaria e Harry ficaria certamente a sentir-se ainda pior. Estavam agora a poucos minutos do mítico castelo, e a poucos minutos também de um evento que mudaria tudo de novo, de uma forma que ninguém poderia sequer imaginar...

A criatura disforme esperou durante algum tempo, observando atentamente o recorte do Castelo no Horizonte. Mas atentava especialmente no lago que surgia imaculado plantado num denso relvado. Nas suas águas escuras estava reflectido um túmulo branco de mármore; Algumas pessoas já tinham chegado ao Castelo e ele conhecia todas, oh sim, conhecia todas muito bem… não esperou mais, era tempo! Abandonou a floresta descendo até ao lago, um estranho frio acompanhava-o, varrendo o ar quente que se fazia sentir. Chegou finalmente ao seu destino, olhou o túmulo. Recordou a ultima vez que ali tinha estado e recordou o que sentira: uma euforia controlada, sensação inebriante de finalidade destrutiva. Como ansiava de novo por esse tipo de sensação, como desejava um novo poder, um poder supremo. Estava perto, tão perto. Perfurou o túmulo, e ali estava Dumbledore, o seu rosto já desgastado pelo tempo, mas preservado quase na íntegra. Os óculos adornavam o seu nariz adunco. As suas mãos continuavam cruzadas sobre o peito; Se Dumbledore pudesse saber, sentir que havia salvo o seu maior inimigo, sentir que o seu plano falhara, que ele, Lord Voldemort, o iludira! Deitou toda a sua forma de espectro naquele corpo, teria de correr tudo bem, um pouco de intensidade a mais deitaria tudo a perder. Concentrou-se e chamou a si todo o seu poder, agora tão ínfimo, tão limitado… Um clarão surgiu ofuscante mas logo foi engolido por uma escuridão profunda…um som agudo soou, mas no castelo ninguém ouviu.



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