Adolescentes





Ela adorava a neve. Os jardins, bem como o resto da escola, estavam parecendo um imenso tapete branco, que quase podia cegá-la. Era reconfortante e tranqüilizante ver os flocos cobrirem tudo, e o processo trazia-lhe uma certa paz, diante de tudo o que estivera acontecendo ultimamente. Lilian observava a Floresta pela janela do Salão Comunal, até que isso pudesse cansá-la, o que decerto não aconteceria tão logo. Pensou que talvez fosse uma idéia melhor descer e apreciar o frio.

Virou-se, culpada, para sua amiga Mischa Rodstaff, que terminava um dever. Lilian explicou que queria andar um pouco para pensar e, como sempre, Mischa entendeu perfeitamente, não ligando para o fato de ficar sozinha.

Porém, a desagradável surpresa veio quando Lilian saía do Salão Comunal, encontrando Tiago e Sirius, que vinham na direção contrária. Todos conheciam-nos, os dois garotos mais bonitos e populares da escola, no entanto Lilian parecia ser a única que os enxergava além do rostinho bonito: ela via toda a arrogância que jorrava dos dois, e esse era apenas um dos motivos de seu repúdio pelo grupinho deles. As outras meninas no entanto, exceto por Mischa e Cameron Vanmount, caíam aos pés de ambos, se assim o quisessem. O típico comportamento que Lilian negava-se a Ter. Eles estavam se aproximando mais a cada segundo.


- Ah, não.

Ela achava que Tiago iria provocá-la ou então dizer algo indiscreto, mas ele apenas olhou-a. E, por mais incrível que pudesse parecer, fora mais estranho do que se ele tivesse praticado uma das opções anteriores. Fora levemente perturbador porque Tiago parecia saber exatamente como encará-la de forma congelante.

Lilian desviou os olhos, decidida a ignorá-lo, como sempre fizera. Ele fizera isso na esperança de intimidá-la, com toda certeza, entretanto ela não era do tipo que se era fácil de amedrontar.

Não seria Tiago Potter quem mudaria isso.


* * *

Inventando uma desculpa qualquer, Tiago deixou Sirius no dormitório e desceu as escadas apressado, querendo ainda alcançar Lilian. Sabia que seria besteira fazê-lo, porque ela iria enxotá-lo e xingá-lo, porém somente o sentimento que tomava-o quando ele a via nervosa fazia valer a pena. O modo como os cabelos vermelhos dela balançavam, o jeito como ela olhava-o raivosamente, o seu rosto com uma expressão bastante decidida – era tudo bom demais, mesmo que ele não pudesse apreciar isso integralmente.

Tiago perguntou de Lupin, que estava estudando no Salão Comunal, se ele sabia de algo, todavia ele respondeu negativamente, ainda concentrado no que lia.
Tiago jogou-se numa poltrona, olhando a lareira e tentando tirar Lilian da cabeça. Mesmo que ele tivesse seguido-a Lilian daria um jeito de afastá-lo de onde quer que fosse, sem ao menos ligar para nada.

“Ela sempre faz isso. Simplesmente não se importa.”

Seus devaneios foram interrompidos pelo barulho de uma coruja insistente que tentava entrar pela janela. Mesmo com toda a barulheira dos alunos, a coruja parecia se sobrepôr com suas bicadas de som metálico. Ele foi até lá, abrindo a janela e esperando que esta procurasse seu destinatário.

A coruja pousou no seu ombro e Tiago despredeu o pergaminho anexado à sua pata.


Amo-te mais que tudo na minha vida, Tiago Potter. E odeio-me por amar-te.


Era somente isto? Tiago tentou encontrar uma assinatura no verso, mas não havia nada e a coruja havia ido embora, de modo que ele não poderia reconhecer quem era sua dona. Seria um trote, essa carta? Pensando bem, talvez não. Algumas meninas tinham o costume de declarar-se para ele em cartas apaixonadas, sem assinaturas.

