Vermelho e Azul





Draco estava com problemas. Não os corriqueiros, relacionados ao seu noivado fingido ou à inércia corporativa de Blaise. Estava com problemas de inspiração. Passara a última meia-hora encarando uma foto da Firebolt Thunder tentando elaborar o slogan e a idéia para a campanha publicitária, mas todas as idéias eram ruins. O lançamento da vassoura estava próximo, o que só aumentava a pressão. 

-Firebolt Thunder, a força de um trovão, agora na sua mão. – disse, rindo logo em seguida – Que coisa horrível! Esse foi o pior, com certeza! – olhou para a pilha de bolinhas de papel com idéias rejeitadas e admitiu pra si mesmo que precisava de ajuda.

-Acho que vou perturbar a Pans. Ela sempre tem boas idéias... – olhou o relógio, 9 horas – Ela já deve estar no ateliê. Vou dar uma passada lá.

~*~

-Jane, ele era maravilhoso. Olhos lindos, corpo lindo... Ele era todo lindo! – Pansy recostou na cadeira e jogou a cabeça pra trás – Acordei até mais feliz.

-Que bom que a noite foi boa. Fico feliz por você.

-Ai, felicidade... Tinha até esquecido a sensação.

-É, pois eu acho que tem alguma coisa a mais aí. – cantarolou Jane.

-O que?

-Ah, aquela coisa cega que começa com ‘A’ e termina com ‘OR’.

-Não seja boba, como posso me apaixonar assim? Nem o conheço, talvez nunca mais o veja.

-Isso é a sua cabeça falando, não o seu coração. – ela se aproximou da chefe e olhou o desenho que ela fazia. Era o rosto do tal Harry que virara sua cabeça – Esse – Jane apontou o desenho – é o seu coração falando.

**

Gina chegou ao prédio onde funcionava a Diamond®, uma das mais novas e elitistas grifes do país. Sabia que a dona era Pansy Parkinson, a mesma que atormentara Hermione ainda em Hogwarts. Esperava que ela tivesse esquecido as bobagens sobre pureza do sangue e se tornado uma pessoa melhor. Ou não conseguiria trabalhar com ela. 

Entrou no prédio e dirigiu-se ao elevador. O ateliê funcionava no vigésimo andar, a cobertura. Era comum, só as maiores empresas ocupavam as coberturas dos edifícios comerciais e aquela não era uma exceção. Mesmo que não fosse com a cara de Pansy, tinha que admitir que ela soubera construir uma sólida reputação. Suas roupas eram lindas e confortáveis, e faziam quem as vestia se sentir especial. Ela mesma tinha um vestido Diamond®, e era um de seus favoritos. 
As portas do elevador já estavam quase fechadas quando viu um homem louro fazendo sinal pra segurá-las. Foi o que tentou fazer, mas não conseguiu. 

-Iihh, agora o cara vai achar que eu sou uma mal-educada. Mas eu não tive culpa.

**

-Saco! Porque ela não segurou a porta?! – resmungava Draco junto aos elevadores. Por sorte, o outro chegara logo depois. Ligara pra Pansy, já no carro, explicando o problema e perguntando se ela podia ajudá-lo. Como boa amiga, a morena não recusou. Entrou no outro elevador e voltou seu pensamento à mal-educada que o deixara pra trás – Não custava nada ela segurar a porta, né? Se fosse com ela, aposto que ia reclamar...

Saiu no vigésimo andar e caminhou em direção à sala da Diamond®. Qual não foi sua surpresa quando viu a tal entrando no escritório. Reconheceu-a pela blusa, azul-acinzentada que ela usava. Era estranhamente semelhante a seus olhos. “Pensei que não houvesse jeito de reproduzir essa cor...” Balançou a cabeça pra tirar a mulher de seus pensamentos, mas não conseguiu. Achava o cúmulo que ela tivesse batido a porta do elevador na sua cara. “E ainda por cima é ruiva!”

-Deve ser algum mal relacionado à cor do cabelo. – resmungou, enquanto entrava no ateliê. “A última ruiva que conheci também era louca, estava sempre me azarando, aquela Weasley!”

-Bom dia, senhor Malfoy. – cumprimentou a secretária de Pansy, tirando-o daqueles pensamentos.

