Férias interrompidas



EM ALGUM LUGAR DA ITALIA

A tarde cai e as primeiras cores do crepúsculo começam a surgir no horizonte, os raios alaranjados do sol se preparam para esconder-se dando lugar à lua e às estrelas. A praia está quase deserta, apenas alguns pescadores chegam com as redes cheias dos peixes pescados no dia.

Draco olha os barcos chegando ao mesmo tempo que observa o menino loiro que brinca na areia, seu filho Ryan é a prova viva que milagres existem. É realmente um milagre ele ser uma criança tão doce sendo filho de quem é.

Neto de bruxos das trevas, filho de um casamento arranjado, com uma mãe que não ligou pra ele nem no dia em que morreu. É realmente um milagre que ele seja como é. Sim... Apesar de todos os pesares, o menininho loiro de olhos azuis tão iguais aos de Draco é uma criança que encanta a todos. Apesar da combinação de genes dizer que ele deveria ser uma criança fria e cruel, Ryan é um garoto simpático e meigo que conversa com todo mundo e cativa a todos com seu jeitinho.

Apesar de Ryan ter o gênio tão diferente do seu, Draco fica feliz que seja assim. Ele espera que as coisas sejam mais fáceis para o filho do que foram para ele. Mas ao mesmo tempo Draco tem medo que o filho sofra por confiar tanto nas pessoas

O loiro se lembra que no meio do seu último ano na escola sua mãe o visitou para informar que, mesmo estando em azkaban, seu pai havia arranjado o seu casamento com Pansy Parkinson. Eles se casariam quando terminassem os estudos.

Isso não foi uma novidade para ele, Draco sempre soube que seria assim. Foi desta forma que ocorreu com seus pais, seus avós e com quase toda família de bruxos que preserva a pureza da raça. Ele sempre soube que se casaria com uma bruxa puro sangue, que teria um herdeiro para continuar o nome da família e que depois eles manteriam o casamento para manter as aparências sociais. Mas, no entanto, Draco ficou estranhamente frustrado com aquilo que o destino lhe reservava.

Embora uma parte dele dissesse que aquela era a sua realidade e que ele deveria fazer o que era esperado, uma outra parte queria gritar aos quatro ventos que ele não deveria se conformar com o destino que lhe traçaram... Venceu a parte racional

Mesmo sabendo que não poderia escapar de seu destino, o loiro conseguiu adiar o casamento por três anos, alegando que gostaria de se preparar para assumir os negócios do pai, isso logo após Lucio receber o beijo do demendador. Sua mãe e a família de Pansy concordaram visto que ele seria responsável pelo que restava das empresas da família e ele realmente precisaria de um pouco de tempo para aprender como dirigi-las. Tanto Draco quanto Pansy ainda eram muito jovens, três anos não era tanto tempo assim. Além disso seria ótimo para os negócios se Draco adquirisse um pouco mais de experiência uma vez que a prisão de Lucio Malfoy por muito pouco não fez com que a empresa fosse à falência

Mas os planos de Draco eram outros, durante estes anos ele viajou e pesquisou, pesquisou sobre as maldições imperdoáveis... Aprendeu tudo que pôde sobre elas, fez estágios com os maiores mestres de poções do mundo e quando voltou nomeou um homem de confiança para cuidar das empresas e ofereceu seus serviços como medi-bruxo no St Mungos e mediante seu currículo foi imediatamente aceito. Mais alguns anos e Draco se tornou o maior especialista da Inglaterra no tratamento das maldições imperdoáveis, principalmente a cruciatus. Ele desenvolveu um tratamento pioneiro que consegue fazer com que, dependendo da quantidade de tortura que a pessoa sofreu, ela consiga recuperar a consciência total, ou pelo menos parcialmente. Seu tratamento é inovador porque além das poções, Draco também faz uma espécie de "acompanhamento psicológico" que visa aflorar as emoções do paciente fazendo com que sua recuperação seja mais eficaz o que fez com que o loiro fosse reconhecido internacionalmente

Narcisa no início não gostou da idéia, mas quando Draco lhe garantiu que ela poderia continuar contando com a sua generosa mesada ela não apresentou oposição. De fato, todos os rendimentos das empresas Malfoy são transferidos para a conta de sua mãe; por incrível que pareca o loiro se sustenta com o seu trabalho o que não deixa de ser um "tapa com luvas de pelica" em todos aqueles que sempre disseram que ele seria sempre um menino mimado sustentado pelo dinheiro do papai