O que era surpreendente, na verdade, era a frase “odeio-me por amar-te”. Seria tão ruim assim gostar dele?

Tiago bufou, amassando a carta e abrindo a janela novamente, pronto para jogar a carta, quando avistou lindos cabelos ruivos, lá embaixo. Só podia ser Lilian, porque suas madeixas eram inconfundíveis para ele. Tiago pôs a carta no bolso, correndo Salão a fora, fazendo uma anotação mental que deveria jogar o pergaminho mais tarde.


* * *

O vento estava rugindo em seus ouvidos, contudo era como se fosse apenas uma nova melodia desafinada e, apesar de tudo, boa, para ela. Ela estava olhando para os próprios pés, andando pelos jardins, observando seu sapato afundar-se na camada fina e gelada que a cercava. Os braços estavam cruzados, tentando inutilmente afastar o frio conseqüente, e seus dentes estavam quase batendo. A respiração vinha com dificuldade por causa do denso ar que provinha da Floresta e do clima nada favorável.

Lilian andou pela escola, sem lembrar-se que podia ser apanhada por algum professor. Além disso, havia o risco de Lilian perder-se, caso a nevasca se tornasse mais forte – que era o que estava acontecendo.

No entanto, ela não sentia a mínima vontade de voltar ao castelo. Na verdade, Lilian queria mesmo era ficar ali, e parar no tempo. Ela não podia admitir-se por que, mas apenas não queria voltar... à tudo.

Lilian suspirou, aspirando gelo, e depois de muito tempo resolveu retornar à escola. As paredes quentinhas de Hogwarts foram quase como um choque, e se não estivesse enganada, sabia que as garotas depois ficariam precoupadas, interrogando-a para saber se ela estava realmente bem ou se havia pego um resfriado.

“Como se eu fosse algum tipo de criança.”

Perdida em seus pensamentos, Lilian esbarrou em alguém que, mesmo num final de semana merecido de folgas, parecia levar toda a biblioteca debaixo dos braços. Ela levantou os olhos, encontrando duas orbes negras e iradas.


- Olhe por onde anda, Evans.

Vendo-o juntar seus livros pelo chão, Lilian sentiu-se sem graça. Ela soube dia desses que Severo Snape gostava dela e, justamento por isso, tratava-a da pior forma possível. Ele era tão do contra, na opinião dela. A pior sensação era, verdadeiramente, não saber o que fazer diante dele.


- Muito obrigada pela sua ajuda. – continuou ele, secamente, erguendo-se para ir embora.

O impulso falou mais alto. Lilian estendeu a mão e segurou o braço de Snape por entre a capa negra firmemente.


- Espere um pouco.

Snape engoliu, temendo pelo que ela fosse fazer. Lilian soltou-o, e Snape não se afastou.


- Me... Me desculpe. – ela mirou o chão. Nunca, desde que chegarara a Hogwarts, havia se imaginado desculpando-se frente a Snape. – Eu só queria saber se---


- Eu estou bem. – interrompeu ele, desconfortável com algo que ele não podia dizer o que era.
- É que... Eu só queria falar que---

Snape levantou a mão.
- Não continue com isso.

Lilian piscou. Snape sabia do que ela ia falar? Nem Lilian sabia como prosseguir, então como ele poderia? Mas antes que Lilian pudesse saber a resposta, no minuro seguinte Snape, ignorando-a, tirou sua varinha e tomou a frente, proferindo algum feitiço que deveria pegar alguém às costas de Lilian. Ela virou-se para olhar quem estava sendo atingido e viu Tiago desviar com perfeição.


- Faça melhor que isso, Ranhoso. – zombou.

Lilian quase praguejou-o. Tiago estava pronto para enfeitiçar Snape também, mas ela intrometeu-se.


- Abaixe sua varinha, Potter. – disse, pegando a sua própria.

Tiago levantou a sobrancelha, duvidando por um instante que ela fosse fazer algo. Todavia, o aperto de Lilian sobre o objeto só aumentou.