-Oi Jane. Pansy tá ocupada?

-Está conversando com a nova modelo.

-Uma ruiva de blusa azul? – a funcionária confirmou com a cabeça – Não contratem, acho que educação não é o forte dela!

-Mesmo? – Jane suspeitou que ele estivesse exagerando – Ela me pareceu muito educada. Estava até sem graça por não ter conseguido segurar a porta do elevador pra alguém, lá embaixo. – viu o louro desviar o olhar, resmungando – Pansy disse pra você esperá-la na outra sala. – ela apontou para a porta.

-Ok.

O louro entrou nasala e sentou numa poltrona. Não gostava de esperar, não nascera pra isso. 

**

-Ginevra Weasley, eu sou Pansy Parkinson. – “Por Merlin, tenha esquecido das bobagens do passado!!”, pedia a morena, em pensamento.

-Ah, eu conheço você. – respondeu Gina, vendo a outra arquear as sobrancelhas – A estilista mais badalada da atualidade. “E a bruxinha malvada de Hogwarts.”

-E a chata que atormentava sua amiga Hermione. Eu já me desculpei com ela, por carta, mas acho que te devo desculpas também.

“Ela parece sincera”, ponderou Gina. Pansy tinha muitos contatos com estilistas trouxas, não era possível que ainda continuasse com a mentalidade preconceituosa de antes.

-Tudo bem. Vamos esquecer tudo aquilo.

-Ótimo. – ela fez um gesto, indicando que Gina devia sentar – Eu acho que devo começar explicando a proposta da campanha. Eu quero que cada mulher que veste uma das minhas roupas se sinta única, especial. Por isso, eu quero você na passarela.

-Mas eu não sou modelo de passarela...

-Sabe desfilar?

-Sei.

-Então, qual é o problema?

-Não tenho altura.

-Essa é a idéia! – concluiu Pansy, empolgada – Eu não quero estereótipos vestindo as minhas peças. Sabe, mulheres altas, magérrimas e louras. Quero altas, baixas, gordinhas, magrinhas, ruivas, louras, morenas... 

-Diversidade... – resumiu Gina, sorrindo com a idéia – É uma grande idéia. Vai ter um grande apelo ao público.

-É nisso que estou pensando.

Jane entrou na sala e cochichou algo no ouvido de Pansy. Gina supôs que fosse algo relacionado a algum compromisso de trabalho.

-Jane, por favor, mostre à senhorita Weasley o provador pra que ela escolha as peças pra sessão de fotos.

-Está bem. – respondeu a secretária, sempre eficiente, conduzindo Gina até uma ampla sala repleta de cabides com as roupas mais lindas que ela já vira – Sinta-se à vontade pra escolher as peças.

A moça saiu, deixando a ruiva sozinha. Um vestido longo, azul-petróleo, chamou sua atenção. Era magnífico, tomara que caia com a cintura marcada e saia rodada, comprida. Um véu, coberto com pequenos strass cobria a saia, fazendo-a parecer um céu estrelado. Luvas compridas acompanhavam o modelo. Gina sentiu uma vontade irresistível de colocar aquele vestido.

**

Pansy entrou na “sala de visitas” e se deparou com um Draco raivoso e resmungão.

-O quê que aconteceu?

-Como se não bastasse a minha crise criativa, aquela modelo que você entrevistou bateu a porta do elevador na minha cara!

-Bateu ou simplesmente não conseguiu segurar?

-Qual a diferença? – contrapôs o louro, contrariado.

-Não se irracional. Está fazendo tempestade num copo d’água.

-Não estou, não! – retrucou, como uma criança – Isso deve ser algum mal de gente ruiva! Os Weasley’s são todos ruivos e nenhum deles tem educação!

-Chega, não quero mais ofensas à minha nova modelo. E por favor, controle o veneno, sr. Sonserino. Não fale dos Weasley.

-E por que não? Por acaso tem um deles por aqui... – ele compreendeu o que ela queria dizer – Aquela ruiva que foi embora é a Coelha Weasley?

-É. Quero dizer, não! O nome dela é Ginevra e é assim que ela deve ser chamada. Esqueça os apelidos e as ofensas, entendeu? – ela pôs o dedo em riste no rosto dele.

