Pais e Filhos



- Do que vocês estão rindo, amor? – perguntou um Ron curioso a Pansy, assim que a esposa chegou ao jardim com os seus três filhos às gargalhadas.

- Nada não, Ronks (1). – ela disse, entre risos. – Ewan derrubou Felicity de novo!

- Você tá bem, querida? – perguntou o ruivo à filha mais nova; aparentemente preocupado.

- Acho que quebrei umas costelas, pai... Mas não tem problema. – ela suspirou, ficando séria de repente e chamando a atenção dos que estavam próximos.

Ewan congelou quando os olhares foram da garota para ele.

- É brincadeira! – ela riu em seguida, e levou um empurrão de leve de Melissa.

Todos voltaram aos seus afazeres anteriores, que se resumiam em seguir na direção da mesa.

Ron e Pansy eram um casal engraçado. Diferentemente dos outros, eles não ficaram juntos em Hogwarts. A garota costumava ser uma idiota que babava pelo garoto Malfoy. Ron nunca havia reparado nela, eles contavam, e ela só sabia que ele existia porque Draco tinha uma certa obsessão por comentar sobre a condição financeira do outro. Mas, durante a Grande Guerra, quando Malfoy bandeou para o lado dos bonzinhos, Pansy veio junto. Talvez tenha sido pelo fato de Ron dividir o mesmo teto que ela, eles não souberam dizer como tudo começou (na verdade todos desconfiavam do motivo, já que sempre que tocavam no assunto o ruivo ficava da cor dos próprios cabelos e Pansy coçava a nuca desviando o olhar); mas depois de algum tempo convivendo juntos Ron percebeu que ela seria a mulher de sua vida e resolveu pedi-la em casamento.

Sim, eles eram viciados em Quadribol. Tanto Ron quanto Pansy não perdiam um jogo sequer dos Cannons (time que Ron descobrira ser também o preferido da loira assim que eles se conheceram – ela vestia uma camiseta laranja com o emblema do time), e Ron, cuja cabeça realmente tem boas idéias de vez em quando, pediu-a em casamento durando um daqueles jogos. Ele não sabe dizer se foi a empolgação do momento, ou o que foi na verdade, mas assim que Gregory Sampther (o apanhador dos Cannons na época) agarrou o pomo, o ruivo virou para a namorada e gritou “Pan, quer casar comigo?”, e a loira até hoje diz, em tom de brincadeira, que só aceitou pra fazer ele calar a boca e deixar ela comemorar.

Todos riam quando eles contavam essa parte.

O casal morava em uma casa razoavelmente grande no centro da Londres trouxa. Eles faziam, sem dúvida, uma família decididamente feliz. E isso refletia em seus filhos, Ewan, Melissa e Felicity. Eram os netos preferidos da Senhora Weasley, e também os sobrinhos preferidos de Fred e George (eles eram os únicos convidados a passar as férias na casa de campo que os dois tinham na França – o que deixava Ron particularmente aborrecido, já que ele nunca fora convidado).

Quando todos já estavam sentados na grande mesa (decididamente enfeitiçada), a Senhora Weasley se levantou e agradeceu a presença de todos, antes que a comida fosse servida.

- Huuum, lasanha! O meu preferido, vó! – sorriu Matthew, e recebeu outro sorriso da avó como resposta.

- Onde está o pai, mamãe? – perguntou Ginny que notara que já estava ficando tarde e o Senhor Weasley ainda não havia chegado.

- Ah, ele está em viagem de negócios, querida. – ela disse, deixando transparecer um ar um pouco cansado. – Agora que ele foi promovido, anda me deixando muito sozinha.

- Se a Senhora tivesse nos contado, viríamos sempre pra cá! – disse Harry animado, antes de enfiar o garfo com vontade na boca.

A Senhora Weasley sorriu.

- Seria muita gentileza, querido. Mas eu sei que vocês têm os seus afazeres, você é um auror de renome e mesmo com o fim da Guerra, você tem serviço a fazer. – ela disse, bebendo um gole de seu suco de abóbora.