- Vai mesmo querer me azarar?

A ruiva estreitou os olhos. Por que ele tinha que usar aquele tom desafiador que ela tanto---?


- E se eu for?


- Você não iria fazer isso por causa dele, iria?

Snape parecia meramente radiante pela constatação. Ele lançou um olhar triunfante a Tiago, que preferiu fingir não Ter visto, guardando sua varinha e esperando por uma resposta de Lilian que não vinha. Isso quase deixou-o assustado.


- Talvez. – foi o que ela falou.


- E por quê?

Ambos, Tiago e Snape estavam interessados na resposta, mas Lilian precisava sair pela tangente.


- Seja o que for, não é da sua conta. Agora vá embora, Potter, e nos deixe sozinhos.


- Eu só gostaria de---


- Não. – cortou ele, friamente – Você não precisa confirmar isso. – Lilian sabia que ele referia-se à ela e quase perguntou-se se Snape era telepático – Quer que eu me humilhe, Evans? Vá inflar seu ego com qualquer outro idiota que goste o bastante de você para isso.

Lilian encarou-o indignada, arrependendo-se de imediato por Ter tentando conversar normalmente com ele. Snape nunca iria mudar esse seu comportamento desprezível e talvez ela ainda não tivesse dado-se conta disso.


- Esse idiota, por um acaso, seria você?

Severo, que já virava-se para ir, parou e suspirou, apesar de temer que algum sonserino o visse com Lilian. Ele olhou para os seus livros, ainda de costas, e respondeu baixinho, sabendo que ela estava ouvindo:


- Quem sabe.

E foi embora rapidamente, nem atrevendo-se a virar-se para ver a reação da garota.


* * *

Tiago viu Lilian chegar ao Salão Principal para o jantar atordoada. Ela cochichava com suas amigas ininteruptamente e, vez ou outra, Janice Young soltava risadinhas, olhando furtivamente para a mesa da Sonserina por cima do ombro.


- Então, - sussurrou Pedro – vamos dar uma voltinha, essa noite?

Lupin havia ido mais cedo à enfermaria, porque hoje seria noite de transformação. Os outros garotos ainda não haviam planejado exatamente a que horas iriam para a Casa dos Gritos, e Sirius pareceu lembrar-se disso.


- Não vai dar. – disse cautelosamente – Eu já tenho... outra coisa para fazer.

Tiago e Pedro entreolharam-se, rindo maliciosamente. Tiago foi quem perguntou:


- Quem é a vítima dessa vez? – ele apontou para o grupinho de meninas da qual Lilian fazia parte – Young?

Sirius enrugou a testa.


- Não. Eu nem sabia que ela---


- E quem é?

Sirius, que fora interrompido, fechou a boca e engoliu, voltando-se à sua comida.


- Não é ninguém. – disse, meio que distraidamente.

‘Ninguém’ provavelmente não seria, e era estranho também que Sirius não dissesse a eles quem era a garota. Não que ele espalhasse para todos, porém ele geralmente contava sobre ela, principalmente se os planos com a menina coincidissem com algo entre os Marotos.

Tiago e Pedro resolveram não insistir, voltando a conversar entre si, combinando o horário em que voltariam ao esconderijo em Hogsmeade.


* * *

Lilian não conseguia dormir, e ela estava ficando assustada. Isso geralmente acontecia, sim, porém ela teria um tipo de teste dissertativo em Poções no dia seguinte, e Lilian precisava descansar bastante para Ter certeza que teria um bom desempenho na matéria. Valeria boa parte de sua nota e Lilian não podia esquecer-se disso. Ela precisava dormir.

