Voltando para casa.



Como o quarteto acabou por descobrir, controlar as mutações que a animagia implicava não era tão fácil quanto Sirius e Pettigrew fizeram parecer durante o episódio na Casa dos Gritos, seis anos atrás. Muitas vezes certas transformações ocorriam de forma involuntária. Mais de uma vez a cara de Rony se encheu de pêlos negros durante uma discussão com Hermione, que passava a emitir raios pelo corpo quando se zangava.


Max, pelas três semanas que se seguiram, os fez treinar transformação voluntária completa durante a tarde e transformação voluntária parcial durante a noite.


Disse que os nomes dos animais que Gina e Hermione se transformavam eram, respectivamente, Leão Coreano e Raiju.


Lá pelo meio da segunda semana as transformações involuntárias pararam e nenhum deles tinha mais dificuldades em assumir sua forma animal e voltar para a forma humana. Assumir transformações parciais era de uma forma proporcional, útil e difícil. Fazer com que apenas uma determinada parte do seu corpo se transformasse requeria concentração e Max era nada menos do que perfeccionista. Até mesmo Hermione encontrara certa dificuldade, mas perante os incentivos de Harry para que se esforçassem foram muito mais do que suficiente para fazer com que todos, até mesmo Rony, dominassem a técnica com perfeição ao fim da terceira semana.


 


Finalmente, contente com o resultado do quarteto Max passou os próximos quatro meses em meio a intermináveis lições e ferozes duelos que travava com seus pupilos. Uma lista infindável de feitiços, azarações e maldições eram todas utilizadas em duelos onde era cada um por si. A vantagem desses duelos era que os quatro alunos aprendiam a utilizar o terreno a sua volta como arma e proteção. Muito embora dessem tudo de si em tentativas de derrotar o professor, este tinha a vantagem de poder entrar em suas mentes, prever seus movimentos e contra atacar com tal eficiência que antes mesmo que terminassem seus ataques alguma falha já fora encontrada e a retaliação vinha impiedosa.


Por mais que possa parecer que Max era invencível aos quatro a verdade era que ele dava tudo de si para tentar mantê-los longe e a sua única vantagem era sua legilimência quase perfeita. A prova real disso foi quando, em treino memorável, Rony arquitetou um plano quase perfeito que o obrigou a esperar e usar de sua própria forma animaga, um dragão, para impedir que Harry desse o golpe final e ainda assim teve sua camisa brutalmente rasgada por uma sucessão de chutes e joelhadas e um dos muitos feitiços novos que os quatro aprenderam com extrema rapidez. Max jamais, em toda sua longa vida, ensinara a alunos com tanta vontade de aprender, tanta motivação, tanta energia, tanta paixão.


 


Após os quatro meses previstos e sem aparente necessidade de mais tempo a se perder com o quesito eficiência em duelo, Max tocou no assunto que Harry temera desde a leitura do testamento do diretor. Mas esse temor era acompanhado pela ansiedade de aprender o que Snape usara para humilhá-lo após matar Dumbledore, mesmo que não houvesse mais ninguém para ver, ser derrotado daquela maneira pelo homenzinho mais desprezível que conhecera em sua vida fora mais humilhante do que se tivesse ocorrido na frente de todos.


- A oclumência é uma coisa exageradamente simples e exageradamente difícil ao mesmo tempo. – Começara Max. – Tudo que deve ser feito é sentir. Quando o inimigo invade a sua mente e não é bom em dominá-la é possível sentir, com sutileza, a sua presença. Façam o seguinte: Imaginem um girino no meio de uma bacia de água. O girino é o invasor e a água é a sua mente. Me digam, se a água pudesse sentir o girino e expulsá-lo dali ela não o faria com extrema facilidade? É mais ou menos assim com a mente de vocês. Agora, vocês não vão se deparar apenas com amadores, pelo que sei, Voldemort é um exímio Legilimente, e o maldito assassino de Dumbledore também, assim como outros de seus servos mais poderosos. Forçar a entrada na mente deles pode ser um passo mais próximo da vitória de uma batalha e se proteger da entrada deles nas suas mentes pode ser um passo mais longe de uma derrota.