-Você defendendo a Coelha, quem iria acreditar... – ele meneou a cabeça – Não vai mesmo contratá-la, né?

-Claro que vou. É uma excelente profissional e eu não sou mais aquela garota cruel e preconceituosa. – ela se dirigiu à porta que dava pro seu escritório – Talvez esteja na hora de você crescer também.

Ela saiu, deixando um louro contrariado pra trás. Draco não gostava de ser repreendido. Gina fora seu pesadelo em Hogwarts e Pansy queria que ele a tratasse bem!

-Ora, faça-me o favor...

Ainda lembrava da Azaração de Rebater Bicho-papão que ela adorava lançar nele como se não fosse nada. Uma vez, resolvera reagir. Acabou arranjando uma briga feia com o cabeção do Potter, pois ao rebater a azaração, acabou lançando-a nele.

Snape ficara furioso e lhe dera uma detenção. Mas até que valera a pena, já que o Cabeça-Quebrada Potter ostentara no rosto um belo hematoma que poção, feitiço ou pomada nenhuma conseguira tirar. A marca tinha sido obra de Pansy, um feitiço que ela costumava usar contra as fofoqueiras quando falavam mal dela. 

-Mas isso foi quando ela era uma garota má... – disse o louro, distraído com as lembranças. Tão distraído que acabou derramando todo o conteúdo da xícara de café na camisa. – Ai que droga! – abriu a porta que viu pela frente, julgando ser a do banheiro. Mas não era.

Draco estacou à porta, surpreendido pela visão das costas nuas de uma ruiva espetacular. As cascatas flamejantes lhe desceram pelas costas quando ela jogou o cabelo pra trás. O louro estava hipnotizado pelo brilho daquele cabelo, as mãos pareciam formigar de vontade de mergulhar ali e descerem devagar até chegar a cintura e àquele quadril, perfeitamente delineado pela calça jeans.

Gina percebeu uma movimentação atrás de si pouco depois de tirar a blusa. Virando a cabeça, viu um homem louro encarando-a, abobado. Mais que apressadamente, agarrou o vestido e usando-o como “escudo”, ficou de frente para o homem.

-Quem é você? O que tá fazendo aqui?

-Calma, não é o que você tá pensando... – respondeu Draco, cobrindo parcialmente os olhos.

-Sai daqui!

-O que está acontecendo? – perguntou Pansy, entrando pela outra porta. Arregalou os olhos ao ver o noivo ali – O que você tá fazendo, Draco? Sai daqui! – ela o empurrou pra fora e fechou a porta – Porque estava assediando minha modelo?

-Assédio? Ficou louca?

-Porque entrou no provador?

-Achei que fosse o banheiro. Eu derramei café – mostrou a camisa manchada – e quis lavar. Foi tudo um mal-entendido.

-Escute o que você vai fazer. Primeiro: limpar a camisa. Segundo: esperar a Ginevra terminar de se vestir e ir pedir desculpas. Entendeu?

-Sim, senhora! – respondeu, fazendo uma continência e arrancando um sorriso dela.

-Debochado... – ela virou pra sair, mas parou ao ouvi-lo chamar.

-Pans, aquela era mesmo a Weasley? Quero dizer... – ele fez um gesto com as mãos, representando as curvas de um corpo de mulher. 

-Você é ridículo! - responde a morena, saindo da sala.

-Ela era magrinha em Hogwarts... Bom, melhorou muito. – disse pra si mesmo, rindo (N/a: Cafajeste!) e saindo da sala.


**

-Gina, eu posso te chamar assim? – perguntou Pansy.

-Claro.

-Desculpe pelo que aconteceu.

-A culpa não foi sua.

-Mas aconteceu no meu escritório, me sinto responsável. Simplesmente, não sei o que aconteceu com o Draco.

-Draco? Era o Malfoy?? – a outra confirmou com a cabeça – Tinha que ser! Cabelo louro, expressão arrogante... Não mudou nada!

-Eu penso o contrário de você. Acho que mudou bastante. – disse o louro, aproximando-se das duas – Como vai, Gina?

-Estava bem até alguns minutos atrás.

-Quanto a isso, me desculpe. Eu procurava o banheiro e errei de porta.