Quando percebeu que não pregaria os olhos tão cedo, ela cuidadosamente deixou a cama, cobrindo-se com seu robe logo depois. Desceu as escadas quase silenciosamente, não querendo encontrar ninguém indesejado. E ‘ninguém indesejado’ era, logicamente, Tiago Potter. Parecia que toda vez que ela não queria cruzar com ele, isso acabava acontecendo. Porém o Salão Comunal estava vazio, apesar da lareira continuar acesa. Agradeceu. Lilian deixou as dependências grifinórias e não sabia para onde estava indo porque seus pés – que agora pareciam Ter adquirido vontade própria – estavam levando-a a corredores desconhecidos e inexplorados. Lilian também estava incrivelmente sem medo de ser pega pelo zelador escolar.

Ela estivera observando as paredes e o chão, sem nenhum motivo especial para tanto. Entretanto, quando levantou os olhos, viu algo que chamou sua atenção. Sirius andava de lá para cá, parecendo irritado, julgando-se pelo modo como ele olhava seu relógio, de cinco em cinco segundos. Ele enfim encostou-se na parede e Lilian apertou os olhos, pensando que talvez estivesse tendo algum tipo de ilusão de óptica. O que diabos ele estaria fazendo acordado à essa hora, fora da cama? Uma vozinha na sua cabeça perguntou a mesma coisa para ela.

“Eu estou com insônia. É totalmente diferente, porque Black não é nada confiável”, justificou para si.

Mas quando a sonserina Bellatriz Black apareceu do outro lado do corredor ela teve certeza que sua visão estava perfeitamente normal. Questionamentos estavam emergindo à mente de Lilian, porém, antes que ela pudesse arranjar uma resposta para todas, viu que Bellatriz estava se aproximando de Sirius. Ele disse algo a ela, embora Bellatriz não estivesse dando a mínima; no segundo seguinte eles estavam beijando-se.

Lilian levou uma mão à boca entreaberta. Ela não tinha conhecimento desse ‘casinho de primos’, mas como o encontro estava sendo àquela hora, naquele lugar tão escondido, ela achou que ninguém deveria saber disso.

Ela não podia continuar vendo os dois se amassando. Já era constrangedor demais pelo fato de serem parentes, ainda mais de Casas diferentes e rivais. Lilian, dizendo a si mesma que não contaria nada sobre isso a ninguém, tentou retornar pelo caminho inicial; contudo antes que pudesse mexer-se algo meteu-se entre suas pernas e ela quase caiu no meio do corredor. Apesar disso, apenas encostou-se demais na armadura, fazendo parte dela cair. Com o estrondo, ela meramente viu-os separar-se, procurando por algo ao redor.

Lilian percebeu que o poltergeist que estivera ali, silencioso, havia ido embora depois de aprontar com ela. Ela meio que se escondeu na base da armadura, ou do que ainda havia sobrado dela, e rezou para que nenhum dos dois a visse. Quando notou que eles estavam indo embora, assustados com a hipótese de que alguém os tivesse pego, Lilian levantou-se e correu em direção ao seu dormitório, novamente.


* * *

Seus passos ecoavam pelo chão de pedra gélida que cercava as masmorras sonserinas, mas não se importava que ouvissem-nos. Deveria, mas não se importava. Todas as vezes que ela ia em direção ao seu esconderijo, momentâneos flashbacks passavam pelos seus olhos. Não sabiam como haviam chegado àquilo, ela e ele, que sempre conviveram tão proximamente. O risco e o perigo de serem apanhados tornava tudo melhor.

Era tarde, e praticamente todos dormiam no Largo. Porém, ela continuava acordada, andando de um lado para o outro nervosamente, esperando que ele aparecesse---

A porta rangeu.


- Demorei? – perguntou casualmente, passando a mão pelos cabelos negros depois de fechar a porta.


- Muito. – respondeu ela ansiosamente, enquanto ele se aproximava...

A garota nunca deixara de reparar nele fisicamente – e isso seria impossível, de todo modo –; já havia tido alguns tipos de fantasias com ele mas não havia se imaginado numa situação daquela. O primeiro beijo que deram fora bastante infantil, no entanto as coisas foram evoluindo, os encontros tornando-se mais feqüentes e ousados.