Dois longos e cansativos meses de incessantes ataques mentais produziram resultado excelente nos quatro. Como esperado Hermione dominou as técnicas oclumentes e legilimentes mais rápido que os outros, como inesperado Rony o fez com diferença de dois dias. Harry, logo após Rony, conseguiu cinco dias após o amigo. O problema foi Gina. Segundo Max, ela e Harry teriam uma pré-disposição natural a encontrar dificuldades nessa área, mas ela não havia superado tal dificuldade tão rápido quanto Harry. Diante de promessas de que treinariam Max resolveu não atrasar mais ainda o cronograma de treinamento e passou para o penúltimo estágio do treinamento.


 


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Desde o dia em que passaram a ter permissão para entrar na casa de Max, Rony passava todos os momentos livres e de descontração com Harry e suas divertidas partidas de xadrez-bruxo com o conjunto de Max, que simulava uma das guerras mais famosas da antiguidade, a de Alexandre, o Grande contra os egípcios. Max não deixou de notar que Rony tinha prazer em montar as mais elaboradas estratégias. Harry não era nenhum bobo em xadrez-bruxo mas, apesar de aprender a se defender dos ataque anteriores, era sempre derrotado por uma nova jogada inventada na hora pelo amigo.


Esse talento fez com que o rapaz destacou-se na penúltima matéria de estudo antes da volta para a casa: Planejamento e Estratégia.


Max deu-lhe livros que retratavam as velhas guerras do modo que realmente aconteceram. Roma só dominou tantas outras nações por que tinha bruxos talentosos leais a César e a Roma. A engenharia das pirâmides não saiu da mente de um homem comum e elas também não foram erguidas puramente pela força dos braços de milhares de homens e escravos, tampouco a Muralha da China. A presença dos bruxos estava entre os trouxas e nenhum deles imaginava a sua existência.


As aulas de Planejamento e Estratégia foram a primeira matéria teórica em que Rony superara Hermione. Se o namoro não os tivesse tornado tão mais tolerantes um com o outro talvez esse tivesse sido o motivo de nova briga colossal. Felizmente, o namoro segurou as pontas do ego de Hermione e do orgulho próprio de Rony e evitou brigas desnecessárias.


Uma semana foi o necessário para fazer com que Rony decorasse as melhores formas de abordar um prédio inimigo, as dez melhores estratégias em campo de batalha, o que fazer em diferentes tipos de clima, a relação entre água; alimento; condições do equipamento e distância de casa, e como coordenar o ataque à fortaleza inimiga.


Max, vendo que Rony seria o melhor nisso mesmo que puxasse o treinamento para os outros três resolveu que só cobraria dele os melhores resultados e afrouxou as rédeas dos outros. Não ouve reclamação. Rony adorava as aulas e os outros não faziam questão.


 


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Terminadas as aulas de Rony, Max resolveu que não poderia mais adiar o momento que viria à seguir. Já acontecera de nenhuma arma se adequar ao pupilo mas eles não poderiam passar por ali sem tentar, não com tanto peso nas costas.


- Harry! – Chamou o velho mestre.


- Sim, Max.


- Chame os seus amigos e me acompanhem.


Harry, mais do que rápido, subiu e ficou feliz de encontrar todos no quarto de Hermione. Estudando os velhos feitiços. Max retornara à carga de duelos constantes e agora era constantemente atingindo, mesmo levando em conta os anos a mais de experiência.


- Gente! Max está nos chamando lá embaixo. Ele parecia sério.


A reação foi imediata. O rosto descontraído de todos se fechou e uma determinação ardente tomou os olhos dos amigos de Harry e de sua namorada. Era sempre assim, em cada nova lição.


Desceram e o acharam sentado.


- Estamos aqui Max. – Anunciou Harry.


- É, qual vai ser a nova? – Adicionou Rony.


- Sentem-se e tenham calma. Hoje não vai haver duelo. Tive medo desse dia durante o tempo em que os treinei mas vejo que não há mais motivos e muito menos assunto para adiar aquilo que precisa ser feito.