- Eu também poderia passar aqui de vez em quando, Molly. – disse Hermione, que escutava a conversa atentamente. – Ultimamente meu trabalho tem tomado muito pouco do meu tempo e eu tenho me pego várias vezes sem fazer nada em casa.

- No que você trabalha mesmo, Hermione? – se intrometeu também Pansy, que estava anteriormente com a cabeça no ombro de Ron.

- Eu trabalho de enfermeira no St. Mungus. – ela começou. – Mas ultimamente, depois da guerra, andamos tendo muitos poucos casos no setor em que trabalho... – suspirou cabisbaixa, como se temesse que dali a alguns dias pudesse ficar sem emprego. Depois ergueu a cabeça e abriu um sorriso mínimo. – Porém eu não preciso me preocupar muito com isso, o Ministério já me ofereceu uma vaga por lá caso aconteça alguma coisa.

- Que bom! – disse a Senhora Weasley, atenta à morena. – Se quiser dar uma passada por aqui quando estiver sozinha, Mione, querida... Pode se sentir à vontade! – ela concluiu, com um sorriso. – Pelo menos podemos fazer companhia uma para a outra, imagino que Draco tem trabalhado muito, não é, querido?

- Ah, sim, Senhora. – ele respondeu depois de alguns segundos, quando percebeu que o assunto chegara nele. – Ando chegando tarde em casa, aquela sessão de Inomináveis é realmente cansativa. – ele continuou, e bebeu um gole de seu suco. – Mas pelo menos eu ainda tenho um pouco de tempo para passar com a família...

- É, isso não pode faltar. – disse Ron, aparecendo pela primeira vez na conversa. – Acho que eu não agüentaria se não pudesse ver meus filhos todos os dias! – ele sorriu, dando uma olhada de esgueira para seus filhos, que estavam próximos.

- Pai, você não vê a gente todos os dias faz aproximadamente 6 anos! – disse Melissa, que estava um pouquinho distante, indiferente, e Ron se pegou pensando no que a garota quis dizer com uma cara de toalha típica dele mesmo.

Alguns segundos se passaram e a cara de toalha continuava estampada em Ron.

- Hogwarts, Weasley! – disse Draco, indignado após perceber a confusão grotesca do outro.

- Ah, sim, Hogwarts. – Ron continuou, um pouco corado. – Mas eu quis dizer nos tempos que eles passam em casa, ora pois! – ele corrigiu, tentando não parecer tão ridículo. – É claro que eu sabia que eles vão pra Hogwarts todo ano e que eu não posso ver eles todos os dias, como eu poderia esquecer disso?

Todos riram.

- O que foi? – perguntou o ruivo, levemente irritado. – Vocês estão rindo do quê?

- Só você mesmo, Ron! – sorriu Pansy, e deu um selinho no marido, que pareceu esquecer que estiveram caçoando dele segundos antes.

Hermione, um pouco depois de conseguir parar de rir de Ron (tarefa arduamente difícil, diríamos), reparou que os filhos estavam quietos demais. Claro, não que ela esperasse outra reação.

- Adrian, você vai comer só isso? – ela perguntou ao filho mais novo, que estava sentado perto dela.

- Não estou com muita fome, mãe, relaxa. – ele disse indiferente, enquanto a mãe ainda observava o prato do filho, pela metade.

- E o que aconteceu com a sua irmã? – ela continuou, agora cochichando. – Ela parece abatida.

- Potter. E o Nathan, como sempre. – ele continuou, mexendo na comida com o garfo.

- Eles brigaram? – perguntou a morena, preocupada.

- Não necessariamente. Eles iam brigar e a Vieve entrou no meio, acho que é por isso que ela está assim, tristonha. – o garoto concluiu, com um sorriso para a mãe.

- Acho que eu vou bater um papo com o seu irmão mais tarde. E você, por favor, não os deixe brigarem muito. – ela começou, e percebeu um olhar mal-humorado no filho. – Eu não acredito que você também quer brigar com o Matt, Adrian! Quantas vezes eu já te disse que vocês são vis...