Ela estava deitada de bruços em sua cama, escrevendo em seu diário na tarde quente de Agosto.


- Quer dizer então que você não sabe beijar, eh? – zombou Sirius, lendo por cima dos ombros de Bellatriz.

Bellatriz fechou o diário com violência, rolando sobre as costas e olhando-o com raiva.


- O que você pensa que está fazendo dentro do meu quarto? – quase gritou ela, a despeito da proximidade de ambos.

Sirius sorriu safadamente, de um modo que era bastante atraente.


- Ensinando a você certas coisas.... – disse, aproveitando-se que Bellatriz estava deitada e indo em diração à sua boca.

Narcisa reprovava o comportamento da irmã, porém não podia fazer muito para evitar os acontecimentos e também não contava à ninguém o que se passava, para total felicidade dela.


- E se a mãe descobre? – perguntou Narcisa com a voz tremendo, ao pegar Bellatriz e Sirius se beijando, certa vez.

Ela estava certa, afinal de contas. A mãe de Bellatriz nunca aceitaria nenhum tipo de relacionamento entre os dois, mesmo sendo normal que primos o tivessem. Vendo a cara de culpados de ambos, Narcisa suspirou pesadamente.


- Mas não se preocupe. – adicionou – Eu não vou contar nada a ela, nem a ninguém.

A voz de Narcisa ainda ecoava em sua mente (Esteja aqui antes das onze e meia!), entretanto Bellatriz preferia não ouvir. Ultimamente ela sempre chegava às masmorras em cima da hora, quase sendo pega por Lúcio uma das vezes, que demorou a acreditar na história que ela havia inventado.

Ela afastou o pensamento ao ver Sirius encostado na parede de um corredor muito mal-iluminado que eles usavam para se encontrar, com os braços cruzados sobre o peito, parecendo um pouco irritado. Ele virou-se e veio até ela, a capa negra voando aos seus pés e uma fina luzinha contornando sua silhueta.


- Você está atrasada. – disse Sirius, com firmeza.

Bellatriz alcançou-o, jogando seus braços ao redor da gola de seu sobretudo e lançando a ele um olhar que fazia-o derreter.


- Não importa. – falou, trazendo-o para perto – Eu estou aqui, não estou?


- Eu poderia não estar. – replicou, passando suas mãos por sua cintura hesitantemente.

Bellatriz sorriu, subindo nos pés.


- Cale a boca, Sirius. – sussurrou, antes de beijá-lo.

Sirius empurrou Bellatriz para a parede mais próxima, procurando sua língua com voracidade, o que deixava-a extática. Lógico, eles conheciam bem os corpos um dos outro, portanto Sirius sabia exatamente onde tocá-la para fazê-la enlouquecer. Bellatriz cantarolou dentro dele, entretanto eles pararam rapidamente ao ouvir parte de uma armadura próxima caindo com um ruído estridente.


- O que foi isso? – perguntou Bellatriz, temerosa, olhando em torno.

Sirius tentou passar segurança ao dizer:


- Não sei. – ele olhou Bellatriz – Eu acho melhor nós irmos embora, pode Ter sido alguém. – ela assentiu – Mais tarde a gente se encontra. – falou, afastando-se e voltando com cautela para o Salão Comunal.


* * *

Lilian ainda estava arfando pela corrida quando Sirius entrou no Salão Comunal silenciosamente. Para evitar questionamentos ou desconfiaça por parte de Sirius (se é que ele viria imediatamente para cá), ela fingiu estar dormindo no sofá. Não conseguia acreditar no que havia visto, ainda, e perguntava-se se não havia confundido os dois.

“Impossível.”

Sim, era impossível. As características dos Black eram claras, e o porte físico de Sirius mais inconfundível ainda. O rosto de Bellatriz, embora na escuridão, era o mesmo, com seus grandes cílios negros e com seu enorme cabelo que emoldurava seu rosto firme. Lilian (feliz ou infelizmente) não havia se perturbado quanto a isso.