- Cruz credo! – Sussurrou Gina. – É difícil assim?


- Já passamos por coisas difíceis antes Max, pode mandar. – Hermione disse.


- Certo. Uma explicação meio rápida. Essa ilha, como já foi dito foi habitada por bruxos e guerreiros, nem todos eram bruxos, nem todos eram guerreiros, alguns eram os dois e todas essas pessoas viveram muito tempo aqui, muitos e muitos anos. Mas a morte chega para todos, não importa o quanto você tente evitá-la. Todos sabíamos disso mas queríamos viver o suficiente para transmitir nosso conhecimento. Eu e Dumbledore éramos os últimos aprendizes vivos da nossa turma. Fomos escolhidos a dedo pelos maiores da antigüidade. Bom, como em toda boa escola sempre tem alguns alunos que sobressaem dos demais e na nossa turma não foi diferente. Grindwald era o melhor e era seguido de perto por Alvo. – Harry olhou para Hermione mas essa parecia tão surpresa quanto ele. – Eles eram bons amigos. Durante anos e séculos depois da morte de nossos mestres vivemos aqui, em paz, entre os nossos. No passado nos ensinaram filosofia como maneira de ver que o mundo em que vivíamos antes não era o melhor lugar para pessoas mais poderosas que o normal. Grindewald nunca parou de estudar, sempre enfiado nos livros dos nossos velhos mestres. Alvo não ficava atrás. Mas a mente de Grindewald foi ficando podre por dentro. Nunca soubemos quando as idéias dele começaram a surgir por que ele não dava pistas, era dissimulado como um serial killer, nega a culpa até a morte e esconde emoções tão perfeitamente que é impossível imaginar que o culpado seja realmente aquela pessoa. Mas o fato é que em dado momento ele anunciou que partiria e pediu que não nos preocupássemos por que assim que terminasse o que tinha para fazer voltaria. Acontece que ele saiu e iniciou a segunda guerra mundial. A mente dele queria dominar, ele tinha seguidores e até mesmo um discípulo não-oficial. Logo depois dele, Dumbledore partira também: “A ilha já não é o bastante para mim” Ele disse. E foi ele que acabou com os planos de Grindewald no mundo de vocês. Logo que foi liberto de sua prisão, o alemão Hitler tentou prosseguir sozinho com a guerra mas acabou por se matar. Grindewald, furioso, escapou com seu discípulo e voltou até aqui, querendo saber qual de nós acabaram com seus sonho de um mundo novo, um mundo governado pelos sábios e fortes. Ele era forte demais. Quando somente eucontinuava de pé ele chegou, imponente, com a varinha apontada para Grindewald.


Dumbledore ficou furioso com os corpos no chão, seus amigos, seus irmãos. Lutou até a morte de Grindewald com uma fúria que eu nunca tinha visto. Fui salvo e Grindewald foi morto naquele dia.


- Nossa. – Disse Gina. – Essa foi a real história da luta entre Dumbledore e Grindewald?


- Foi como aconteceu. Eu estava lá.


- Mas o que isso tem haver com essa nova matéria? – Perguntou Hermione.


- Tudo Hermione, por que os pensamentos de Grindewald não surgiram do nada. Foram disseminados pela arma dele. Quando e se elas lhes escolherem eu temo que elas possam transformar-lhes em pessoas que vocês não são. Grindewald era inteligente e foi fraco o suficiente para se deixar levar.


- Então a questão não é poderio mental e sim resistência de caráter e eu posso garantir que nenhum de nós vai deixar falhas desse tipo acontecerem. Por outro ângulo, Grindewald não amava realmente ninguém, não tinha nada a perder. Nós temos tudo a perder. – Disse Harry, olhando no fundo dos olhos de Gina.


Depois de algum tempo em silêncio, Max disse:


- Você me convenceu Harry, os fatores são determinantes e acho que você são suficientemente diferentes do maldito assassino para passarem por isso com muito mais facilidade do que eu mesmo passei. Sigam me.


