Recordando o passado



Na toca

A família Weasley está reunida para mais um almoço domingueiro. Gina ajuda sua mãe na cozinha ao mesmo tempo em que observa a filha que caminha cambaleante. No jardim, James e Sirius brincam com os primos.

Já contou pra ele? – Gina pergunta para Luna que ajuda a sogra com um bolo de frutas para a sobremesa

Ainda não (a loira responde com ar sonhador e depois fica séria) meu marido não estava com um humor particularmente bom ontem à noite

Gina – É. Ele não ficou feliz ao saber que a Hermione ia pra Ucrânia acompanhada do Malfoy! (Gina sorri, mas logo fica séria ao ver a expressão da cunhada)

Luna Lovegood Weasley! O que está passando pela sua cabeça? (a ruiva fala sem acreditar que a cunhada está com ciúmes de Hermione) Você está com ciúmes da Hermione?

Luna – Não... Eu não estou, mas seu irmão está com ciúmes dela... Eles já namoraram e logo eu estarei uma baleia (a loira fala tentando segurar o choro, mas já com os olhos marejados)

Gina abraça a cunhada, ela entende muito bem como funciona essa coisa de hormônios – Ele está com ciúmes dela sim, eu admito. Mas você conhece o meu irmão, ele tem ciúmes de qualquer mulher da família. Você se lembra como ele ficou quando descobriu que eu estava grávida, e olha que o Harry é o melhor amigo dele. O ciúme que ele tem da Hermione é exatamente o mesmo que ele sente de mim... E você não vai ficar uma baleia! Rony vai ficar exultante quando souber do bebê. Isso é... Se ele não for o último a saber

Luna sorri e enxuga as lágrimas que começaram a se formar – Você tem certeza?

Gina abraça a cunhada – Claro que tenho! Agora vá contar a novidade a seu marido pra vocês poderem dar a notícia para o resto da família na hora do almoço como manda a tradição Weasley.

XXXXX

No jardim, Harry e Rony conversam enquanto tomam conta dos garotos que se divertem com varinhas falsas que emitem os mais variados sons. Um aperfeiçoamento das varinhas que cacarejavam, as primeiras fabricadas pelas gemialidades.

Harry nota que o amigo ainda está chateado e ele sabe muito bem o motivo – Você ainda está chateado por que o Malfoy foi pra Ucrânia com a Hermione?

E não é pra estar? (o ruivo fala) Vai dizer que você não reparou como ele olhava pra ela?

Pra falar a verdade eu reparei e a Gina também – Harry fala, mas ao contrário de Rony ele não parece chateado. Não tanto, pelo menos

E você não vai fazer nada? (o ruivo quase grita) ele é o Malfoy... A doninha...

Harry – Não pense que eu também gosto disso, Rony. Mas não sei se você reparou que a Mione também olhou diferente pra ele

Desde quando você é tão perspicaz? – Rony fala ironicamente

Eu não sou, foi a sua irmã quem me alertou. (Harry vê a cara estupidificada do amigo e fala) eu também fiz essa cara quando ela comentou e ela praticamente ameaçou me estuporar se eu me metesse

Mas a Hermione está frágil! Ela foi torturada por anos, perdeu o filho há alguns meses. Aquela doninha não pode se aproveitar dela! – O ruivo fala mais vermelho que nunca

Você tem que admitir que ele ajudou mais a ela que todos nos juntos (Harry fala) e que, sabe-se lá por que, ela fica bem na presença dele (Harry olha para o amigo) mas eu concordo se ele se aproveitar da Mione nós três teremos uma conversinha

Os dois amigos encerram o assunto quando Luna e Gina se juntam a eles

XXXXX

De volta a Ucrânia

Svarovisky pede que Hermione se sente a seu lado, uma mulher loira e pálida com uma pena de repetição rápida diz que está lá para tomar nota de seu depoimento

Bem senhora Gasparov, pode começar – Svarovisky fala.

Hermione – Eu preferia ser chamada pelo nome de solteira

Pois bem (diz o auror) como você conheceu Kirk Gasparov?

Hermione – Eu gostaria de falar tudo de uma vez, sem interrupções. (ela pede) Se faltar alguma coisa depois vocês me perguntam (ela para tentando segurar uma lágrima) eu acho que não consigo se for interrompida

Draco faz menção de se levantar, mas Hermione olha para o loiro e lhe pede em silêncio que fique onde está.

