Lição 3



Lição 3 – Dirigir requer provas teóricas


Os exames médicos terminaram e Ron continuava inteiro, com todos os pedaços de seu corpo nos lugares corretos. E completamente arrependido de ter contado a Hermione que ficara com medo dos aparelhos do consultório antes de entender para que eles funcionavam. Não porque a esposa tivesse feito qualquer tipo de brincadeira com ele, pelo contrário. Ela foi absolutamente compreensiva. O problema era George.

No sábado, a mãe de Ron convidou a família toda para um grande almoço n´A Toca. Numa conversa informal com a senhora Weasley e Ginny no momento em que preparavam a comida, Hermione deixou escapar a aventura de Ron para fazer os exames psicotécnicos. George estava na cozinha, saboreando uma garrafa de vinho com o senhor Weasley. Ron tinha ficado no quintal, na companhia de Harry, e aproveitava para brincar com as crianças: James, Albus e Rose corriam como loucos pelo amplo jardim, divertindo-se em atirar pequenos pedaços de pão amanhecido para os gnomos, que saíam dos esconderijos apressados para recolher o alimento.

Ron só se deu conta de que algo tinha acontecido quando ouviu George gritar da porta da cozinha para o quintal:

- Ei, maninho! Você é mesmo um grande maricas!

Sem entender direito, Ron virou os olhos para Harry, uma expressão de dúvida no rosto, as sobrancelhas ligeiramente arqueadas. Então perguntou:

- O que foi que deu nele?

- Sei lá – Harry respondeu, dando de ombros e voltando sua atenção a Albus, que, do alto de seus quase três anos, ainda não era capaz de se defender de James, que lhe havia tomado o pedaço de pão antes mesmo que o pequeno pudesse atirá-lo para os gnomos de jardim. Enquanto explicava a James que ele não deveria fazer aquilo, Harry continuou por cima do ombro: – Por que você não vai lá dentro e pergunta?

Mas Ron já tinha pensado exatamente a mesma coisa e deixou o amigo para trás, cuidando das crianças, enquanto se dirigia até a cozinha. Quando entrou, deu de cara com George, que estava mais extravagante do que nunca em um recém-adquirido terno de pele de dragão roxo. Mesmo com a morte trágica de Fred, George continuou tocando a Gemialidades Weasley, que gerava lucros suficientes para manter a ele mesmo e ajudar também a família toda. Na loja, havia um grande retrato de Fred que tomava uma parede inteira, uma bela homenagem póstuma para o gêmeo.

- O que foi que você disse, George? – Ron perguntou, aproximando-se do irmão. Um silêncio desconfortável se instalou na cozinha, e Hermione olhou para Ginny, ambas segurando as barrigas, grávidas em estágio avançado. – Entendi algo sobre maricas...

- É, meu querido irmão – George se aproximou, rindo gostosamente. – Você ficou com medo de um simples consultório de um médico trouxa! Oh, Hermione, querida, ele vai me atacar com o seu terrível estetoscópio! – debochou George. – Ah, qual é, Ron? Quando é que você vai crescer?

- Hermione! – ao invés de responder a provocação do irmão, Ron se dirigiu imediatamente à esposa. – Pensei que poderia confiar em você para não ficar espalhando as coisas que te conto por aí.

Ela se empertigou diante da acusação, os cabelos balançando sob os ombros, os olhos cheios de lágrimas quando encarou Ron. Mas não teve tempo de dizer nada, pois a senhora Weasley interveio:

- Agora chega, todos vocês! – e a matriarca da família acenou a cabeça para George, impedindo que ele continuasse a provocar Ron. Apesar disso, o rapaz desmunhecou a mão na direção do irmão mais novo e voltou a se sentar com o pai para continuar bebericando o vinho. – O almoço vai ser servido e não quero brigas na hora da refeição. Ron, vá buscar Rose e diga ao Harry para trazer Albus e James. Bill, Fleur e Victorie devem estar chegando.

- Sim, mãe.

Ron saiu da cozinha com um aspecto derrotado, indo ao jardim de encontro a um Harry completamente coberto de migalhas, sentado na grama ao lado de Rose e Albus, rindo deliciado. James estava mais adiante, brigando com um gnomo para tomar de volta um grande naco de pão meio endurecido.

- Harry, sua digníssima sogra está chamando para o almoço.

Harry sorriu quando se virou para o amigo. A cicatriz ainda reluzia na testa, lembrando-os a todo o momento do passado. Apesar disso, ela nunca mais havia incomodado. O sorriso no rosto de Harry morreu quando ele viu a cara de poucos amigos de Ron. O moreno levantou, batendo a mão nas vestes para tirar os restos de pão, e perguntou:

- O que foi que aconteceu?

