Parte III - Olhos nos Olhos.

Parte III – Ainda que passe o tempo.

Eu preciso te falar
Te encontrar de qualquer jeito
Pra sentar e conversar
Depois andar de encontro ao vento
Eu preciso respirar
O mesmo ar que te rodeia
E na pele quero ter
O mesmo sol que te bronzeia
Eu preciso te tocar
E outra vez te ver sorrindo
Te encontrar num sonho lindo
Já não dá mais pra viver
Um sentimento sem sentido
Eu preciso descobrir
A emoção de estar contigo

Dia de domingo – Tim Maia


Quando Harry viu Gina se aproximando, seu coração deu um pulo. Ele não previra tamanho nervosismo, mas não podia mais desistir: ela já o reconhecera. Respirando fundo, ele se levantou e caminhou em sua direção.

Ao vê-lo, os pés dela haviam travado. Por mais que seu cérebro mandasse-os andar, eles não obedeciam. Gina sentiu sua pulsação acelerar a cada passo que Harry dava em direção a ela. O que ele lhe diria? O que ela deveria dizer? Deveria correr e se jogar nos braços dele, ou esse tipo de atitude pareceria muito desesperada? Ela não conseguia se decidir, e enquanto essa indecisão permanecia, ela continuava pregada ao solo, imóvel.

Por que ela não estava andando também? Harry não entendia. Será que ela não queria falar com ele? Estaria com raiva por todos aqueles longos anos de afastamento? Ele não tinha como saber. Só descobria quando conversasse com ela. Não, talvez não precisassem nem conversar, bastaria que se olhassem no fundo dos olhos. Harry precisava desesperadamente ver os olhos de Gina mais de perto, por isso, continuou andando.

Ela começou a sentir suas mãos suarem; cerrou os punhos com tanta força que suas unhas compridas marcaram-lhe as palmas das mãos. Harry continuava andando no mesmo ritmo, já ela, permanecia no mesmo lugar. Mais dois ou três passos dele e estariam frente a frente pela primeira vez em três longos anos.

Harry só parou de andar quando a distância que o separava de Gina não ultrapassava trinta centímetros. Estavam tão próximos que quase conseguiam ouvir as batidas do coração um do outro.

Durante alguns poucos segundos, Gina mirou o chão. Quando, por fim, criou coragem para encarar Harry nos olhos, sentiu que se perdia naquela imensidão verde. Ele sustentou o olhar e eles ficaram ali por algum tempo, olhos nos olhos, em silêncio.

Durante muito tempo ela sonhara com aquele momento, mas agora que finalmente acontecia, ela não tinha idéia do que deveria fazer. Uma grande parte dela tinha vontade de esbofeteá-lo e gritar com ele por te-la deixado daquela forma; outra parte, contudo, entendia que Harry havia ido embora por que precisava de um tempo sozinho e que sua fuga deveria ser perdoada.

Os olhos castanhos de Gina o confundiam, pareciam ternos e, ao mesmo tempo, cruéis. Em vão, ele tentava pensar em algo para dizer, mas todas as palavras que lhe vinham à cabeça pareciam inúteis. Então ele percebeu que só havia uma frase apropriada àquele momento.

-“Gina, eu...”

Mas ela o interrompeu pousando o dedo indicador sobre seus lábios, então Harry compreendeu tudo. Sem perder mais tempo, ele a enlaçou pela cintura e a beijou.

Gina correspondeu ao beijo com ardor, passando os braços pelo pescoço dele. Aquele era um beijo a muito esperado, cheio de saudades e de desejo, mas, sobretudo, cheio de amor. Quando, se separaram, ambos sorriam.

De mãos dadas, eles retomaram a caminhada, admirando o pôr-do-sol. Andavam em silêncio, apenas sentindo o calor da mão um do outro. Teriam muito tempo para conversar depois.


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