Uma Idéia de Fuga



A manhã foi ensolarada naquele dia. Tudo parecia muito calmo e tranqüilo na casa de número quatro da Rua dos Alfeneiros. Lá, acordava Harry, um menino magricela, de cabelos rebeldes e negros que usava óculos bem redondos. Harry havia sido deixado à porta da casa de seus tios quando, há quinze anos, seus pais haviam sido mortos por um bruxo das trevas chamado Voldemort. Desde então, mora com eles e com seu mimado primo, Duda.

O mesmo bruxo que assassinara seus pais, deixou-o com uma cicatriz, em forma de raio bem no meio de sua testa, em uma fracassada tentativa de matá-lo também, quando ainda era um bebê. Com isso, Harry se tornou muito famoso na sociedade bruxa.

Fazia semanas que Harry não deixava sua coruja, Edwiges, sair à noite para caçar por seu tio, Válter, sempre pensar que ele iria mandar uma carta para algum amigo esquisito. Mas, apesar disso, a coruja também não estava barulhenta. Movimento mesmo, só havia na rua porque, segundo o jornal dos trouxas, haviam sumido inúmeros objetos antigos de algumas casas do bairro durante a noite anterior. O repórter afirmou que nenhum deles era de grande valor econômico e que os detetives ainda não tinham encontrado nenhuma pista que pudesse indicar um possível ladrão.

Esse roubo foi o assunto do café da manhã de tia Petúnia e tio Válter. Ficaram falando que tudo isso é um absurdo e tudo mais. Harry já podia imaginar um bruxo, colecionador de objetos antigos, roubando-os com a maior facilidade usando um simples Feitiço de Levitação. Enquanto isso, seu primo assistia televisão.

Logo após, Harry começou a lavar os pratos. Sabia que não podia faze-lo usando magia pois ainda não tinha idade para usar feitiços fora da escola.

Estava quase terminando, quando ouviu um barulho muito familiar que o deixou extremamente feliz. Era uma coruja trazendo o correio para ele. Abriu a janela e a ave cinzenta pousou no parapeito esperando Harry desamarrar a correspondência de sua pata. O problema era que ela estava piando demasiado alto. Havia um envelope e um pacote que eram de Hagrid e a carta de Hogwarts. Harry sentiu uma felicidade tão grande que não hesitou em abri-los. Empurrou os óculos para perto dos olhos e leu primeiro a carta de Hagrid:


Caro Harry,

Feliz aniversário!

Como vai aí com seus tios? Estão te tratando bem?

Recebeu alguma carta de Rony ou Hermione?

Sirius me enviou uma coruja pedindo para eu lhe avisar que você terá uma grande surpresa quando chegar à Hogwarts.

Nesta mesma coruja, estou te enviando a lista de material e uma lembrancinha de aniversário. Espero que goste.

Estou preparando umas aulas bem divertidas para este ano.

Espero vocês aqui,

Hagrid


Harry dobrou a carta e a guardou no envelope. Ficou curioso em saber o que Hagrid havia mandado, então abriu o embrulho colorido e meio amassado. Encontrou tudo que mais desejava naquela hora: sapos de chocolate, fejõezinhos de todos os sabores e uma tortinha de abóbora. Foi como se Hagrid soubesse que ele acordara com uma enorme vontade de comer doces de bruxos. Depois de dar uma dentada em uma tortinha, Harry abriu a carta de Hogwarts:


Prezado Sr. Potter,


Seu quinto ano letivo se iniciará em 1º de setembro. O Expresso de Hogwarts partirá da estação King’s Cross, plataforma nove e meia, às onze horas.

Os alunos do quinto ano têm a permissão de visitar a aldeia de Hogsmeade em determinados fins de semana. Estamos anexando à esta carta o pedido de autorização que seu responsável deve assinar e a lista de material para seu quinto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Atenciosamente,

Profª M. McGonagall

Vice-Diretora


Harry adorava receber aquela carta. Ficou relendo-a várias vezes, até que escutou a voz de seu tio:

– Potter! – berrou Válter – Que barulheira é essa? Será que não deixei claro que não admito que solte sua coruja?