Ela quase pulou de susto quando sentiu uma mão em seu ombro cutucá-la levemente.


- Ei, Evans, acorde.

“Que grande cínico.”

Lilian fez sua melhor cara de recém-acordada, tentando parecer convincente e fingiu estar surpresa por ver Sirius no Salão.


- Você estava dormindo no sofá. – disse ele, olhando-a, como se quisesse confirmar o que havia acabado de falar.

Ela sentou-se, ajeitando os cabelos, que estavam bagunçados como parte de seu teatrinho, e olhou-o.


- Ah. – fez Lilian, parecendo frustrada com sucesso – Isso anda acontecendo muito ultimamente. É por causa daquela droga de teste dissertativo.

Sirius balançou a cabeça, mostrando que havia compreendido. Ele encarou-a por um momento, quase que esperando que Lilian dissesse algo. Quando ela não o fez ele levantou-se, olhou-a mais uma vez e foi embora, murmurando um “Boa noite”. Lilian retribuiu, esperando até que ele estivesse longe para não ouvir seu resmungo.


- Safado.


* * *

O Domingo estava sendo bastante agitado para boa parte do castelo. A maior parte dos alunos iria, como de praxe, passar as férias de Natal em casa porém Tiago estava pensando seriamente em ficar na escola, desta vez. Ele sabia que provavelmente Lilian ficaria em Hogwarts e com o local quase deserto ele poderia se aproximar dela. Era uma chance, não? Para falar a verdade, deveria Ter soado um pouco mais animador, mas Tiago sabia que se tivesse alguns minutinhos a sós com Lilian, dentre os quais ele tentaria Ter uma conversa civilizada pelo menos uma vez com ela, talvez pudesse fazê-la mudar de opinião quanto a ele.

No dormitório, Tiago observava Sirius, Remo e Pedro ajeitarem os últimos detalhes antes do embarque. Sirius, muito a contragosto, ele achava, iria voltar para o Largo Grimmauld, Pedro e Lupin iam passar o Natal com suas respectivas famílias também, e Tiago havia resolvido finamente ficar, para infelicidade de seus pais.


- Pontas, o que raios você vai ficar fazendo aqui? – perguntou Sirius, tentando fechar seu malão, que estava abarrotado de coisas que haviam sido jogadas de qualquer jeito.

Lupin riu, ajudando Sirius.


- Como se você não soubesse que tudo isso é por causa de uma certa---


- Lilian Evans. – disse Pedro, entre tosses deliberadamente fingidas.

Tiago não respondeu porque decididamente não queria assumir que eles estavam certos, afinal de contas. Isso traria muitas gozações as quais ele poderia evitar, apenas omitindo o motivo da sua estada. Sirius e Pedro continuaram suas insinuações nada discretas, porém Lupin preferia estudar as reações de Tiago reservadamente.


- Vão logo embora! – sorriu Tiago – Eu não vou sentir a mínima falta de vocês.


- É lógico que não. – respondeu Sirius – Porque você vai estar se agarrando com---


- Lilian Evans. – tossiu Pedro mais uma vez.

Enquanto retornava, Tiago percebeu que queria que isso fosse verdade. Ele revirou os olhos, sabendo que isso não aconteceria em breve.


* * *

O trem já havia começado a andar, deixando Hogwarts para trás a cada segundo. Pedro foi o primeiro a deixar a cabine, alegando ir procurar o carrinho de doces, posto que não havia comido nada durante a última refeição. Sirius e Remo estavam conversando sobre qualquer coisa quando a porta se abriu rapidamente. Mischa Rodstaff parecia levemente encabulada por Ter interrompido algo.


- Oh. Me desculpe, eu não sabia que---


- O que você está fazendo aqui? – perguntou Sirius, parecendo confuso – Você e Evans não iam ficar para o Natal?

Mischa parecia aturdida com a pergunta de Sirius.


