Cruciatus!



É irônico pensar que Harry Potter tinha razão. Ao tentar evitar que Rony e Hermione o acompanhassem em sua busca pelas Horcruxes o que ele mais temia era que Voldemort se aproveitasse dos laços de amizades que os uniam para machucá-lo. Agora ele estava ali, com Luna e Neville e alguns membros remanescentes da Armada de Dumbledore, iniciando um ataque desesperado a antiga mansão dos Riddle, onde o lorde mantinha seus dois grandes amigos sob custódia.


Luna e os outros já ficaram mais atrás, lutando bravamente contra os comensais que protegiam os portões de entrada. Voldemort aguardava a chegada da sua presa pacientemente no quarto que um dia fora de seu pai. Uma sala antes, um dos comensais da morte protegia a única entrada para o local. Era uma figura alta, poderosa, imponente, e que até que seria bonita, se 14 anos em Azkaban não tivessem roubado toda a sua beleza...


Os garotos entraram no salão e miraram aquele rosto com uma mistura de ódio e nojo. Belatriz Lestrange, pelo contrário, sorriu para eles:


- Olá garotos, vejo que tem sérias pretensões de enfrentar o poderoso Lord das Trevas, tolices típicas da juventude...


Harry e Neville nem se deram ao trabalho de responder. Enfurecidos, dispararam seus feitiços em direção a bruxa, que desaparatou, escapando facilmente. Ela reapareceu exatamente no meio dos dois garotos e se divertia quando comentou:


- Onde estão seus modos meninos? Será que aquele velho caduco do Dumbledore não ensinou boas-maneiras a vocês? - ela perguntou


Os olhos de Harry e Neville se encontraram, e pareceram ter a mesma idéa. Eles rapidamente levantaram suas varinhas e enfeitiçaram a bruxa, que estava aparentemente distraída. Belatriz aparatou uma vez mais, surpreendendo os garotos e fazendo com que seus feitiços fossem de encontro um ao outro.


- Por favor, não me digam que vai ser tão fácil assim – disse a bruxa levemente entediada quando reapareceu próxima a porta que os separavam de Rony e Hermione


Harry se dirigiu até Neville e o ajudou a levantar. O garoto falava com um pouco de dificuldade, mas estava definitivamente bem.


- Harry... – murmurou o garoto – nós não podemos perder tempo...


- Eu sei, mas precisamos passar por ela e...


- Tive uma idéia – interrompeu Neville – vá na frente, eu fico aqui para lutar com ela, você precisa ir, ajudar...


- Mas Neville eu não sei se é uma boa idéia e... – respondeu Harry apreensivo


- Eu tenho que fazer isso – disse Neville se levantando totalmente – é você precisa ajuda-los, ninguém sabe o que ele pode fazer, ele pode tortura-los, machuca-los...


- Mas, mas... – falava Harry


- Ele esta com ela cara – disse Neville segurando Harry pela camisa – ele vai matar a Hermione!!! Matá-la!!! Você tem noção do que é isso? Você realmente sabe o que isso significa?


A atitude mais sensata e lógica que Harry deveria tomar era impedir Neville de fazer algo tão tolo e arriscado. Mas a determinação naqueles olhos lhe dizia outra coisa. Lentamente, Harry concordou com o plano de Neville


- Lance seu feitiço primeiro Harry! – falou Neville.


Seguindo o conselho do amigo Harry atacou a bruxa. Assim que ela desviou do ataque de Harry, Neville gritou “Impedimeta!”, paralisando-a por um tempo suficiente para que Harry alcança-se a porta.


- Garoto insolente... – disse Belatriz se recuperando e correndo atrás de Harry, que havia acabando de atravessar a porta.


- Colloportus! – gritou o garoto trancando a porta – desista Belatriz, eu serei seu adversário!


- Porque toda essa pressa em morrer querido? É por causa daquela trouxa da sua mãe?


Embora tentasse esconder, uma fúria maligna tomou conta de Neville. A bruxa sorriu satisfeita quando percebeu e acrescentou:


- Tudo bem menino, vou me divertir um pouco com você, e depois ajudar meu mestre a acabar com aquele idiota do Harry Potter


A luta já começou desequilibrada. Embora tive uma força de vontade maior do que qualquer coisa, era evidente que Neville estava cada vez mais distante de vencer. Enquanto ele fazia um esforço cada vez maior para escapar dos feitiços, chegando até mesmo a ser atingindo por alguns, Belatriz ainda estava tão intacta quanto o começo da luta, chegando a manter a mesma cara de tédio


O mundo de Neville desabou quando uma luz atingiu com tal força o joelho do garoto que ele desabou no chão. A bruxa se aproximou, embora estivesse com uma expressão diferente agora. Uma cara demoníaca, um espécie de prazer homicida estampado no rosto


- Dói não é? – disse ela se abaixando, e sussurando no ouvido do garoto – Não se preocupe, ainda vai doer bem mais... “Crucio!”