Max guiou-os por corredores e mais corredores, algumas escadas e mais alguns corredores. Passaram por lugares que nunca haviam passado antes e todos lembraram, saudosamente de Hogwarts, tão cheia de segredos que mesmo que passassem uma década procurando ainda faltaria alguns para achar.


Finalmente, pararam em frente a uma porta de madeira lustrosa que brilhava tanto que o quarteto achou estranho com tão pouca luz.


- Vão. Isso não deve demorar muito.  Max se virou e foi embora. Confiava que achariam o caminho.


Harry abriu a porta que estava na sua frente com um leve toque. Sua boca só não abriu mais por que já tivera visão parecida no cofre dos Black. Um assovio de Rony anunciou que ele também já vira e a súbita parada de respiração de Hermione e uma eufórica inquietude de Gina tomaram conta de suas percepções.


Estavam em uma sala enorme que tinha as paredes cobertas pelos mais variados tipos de armas brancas. Desde facas longas e lanças até pesados machados e arcos enfiados em suas respectivas aljavas de flechas.


Hermione não tardou em notar que havia três espaços vazios na sala. Harry, Rony e Gina logo foram examinar as armas que achavam mais belas.


Minutos haviam se passado e ainda faltavam muitas armas para serem vistas, mas Hermione não conseguia manter a concentração, algo chamava sua atenção, um chamado irresistível, que parecia puxar sua alma de seu corpo e o impulso de segui-la era grande demais. Desviou o olhar da belíssima espada de duas mãos que estava ocupada em examinar. Olhou para a parede oposta à parede da porta pela qual entraram. Mas o que estava olhando? Havia várias armas ali.


- Hermione. – Uma voz sussurrara. Uma voz feminina.


- Gina, você disse alguma coisa?


- Hãn? – A resposta da garota foi meio desnecessária. Hermione notara que ela admirava a mesma arma desde o momento que entrara, uma espada de lâmina fina.


- Hermione. – Novamente o sussurro. Rony e Harry não seriam capazes de imitar voz tão delicada nem que tentassem. A resposta veio como um relâmpago. Havia mais alguém na sala. Hermione fechou a sua mente e gritou:


- Tem mais alguém aqui! Preparem-se! – Ninguém pareceu ouvir. Todos concentrados demais nas armas que observavam.


- Hermione. – O maldito sussurro novamente. Hermione perdeu a paciência. Tinha sido a melhor em legilimência, poderia achar a sentir a presença de qualquer consciência dentro da sala se expandisse o alcance de sua mente. Quando o fez se assustou. Não havia só quatro ou só cinco consciências na sala, mas quase uma centena. Encolheu sua mente novamente. A compreensão a atingiu como uma laranja sendo atirada pelos Gêmeos Weasley n’A Toca, anos atrás. Aquelas armas pensavam, tinham uma personalidade nelas, ou será que aprisionadas dentro delas?   


- Hermione. – Novamente o sussurro. Dessa vez Hermione rastreou a origem do pensamento e chegou naquela parede. Viu na sua frente que a origem dos sussurros era um arco, feito de madeira desconhecida e com adornos em prata. Sua aljava era feita de couro de dragão, aparentemente. As setas da flechas foram forjadas em forma de agulha, finas o bastante para entrarem pelo ouvido de alguém mas resistentes o suficiente para perfurarem armaduras. A tensão do arco estava amarrada, coisa que Hermione achou estranha, afinal aquelas coisas partiam se passassem muito tempo com a tensão. Aquele fio também não era comum, parecia prata mas tinha um brilho diferente, parecia reluzir até mesmo sem luz ou coberta pela sombra, um brilho sobrenatural.


Hermione hesitava em tocar no arco mas era como dar banana para um macaco faminto. Irresistível. Assim que tocou na madeira do suposto arco sentiu algo novo. Seu coração falho um instante só para recomeçar a bater de forma acelerada e todo o seu bom senso se esvaiu quando a consciência que habitava naquela arma invadiu sua mente.