- O que foi, hein? – sussurrou Draco, entrando na conversa da mãe com o filho, enquanto os mais velhos conversavam animados e os mais novos simplesmente comiam, alguns conversando, outros não.

- Nada, pai. É só que a mamãe quer dar outro sermão no Nathan, porque o Matthew quis brigar com ele. – ele disse baixo, com desdém.

- Amor, deixa esses dois. – disse o loiro, sério. – Eles precisam aprender a parar de brigar sozinhos. Esses seus sermões chatos só vão deixar o Nathan estressado e mais arisco pro Matt encher o saco dele. Parece até que você não conhece os seus filhos!

- O que você quis dizer com isso? – ela disse, começando a ficar bravia.

- Que você acha muito em pouca coisa! Todo mundo aqui sabe que aqueles dois não se dão e no entanto ficam querendo colocar os dois juntos, é nisso que vai dar mesmo! – continuou Draco, ainda aos sussurros, enquanto Adrian apenas observava. Nathan e Genevieve perceberam o que estava acontecendo e se pegaram tentando escutar a conversa. – Escuta, em Hogwarts, eles vivem em casas separadas e são de anos diferentes, não tem problema nenhum! E além do quê, é só uma noite aqui e pronto, bebê. Relaxa, de verdade.

Hermione hesitou.

- Eu não gosto disso. Ele podia aprender a conviver com os outros, olha só a Vieve, ela convive com todos os outros tranqüilamente, porque ele não? O Adrian eu ainda não vi se metendo em muita confusão por aqui, espero que continue assim – ela olha de esguelha para o garoto, como se para checar se ele estava escutando -, mas o Nathan? Você podia ter feito com que ele tivesse um pouquinho menos da sua rebeldia idiota, né?

Dali a alguns passos, Nathan se levantou da mesa.

- Espera, Nathan... – sussurrou Genevieve, segurando o braço do irmão para não deixá-lo ir. – Não vai adiantar nada você sair daqui!

- Aonde você vai, Nathan? – perguntou Hermione, de um lugar um pouco distante na mesa, chamando a atenção de todos os outros.

- Vou dar uma volta, mãe. – ele disse virando-se e segue andando, na direção do outro lado do jardim da casa.

E todos na mesa olham para Hermione e Draco.

Hermione cora, Draco mantém o sorriso nos lábios. Adrian começa a rir, mas pára depois de receber um olhar de “Cala a boca senão você morre” da mãe.

Draco e Hermione eram um casal elegante. No entanto, sua família vivia em constantes conflitos. Eles viviam na Mansão Malfoy, que Draco herdara dos pais quando faleceram; e eram extremamente ricos graças à herança do loiro.

Conheceram-se em Hogwarts. Hermione na verdade fora o motivo mais iminente pelo o qual o loiro passou para o lado da Luz. Na metade do sexto ano, enquanto o rapaz planejava uma maneira para cumprir sua missão, ele a conheceu melhor. Ela na verdade fora um anjo para ele. Quando o encontrou no banheiro da Murta-que-geme, chorando, o ajudou. O escutou, mesmo que aquilo soasse extremamente estranho para os dois. E eles se encontrariam, nos dias seguintes, para perceberem que eram mais parecidos um com o outro do que se era possível imaginar. Assim, Draco achou conforto no outro lado. Achou uma luz, um lugar onde se apoiar, alguém para conversar. E aquilo foi suficiente, para que ele abandonasse todos os seus antigos ideais e começasse uma vida nova. Passou a morar na sede da Ordem da Fênix. Levara Pansy junto. E lá, ele e sua morena puderam concretizar o que haviam começado em Hogwarts.

Hoje em dia, eles têm filhos gêmeos e um caçula – o qual definitivamente não fora planejado, mas isso são assuntos mortos em família. Ambos se sentem extremamente orgulhosos por causa deles; que embora vez em sempre arranjem muita confusão, são aplicados, educados e inteligentes. Claro, com as cabeças que resolveram muitos dos grandes enigmas da Grande Guerra como pais, seria difícil não serem inteligentes. Mas embora tudo quase sempre estivesse bem, não era um mar de rosas.

