Capítulo V



- Melhor voltarmos para o Ministério, preparar um relatório preliminar e apresentá-lo. A confusão no Beco Diagonal precisa ser explicada – falou Hermione quando já estavam sentados num banco da praça.

- É, vou ser obrigado a concordar com você. Pelo menos temos algum resultado para colocar no relatório. Já sabemos o nome do ladrão e para quem ele está trabalhando.

A moça mantinha o olhar num ponto muito longe dali. Prestava atenção no que Malfoy falava. O rapaz se mostrava sempre prático e cada vez mais apto à profissão que escolhera.

No entanto ele não tinha a experiência de Hermione. A jovem tinha apenas 11 anos quando se viu envolvida no combate contra as forças das trevas pela primeira vez. E ela não se lembrava de uma única vez que um comensal agira sem ter um único objetivo em mente: trazer seu mestre de volta a vida.

- Dou um nuque pelos seus pensamentos – falou Malfoy despertando Hermione da assustadora linha de raciocínio que traçava naquele momento – Eu costumo pagar um galeão, mas como você é uma sangue-ruim não deve ter pensamentos tão valiosos.

O rapaz queria quebrar a formalidade que havia se formado entre eles após o beijo. Preferia mil vezes a Hermione Perfeita Granger, amiga do Potter Perfeito, que falava sem parar mostrando a toda hora o quanto era brilhante do que aquela nova Hermione, polida e calada.

Mais uma Hermione para a minha coleção – pensou vendo a expressão dura no rosto da moça.

- Draco, – chamou Hermione sem desviar os olhos do ponto distante que fixava – não estou preocupada com a confusão que armamos. Estou mais interessada em saber o que eles queriam com aquele espelho.

- Por que esse interesse?

- Porque eu não acredito que um trouxa como Hilberg iria roubar um espelho mágico simplesmente para vender para outros trouxas. Aquele espelho vai ser usado para outra finalidade e eu temo que isso tenha a ver com Voldemort.

- Isso é loucura, Granger! Eu o vi ser destruído! O Potter o matou bem diante de mim e você também sabe disso.

- Parece loucura, Draco! Mas pense, ele já driblou a morte uma vez. Pode muito bem fazer isso de novo!

- Mas antes ele tinha aquelas horcruxes. E você e seus amigos destruíram todas, esqueceu?

Era bobagem continuar a discutir com Draco. Ele estava predisposto a acreditar que Voldemort nunca mais voltaria.

- Está certo, não vamos mais falar sobre isso.

Ela aparatou em seguida diretamente no Departamento e quando Malfoy chegou, já encontrou a moça de pena e pergaminho em punhos, pronta para preparar o relatório.

A cada palavra escrita a idéia de que o Espelho seria usado para tentar trazer Voldemort de volta a vida se reforçava. Terminou o relatório e sem falar nada com Malfoy desceu para o átrio.

O rapaz ainda ficou no departamento, conversando com um grupo de aurores enquanto expedia um pedido de busca na Toca do Dragão, com a esperança de apreender o espelho e acabar de uma vez por todas com aquela missão idiota.

Era culpa da missão que ele tivesse beijado Hermione Granger. Concentrou-se em sua tarefa, mas a imagem do beijo insistia em voltar à tona e por mais que ele repetisse para si mesmo que aquilo o enojava, seu corpo parecia sentir tudo, menos repulsa.

Hermione, no entanto, parecia haver soterrado aquela lembrança com as inúmeras cogitações que fazia a respeito do uso de espelhos em rituais. Estava tão absorta que não percebeu que rumava para o Departamento de Mistérios.

Só notou onde estava quando viu uma movimentação estranha no final do corredor. Aproximou-se cautelosa, procurando não atrapalhar o incrível número de pessoas que circulavam nervosas por ali.

Avistou os cabelos rosa-chiclete de Tonks e acelerou o passo, parando do lado da amiga e perguntando o que estava acontecendo.

- Ah, Hermione, beleza? Aqui a coisa complicou, viu? Sumiu um item bem valioso do Departamento de Mistérios, e foi tirado daqui bem debaixo dos narizes dos Inomináveis. Eles estão furiosos! Até quebraram o regulamento e disseram o que sumiu.

- Você está brincando!? – falou Hermione surpresa.

Aquela era a primeira vez desde 1137 que os Inomináveis deixavam outros funcionários do Ministério saberem de seus assuntos.

- Tô falando sério! Chamaram um grupo de aurores para fazer uma vistoria interna em todas as salas, levantar pistas e tentar encontrar o suspeito.

- E o que foi que levaram?

- Se eu te contar isso aqui, acho que você desmaia. Eu quase enlouqueci quando soube!

Tonks puxou Hermione para longe do corredor que dava para o Departamento de Mistérios e quando se viram num lugar mais vazio a auror de cabelos coloridos informou:

- A Taça de Merlin!

A reação de Hermione não foi a que Tonks esperava. Ela não entrou em pânico como todos os outros bruxos.

- Hermione, não ouviu o que eu falei? Roubaram a Taça de Merlin!

- Eu ouvi, Tonks! Mas nunca soube que Merlin tinha uma Taça tão importante assim! Não se menciona nada disso nos livros!

Tonks balançou a cabeça tentando se recompor. Esquecia-se que a amiga era nascida trouxa e provavelmente conhecia aquela história pelo prisma trouxa. Segurou Hermione pelos pulsos e a fez sentar-se. Só então explicou:

- Hermione, a Taça de Merlin é a maior relíquia do Ministério da Magia inteiro! Você deve conhecê-la pelo nome de Santo Graal.