– Mas foi só aquela carta que recebo todo ano de Hogwarts…, – explicou Harry – eu não soltei Edwiges!

– Já falei um milhão de vezes que não quero nada que pareça ser estranho aos nossos vizinhos aqui em casa – alertou o tio, ficando vermelho.

– Como você esperava que eu impedisse o correio de chegar até mim? Como você quer que eu não receba cartas de ninguém, se não deixa eu enviar nenhuma explicando isso?

– Não quero saber! Só direi pela última vez: NÃO QURO VER CORUJAS NOVAMENTE! – alertou o tio querendo manter a reputação de sua família, normal.

– Está bem! Não precisa gritar.

– A propósito, hoje é o seu aniversário não é? – perguntou Válter.

– É sim. Por quê?

– Pois bem…, feliz aniversário – disse Válter desgostoso jogando cinqüenta centavos para o sobrinho.

– O-obrigado. – disse o garoto confuso.

Harry resolveu sair um pouco para ver o sol que entrava sorrateiro pelas janelas. Assim que deixou a casa, sentiu-se extremamente livre. Tinha sua varinha à mão e, mesmo que não tivesse sua Firebolt, sentia que poderia ir onde quisesse.

Foi caminhando até o parquinho de crianças da esquina bem devagar. Lá, sentou-se em um balanço e ficou por alguns minutos lembrando da família de Rony e do quanto eles foram legais nos anos anteriores. Chegaram até a o ensinar a usar o pó de flú. Foi essa lembrança que levou Harry a ter uma grande idéia. Levantou e, correndo, rumou em direção à casa de número quatro.

Entrou e seguiu direto para seu quarto. Pegou um pedaço de pergaminho, uma pena, um tinteiro e, deitando em sua cama, começou a escrever:


Caro Rony,

Acho que você é um dos únicos que pode me ajudar.

Não suporto mais os Dursley e tive uma grande idéia para me livrar deles e me encontrar com você.

Pegue um pouco de pó de flú, coloque em um embrulho e mande-o para mim pela Edwiges.

Feito isso, me espere no próximo sábado às três horas em frente à sua lareira.

Se tudo der certo, neste dia estarei aí e, vamos poder fazer compras escolares juntos no Beco Diagonal.

Se isso não for possível, me escreva dizendo.

Harry


– Tome Edwiges, entregue isso ao Rony e me traga sua resposta. Vá o mais rápido que puder – a coruja bicou carinhosamente sua orelha, abriu suas enormes asas brancas e decolou.

Harry ficou observando a ave desaparecer no céu. Estava muito feliz e ansioso para que ela voltasse com a resposta de Rony. Agora só restava uma preocupação em sua cabeça: se tio Válter descobrisse que soltara a coruja, ele nunca mais voltaria à Hogwarts.

Quando, naquela noite, já estava indo se deitar, Harry lembrou que sua cicatriz nunca mais tinha doído e que ele não estava tendo sonhos com Voldemort desde a primeira semana na casa dos Dursley após o início das férias de verão. Lembrou, também, que fazia dias que não mandava nem recebia cartas de seu padrinho, Sirius. Mas agora, não adiantava mais pensar nisso, afinal, tinha acabado de enviar Edwiges ao Rony. Mesmo assim, o fato de Sirius e Bicuço, o hipogrifo, estarem em algum lugar escondidos, sem comida e nem proteção, preocupava-o bastante.

Dois dias depois, Harry estava deitado em sua cama lendo sobre Diabretes da Cornualha, criaturinhas aladas e terríveis, em seu exemplar de Animais Fantásticos e onde habitam , quando ouviu tia Petúnia gritar do corredor:

– Harry, seu tio e eu estamos indo visitar Guida. A coitada ficou muito doente. Está proibido de sair de seu quarto até voltarmos. Vou passar a chave para garantir de que não vai fugir – Harry ouviu o rangido da chave trancando-o – Duda está dormindo no sofá da sala. Voltaremos dentro de duas horas, adeus.