Tinha Nathan para complicar.

- Eu vou trocar uma palavrinha com ele. – disse Draco, calmamente. Hermione ameaçou levantar também, mas foi impedida pelo loiro. – Só eu vou, amor.

A Senhora Weasley ficou aparentemente preocupada.

- O que aconteceu, Mione, querida? – ela perguntou assim que Draco partira, fingindo tranqüilidade.

- Nada, Molly. É só que estávamos discutindo a rebeldia exagerada do meu mais velho. – ela respondeu, cansada.

Matthew soltou um risinho de escárnio do outro lado da mesa, o que resultou em olhares mortais de seus pais em sua direção.

O moreno se calou e passou a observar o próprio prato, rindo mentalmente.

Há alguns (muitos) passos dali, Draco silenciosamente alcançava Nathan, que se encontrava sentado embaixo de uma árvore e olhando para o céu.

- Fala rapaz... – o loiro mais velho disse, se aproximando e sentando ao lado do filho.

- Opa. – o outro respondeu, como se soubesse exatamente o porque da companhia do pai.

- A gente precisa conversar, filho. – começou Draco, sério.

- Eu sei. – o mais novo continuou, girando a varinha entre os dedos. – Eu sei exatamente o que você vai dizer. A mamãe sempre diz.

- Eu não vou falar o que ela diz. – o outro respondeu, sorrindo. – Eu ia te dizer pra não engolir desaforo nenhum daquele Potter pirralho. – Nathan sorriu com o que o pai dissera, impressionado. – Mas por favor, pela sua mãe, deixe pra fazer isso em Hogwarts.

- Certo pai. – ele respondeu, tranqüilo.

- Assim, tão fácil? – Draco disse, levantando e estendendo a mão para o filho se levantar também. – Achei que seu lado rebelde fosse aflorar de novo.

Nathan fez uma cara de “Eu te esganaria se você não fosse meu pai”. Draco sorriu.

- Eu só estou sendo legal porque não foi a mamãe que veio aqui e berrou mil vezes a mesma porcaria. – ele disse, batendo a mão de leve nas próprias roupas para limpá-las. – “Você devia ignorar ele!” “Você é mais velho e mais responsável, devia parar com essas briguinhas bestas!” – ele continuou, numa imitação perfeita da voz de Hermione.

Draco riu, muito.

- É, então você realmente deve ter ouvido isso demais! – Draco disse, ainda entre risos, enquanto Nathan ainda brincava com a varinha. – Bom, acho melhor a gente voltar pra lá antes que sua mãe reclame... E ah, outra coisa, filho!

- Diz, pai.

- Por favor, não é pra você brigar com o Matthew mas é pra você ficar perto dos outros, eu não quero você isolado. – disse o pai, sério agora, enquanto eles caminhavam juntos de volta à mesa.

- E que diferença isso faz? – Nathan começou, levemente irritado. – Eu não me importo de ficar sozinho, se aqueles babacas não gostam de mim porque eu tenho que ficar metido no meio deles?

- Sabia que o seu lado rebelde ia aflorar a qualquer hora... – sorriu Draco, e Nathan fez cara de “Eu posso desenvolver grandes tendências a esquecer temporariamente que você é meu pai” – Não é por causa deles, filho, e tampouco porque eu me importo pelo fato de você ser anti-social... Tá, na verdade eu me importo um pouco, mas já que não tem jeito, eu aceito... O problema é a Senhora Weasley, Nathan! Poxa, eu parei pra pensar um dia desses e percebi que ela nos recebia todo ano mesmo não sendo tão bem-vindos assim, e ela gosta de vocês! – ele continuou, agora abaixando o tom de voz porque estavam se aproximando do lugar onde estavam os outros. – Me prometa que você vai ser um bom rapaz, essa noite e amanhã de manhã. E só. – ele sorriu maliciosamente para o filho, que pareceu ficar extremamente animado.