Viu uma bela mulher, sentada, cantando enquanto acariciava a fronte de seu filho, os olhos dela e do menino eram azuis e tinha um brilho sobrenatural, assim como seus rostos. Orelhas pontudas despontavam, escapando do cabelo. O amor que a mulher sentia pela criança era palpável até pela lembrança que a consciência lhe mandava. A imagem mudou. A mulher corria pela cidade em chamas mais rápido que os olhos podiam acompanhar. Seus pés mal tocavam o chão e o vento parecia carregar todo o seu peso. Inesperadamente, um bando de seres escuros e atarracados, seus rostos tomados por deformações grotescas e por marcas de guerra, saíram da escuridão, querendo enfrentá-la. Sem tempo a perder a mulher dá um salto extraordinário por cima das cabeças dos seres que Hermione não conhecia e volta a correr. Os inimigos tentam, mas não tem esperança de acompanhar o ritmo da mulher. Ela corre por mais meio minuto, lágrimas começam a descer do rosto quando vê sua casa, a porta destruída e o corpo de três dos seres-que-Hermione-não-conhecia estirados na porta, flechas de penas brancas nas gargantas dos infelizes. Ela corre para dentro, talvez tivessem conseguido. Por menor que fosse a esperança, esse pensamento deu-lhe forças e ela entrou. Outros cinco corpos, flechas atravessando armaduras negras. Ainda sem os corpos de quem precisava encontrar. Atravessou o cômodo, foi para o quarto. Dez corpos estavam ali, uma espada prateada e quebrada estava no corpo mais próximo do seu amado, o arco que Hermione tocava neste exato momento estava por cima do corpo desfalecido do belo homem que lutara tão bravamente. A mulher só chorara quando achou o segundo corpo que procurava. Um garotinho, de olhos vidrados e arregalados pela dor. Uma lança negra atravessava sua barriga. A consciência de Hermione chorava e ela também. A imagem mudou novamente. A mulher caminhava a passos largos, o arco do marido em suas mãos, a corda esticada e uma flecha em posição. As roupas dela não eram as mesmas. Eram de couro e surradas, indicando uma viagem muito longa e difícil. Um homem, alto, e com a face coberta por um capuz negro estava afastado uns vinte metros e já avistara a mulher, sacou a espada e correu na direção da mulher. A primeira flecha o acerto em cheio no peito. O homem cambaleou mas não diminuiu o ímpeto da corrida. Dez metros percorridos. A segunda flecha zuniu no ar e o atingiu na barriga. Dessa vez ele parou e se ajoelhou. O triunfo e até uma ponta de insatisfação tomou o rosto da mulher e ela se virou para seguir o seu caminho, sua vingança concluída. Mas o inimigo ainda não estava morto. Com as últimas forças, o homem vestido de negro atirou sua comprida espada em direção às costas da mulher. A arma encontrou seu alvo e fez seu papel mais rápido que as flechas e ambos morreram ao mesmo tempo.


Hermione soltou o arco assim que percebeu a consciência lhe devolvendo o controle do próprio corpo. Mas ela não a deixou completamente. Alojou-se em um pedaço da sua mente e permaneceu quieta, emanando ondas de paz. Hermione sabia que não devia temer mal algum da consciência.


“Eu sou Govannion”


 


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Quando Gina entrou na sala sentiu imediatamente uma força fora do comum rondando sua mente. Analisou por um instante uma comprida espada que parecia ser muito pesada para ela. A “força” que a rondava cutucou em sua mente, forçando-a a desviar o olhar. Gina olhou ao redor, vendo se algum dos seus amigos era responsável pela brincadeira. Ninguém se concentrava nela, como sabia ser necessário para aquilo e a “força” continuava a rondá-la. Novo cutucão mental. Dessa vez Gina não foi rápida para erguer defesas. Gina perdeu o controle com seu próprio corpo pela primeira vez desde que Harry a salvara do diário de Riddle no seu primeiro ano.


Não era nem de perto tentador, deixar que algo fizesse aquilo novamente mas, como antes, ela não achou forças para resistir, nem tampouco a entidade achou para fazê-la obedecer. Inesperadamente, uma voz falou em sua mente:


- Não tenha medo de mim criança. Não lhe farei mal.