Sua mãe passou um ano em azkabam, mas como não chegou a usar nenhuma maldição imperdoável e não participava ativamente dos ataques aos trouxas sua pena foi leve, no entanto, ela teria seus passos vigiados pelo resto da vida um preço pequeno a pagar considerando a opção de passar o resto de sua vida na prisão ou ter a sua alma sugada por um demendador

Quanto ao casamento não houve como escapar e Draco nem fez questão de tentar. Ele teria mesmo que se casar um dia. Foi o que ele pensou e Pansy era apresentável, sabia se comportar em sociedade e pertencia a uma das famílias mais tradicionais do mundo bruxo. Seria o casamento perfeito! Faltava o amor, mas Draco duvidava que fosse capaz de amar alguém um dia.

O nascimento do filho mostrou o quanto ele estava enganado, Draco amou o garotinho loiro tão parecido com ele desde o primeiro momento em que o viu. Pela primeira vez Draco Malfoy se sentiu uma pessoa viva, pela primeira vez ele se sentiu importante, pela primeira vez ele soube que existia alguém por quem ele daria a própria vida se necessário, pela primeira vez Draco Malfoy sentiu a necessidade de se tornar uma pessoa melhor...

Mas voltando ao casamento, ele ocorreu cheio de pompa e circunstância como caberia às famílias bruxas tradicionais. Mesmo nos tempos difíceis os Malfoy e os Parkinson gostavam de ostentar seu poder e tanto a cerimônia quanto a recepção foram comentadas por muitos meses. O casal foi morar na imponente mansão Malfoy e Pansy se tornou a senhora da casa, uma vez que Narcisa resolveu se mudar para a França.

Não que Draco esperasse muito de seu matrimônio, mas desde o início as coisas foram mal. Pansy estava interessada apenas no prestígio que o nome Malfoy acrescentaria ao seu e queria comparecer a todas as recepções da sociedade bruxa. Draco, no entanto, estava mais interessado na sua pesquisa a respeito das maldições imperdoáveis, a maldição cruciatus principalmente.

Um ano após o casamento Ryan nasceu. A obrigação de gerar um herdeiro fora cumprida e aos poucos o casal foi se afastando, eles ainda eram vistos juntos em algumas festas, mas Pansy comparecia sozinha a maioria e o casal praticamente não compartilhava mais o mesmo leito conjugal. Assim que Ryan nasceu ela o entregou aos cuidados dos elfos e voltou a sua movimentada vida social. E sexual pensa Draco com um sorriso irônico e triste nos lábios.

Não que o loiro fosse santo, não. Ele também teve as suas aventuras e não foram poucas, mas os casos de Draco sempre foram mais discretos que os da esposa. Foi a indiscrição dela que a matou. A esposa de um dos muitos amantes de Pansy os flagrou em sua própria cama e num ímpeto lançou-lhe um avada. Pansy morreu instantaneamente cabendo a Draco lidar com o escândalo e dar a notícia ao filho

Draco se lembra perfeitamente do dia que tudo aconteceu. Ryan estava adoentado e mesmo assim Pansy saiu. O menino estava ardendo em febre e praticamente implorou para que ela ficasse com ele e nem assim Pansy cedeu.

Sim... Draco se lembra perfeitamente da esposa dizendo que aquilo era frescura de criança, nada que uma poção qualquer não desse jeito. Se ela soubesse que talvez a doença de Ryan fosse a sua intuição infantil lhe avisando que algo terrível iria acontecer...

O loiro nunca conseguiu perdoa-la pelo desprezo ao filho. Isso foi o que mais doeu... A traição não lhe afetava tanto assim, mas ver as lágrimas do filho quando ele falou que a mãe partira para sempre fazia com que o loiro a odiasse mesmo após a sua morte. Um ódio estúpido e irracional, mas que ele não tinha como evitar

Draco está perdido em seus pensamentos, quando ouve o filho gritar – Olha pai, outra coruja!