O garoto simplesmente ignorou o fato de estar preso, porque não havia, realmente, algum lugar muito importante para se ir na casa dos Dursley. Harry continuou lendo o livro ouvindo a porta da entrada bater e em seguida o barulho do carro do tio Válter saindo da garagem. Parou a leitura de repente com a sensação de que alguém o observava. Olhou nervoso para a porta fechada do quarto e, depois, virou para a janela. Do lado de fora, batendo as asas inquieta, estava Edwiges tentando fazer com que Harry a notasse. O menino abriu o vidro e a ave entrou para pousar em cima de sua gaiola. Ela estava muito cansada e trazia um embrulho de couro e um pedaço de pergaminho que Harry abriu e leu:


Caro Harry,

Mamãe achou muito arriscado você usar o pó de flú, já que da última vez que tentou não deu certo, mas ela deixou e pediu para você não esquecer de dizer “A Toca” bem claramente, antes de despejar o pó no chão.

Deixe um bilhete para seus tios dizendo que veio para cá.

Estamos ansiosos para vê-lo aqui.

Boa sorte,

Rony


Harry desamarrou o embrulho da pata de Edwiges, que o olhava com seus grandes olhos amarelos e cansados da viagem, e o colocou em cima de sua mesinha de cabeceira consultando o relógio que marcava duas horas. Tinha até as três para ficar pronto.

Como já arrumara seu malão no dia anterior, deitou em sua cama para esperar o tempo passar. Podia ouvir seu coração batendo forte de excitação. Passados vinte minutos, Harry levantou-se e começou a escrever o bilhete que deixaria aos seus tios dizendo onde fora, mas ao terminá-lo lembrou que tia Petúnia o trancara e a lareira ficava na sala de visitas. Não poderia usar nenhum feitiço como o Alorromora, mas tinha aquele canivete que ganhara de Sirius que abria qualquer porta trancada. Abriu o malão e revistou-o. O canivete estava embrulhado na Capa da Invisibilidade. Já estava na hora de partir.

Harry inseriu a lâmina do canivete mágico na fresta de contorno da porta e deslizou-a para cima e para baixo com delicadeza. A porta se abriu. O corredor estava vazio. Duda ainda deveria estar dormindo, o que significava um problema para Harry porque a lareira ficava bem em frente ao sofá que estava ocupando. Arrastando o malão, sua Firebolt e a gaiola de Edwiges, escada abaixo, chegou na sala. Seu primo, que roncava a plenos pulmões, se mexeu. Harry, na ponta dos pés, avançou para a lareira. Com as mãos trêmulas, tirou a grade, entrou e colocou sua bagagem ao seu lado. De dentro de seu bolso, apanhou o embrulho de couro e o abriu. Pegou uma boa pitada mergulhando seus dedos no pó de flú e deixou-a cair na lenha empilhada. Na mesma hora, seu corpo foi engolido por chamas verde-esmeralda.

– A Toca! – ordenou em voz alta, vendo o primo acordar abruptamente com o susto que levara.

Foi uma sensação muito estranha. Seu corpo todo girou viajando por toda a rede de lareiras do país. De repente, a rotação cessou e Harry caiu de costas abrindo os olhos para ter certeza de que chegara no lugar cetro. Sua visão estava embaçada, mas aos poucos começou a reconhecer os rostos dos membros da família Weasley aguardando-o, ansiosos, a menos de dois metros de distância.

– Harry! Que bom que chegou – disse a Sra. Weasley dando um abraço apertado e limpando as cinzas de sua roupa – Estávamos preocupadíssimos!

– Seja bem-vindo de volta, Harry – saldou o Sr. Weasley.

– Oi Harry! Tudo bem? – perguntou Rony seguido por Fred e Jorge.

– Hum… tudo, e com vocês?

– Estamos ótimos – respondeu Gina abrindo um sorriso.

– Com fome? – perguntou a Sra. Weasley trazendo da cozinha uma bandeja de biscoitos com chá.

– Muita!

– Então coma querido, e quando acabar, pode se preparar para outra viajem. Estamos indo ao Beco Diagonal amanhã, comprar o material de sempre e um novo rato para o Rony.

– Ótimo! – disse o garoto dando uma boa mordida em seu biscoito – Estou mesmo precisando de uma pena nova e, talvez encontremos Hermione lá também.

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