- Foi exatamente isso que me disseram na última vez que estiveram na minha mente. Retire-se ou, juro por deus, eu vou queimar sua consciência!


- Não há o que queimar pequenina. Sou apenas o reflexo pálido da grande guerreira que me empunhou. Você me lembra dela, por isso te escolhi.


- Quem foi ela? – Perguntou Gina, que tinha se acalmado.


Para ela, a voz exalava confiança e sinceridade que Riddle não poderia ter demonstrado em suas mentiras.  


- Deixe-me lhe mostrar. Siga a fonte da energia que emprego para falar com você e toque no meu corpo.


Gina hesitou por meio segundo mas seguiu a fonte. Dez passos à esquerda e mais três para frente. Estava olhando para uma espada de lâmina fina, um florete de aparência frágil, com o cabo dourado e uma guarda de mão muito bem trabalhada. Lentamente Gina ergue a mão e segura o cabo da espada. Gentilmente e com delicadeza, a “força” empurrou imagens na cabeça de Gina. Gina viu uma mulher de cabelos vermelhos galopando sabre um corcel negro e ao seu lado um homem alto e forte montando um animal baio, logo atrás deles um número enorme de cavaleiros se estendia. Galopavam a toda velocidade em direção à batalha. O número de cavaleiros era grande mas o de inimigos a pé era ainda maior. Apesar da bravura que demonstravam os combatentes as hordas de inimigos não eram mais intensas. A imagem mudou. A mulher ainda erguia a espada e o homem ao seu lado não era menos valoroso no combate mas os números estavam reduzidos. O sol se punha. Muitos amigos estavam mortos. Continuaram a lutar, o músculos ardendo, o ar chegava em rajadas abrasadoras. Um inimigo após o outro. Um ferimento no ombro da mulher e outro na coxa do homem. Sangue e movimentos limitados. Outra imagem. A noite já ia alta. Estavam acuados e em número estupidamente menor. Ainda mantinham a clareira ao redor do reduzido contingente de guerreiros. Os inimigos sabiam de seus ferimentos e de seu cansaço mas ainda temiam a fúria e a determinação que toldavam os olhos da mulher. Arqueiros se posicionaram contra eles. Ela olhou para o homem ao seu lado. Ele já constatara a situação mas a bravura não iria desaparecer dos olhos dele enquanto o coração ainda batesse. Ela o beijou. Sussurrou algo em seu ouvido e ele disse algo de volta. O zunir da flechas deixando as cordas se fez ouvir e ambos tombaram.


Gina voltou a si e sentiu quando a consciência da espada diminuiu na sua mente e se alojou lá. Ela vibrou e disse: “Eu sou Cerridwen”.


 


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Quando Rony entrou na sala logo sentiu uma pressão colossal burlando as barreiras que tinha na mente. Ele era bom mas não como Hermione e aquela energia logo o invadiu. Quando tal força entrou em sua mente Rony pôde distinguir duas vibrações diferentes lá dentro. Max dissera-lhe que cada mente tinha uma vibração diferente e logo Rony chegou à conclusão de que havia mais de uma em sua mente.


Elas entraram e vasculharam por lá, forçando a mente de Rony a recuar cada vez que chagavam perto de detalhes dele.


- “Garoto” – Disse uma voz de trovão. – “Como espera que o conheçamos se fica se escondendo de nós?”


- “Quem são vocês?” – Perguntou Rony.


- “Somos Sköll e Hatti, filhos do grande Lobo” – Disse outra voz, tão poderosa quanto a outra.


- “O que querem na minha mente?”


- “Saber se é digno de levar-nos na cintura.”


Rony permitiu a passagem deles e passados alguns minutos a primeira voz disse.


- “Toque em nossos cabos.” – E, sem esperar permissão, guiaram o corpo do rapaz até onde estavam. Rony ficou defronte a dois machados de aproximadamente oitenta centímetros cada um. O da esquerda tinha uma gravura em alto relevo de um lobo cujos olhos eram duas pedras de safira e o corpo parecia ser feito de cristal. O da direita tinha a mesma gravura de lobo mas os olhos de rubi e o corpo do mesmo material do da esquerda, salvo que a coloração do cristal era diferente, amarela e lembrava uma chama.