- Lilian ficou em Hogwarts – Sirius respirou aliviado, imaginando o que Tiago faria se ela tivesse ido para casa – mas, caso você não tenha percebido, eu vou voltar. Algum problema com isso?

Sirius levantou as mãos.


- Ei, calma! Por que toda essa ferocidade? Eu fiz alguma coisa para você?

Mischa abriu a boca, porém Sirius continuou, dessa vez mudando para um tom dissimulado, enquanto olhava Remo.


- Eu não vejo todo esse antagonismo com Aluado, Rodstaff.

Conseguindo irritá-la, Sirius levantou-se, deixando a cabine.


- Com licença. Eu preciso... ir atrás de Rabicho. Ele deve Ter... deve Ter se perdido. – disse, inventando a pior desculpa possível para ir encontrar Bellatriz.

Sirius ‘sem querer’ empurrou Mischa para dentro da cabine, e antes de fechar a porta com força, disse:


- Que desajeitado que eu sou.

Ele empurrou a porta, e Mischa e Lupin ouviram um suave clique do lado de fora. Por um pequeno segundo, ambos estenderam os olhos, sabendo exatamente o que Sirius havia feito. Mischa foi quem se recuperou primeiro, tentando abrir a porta de todas as maneiras, usando todos os feitiços possíveis.


- Almofadinhas, eu vou matar você. – sussurrou Remo para si.

Mischa virou-se para ele, um tanto exasperada.


- O que você disse?


- Nada de mais.


- Bem, seria uma boa idéia se você me ajudasse, não?

Remo abanou a cabeça.


- Não adianta. Só quem poderá desfazer o feitiço é o próprio Sirius e eu acho que você sabe disso.

Mischa sentou-se novamente, parecendo revoltada.


- Aquele filho da mãe! – ela suspirou e passou a mão pelos cabelos curtos e escorridos, que tinham as pontas maiores na frente. Lupin olhou-a por um instante – O que nós vamos fazer agora?

Ele desviou os olhos para a janela.


- Esperar.

Mischa gemeu. Não sabia se queria ficar trancada numa cabine com Remo. Era... perigoso demais, em apenas um sentido.


* * *

Lilian estava sentada no chão, em frente à lareira do Salão Comunal da Grifinória, que estava abrigando somente três outros alunos, escrevendo em uma agenda que possuía inúmeras fotos dela e de Janice, Cameron, Mischa e outras garotas. Ela guardava ali algumas fotos trouxas de seus pais e de Petunia, quando estas ainda eram crianças. Lilian estava folheando a agenda, que tinha recadinhos abaixo de todas as gravuras, quando encontrou uma que guardava tão secretamente que ninguém mais sabia da existência de tal fotografia (pelo menos era o que ela achava).

No período passado o irmão de Cameron, o quintanista Kenny, havia tirado várias fotos do Campeonato de Quadribol, tanto de grifinórios como de alunos das outras Casas. Ela sabia que havia sido uma atitude errada, o que tinha feito, mas Lilian não conseguira achar outra saída senão afanar a foto.

Porém, ela assustara-se imediatamente, vendo que parte da página – onde a fotografia de Tiago Potter, com seus cabelos arrepiados em várias direções, mostrava o pomo apanhado – fora arrancada. O pior de tudo, santo Deus, é que havia sido arrancada justamente a parte da folha onde ela escrevera algo.


Amo-te mais que tudo na minha vida, Tiago Potter. E odeio-me por amar-te.


Quem havia feito uma atrocidade dessas? Lilian percebeu que estava respirando irregularmente, e quando viu que o dito cujo descia as escadas do dormitório masculino notou que seu estado não melhorava nada.

Ela tinha que escrever aquilo? O que dera nela para fazer algo tão estúpido? Se aquele papelzinho caísse nas mãos de Tiago, e então ele juntasse as peças (a caligrafia de Lilian era inconfundível) então ela podia dar adeus à sua defesa pessoal, que demorara tanto tempo para construir.




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