Dezesseis



Capítulo 21: Dezesseis


O tempo passava tão rápido... Parecia ser impossível contar quantos treinos o time de quadribol da Grifinória já tivera, quantas tardes livres os estudantes do sexto ano perderam para fazer pesadas lições, quantos quintanistas desesperavam-se por causa dos NOM’s. Antes que os estudantes conseguissem perceber, o frio já fazia os jogadores tremerem durante os treinos e as rajadas de vento eram tão fortes que dificilmente as janelas das salas de aula ficavam abertas.
Para a surpresa de Harry, o fim de outubro tinha chegado e ele nem ao menos tivera tempo de pensar em algo que não fosse em relação ao colégio.
O tempo passava rápido... E Harry nunca poderia controlá-lo. Talvez por isso se sentisse tão ansioso em relação a ele. Embora quisesse que o tempo não passasse tão rápido, a fim de conseguir fazer algo em relação ao caos do mundo mágico naquele período, o tempo passar rápido apenas o ajudava a não pensar muito sobre isso. Porém, quanto menos ele pensava, menos ele preocupava-se, menos ele fazia e a menos conclusões chegava. Portanto, ele só teria uma mera lembrança do seu dever...
O garoto deixara de ler o Profeta Diário há semanas. Notícias como “ Mais dezesseis são mortos sem motivo aparente” e “ Bebê dos Marker é encontrado vivo ao lado dos pais mortos” vagavam a mente dele durante seus sonhos e quando ele não estava se empenhando em fingir que nada de errado estava acontecendo fora dos muros da escola. Por mais que tentasse esquecer o resto do mundo, depois de ler o artigo do professor de Defesa contra as Artes das Trevas, ele não conseguia mais esquecer. Ele não conseguia, não queria e não podia mais agir daquela maneira negligente.
Harry respirou fundo e colocou a xícara de chocolate quente sobre a mesa da Grifinória. Ele resmungou e olhou para o teto encantado do Salão Principal; o céu estava nublado e escuro, exatamente como ele sentia-se naquela manhã.
Ele tomou outro gole do chocolate quente quando o correio-coruja adentrou o castelo pelas grandes janelas do Salão. A coruja-das-torres bege pousou na frente de Hermione e a garota parou de ler o livro de História da Magia para pagá-la e pegar o jornal daquela manhã.
Harry tirou os olhos da coruja e olhou para as corujas que levantavam vôo e saíam pelas grandes janelas, uma sensação de incômodo no estômago.
A última noite não havia sido nada boa. Ele tornara a ter sonhos embaçados muito similares aos que tivera durante as férias, e isso apenas fazia com que ficasse mais ansioso ainda. Ele não sabia como aquilo podia acontecer, quando dedicava vários minutos para a prática de Oclumência várias vezes ao dia. Ele sabia que Voldemort não pudera fazer contato direto com a mente de Harry e que os sonhos não afetaram o garoto como antes; ele sentia-se perfeitamente saudável. Porém... tinha plena certeza de que aquilo não poderia ter acontecido. Mandaria uma carta para Lupin, mais tarde. Deveria existir alguma explicação para aquela situação inconveniente.
Hermione, sentada a frente de Harry, abriu o exemplar daquela manhã e suspirou ao ler a manchete, os ombros caindo consideravelmente.
-- O que aconteceu hoje?- ele ouviu-se perguntar.
--“ Mais dezesseis morrem...”- a garota começou a ler, mas sua voz morreu de repente e ela ficou com o olhar perdido por alguns segundos.
-- O que aconteceu?- Rony perguntou em seguida, virando-se para ela e a tocando nos ombros.
Silêncio.
-- Hermione!- Harry praticamente gritou, e vários estudantes olharam para saber o que acontecia.
Hermione pareceu acordar de algum tipo de transe e endireitou-se, focando seu olhar sobre Harry.
--Vocês não acham estranho ser sempre... dezesseis?- ela perguntou com a voz fraca.
-- Dezesseis o que?- Gina perguntou com a voz extremamente diferente; ao lado dela, Harry podia senti-la extremamente gelada.
-- Dezesseis mortes- Hermione respondeu, e Harry ergueu as sobrancelhas, surpreso.
-- Mas não foram apenas dezesseis, Hermione. Lembre-se, houve algumas situações em que eram apenas duas ou três mortes – o garoto disse.
-- Mesmo assim, Harry. Como você disse, foram apenas algumas. Se você contar quantas vezes já lemos “dezesseis mortes” neste jornal você irá se surpreender.
-- Você contou?- Rony perguntou, boquiaberto.
-- Claro, Ronald. Você esperava o que? Temos de utilizar todas as informações do jornal enquanto ele não é tomado por ninguém, não é?- ela disse, autoritária, voltando sua atenção para o resto da notícia.