-Podia ter saído quando percebeu seu engano, não?

-Sim, só que aconteceu tudo muito rápido. Eu entrei, você começou a gritar, Pansy entrou e começou a gritar... Eu não tive intenção de espiar. – “Mas só um idiota teria deixado uma oportunidade como aquela passar”. Estendeu a mão – Estou perdoado?

-Pra sua sorte, Malfoy, não sou rancorosa. – respondeu Gina, apertando a mão dele.
-Então, amigos?

-Não abuse. – ela soltou a mão e lhe deu as costas. Reparou que Pansy não estava mais ali, ela devia ter saído enquanto os dois conversavam.

-Abusado eu sempre fui...

-E insuportável também. – ela o encarou. Nunca tivera medo dele, mas sentiu um arrepio ao ver o azul daqueles olhos tão de perto. “Se bem que não é exatamente azul, é meio cinza, dependendo do ângulo que a luz bate... Gina, você tá louca? No que você tá pensando??”

-Isso não é verdade. Pansy sempre foi minha amiga. – ele deu um passo na direção dela. A cor daqueles cabelos estava exercendo um fascínio inexplicável sobre ele. A vontade de enterrar as mãos ali voltou com força total.

-Fico me perguntando como ela consegue. 

-Olha, não quero ser seu inimigo. – “Como se eu já não fosse...”

-É meio tarde pra isso, não acha? – Gina sorriu, incapaz de se conter. Sabia que isso o encorajaria a continuar dizendo bobagens e ficar olhando pra ela daquele jeito. A verdade era que estava se divertindo com aquela discussão.

-Talvez não. Afinal, você vai trabalhar pra Pans, não seria muito estranho se acabássemos nos tornando... amigos. – Draco estava com a cabeça inclinada, seus olhos estavam no tom mais impossível de azul- acinzentado ou cinza-azulado, ela não saberia dizer.

-O que você quer?

-Nesse momento? – ela confirmou com a cabeça – Algo que eu nunca pensei que ia querer... – “Beijar você, Weasley.”

Gina ergueu o rosto, quase involuntariamente. Não acreditava que queria beijar Draco Malfoy. Quase podia ver a mini-Gina de sua consciência dizendo que Draco era um imbecil elitista e preconceituoso e que ela estava cometendo um erro. Bom, mas erros existem para serem cometidos...

Ele uniu seus lábios aos dela com delicadeza. Gina nunca teria pensado que Draco Malfoy podia ser tão gentil. Nem que beijava tão bem. Sentiu os dedos dele enterrarem-se em seus cabelos e se entrelaçarem nos fios. Abraçou-o pelo pescoço não querendo quebrar aquele contato.

Esquecera-se de onde estava, de seu “estado civil” e do que pensava da família dela. Finalmente podia dar vazão à vontade que tinha de sentir a textura daquela pele. Aprofundou o beijo, puxando-a pela cintura, mas, de repente, ela o empurrou.

-Não! Isso não pode acontecer.

-Porque não?

-Você é noivo! Se não respeita a Pansy, eu respeito. Não vou tomar parte na sua traição.

-Olha, meu noivado é meio complicado...

-Não quero saber. Não quero ouvir nada. – ela se afastou dele, entrando novamente na Sala de provas. Pansy surgiu logo depois, empurrando uma arara de roupas.

-Onde está a Gina?

-Provador.

-Você está bem? Tá com uma cara estranha...

-Tô ótimo. Posso passar na sua casa mais tarde, pra você me ajudar com a Firebolt?

-Claro.

Ele a beijou carinhosamente na testa e saiu. Gina, que o estava olhando pela fresta da porta, estranhou este comportamento. “Que tipo de noivo dá um beijo desses? E que tipo de noiva aceita?”. Ele dissera que o seu relacionamento com Pansy era complicado, mas pra ela parecia tudo muito simples. Era só vê-los juntos pra perceber que não eram apaixonados. A amizade deles já durava muitos anos, mas apenas amizade não sustentava um casamento.


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N/a: Acabei o cap!! E achava que ia demorar muito. A verdade é que eu cortei metade do que já estava escrito. Mas vocês gostaram? Digam aí nos coments, ok?
Até o próximo cap (o penúltimo)! 

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