As forças liberaram Rony. O garoto percebeu que tinha a opção de tocar ou não tocar. Ergueu as mãos e segurou os cabos.


Rony viu um colosso erguer-se da neve. Estava na base de uma montanha. Viu um rio e um urso pardo enorme urrando para o enorme homem. Viu-o lutando contra o urso de mãos vazias. Viu-o puxando o corpo enorme do urso e um conjunto de extensos cortes no peito dele, cinco, um para cada garra em sua pata direita. Viu-o chegar à aldeia em que vivia e ser aclamado como herói. Viu-o receber das mãos de um ancião os dois machados que segurava agora e ouvir a história de dois lobos que perseguiam o sol e a lua e que no dia do Ragnarök, estes seriam engolidos e o mundo iria acabar-se em fogo e fumaça, e que os lobos haviam lhe dado as armas para lutar pelo povo que agora governaria. A imagem mudou. Viu o homem ajoelhado, os machados manchados de sangue e o vilarejo ardendo em chamas na sua frente. Outra imagem. Viu o erguer-se da neve, como fizera com o urso. Surpreendendo soldados romanos em armaduras brilhantes. Matando a todos. Viu-o cercado por pretorianos e um homem, descendo de um trono enorme e decorado. O césar falou com ele e ele cuspiu na botas do governante. Outra imagem. O coliseu, novamente seus machados na mão. Digladiando-se contra outros presos. Até o dia em que alguém o viesse derrotar e o dedão se volta-se para baixo, assim como a voz do monstro que sempre queriam mais sangue: o povo. Viu-o atirando os machados na direção do camarote de honra do imperador e acertando-o no peito. Viu-o ser morto por lanças, ordem dada pelo filho do imperador.


Rony voltou a si. Sentiu as forças das armas se recolhendo e dizendo:


- “Nós somos Sköll e Hatti”.


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Harry, assim como Hermione, demorou a sentir a presença de algo ou alguém em sua mente, no entanto ele não tentou impedir nem ficou desconfiado de nada. Harry sabia que Max ficara preocupado por um motivo e não teria sido apenas por ficarem olhando armas antigas, resolveu permitir o contato da estranha inteligência que lhe tocava a mente. Harry sentiu quando uma única força se dividiu em duas e ambas vibraram de forma diferente. Soube de imediato que não teria apenas um inimigo em sua mente no caso das forças se mostrarem hostis. Ficou parado, concentrado para qualquer sinal que revelasse a intenção das forças. Um choque percorreu sua espinha e o alarmou. Haviam tomado controle. A atitude intimidou Harry e este reagiu imediatamente. Reuniu todas as forças que possuía e em uma única explosão forçou a retirada dos intrusos. Porém os intrusos demonstraram força equiparável bem a tempo de não serem jogados para fora.


Foi nesse momento que uma voz fria e implacável disse em sua mente:


- Calma garoto! Não lhe faremos mal. Só queríamos nos certificar de que não era tolo de deixar sua mente ser controlada sem um ás na manga.


- Isso mesmo! – Disse uma voz enérgica e sarcástica. – Não deixaríamos que um tolo qualquer empunhasse as Lâminas Gêmeas de Asgaroth.


Antes que percebesse Harry estava defronte a duas cimitarras belíssimas. A luz do ambiente posicionava-as sob sua sombra e Harry pôde distinguir um brilho prateado saído das duas lâminas. Não havia trabalho nem enfeite nos cabos, somente aquele brilho frio que inspirou em Harry admiração e que inspiraria medo e reconhecimento nos corações dos inimigos.


Sem hesitação, Harry ergueu as mãos e tocou nos cabos das lâminas e as lembranças o invadiram.