Comece quando estiver pronta – Svarovisky fala

Hermione fecha os olhos e respira fundo. Sua mente se volta há dez anos atrás...

XXXXX

Hermione está sentada em sua cama no alojamento da universidade bruxa de Kiev. Ela termina de desfazer a sua mala do jeito trouxa. Da mesma forma que fazia quando estava em casa com os pais. Ela pensa lutando para que as lágrimas não caiam em profusão. Hermione nunca usava magia em casa, não que os pais se opusessem, mas ela achava que fazer as coisas como eles os deixavam mais próximos.

Faz seis meses que eles se foram e não há um só dia que Hermione não pense nos dois, não há um só dia que ela não se culpe. Sim, por mais que os amigos dissessem o contrário, a morena sabe que é culpada, que eles estariam vivos se ela estivesse lá.

Hermione enxuga as lágrimas com as costas das mãos e se prepara para se apresentar ao reitor da universidade, ela tem esperanças que o trabalho ocupe a sua mente. A morena foi convidada para realizar um estudo sobre a arte das trevas na história do mundo bruxo e por mais que isto lhe doa ela sabe que isso poderá ajudar a que todos se previnam de outro louco como Voldemort. Hermione tem consciência que isso não vai ser fácil, que seu coração vai sangrar toda vez que a grande guerra bruxa for citada, mas ela sente que deve fazer isso, ela deve isso à memória de seus pais e de todos os que pereceram durante a guerra.

A morena veste um grosso casaco de lã e se dirige à sala do reitor apressadamente. Droga ela pensa enquanto corre pelos corredores chegar atrasada justamente no primeiro dia... Grande começo Hermione Granger!

Um baque surdo interrompe seus pensamentos. Ela se vê no chão com todo o seu material espalhado. Vê também um homem alto com cabelos negros presos num rabo de cavalo, ele se abaixa e começa a juntar os pergaminhos.

Não precisa... – Ela fala desconcertada

Imagine... (o homem fala) até porque tem material meu aí também

Desculpe... Eu estava distraída. – Ela fala mais desconcertada ainda

E apressada também... – O homem fala com um sorriso. Hermione não pode deixar de reparar que, apesar de estar sorrindo, ele parece ser uma pessoa triste e disso ela entende muito bem.

Desculpe-me mais uma vez. (Ela fala enquanto estende a mão) Hermione Granger

O homem aperta a mão de Hermione – Muito prazer. Kirk Gasparov (ele fala e sorri ao ver a boca de Hermione abrir-se)

Se o homem a sua frente tivesse se apresentado a Harry Rony ou mesmo Gina eles o cumprimentariam e seguiriam o seu caminho, mas não Hermione. Ela, como leitora inveterada, sabe muito bem quem é Kirk Gasparov, um dos maiores escritores bruxos tanto na parte da ficção como na parte científica.

Kirk... Kirk Gasparov? – Ela gagueja

O homem sorri – Eu é que deveria estar assim diante da famosa Hermione Granger

Ela olha para ele sem saber o que falar. Hermione na maioria das vezes se esquece que devido a sua participação na derrota de Voldemort é quase tão famosa quanto Harry Potter

Gasparov continua – É uma honra para a universidade da Ucrânia ter você em nossos quadros (ele olha pra ela) presumo que você está indo para a sala do reitor (ele sufoca uma risadinha) mas tem um problema... É para o lado contrário.

Hermione olha pra ele meio desconcertada – Belo começo! Atrasada e indo para o lado errado... Você acreditaria se eu dissesse que não costumo ser assim?

Gasparov – Em todo caso, eu creio que devo acompanhá-la. Só pra garantir que você não vai parar na torre de astronomia ou algo do tipo

Ele oferece o braço a Hermione. A morena hesita por um momento, mas segura o braço do homem e os dois seguem juntos para a sala do reitor.

Esse é o início de uma amizade. Hermione fica sabendo do que aconteceu com a família de Kirk Gasparov; seus pais, sua esposa com quem ele estava casado há mais de quinze anos, seus dois filhos, todos mortos ao final da guerra. Ninguém soube explicar o que havia acontecido, Gasparov relatou que estava na universidade e quando chegou em casa deparou-se com o quadro horrível, toda a sua família assassinada, ninguém soube explicar como.

