Único.




Tudo era tão nítido para ela que parecia ser bem mais do que uma lembrança. A dor ainda pulsava por suas veias quase como rasgando suas entranhas, era um veneno pulsante, um veneno que ela jamais conseguiria se livrar. A dor da saudade, a dor de algo, de alguém que não volta. Você sempre pensará que nunca disse o quanto amava essa pessoa como ela merecia, mesmo que saiba que o fez, que não amou ou não fez tudo que podia, mesmo que tudo que pudesse fora feito, o arrependimento sempre virá apesar das horas eternas e felizes que passaram juntos, porque a idéia de que esse alguém nunca mais sorrirá pra você as tornaram insuficientes.

“De tarde eu quero descansar, chegar ate a praia e ver
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora”


Ginevra andava desolada pelas praias do litoral da Inglaterra. Estava longe de casa, e isto pouco lhe importava, ela perdera a noção de lar, a noção de amar, Harry Potter levara consigo mais da sua alma do que ela poderia considerar. Ela chutava a areia olhando fixamente para o chão, e outrora para as ondas, como se aquela paisagem pudesse amenizar seu sofrimento ou lhe dar as respostas para seus problemas. Por mais que sua razão lhe alertasse que isso tudo era inútil ela não lhe arrajanva solução melhor, ou nem lhe dava condições para tal.

Sentou, fechou os olhos, fez tudo isso sem ter noção de que os fazia, vivia agora em automático, não tinha noção do ser e estar, não saberia dizer se estava acordada ou dormindo, mais gostava de acreditar na segunda opção, podendo assim tentar fugir da realidade e acreditar que tudo não passava de um cruel pesadelo.

As ondas ficavam mais fortes, o vento quase cortava-lhe o rosto, seus pés foram agredidos pela água fria de uma onda que a alcansou, mas ela não se importava, mantinha no olhar, aquele ponto fixo ao lugar nenhum, como se Harry talvez pudesse aparecer e sorrir daquela maneira única. Talvez esse reativo de esperança era o que fazia Gina olhar tão impeduosamente para um único lugar. Os ventos em companhia com as ondas pareciam dispostos a levar um pouco da dor de Gina embora, e ela os deixava em seu trabalho não acreditando muito nele.

“Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção”


O sol se punha no horizonte, e com ela rolou uma lágrima solitária no rosto de Gina, ela continuou sozinha até morrer nos lábios da ruiva, talvez nenhuma outra brotasse, Gina nunca soube o quanto poderia chorar, até aquele dia em que sentiu que lágrimas de sangue desciam do seu rosto pelo peso e dor que cada uma delas lhe proporcionava.

“ - Harry... Mas o que você está fazendo? – a menina sorria para o namorado.

- Quero te mostrar uma coisa! Vem... – Gina nunca tinha visto-o daquela maneira, sorrindo por nada, com um brilho encantador nos olhos, ela fazia questão de segurar sua mão quase como uma promessa de que estaria sempre com ele.

- O que... Harry! É lindo... – Gina nunca tinha visto nada parecido. Talvez a presença de Harry tivesse ajudado tornar a paisagem quase divina. Era o pôr-do-sol perfeito. Os últimos suspiros solares pintavam o céu de uma cor alaranjada única, ele parecia se recusar em ser apagado, parecia querer iluminar a todos com seu calor...

- Depois que tudo acabar... Eu quero voltar aqui com você. Vou te fazer um pedido... – disse sonhador, a menina sorriu marota para ele, que a abraçava.

- Olha que eu vou me lembrar, hein Sr. Potter? – disse sorrindo beijando os lábios daquele que seria o único amor da sua vida.

- Faço questão que se lembre... Por isso estamos aqui, quero que esse momento seja eterno... – Ele disse isso com um estranho brilho nos olhos, Gina se encantara por aquelas esmeraldas lúcidas desda primeira vez que as viu, na época que elas não passavam de olhinhos de sapos cozido...

- Eu te amo... – sussurrou a ruiva para ele, e teve a mesma resposta, em seguida um beijo quente... e nessa mesma noite Gina sentiu-se amada e enlouquecida como nunca, sentiu o mais doce e puro dos prazeres... nos braços da sua alma gêmea”.


Essas lembranças pegavam fogo em sua pele de tão vivas que eram. Aqueciam seu corpo e fazia viajar por tão breves e deliciosos segundos em que ela desejava ficar mergulhada por toda a eternidade. Mas seus olhos voltaram a se abrir e seus sentidos bem como seu corpo percebiam que os braços de Harry não os envolviam mais. A brisa sonora, e o barulho das ondas, e triste o por do sol eram as únicas companhias. Gina se perguntava se conseguiria sorrir outra vez, se pararia de sangrar... se perguntava se valeria a pena continuar com todo esse sofrimento...

“Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?”


Ela se levantou e decidiu continuar a andar, mas seus joelhos, seu corpo, logo não se sutentou e caiu novamente. Ela se sentia pesada, se sentia uma carcaça, seu peito ardia de dor, e o grito que ela gostaria de emitir não saia, ficava preso na garganta lhe agonizando aos poucos. Era uma tortura, viver sem Harry era um martírio...

- Harry! Harry! Volte pra mim...?- Berrou, finalmente depois de quase dias em reclusão, conseguiu emitir mais do que frases monossilábicas, ela urrou com dor como se seu pedido pudesse ser atendido. As lágrimas voltaram a nascer, a escorrer, e junto com ela seu coração se contorcia, seu corpo pedia, sua alma se extinguia...

“Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo”


Uma brisa tão diferente das demais foi até Gina, que se sentiu quase abraçada por ela, a ruiva poderia jurar que ela era quente. Suas lágrimas quase como milagre secaram, dessa vez não por escassez, mas por alívio. Gina fechara os olhos novamente, o rosto de Harry aparecera imediatamente na sua memória, Gina quase podia sentir ele ali com ela, mas dessa vez não como lembrança, como presente, e novamente essa brisa quente lhe invadiu...

Foram tão únicos, tão divinos os momentos que passara com Harry que era pecado abandoná-los agora. Não poderia viver deles, mas eles lhe tratavam das feridas. Era um anestésico para sua dor. Ela sorriu, pois sabia que em algum lugar Harry poderia ver aquele sorriso. Ele não merecia essa desistência, Gina ia sobreviver, e voltar a viver por ele. Ia ser difícil, mas Gina o tinha com ele... no coração.

Uma companhia tão única, um verdadeiro presente de Deus. Porque então tinha que levá-lo tão cedo? Harry era um pessoa extraordinária, talvez fosse por isso que Deus o queria de volta no céu... Eles viveram sorriram e se amaram em tão pouco tempo, mas tão intensamente, mais do que qualquer um consegue em uma vida inteira, e isso, esse amor, essa vida... ninguém poderia tirar dela.

“E quando eu vejo o mar,
Existe algo que diz,
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem”


Ela novamente abrira os olhos, encarando o mar que já estava enegrecido, pois o sol lhe havia abandonado há algum tempo. Gina encontrou no sal das ondas, no gelado das águas uma esperança. A brisa quente dera espeço a um frio cortante, mas Gina ainda não se importava, ele parecia levar um pouco da sua mágoa para longe, ela estava aliviada.

Era quase como se a vida tivesse voltado de volta para seu corpo. Uma esperança tomou conta dela, como se alguma coisa valesse a pena. Nada seria como era com Harry isso era fato, porém a ruiva poderia tentar... ela o faria, por ele, faria...

“Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano era ficarmos bem?”


Ele merecia esse sacrifício, esse e qualquer outro que ela poderia fazer. Mesmo antes de morrer ele tinha feito Gina jurar que ela se salvaria e que se cuidaria, que seria feliz e que nunca deixaria de sorrir. Gina se lembrava dessas palavras de uma maneira tão intensa que era quase como se ele as dissesse no seu ouvido novamente.

“ – Gina... – sua voz estava rouca, e Gina podia sentir sua mão tremendo.

- Promete que se alguma coisa acontecer comigo, você vai se cuidar? – ele não a deixou protestar, calou seus lábios com um de seus dedos, esperando apenas pela promessa.

- Prometo... – disse ainda não certa de suas palavras.

- E promete... que nunca vai deixar de sorrir? Gina seu sorriso dá vida e cor ao lugar mais sombrio... Ele é vital pra mim, e tenho certeza que pra muita gente. – Ela diria que sorriria só para ele. Mas a necessidade de beijá-lo pareceu maior, e ela não se opôs a essa vontade.”


Uma promessa selada com um beijo é inquebrável. Gina prometera e assim está feito, ela tentaria ser feliz, tentaria sorrir. Embora soubesse que tudo teria apenas uma parte de brilho e graça do que tinha quando Harry estava com ela. É verdade que não temos tudo o que queremos, mas tudo o que ela queria fizeram questão de lhe tirarem, sem a menor piedade.


“- Ei, olha só o que eu achei: cavalos-marinhos
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora”


Ela deixou o mar combrir-lhe os pés. A água que antes feria, agora aliviava, apesar de tão fria. A dor parecia aos poucos ser levada pelo vento, não conseguia estancar a ferida, que Gina sabia que ficaria aberta para sempre. Mas agora o importante é olhar para frente, e o que lhe importa do passado levar no coração, sem nunca se esquecer que não se pode respirar lembranças, e nem fazê-lo sem elas.

- Por você Harry... – disse ela como promessa, antes de lançar uma pedra ao mar, e finalmente voltar para casa.

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