-- Bem, eu não acredito que seja um tipo de padrão- Harry continuou, convicto- Se houvesse, não existiriam os casos em que o número de mortos é bem pequeno.
-- Eu acho que talvez possa existir um padrão- Rony disse, sorrateiro, enquanto Hermione o olhava curiosa por trás do jornal- Mas, veja bem, são padrões diferentes.
-- O que quer dizer com isso, Rony?- Hermione perguntou, visivelmente interessada.
-- Papai sempre costumava dizer que, na época em que Voldemort- Rony tossiu algumas vezes- estava no poder, havia muitos crimes, mas que eles eram diferentes; o motivo pelo qual eles foram feitos era diferente, entende?
-- Então qual seria o motivo para as dezesseis mortes?- Harry perguntou, baixo.
-- Diversão? E certamente Vol-Voldemort tem algum encanto pelo número dezesseis- Rony respondeu mais baixo ainda.
-- E para as de número menor?- Hermione perguntou, aproximando-se de Rony.
-- Acerto de contas- ele disse, simplesmente, muito mais baixo.
A garota olhou-o com surpresa e sorriu para ele.
-- Concordo com você- ela falou, bem perto dele- Muito bem pensado.
Harry virou os olhos quando a face de Rony ficou vermelha e o garoto agradeceu a amiga com um grunhido; estava sinceramente cansado da forma como os dois se tratavam. Será que não percebiam o que estavam perdendo por não ficarem juntos?
Ao lado dele, Harry moveu a mão para segurar a de Gina, pronto para ouvi-la fazer algum comentário sarcástico sobre o casal de amigos. Porém, o que viu o deixou tremendo por dentro.
Gina estava pálida como nunca, e, ao olhá-la atentamente, percebera que ela tinha debaixo dos olhos castanhos olheiras da cor do céu naquele momento: extremamente escuras. O olhar da garota estava perdido e ela parecia querer dizer algo.
-- O que foi, Gina?- Harry perguntou em um tom baixo, segurando fortemente as mãos gélidas da menina.
Ela inspirou profundamente, como se acalmando, e respondeu:
-- Nada, Harry- ela inspirou novamente- Não há nada com o que se preocupar.
Harry franziu o cenho, certo de que ela estava mentindo, e passou um braço sobre os ombros dela, já que o corpo dela tremia levemente.
-- O que houve, Gina?- ele sussurrou para ela.
Gina endireitou-se e separou-se dele.
-- Nada- ela respondeu, fria, direta, objetiva. Ela mentia.
Harry bufou e a irritação dentro dele apenas aumentou; odiava quando Gina não contava para ele os problemas dela.
-- Dezesseis, Hermione?- ela a ouviu perguntar- Sempre dezesseis?
Hermione tirou sua atenção de Rony e focou seu olhar sobre Gina, um tanto confusa.
-- Sim, Gina, já disse, quase sempre dezesseis.
-- Dezesseis- Gina repetiu, olhando Hermione diretamente nos olhos- Lembra-se de algo com esse número?
Hermione endireitou-se e levantou as sobrancelhas, um tanto surpresa. Ela confirmou com a cabeça e, enquanto Gina voltava a sua atenção ao café a sua frente, ela voltava a ler o jornal, ambas claramente ansiosas.
Harry suspirou e teve certeza de que não conseguiria tirar nenhuma informação delas naquele momento sobre o que acabara de acontecer; teria que esperar até que elas se sentissem confortáveis para contar. E isso apenas o irritava mais.
Ele tinha que se preocupar com fazer o fim da profecia. Ele tinha que se preocupar com o que acontecia fora dos muros da escola. Ele tinha que se preocupar com até quando o ministério seria capaz de manter-se longe das ambições de Voldemort. Ele tinha que se preocupar em descobrir como mataria Voldemort. E, além de tudo isso, Gina o deixava daquela maneira, preocupando-se com ela mais do que ele já se preocupava?! Francamente! Ela só podia o estar provocando! Além de que ela, aparentemente, sabia de algo em relação ao número dezesseis que deixara Hermione francamente abalada.
Ele colocou a xícara de chocolate quente com tanta veemência na mesa que o líquido chegou a cair em seus braços. Bufando, ele estava se limpando quando percebeu que alguém se aproximava do grupo de quatro amigos.
Luna Lovegood acabara de ver o estado em que Gina encontrava-se e, preocupada, estava praticamente correndo para dar a volta na mesa da Grifinória para poder conversar com Gina.
Porém, não foi a aproximação de Luna que surpreendeu Harry. A alguns passos de distância da menina, outra garota aproximava-se, parecendo um pouco incerta do que fazia. Quando percebeu que Harry a vira, sorriu.