A dor conseguia ser ainda maior que a anterior. Tomando seu corpo, centímetro a centímetro, de maneira tão profunda que chegava a atingir a sua alma. Ele agora só pensava em desistir, em fazer algo, alguma coisa, qualquer coisa, para que a dor parasse...


-“Desistir?” - Neville se pegou pensando quando a bruxa finalmente cessou o feitiço - Não, não dessa vez. Meus amigos... meus pais... eu ainda.. eu ainda não vinguei meus pais.. eu vou me levantar, eu preciso me levantar! Lentamente o garoto saiu do chão, tentando recuperar um pouco do ar que parecia ter se esvaziado de seus pulmões. Com um sorriso nos lábios, Belatriz falou:


- Muito bem - ela disse deixando as palavras se perderem no ar - vejo que você é tão resistente quanto seu papai e sua mamãe, o que vai tornar as coisas muito mais interessantes...


Essas palavras mexeram com alguma coisa no fundo da alma de Neville. De repente, todo o ódio que pulsava em seu coração explodiu, na forma de um poderoso feitiço que atingiu Belatriz em cheio.


Finalmente a luta estava começando a ficar equilibrada. A fúria que pulsava nas veias do garoto lhe dava forças para atacar cada vez mais e mais, e a resistir as feridas. Belatriz se concentrava mais agora, buscando brechas entres os ataques constantes de Neville para contra-atacar.


Após uma série particularmente longa de ataques e contra-ataques a bruxa tomou uma considerável distância do garoto e falou:


- Aluminatti!


O feitiço explodiu centímetros antes de atingir o rosto de Neville, brilhando em perigosas fagulhas douradas que o cegaram temporariamente. “Mantenha o foco nela, não a perca de vista” sua cabeça o obrigava a raciocinar quando um estalinho seco confirmava o mais temor do garoto. Belatriz desaparatou, e ele podia sentir a armadilha se completando. “Vamos, vire-se, rápido, ela vai aparatar atrás de você” foi seu último pensamento antes de uma maldição explodir com força em seu peito...


Pela segunda vez na vida a mente do garoto ficou livre e bem-aventuradamente vazia e uma sensação de bem-estar tomou conta do seu corpo. Seus olhos não ardiam mais, seu joelho esquecera-se de doer e ele sorria abertamente. Belatriz também sorria, havia dominado o garoto


Uma voz feminina doce, quase sensual, sussurrava no ouvido de Neville. Um sussurro que pareceu ecoar dentro da sua cabeça agora vazia:


- Ajoelhe-se e peça perdão por se atrever a enfrentar o lorde querido...


Seus músculos estavam prester a obedecer o comando quando uma outra voz falou em sua cabeça. Feminina igual a primeira, embora essa fosse calma, serena... quase que angelical:


- Por que se ajoelhar hein Neville? Que coisa mais idiota para se fazer! Se ela quer tanto que alguém ajoelhe... ora, ela que se ajoelhe sozinha não é mesmo?


Neville se permitiu um sorriso. A segunda voz tinha razão, não havia motivos para isso. Inconscientemente ele concordava com a segunda voz quando a primeira falou com um pouco mais de insistência:


- Vamos garoto...


- Hum, não, definitivamente não. Estamos bem assim não é Neville? – Defendeu a segunda voz, com convicção


- Agora!!!! – Berrou a primeira voz perdendo todo e qualquer traço de sensualidade. Ela agora era aguda, nociva, tão forte que parecia querer rachar a cabeça do garoto ao meio. A dor era excruciante, intensa. Uma série de imagens rápidas e difusas começaram a aparecer em sua mente... Lá estava ele com menos de um ano de idade brincando com Perks, seu antigo cachorrinho de estimação... Agora um pouco mais velho, recebendo sua carta de admissão em Hogwarts... Hermione sorria para ele, tinha feito um feitiço realmente bom nas sessões da AD... O rosto redondo e meio infantil de sua mãe apareceu, dando aquele meio-sorriso vacilante que ela exibia todas as vezes que ele a visitava no hospital St. Mungus... Esse pensamento o encheu de alegria e fúria ao mesmo tempo. Retomando brevemente a consciência ele falou, berrando a plenos pulmões:


- Me deixe em paz!


- “Me deixe em paz?” - repetiu Belatriz com um tom de ironia na voz - É uma pena sabe, estava começando a me divertir com você... Estive pensando em torturá-lo, como fiz com aquela trouxa da sua mãe, mas... Chegou a hora de pararmos com essa besteira de brincar de bandida e super-herói. Essa é a vida real moleque, e os mocinhos não vencem no final! Olhe para mim e sorria para a morte Longbotton... - e dizendo isso ela aparatou, visando surpreender o garoto uma vez mais.


Fica difícil definir quando é que a cara de Belatriz Lestrange registrou o maior espanto. Se foi quando ela voltou da sua aparatação, mirando o aposento completamente vazio onde deveria estar Neville Longbotton ou quando esse mesmo Neville apareceu as suas costas, pegando-a completamente desprevenida. Embora sua mão tremesse, ele a manteve firmemente pressionada contra o corpo dela quando gritou: “Expelliarmus!”