A jovem auror engasgou-se com o ar quando ouviu do que se tratava o sumiço. Conhecia a lenda do Santo Graal, mas em nenhuma das vezes em que ouviu a estória Merlin aparecia. Era uma estória cristã, que dizia se tratar da taça que Jesus usou na Última Ceia.

- Como assim, Tonks? O que o Santo Graal faz no Ministério?

- Hermione, a estória que os trouxas conhecem é apenas uma lenda. A história real conta que o Santo Graal é na verdade uma taça de comunhão com o mundo espiritual. O rei Arthur a usava para pedir proteção para a Bretanha. Mas quando ele a utilizou para pedir mais poder e compactuou com outras entidades não tão elevadas assim, Merlin achou por bem dar sumiço na Taça e a escondeu no Ministério.

As idéias na cabeça de Hermione começaram a crescer a cada palavra que Tonks dizia. Por fim, levantou-se aflita e perguntou:

- Por acaso você sabe se mais algum objeto importante foi roubado?

- Você diz além da Taça e do Espelho?

- Sim! Alguma coisa que tenha a ver com uma lança ou que se pareça com uma?

- Daqui de dentro do Ministério não sumiu nada. Mas os roubos nas residências bruxas têm aumentado a cada dia.

Hermione correu pelos corredores deixando Tonks sozinha. Precisava descobrir se alguma coisa parecida com uma lança havia sido roubada nas últimas semanas. Entrou no Departamento de Aurores feito um furacão e sem dar confiança para Malfoy, revirou a cesta de jornais e revistas.

- Que é isso, Granger? Enlouqueceu?

Ela não respondeu à provocação. E se tinha algo que irritava Malfoy profundamente, era ser ignorado.

- Pelo menos me explica a sua importante missão do momento! – zombou ele.

- Preciso descobrir se uma lança foi roubada de algum lugar – respondeu Hermione enquanto passava febrilmente as páginas de um exemplar do Profeta Diário da última semana.

Sem entender o motivo, mas cansado de ficar a toa, Malfoy começou a procurar. Depois de algum tempo, ele esticou um exemplar do Pasquim em que a capa era uma notícia sobre uma velha bruxa da Cornuália que teve seu porão arrombado.

Hermione pegou o exemplar das mãos do rapaz e leu a notícia sobre a velhinha que reclamou ter perdido todos os bens de família, entre eles a Lança que matou o Monstro do Lago Ness.

- Você não acredita nessas bobagens, não é? – perguntou vendo o olhar satisfeito que Hermione lançava às fotos do Pasquim.

- Depois de conviver com a Luna muito tempo, a gente aprende que tudo o que ela fala, por mais fascinante que possa parecer, tem sempre um fundo de verdade! Essa lança, está vendo? Ela foi roubada nas mesmas circunstâncias do Espelho e da Taça de Merlin!

O sangue desapareceu do rosto de Malfoy. Hermione entrou na sala sem lhe contar que a Taça de Merlin havia sido roubada e a notícia pareceu mexer e muito com o rapaz.

- A Taça de Merlin também? Quando ela sumiu?

- Essa madrugada, pelo que a Tonks me disse! Você acredita na minha teoria agora, Draco? Há um ritual, chamado de Ritual do Espelho Negro, que utiliza não só um espelho, mas também uma taça e uma lança. Está descrito no livro Rituais Abolidos de Magia. É coincidência demais que as três peças para realização do ritual de magia negra sumam na mesma semana e que um dos roubos esteja atribuído ao primo de um ex-comensal.

Hermione andava de um lado para o outro da sala, enquanto Draco a observava atentamente. Durante todo o curso de aurores, o melhor jeito que encontrou de estudar e se concentrar nas tarefas era observando Hermione pensar.

- Você pode me dizer que ritual é esse? – pediu, fazendo com que ela parasse no meio da sala.

- É um ritual bastante complexo! Usa-se um espelho como mesa e posteriormente como Portal. O espelho deve ser tombado em solo mágico e sobre ele devem estar uma taça de valor que servirá para conter o sangue dos 13 bruxos presentes no Círculo Sagrado.

“A lança deve ser usada para fazer o corte de onde cada bruxo doará parte de seu sangue e depois, sua ponta será usada para traçar sobre o espelho os símbolos místicos, enquanto a celebrante do ritual profere as palavras de evocação.”

“O livro diz que depois da evocação, cada participante deve beber um pouco do sangue da taça e assim o espelho se partirá, abrindo um portal com o mundo dos mortos.”

Draco se levantou indeciso. Foi até o calendário lunar pregado na parede ao fundo da sala e contou os dias. Depois virou-se para a moça e disse em tom sombrio:

- “E quando o espelho sugar o último raio de luar, o mal invadirá seus corpos e os cavaleiros do escuro reinarão sobre a Terra, espalhando a destruição que fortalecerá o seu senhor”!

Hermione sentiu os pelos na nuca arrepiarem e encarou Draco, completamente apavorada:

- Que raios de citação é essa?

- Isso é a Profecia do Retorno, Granger. Meu pai me contou que quando Grindewald caiu, essa profecia foi feita e meu avô estava por perto. Existem as memórias dele no Departamento de Mistérios. Muitos acharam que se tratava de uma profecia sobre o fim dos tempos, já que mencionava o “último raio de luar”.

Os dois se olharam calados e ambos observaram o alarmante calendário que indicava que dali a três noites aconteceria um eclipse lunar total.

- Essa profecia se encaixa perfeitamente com o ritual. As profecias não são claras o bastante e isso pode significar o eclipse da Lua – raciocinou Hermione.

- O que nos deixa com apenas três dias para conseguir impedi-los. – completou o rapaz.

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