Draco olha pra cima e vê uma coruja marrom, já conhecida. Mil vezes maldição o loiro pensa. Será que o pessoal daquele hospital não sabe o significado da palavra férias? Será que ninguém pode passar umas míseras semanas sem mim? É a terceira coruja em menos de dois dias! Mas seja o que for vai ter que esperar. Eu prometi ao Ryan que iríamos passar algumas semanas na praia e não vai ser o hospital que vai me fazer quebrar a promessa. Ele pensa enquanto despacha a coruja e destrói a carta sem nem mesmo abri-la

O sol está se pondo, Draco brinca com o filho na areia por mais um tempo e eles se dirigem ao luxuoso hotel bruxo onde estão hospedados.

Hotel? Parece mais um corujal, é o que Draco pensa ao ver dezenas de corujas sobrevoarem o local. Eles não desistem...

O loiro abre a porta do quarto já imaginando o que vai encontrar, mas sua imaginação não chegou nem perto da montanha de cartas que há no quarto. Draco olha Ryan que o encara entre curioso e divertido. Eles não vão conseguir, nada irá estragar essas férias pensa Draco que empunha a varinha e se prepara para destruir as cartas

Por sorte antes que o faça, Draco nota que entre as inúmeras cartas há alguns berradores. Ele abre antes que explodam.

Se um berrador causa um estrago aos ouvidos de quem ouve. Dúzias deles são mais do que atordoantes. Draco só tem tempo de lançar um escudo protetor ao filho antes que comece.

SENHOR MALFOY! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA IGNORAR AS NOSSAS CORUJAS? NÓS PRECISAMOS DE VOCÊ IMEDIATAMENTE! É UMA ORDEM DO PRÓPRIO MINISTRO, QUESTÃO DE VIDA OU MORTE. E SE ISSO NÃO FOR SUFICIENTE, SAIBA QUE SE VOCÊ NÃO APARATAR NO HOSPITAL ATÉ AMANHÃ PODE ESQUECER O FINANCIAMENTO DO MINISTÉRIO PARA AS SUAS PESQUISAS!

Isso é golpe baixo! O loiro pensa enquanto os berradores se destroem. Ainda meio atordoado, ele tira o feitiço de proteção do filho que o está encarando com uma expressão de curiosidade. Draco sabe que o filho ouviu tudo, não há feitiço que anule completamente o som de vinte berradores simultâneos. Ele coloca o filho no colo e se prepara para explicar que as férias tiveram uma duração mais curta que o previsto, mas Ryan adianta-se – Você tem que voltar?

Draco sente seu coração falhar uma batida. Nada o chateia mais que magoar o filho. E ele esperou tanto por essas férias. As primeiras depois da morte da mãe. – Tenho... Mas eu prometo que vou resolver tudo rapidinho e depois continuamos nossas férias. Não precisa ficar triste

O menino abre um sorriso – Eu não fico triste. Eu fico feliz quando você salva alguém.

Se esse garoto não fosse a minha cara eu ia jurar que ele foi trocado no dia que nasceu. É só o que o loiro pensa.

Draco despacha uma coruja avisando que está retornando para a Inglaterra. O loiro faz um rápido movimento com a varinha arrumando as coisas dos dois e pai e filho voltam para a mansão Malfoy.

XXXXX

Na mansão Malfoy

Draco joga as malas em cima de dois elfos domésticos e sobe ao quarto rapidamente para trocar de roupa. Quanto antes ele for ao hospital ver o que está acontecendo, mais rápido ele resolverá as coisas e poderá retomar as suas férias. Ryan senta-se na cama e fica observando o pai barbear-se. Draco vê que o menino quer pedir alguma coisa - O que foi filho? Você está tão calado...

Ryan - Eu ia pedir pra ir com você (ele abaixa os olhos) mas acho que você não vai deixar...

Draco - Desta vez é verdade filho. Você viu que eles me chamaram com urgência, não dá pra levar um garotinho sem saber do que se trata (olha para o filho e sorri) mesmo ele sendo meu melhor assistente

Ryan sorri, ele adora ajudar o pai e se sente muito orgulhoso quando Draco o chama de assistente - E quando eu vou poder ir?

Draco - Dentro de alguns dias, assim que eu organizar tudo (ele responde enquanto se dirige para a lareira. O loiro pega um punhado de pó de flú e joga enquanto grita) - Hospital St Mungus!

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