- Prometo, então. – Nathan respondeu, olhando de esguelha para Matt. – Mas aquele nojento vai levar umas em Hogwarts!

- Desconta no Quadribol, filho! – ele sussurrou com uma piscadela para o filho, e foi se sentar ao lado de Hermione novamente.

Nathan, um pouco mais animado, sentou-se novamente ao lado de Genevieve. As duas – mãe e filha - estavam curiosas para saber o que eles haviam conversado, mas a gêmea achou melhor deixar pra perguntar depois.

- E aí, amor? Conseguiu? – perguntou Hermione ao marido, preocupada.

- Fácil. – o loiro respondeu, passando a mão em sua barba mal-feita. Hermione fez cara de descrente. – Relaxa, bebê. Eu estou dizendo que vai ficar tudo certo, então não tem porque se preocupar. – ele disse tranqüilamente, e em seguida passou um braço pelas costas de Hermione e deu um selinho na esposa.

- Espero que fique, realmente. – ela suspirou em resposta.

Melissa e Felicity se cutucavam animadamente do outro lado da mesa.

- Espera, pára! Sua torta! – sussurrou Melissa, e a irmã parou, sorrindo. – O que será que o Tio Draco disse pro Nathan, hein?

- Deixa de ser xereta, Mel! – a irmã respondeu, também aos sussurros. – Ele deve ter levado uma bronca por ter brigado com o Matt, só isso, ué!

- Mas o problema é que não foi o Nathan que começou, né... Você viu! – a loira começou, indignada. – As injustiças são sempre com os sonserinos, sabe?

- Ê, lá vem você com esse papo de ser a rejeitada da família, Melissa. – se intrometeu Ewan (que também estava ali por perto), aos sussurros. – Pára com isso ou! E além do que, que te importa o que o Draco disse para o Nathan? Relaxa, Mel.

Melissa mostrou a língua para o irmão.

- Vai dar em cima da Genevieve, vai. – ela sussurrou com desdém, sem perceber o leve rubor que passou rapidamente pelas orelhas do irmão.

- E você, vai lá papar anjo no Adrian, sua pirralha. – ele respondeu, levemente irritado.

- Eu já te disse que eu não gosto do Adrian, que saco! – ela disse, um pouco alto demais.

Os mais próximos olharam para ela, e curiosamente Adrian estava incluído nesse grupo. Melissa ficou da cor do cabelo de Ron.

Adrian sorriu, desdenhoso.

- Eu sei que eu sou irresistível, Melissa. – ele disse, com uma sobrancelha levantada. – Não precisa ficar com vergonha.

- Seu babaca... – a loira respondeu a ele, ainda um pouco vermelha. – Você acha realmente que eu me interessaria por um pirralho que pensa que é o pai que nem você? Faça-me o favor, né. – ela terminou, bebendo um gole do seu suco.

- Ui, que stress. – ele continuou, ainda com o sorriso desdenhoso estampado na cara. – Tá precisando relaxar, hein, loirinha! Se precisar de uma ajuda, estou disponível...

Todos riram, e Melissa... Bem, Melissa arremessou o resto de seu suco de abóbora em Adrian.

- Isso é pra você aprender a não se meter comigo, pivete! – ela disse irritada, já de pé, quando percebeu que os adultos começaram a olhar pra ela. Ficou vermelha de novo, e muito sem graça.

Adrian, pra não perder a viagem, pegou sua lasanha com a mão e a arremessou em Melissa, que ainda estava de pé olhando para os adultos. Todos riram, e a cara brava de Melissa (cheia de molho!) se transformou rapidamente em uma na qual lia-se claramente “Vou te estrangular e depois te picar em pedacinhos pequenos e depois te dar de comer a hipógrifos”.

Claro, como qualquer boa sonserina, ela não deixou por aquilo mesmo. Sorriu com escárnio ao pegar mais dois copos de suco próximos ao seu antigo e tentar arremessar novamente no caçula dos Malfoy.