Viu um homem alto e com uma barba por fazer, deitado numa rede, dormindo. Viu quando uma dupla de soldados o acordou e, em tom de urgência, o chamaram para comparecer ao castelo do senhor daquelas terras. O homem pegou as duas espadas, embainhadas, montou em um corcel negro e cavalgou a toda velocidade. A lembrança de uma reunião, em que o homem falava sobre as desvantagens numéricas e de equipamento. Uma cidade sitiada e quinhentos soldados que se bateriam contra três mil invasores, o homem, com sua montaria negra se colocava à frente de seu contingente de número tão reduzido e fala. Palavras que incitam a coragem de seus homens, que os fazem se erguer em gritos e brados, batendo suas espadas em seus escudos de forma ritmada, um som alto que lhes atingem no coração. Lutariam até a morte, seis para um, olhos nos olhos, o bom combate. Facas de caça e espadins contra lanças, arcos e espadas. Madeira contra ferro. Até a morte. O inimigo ria de seus números. Atacariam com força total. E atacaram. A resistência foi brava o suficiente para alongar o combate pela noite adentro. Horas mais tarde poucos restavam de pé e o comandante não sofrera um único arranhão, embora não houvesse mais fôlego ao qual pudesse recorrer, vira seus soldados morrerem um a um e não pudera fazer mais nada além de lutar com mais afinco. A superioridade numérica o vencera, os últimos de seus homens não resistiriam por muito tempo e havia mais inimigos do que ele poderia dar conta. Fincou as duas armas ao chão e puxou uma velha varinha. O último sacrifício. Correu. Correu entre dezenas de inimigos, correu em direção ao centro da batalha, de onde o comandante das tropas invasoras coordenava a batalha ganha. Não soube contar de quantos golpes desviou nem quantas cabeças pulou mas chegou. Uma pontada na barriga, uma dor lancinante. Uma lança o trespassava. Ainda não estava morto. Gritou alguma coisa que nem Harry nem seus inimigos conseguiram identificar. Foi a última coisa que ouviram. Um clarão como o do sol tomou a campina e Harry voltou à realidade.


- “Nós somos Astra e Feanor”.


 


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Sem palavra, apenas com olhares os quatro amigos refizeram o caminho que  os levaria de volta à superfície. Max fez questão de examinar as mentes de cada um e por fim disse:


- Bom... Não tenho reclamações. Está na hora de dizer algo que já deveria ter dito. Está na hora de voltarem para a Inglaterra. Meus contatos lá têm me mandado relatórios perturbadores.


- O que você sabe? – Perguntou Harry.


- O sigilo da magia já não é mais tão sigiloso, ao que parece a nossa existência foi revelada aos trouxas, ficou insustentável. A Ordem da Fênix também se tornou pública, uma opção contra Voldemort. Ele está no controle. Milhares se uniram a ele, quem se negou teve que fugir, se esconder, ele está em todos os lugares. A Ordem não luta mais para impedir que ele concretize seus planos e sim para sobreviver. Estão em Hogwarts, protegem o local que recebe repetidos ataques. Aconteceu algo muito grave, não tenho mais detalhes, ao que parece meu informante morreu antes de poder me mandar outra mensagem


- Precisamos voltar ago... – Começou Gina.


- Ouçam! – Ordenou Max. – Neste momento aquelas pessoas estão sem esperanças. Quando vocês voltarem serão necessários de uma maneira diferente da que imaginam. Você não vão simplesmente começar a chacinar comensais da morte, eles não precisam de soldados, precisam de líderes. E é exatamente isso que terão que ser. Não há fardo maior do que o da liderança. Não há fardo maior do que tomar decisões que mudam as vidas das pessoas ao seu redor, pessoas de que vocês gostam, uma decisão errada pode por tudo a perder. Lembrem-se que sempre existe uma saída, pensem sempre dois passos à frente. Sacrifícios são necessários para o bem maior, mas cabe a um líder saber qual sacrifício vale mais a pena. Você serão símbolos e não armas. E eu digo uma coisa a vocês: Se, em algum momento negro, vocês desistirem de lutar, esse será o momento em que Ele irá ganhar. Agora Vão!  Já passaram muito tempo aqui, e muito tempo longe dos seus amigos. Vão, e não olhem para trás. Há uma chave de portal para Hogsmeade na sala.

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