Hermione não pode deixar de se compadecer. Pelo menos ela não passou por isso, quando a morena teve a notícia os aurores já haviam tomado todas as providências, não que isso houvesse diminuído a sua dor, mas ela agradece mentalmente por não haver presenciado a cena mórbida. Ela já notou que Kirk Gasparov é um homem calado e triste e não pôde deixar de se ver no imponente escritor que, como ela, está sozinho no mundo.

Hermione e Gasparov começam a trabalhar juntos. Ele se ofereceu perante o reitor para auxiliar a morena e o faz de forma brilhante. Não apenas isso, ele mostra a Kiev bruxa para Hermione, dá a ela alguns livros de sua autoria que ela ainda não possui, os laços vão se fortalecendo... Nenhum dos dois tem mais ninguém. Toda a universidade percebe o clima de romance e torce para que ambos encontrem a felicidade um nos braços do outro

Então o inevitável acontece. O primeiro beijos, as primeiras carícias... Hermione sente que ele precisa dela e ela, de certa forma, também precisa de alguém...

Alguns meses depois ela está em seu pequeno apartamento esperando Kirk para jantar. São raros os momentos que eles passam a sós, geralmente o casal vai a todos os eventos da sociedade acadêmica de Kiev. Kirk faz questão de tratá-la de modo apaixonado quando estão em público embora Hermione sinta que o namorado é um pouco distante quando eles estão a sós. Ele deve se sentir culpado ela pronuncia a desculpa para si mesma não tem nem um ano que ele perdeu toda a família. É... Deve ser isso Hermione pensa

Um barulho em sua lareira interrompe seus pensamentos, Kirk chega muito elegante trazendo um buquê de flores na mão – Eu não sabia quais eram suas preferidas... (ele fala enquanto beija suavemente os lábios da morena)

São lindas. Obrigada! – Ela fala e olha nos olhos de Gasparov. Apenas por um segundo ela detecta um brilho estranho que ela não sabe distinguir

O jantar se dá de forma perfeita. Após terminar, eles se sentam em frente à lareira agora acesa e tomam vinho dos elfos. Gasparov está calado como se estudasse o terreno, então ele respira fundo e fala – Hermione... Eu sei que nos conhecemos há pouco tempo, mas eu me sinto ligado a você, mais do que a qualquer outra pessoa... Hermione você quer se casar comigo?

Hermione olha para Gasparov sem saber o que dizer, ela nunca esperou um pedido destes. Ele olha para Hermione meio desconcertado – Você não precisa responder agora, se não quiser. Eu só achei... Bem... Eu não tenho mais ninguém... Nem você... Achei que a gente podia ficar junto.

Ela sente uma pontada em seu coração ao ouvir as palavras de Gasparov, mais do que ninguém ela sabe o que é estar sozinha – Sim. Eu me caso com você (ela fala quase num impulso)

Quinze dias depois eles estavam casados. Hermione sugeriu que eles esperassem um pouco mais, mas Gasparov acabou convencendo-a. O casamento contou com a presença de toda a sociedade ucraniana, mas estranhamente nenhum de seus amigos ingleses compareceu. Meses depois ela descobriria que Kirk jamais enviara os convites

Isso foi apenas uma das muitas coisas que ela descobriu nos primeiros meses de casada. Logo nos primeiros dias Hermione ficou um pouco cismada com o jeito frio e totalmente diferente do marido, até mesmo ríspido às vezes. E quando faziam amor... Era estranho... Hermione não tinha experiência neste quesito, mas intimamente ela sabia que havia algo errado.

A rotina do casal não é o que Hermione esperava. Ela raramente sai de casa e o marido está sempre mal humorado. Ele fica horas trancado na biblioteca particular com alguns homens que Hermione não conhece. Às vezes ela ouve alguns sons estranhos, sons que parecem ser de súplicas. Ela tenta falar com ele sobre isso, mas Kirk sempre acaba desconversando

A distância do marido começa a perturbar Hermione. Embora nas poucas vezes que saíram em público ele continue a tratando como uma rainha, na intimidade eles são quase desconhecidos

Algumas semanas depois do casamento a morena falou que deveria voltar ao trabalho. Kirk não concordou, ele disse que ela deveria se adaptar à rotina da casa primeiro e Hermione, embora relutante, concordou. Então ela adiou por mais alguns tempo até que aconteceu a fatídica discussão

Era uma manhã de setembro, Hermione acorda cedo e se veste com esmero. Ela dá um beijo no marido e senta-se para tomar café

Kirk – Você está planejando ir a algum lugar?