Fazia meses que ele não tinha contato algum com ela, mas ficou feliz em perceber que não havia ressentimentos entre eles quando sorriu também. Mesmo que ele não soubesse quais eram as intenções de Cho Chang naquele momento, sentiu um alívio por poder pensar sobre um assunto que não envolvesse problema algum.
Antes de que Cho estivesse próxima o suficiente para conseguir conversar com Harry, o garoto sentiu seu pescoço ser virado incrivelmente rápido e por um momento pensou que tivesse desmaiado. Porém, viu o rosto de Gina aproximar-se do dele e,no segundo seguinte, ela estava beijando-o como faziam quando não havia ninguém por perto.
-- Ei!- ele ouviu Rony falar- EI!- ele gritou- Na mesa do café da manhã não!
Gina finalmente soltou Harry, e ele virou-se bruscamente a ponto de ver Cho de costas a eles voltando para a mesa da Corvinal.
-- Qual é o seu problema hoje?!- Harry perguntou, virando-se para Gina novamente.
-- Eu não sei do que você está falando- ela disse, levantando-se e colocando a mochila nas costas.
Ela virou-se e praticamente correu até o Salão Principal. Harry correu atrás dela e ouviu Hermione pedir para que Luna ficasse ali por um tempo.
Harry alcançou a namorada quando ela já estava nos jardins da escola.
-- Gina!- ele a chamou.
Quando ela não respondeu, ele correu mais rápido e virou-a de frente para ele. Ela estava chorando... Toda a raiva que o garoto estava sentindo, tudo o que ele queria dizer para ela para contestar o modo como agira, sumiu. A único pensamento na mente dele naquele momento era a imagem da garota enfraquecida a sua frente, com a dor estampada na face.
Ele não sabia o que dizer, não sabia o que falar. Apenas conseguia perceber que havia algum problema com ela, e tudo o que queria era conseguir resolvê-lo.
-- Desculpe-me – ela disse, respirando fundo- Eu não sei o que aconteceu comigo. Não deveria ter agido daquela maneira na frente dela. Desculpe- ela apenas olhava para baixo.
Harry correu as mãos pelos braços dela, tentando deixá-la mais calma, e olhou nos olhos dela: ela estava sendo sincera.
-- Tudo bem, Gi- ele disse, baixo- Só fiquei irritado porque não havia razão para você fazer isso, entende?
-- Eu sei, Harry. Mas eu vi o jeito como ela sorriu para você e eu senti algo horrível por dentro, uma raiva tão grande... E quando percebi já tinha feito. Por favor, me desculpe?- ela perguntou, as lágrimas formando-se em seus olhos de novo.
Harry sorriu para ela e pediu para que ela não chorasse.
-- Então por isso estava tão estranha hoje pela manhã? Já tinha percebido que Cho estava me olhando ou algo assim?- ele perguntou, rindo um pouco.
Ele levou o silêncio dela como uma afirmação.
-- Gina!- ele exclamou, levantando a cabeça dela até que ela o olhasse nos olhos- Não há necessidade de você ficar assim- ele disse, apontando para a palidez dela- por causa disso. Você sabe que não há nenhuma possibilidade remota de ainda existir um sentimento que não o da amizade entre Cho e eu, não é?
-- Eu...- ela suspirou- Eu sei, eu sempre soube.
Harry franziu o cenho e a observou intrigado.
-- Então por que está assim? Por que agiu daquela forma?
-- Harry, eu já disse que não sei o que deu em mim naquela hora!- ela exclamou, alto- Eu só estou tentando dizer que eu não estou assim por causa disso.
Harry sentiu algo gelado descer por sua espinha e, por algum motivo, desejou que Gina não respondesse à pergunta que ele faria.
-- O que aconteceu?
Harry piscou os olhos confuso quando a garota mexeu-se desconfortável entre seus braços, enquanto grossas lágrimas não paravam de cair dos lindos olhos dela.
-- Eu tive um sonho...- ela respondeu, não mais alto que um sussurro.
O garoto a abraçou fortemente quando encontrou medo nos olhos dela.
Algo mexeu-se desconfortável em sua cabeça, e ele simplesmente soube o que perguntar.
-- Esse sonho tem alguma relação com os casos de dezesseis mortes?- ele perguntou, tremendo em seu interior.
Gina tremeu em seu abraço, e ele sentiu que ela chorava tanto que os ombros dele já estavam molhados.
-- Sim- ela respondeu, tremendo ainda mais- E o sonho se parecia com quando eu estava no meu primeiro ano...
Harry parou de passar os dedos pelos cabelos ruivos dela e ficou estático. Ela acabara de dizer que era como o primeiro ano dela, o ano em que fora possuída por Voldemort.

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