A bruxa voou a alguns metros de distância, batendo com força na parede oposta do salão, sua varinhacaindo junto ao corpo. Ela respirava ruidosamente, arfava. Uma mistura que ficou ainda mais inusitada quando ela começou a gargalhar freneticamente. Era uma risada fria, demoníaca, sem sentimento algum:


- Um feitiço para desarmar Longbotton? – ela ainda gargalhava com aquela mesma expressão fria - Você é mais parecido com Harry Potter que eu pensei... Tão idiota... tão fraco... “nobre” demais para usar a maldição da morte. Você teve uma oportunidade única de matar garoto e você ainda pensar em me desarmar? Mas não se preocupe, esse duelo termina aqui... e agora!


Ela levantou com uma velocidade assustadoramente rápida e pegou sal varinha. Tomada por uma fúria totalmente descontrolada ela começou a correr em direção ao garoto. Com a varinha em punho e a idéia de mata-lo fixa na cabeça. Foi então que ela levantou o braço e gritou:


- Avada Kedrava!!!


Neville fitou aquele feitiço em sua direção. Embora estivesse frente a frente com a morte sua cabeça raciocinava de maneira surpreendentemente clara. Ele se abaixou para desviar da maldição e teve uma idéia. Mirou nas pernas da garota enlouquecida a sua frente e gritou:


- Férula!!!!!


Grandes cordas, grossas como carvalho, enrolaram-se com força nas pernas de Belatriz. Perdendo seu ponto de apoio, o restante do seu corpo começou a desabar, como um castelo de cartas, e sua cabeça bateu com força no chão.


“É agora” pensou Neville, iria vingar seus pais. A bruxa que mandou os seus pais para o manicômio, a bruxa que arruinou a infância que ele não teve ao lado dos pais, a bruxa que matou centenas em nome de um tirano estava ali na sua frente, e ela teria que pagar. O ódio tomou conta de Neville, um ódio maior do que se pode imaginar, um ódio tão nocivo que parecia corroer a alma de Neville. Tomado de rancor e fúria, ele gritou: “Crucio!!!!!!!!!”


Belatriz Lestrange sabia o que o garoto ia fazer segundos antes de acontecer. Ela tentava se levantar quando percebeu a raiva contida naqueles olhos. Um tremor de apreensão tomou conta da garota. Seria medo? Claro que não, ela logo se reprendeu. Ele era apenas um garoto, e ela a mais leal dos comensais da morte! E por maior que fosse o ódio dele, raiva justificada nem faz doer por muito tempo mesmo...


Como estava enganada.


Era como se mil agulhas afiadas entrassem em cada célula do corpo de Belatriz. Dilacerando sua pele, seus olhos, sua mente, em um torpor que nublava seus pensamentos. Um grito de agonia escapou de suas cordas vocais, uma tentativa vazia de verbalizar a dor que agora a dominava. Ela simplesmente gritava, gritava e gritava...


Neville queria que a ferida aberta por Belatriz ao enviar seus pais ao manicômio fechasse com a sua vingança, mas ela não fechava. Ele queria, ele lutou.. mas ao ver a garota ali, se debatendo em agonia e dor, o vazio de ter toda uma juventude longe dos pais não diminuía...


Lentamente, os gritos de Belatriz pararam de fazer sentido. O desejo ardente de vingança parecia agora distante. Perdido em seus pensamentos, ele lembrou de sua mãe e da vontade estar ao lado dela. Uma lágrima indevida rolou pela sua face...


Uma outra voz agora ecoava na cabeça de Neville. Parecia tão celestial como a outra, embora fosse um pouquinho diferente...


- Neville, não por favor...


- Eu sei que ela merece, mas, mas...


- Seus pais Neville, eles nunca iriam...


- Neville!!!


Com um choque, ele voltou a realidade. Belatriz ainda se debatia em agonia e uma garota o abraçava com força, pedindo para ele parar de torturá-la. Ele reconheceria aqueles cabelos em qualquer lugar, era Hermione.


Ele suspendeu o feitiço, mas Belatriz ainda tremia febrilmente no chão, murmurando palavras tolas e sem sentido. Neville abraçava Hermione com força, sentindo o calor daquele corpo que ele sabia que nunca seria dele. Fez-se um momento sereno, uma paz que enchia de calor e esperança o coração de Neville


Porém, quando tudo parecia que tinha chegado ao fim, ele abriu os olhos e teve uma visão de gelar os ossos...


Com muita dificuldade, uma debilitada Belatriz tinha andando em direção a sua varinha. Seus cabelos desgrenhados e seus olhos esbugalhados não eram mais assustadores que a determinação diabólica que ela trazia no rosto. Ela mirou as costas de Hermione e lançou seu feitiço. Rapidamente, Neville protegeu a garota e gritou “Estupefaça”...


Suave como uma brisa de verão, o feitiço atingiu o garoto no peito...


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