- É a Hermione, cara – Ron começou a falar, caminhando em direção a Rose e pegando a filha no colo enquanto conversava. A menina passou a bagunçar deliberadamente os cabelos ruivos do pai. – Ela contou ao George que... – Ron hesitou por um momento, mas, afinal, era Harry, seu melhor amigo, e ele sabia que poderia confiar nele, então contou o que tinha acontecido no consultório do médico. Segundos depois de concluir a narrativa, Harry estava às gargalhadas.

- Ah, Ron! Realmente, é engraçado que o mundo trouxa ainda te surpreenda tanto depois de você ter se casado com a Hermione. Afinal, essas são as origens dela!

- Eu sei, Harry! E, se você quer saber, dia após dia parece que eu encontro uma nova Hermione dentro da minha própria casa!

- E isso é algo ruim?

Ron não teve tempo para responder o questionamento do amigo, porque eles já estavam adentrando a cozinha d`A Toca. Bill já havia chegado, acompanhado de Fleur e Victorie, que se parecia muito com a mãe, uma beleza estonteante. Alguém bateu na porta de entrada da casa e, instantes depois, Teddy entrava acompanhado da avó, Andrômeda Tonks, para fazer parte do almoço em família. Ele parecia cada dia mais saudável, desenvolvendo-se perfeitamente bem, mesmo com a perda dos pais. Já tinha manifestado a magia e estava ansioso para ir a Hogwarts no próximo ano. E não era só a magia que se destacava em Teddy, mas também a metamorfomagia herdada de Tonks. Naquele sábado, Teddy estava com os cabelos num brilhante tom de azul royal. Victorie parecia se divertir ao observar o colorido rapaz.

O almoço transcorreu como sempre: conversas animadas, planos para o futuro e comentários sobre os mais diferentes desejos de mulheres grávidas. Acabar com Voldemort tinha dado a eles a sensação de viver num mundo em paz, onde as perspectivas de futuro eram perfeitamente palpáveis. Não havia mais a insegurança de que, a qualquer momento, um deles pudesse cair durante a batalha do bem contra o mal. Isso não significava ausência de problemas, mas eles eram pequenos se comparados ao que todos ali já tinham enfrentado. Muitos tinham marcas eternas daquela guerra: Harry com a cicatriz na testa, George sem a orelha, Teddy com as marcas internas da perda dos pais. Mas, ao olhar para as crianças, Albus, James e Rose, e também para as duas que ainda estavam por vir, Ron sentia que tinham cumprido o dever de dar um mundo mais digno e em paz às futuras gerações de bruxos, não apenas de suas famílias.

Talvez aqueles pensamentos fossem fruto da comida deliciosa de sua mãe, que tinha a incrível capacidade de deixá-lo mais otimista. Mesmo se sentindo extremamente confortável, a cada momento em que seus olhos azuis cruzavam com os castanhos de Hermione ele tinha certeza que a esposa estava irritada. Mas ele iria consertar aquilo mais tarde. Muitas vezes, Ron era ríspido sem nem perceber. Mas também sabia como dobrar Hermione, enchendo-a de carinho e amor como só ela merecia.

Porém, a semana seguinte não seria exatamente o que Ron poderia classificar como “em paz”. Na verdade, estava mais para “pesadelo”. Com a apostila do curso preparatório sempre em mãos, ele era obrigado a decorar placas e leis que não faziam o menor sentido para ele. E Hermione, como sempre, dava uma de professora e exigia que ele tivesse bom desempenho, fazendo, inclusive, a chamada oral dos itens estudados a cada aula.

- Pelas ceroulas de Merlin, Hermione! Eu vou dirigir esse maldito carro em Londres! Você realmente acha que, alguma vez na vida, eu verei uma placa dessas? – disse Ron, apontando para o desenho de uma vaca passando pela linha da estrada. – Não há vacas no centro de Londres!

- Ron, isso não importa. Você precisa conhecer a teoria, caso contrário, não vai passar no exame.

- Eu odeio exames – Ron gemeu, fechando os olhos e descansando a cabeça sobre as mãos espalmadas, os cotovelos apoiados na mesa.

- Eu sei que você os odeia, mas eles são necessários – disse Hermione, assumindo aquela pose de Sabe-Tudo que ela possuía desde os tempos de Hogwarts. – Depois da prova, você poderá praticar um pouco e aí tudo ficará mais interessante. Agora, tente ao menos uma vez na vida se concentrar e decorar essas placas!

Cinco minutos depois, Ron estava debruçado sobre o livro. Roncava, e um filete de saliva escorria da boca entreaberta.

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