Hermione – Um dia eu teria que voltar ao trabalho

Kirk – Não vejo por que

Ora kirk! (Hermione fala exasperada) você não acha realmente que eu vou ficar em casa sem fazer nada! Eu vim para a Ucrânia fazer uma pesquisa e é isso que eu vou fazer!

Ela termina de tomar seu suco de abóbora e prepara-se para ir para lareira. Antes que chegue lá, ela ouve – Estupefata!

Ela sente seu corpo ser lançado longe, Hermione se levanta depois de alguns segundos. Ela olha para o marido e não consegue falar nada. O olhar dele, antes tristonho, demonstra agora um ódio que ela nunca viu antes em nenhum olhar. Ela pensa em falar alguma coisa, mas antes que isso aconteça, Kirk aponta a varinha e fala – Império!

Algum tempo depois

Hermione acorda extremamente dolorida. Ela coloca a mão na boca e sufoca um gemido, seu lábio está cortado. Ela olha para si mesma e percebe que está quase nua, suas coxas estão doloridas e cobertas de hematomas. Ela encosta a mão nelas e sente a presença de sêmen.

Então ela se lembra... Ela se lembra do marido lançando nela uma maldição imperdoável. Sua memória volta com uma rapidez impressionante, as cenas em sua mente fazem com que ela corra para o banheiro e vomite violentamente.

A morena senta-se no chão ainda segurando o estomago ela percebe aterrorizada que se casou com um homem que não conhecia. Então sua mente brilhante percebe... Hermione percebe que o brilhante escritor que o ilustre professor da universidade não é o homem que todos pensam

Ela cambaleia até o quarto, em sua mente apenas um pensamento sair daquele lugar. Hermione procura a sua varinha em todos os lugares sem sucesso, ela tenta sair de casa e leva um grande choque. Então ela percebe... Está presa. É uma prisioneira em sua casa. Este é seu último pensamento antes de desmaiar

Ela acorda algum tempo depois e vê que está em sua cama, a seu lado um elfo passa uma toalha molhada em seu rosto. Ele oferece a ela algo para comer, seu estômago revira-se e ela corre novamente para o banheiro.

Alguns minutos depois, o elfo a ajuda a voltar pra cama – A senhora Gasparov deve descansar e comer alguma coisa (ele fala).

Hermione – Não quero comer nada... Não conseguiria

Mas a senhora Gasparov precisa comer (o elfo olha escandalizado para Hermione) a senhora tem que comer, se não comer vai fazer mal ao bebê.

Hermione sente o seu estômago contrair-se violentamente, seu coração falha uma batida. O elfo olha penalizado para ela

A senhora ainda não sabia... Mas há um bebê aí, há sim! (O elfo fala apontando a barriga de Hermione) eu sei, eu entendo dessas coisas... Entendo sim! A senhora deve comer, deve sim (ele fala novamente e se retira)

Hermione olha para si mesma sem acreditar. Com toda a sua perspicácia ela faz uma retrospectiva de si mesma durante as últimas semanas e chega à conclusão que sim, que provavelmente está grávida! Grávida de um monstro...

Então seu pesadelo realmente tem início ela tentou fugir de várias formas, o que lhe rendeu as piores torturas imagináveis. Ela apelou para a piedade de Kirk lhe contando sobre o bebê e implorando que a deixasse partir, mas ele apenas olhou para ela e sorriu, um sorriso que deixou Hermione gelada de pavor.

O tempo diria que ela não estava errada em se apavorar. Hermione acabou descobrindo que o ilustre Kirk Gasparov não se tornou um comensal apenas por falta de tempo, descobriu que foi ele mesmo quem matou a família utilizando um veneno trouxa de ação prolongada que só fez efeito quando ele já estava com um álibi; descobriu que ele odiava os trouxas tanto quanto Voldemort, mas ao contrário deste não tinha reservas em usar o conhecimento trouxa para atingi-los e para seu absoluto pavor descobriu também que ele estava planejando algo... Algo terrível, mas que ela não sabia definir o que era.

O nascimento de Simon jogou Hermione no pior pesadelo que ela poderia sonhar. A morena amou o garotinho desde o momento em que o viu e ela viu que estaria presa irremediavelmente, que Kirk agora tinha contra ela a arma mais eficaz de todas, que ela faria absolutamente tudo para garantir que seu filho ficasse bem.

E assim ela foi vivendo, torturada física e psicologicamente até o fatídico dia em que tudo aconteceu...

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