Estaria tudo bem, se ela não tivesse se atrapalhado e derrubado um dos copos no azarento que se encontrava ao seu lado: Matthew. Adrian, mesmo encharcado de suco, desatou a rir com todos os outros da mesa; e o primogênito Potter, sempre muito estouradinho, começou a tacar comida para os quatro cantos do universo.

E estava iniciada, então, a guerra de comida nº dezessete (segundo a contagem dos gêmeos) da família Weasley.

- Cara, isso é hilário! – gritou Ewan, animado, enquanto conjurava algumas tortas e as arremessava em quem se atrevesse a olhar para ele.

- Meu cabelo, seu babaca! – gritou Genevieve de uma das pontas da mesa quando foi atingida por uma das tortas do ruivo. – Agora você vai ver! – e então ela conjurou mais alguns itens alimentícios e começou a arremessar única e exclusivamente em Ewan, o qual também passou a tê-la como alvo principal.

Os adultos começaram a sair de fininho da mesa, antes que...

- Que porcaria foi essa, Genevieve?! – gritou um Draco indignado que passava logo atrás de Ewan, com o cabelo e o os ombros cheios de glacê. Hermione começou a gargalhar e em seguida foi atingida por uma torta que provinha do próprio marido.

- Draco! – ela gritou, enquanto conjurava algumas outras e saía correndo do loiro. Draco correu atrás dela e eles foram sujando todo o jardim da Senhora Weasley, com as tortas mais emperiquitadas que suas cabeças eram capaz de dar vida.

Genevieve e Ewan sorriram um para o outro, e então pararam de se atacar. Em seguida, Nathan virou uma torta de ovo no cabelo da loira, que jurou solenemente se vingar do irmão ou então passaria a se chamar Casimisberta. O irmão mais velho sorriu e eles começaram a brincar entre si.

A alguns passos dali, Melissa e Adrian se atacavam incessantemente.

- Seu idiota, infeliz, imbecil! – ela gritou, enquanto agarrava o loiro pelo pescoço e esfregava glacê nas suas madeixas.

- Eu sei que você me ama, mas será que você podia me soltar? Eu deixo você me agarrar desse jeito depois, lindinha... – ele sorria com certa expressão de dor estampada no rosto, terminantemente escondida pela quantidade excessiva de glacê que Melissa havia esfregado nele.

- Ah, como eu te odeio! – ela gritou e o largou no chão, antes de se virar.

Era melhor não ter virado.

- Quem foi? – ela sussurrou de modo assustadoramente audível, com o rosto estampando um palhacinho alegre feito de creme de baunilha.

- Fui eu! – gritou Nathan, do outro lado da mesa, com um sorriso estampado no rosto. – Era pra você soltar o Adrian! – ele sorriu divertido, coçando a cabeça e mordendo o lábio.

Melissa esqueceu o porque gritou com ele.

Nathan sorriu, e Genevieve olhou para ele com uma cara de “Só você, garanhão”. O sorriso do loiro desapareceu em seguida, quando Melissa se lembrou.

- Eu já tinha soltado ele, oras! – ela disse, limpando a cara e olhando maldosamente para Adrian, que já estava trocando comida “gentilmente” com Matthew e Sarah.

- Mas eu não resisti! – o loiro mais velho gritou e em seguida, todo lambuzado, sussurrou para a irmã que ia entrar e tomar um banho. Genevieve foi junto.

A maioria dos adultos e Felicity estavam bem longe dali. Com exceção de Draco, Hermione e Ron, claro. Ron na verdade só estava levando comida na cara antes de Harry o puxar para algum lugar longe dali (seu argumento fora algo como “Assistir é mais divertido do que levar”, enfim, Ron não entendera direito).

A Senhora Weasley, que já havia cansado da brincadeira, finalmente resolvera colocar um fim na coisa toda.

- Ei, crianças! CHEGA! – ela gritara, e com um floreio da varinha, toda a comida que voava desapareceu.

- Ah vó, estava divertido! – lamentou Sarah, que no momento em que tudo desapareceu se preparava para destroçar um bolo enfeitado na cabeça de Adrian.

- Sim, sim, mas agora chega, Sarah! – disse Harry, puxando os filhos pra dentro de casa ao lado de Ginny.

- Pode me soltar, pai! Eu sei andar sozinho! – dizia Matthew, tentando se desvencilhar de Harry.

- Solta ele, Harry. – disse Ginny calmamente, com um sorriso nos lábios ao observar os filhos todos lambuzados.

Os Potter eram sem dúvida uma família feliz e bem estruturada. Depois do relacionamento simples que tiveram no sexto ano de Harry, eles ficaram juntos novamente no final da guerra. O moreno lutara arduamente e derrotara Voldemort, e a união dos dois deu-se com Ginny já grávida de Matthew. Eles moravam juntos em uma casa gigante (graças à herança dos Potter) no centro da Londres trouxa, mas freqüentavam as partes bruxas da cidade esporadicamente.

Harry optara por não ter muitos filhos e Ginny, agora trabalhando como jornalista d’O Profeta Diário, aceitara prontamente. Seria complicado conseguir cuidar de muitas crianças com a vida tão atarefada que os dois levam. Não que isso significasse que eles não poderiam... Bem, todos conhecem o fogo natural dos Weasley.

- Vão e tomem um super banho o mais rápido que puderem, monstrinhos! – gritou Ginny, enquanto observava seus filhos seguirem para a escada e a subirem correndo abraçada ao marido. – Eu sou tão orgulhosa deles.

- E como não ser, amor... – sussurrou Harry em seu ouvido, antes de a tomar em seus braços em um beijo terno.

- Ha-ham. – pigarreou um Ron de cabelos melados e cheirando a marshmallow. – Há crianças por aqui.

- Como você é pateta, Ronald. – disse Ginny, desprendendo-se de Harry e cruzando os braços, emburrada.

- Fresca. – disse o outro, mostrando a língua, enquanto Pansy se aproximava com Draco e Hermione.

- Fica quieto! Você tem marshmallow no cabelo e pensa que é gente! – ela sorriu ao ver o irmão olhar para o próprio cabelo e bufar.

Harry já ria.

- O que você tem contra quem tem marshmallow no cabelo, hein ruivinha? – disse Draco, divertido, que vinha de mãos dadas a Hermione logo atrás.

Todos riram ao ver o estado do loiro e de sua esposa.

- Eu disse pra vocês que estava hilário! – sorriu Pansy, seguindo para a sala e sentando-se no sofá. Os outros a seguiram.

- Bah, não encham! Já estamos indo tomar banho! – sorriu Hermione, que passava a mão desesperadas vezes no cabelo.

- Eu acho que eu vou indo, na verdade. – Draco coçou a cabeça.

- Mas já? – disseram Harry e Ron ao mesmo tempo.

- Não posso passar a noite aqui... Tenho algumas coisas a fazer amanhã muito cedo. Vou indo nessa, obrigado pelo jantar, agradeçam a senhora Weasley por mim. – respondeu, antes de dar um beijo em Hermione e desaparatar.

- Sorte a dele! – disse Ron, indignado. Todos o observaram, espantados.

- Ele não vai ter que esperar no fim dessa fila enorme de crianças pra tomar banho, oras!

- Ai, só você mesmo, Ron! – sorriu Pansy ao depositar um beijo no pescoço do marido.

- Chegamos! – gritou um Ewan empolgado que chegava na sala, completamente imundo. – estávamos ajudando a vovó com a bagunça, já que nenhum adulto foi voluntário!

- Esquecemos. – respondeu prontamente Ginny, com um semi-sorriso nos lábios.

- Sei esse “esquecemos”, tia! – disse Melissa, que se acomodava ao lado dos pais com as bochechas muito vermelhas de tanta agitação.

- A pimentinha não cansa de reclamar, né? – disse Ron, fazendo um cafuné na filha que se sentara ao seu lado e se arrependendo em seguida, já que sua mão ficara algumas vezes mais melada do que já estava. – Droga.

- Eu preciso urgentemente de um banho! Vou tomar antes de vocês dois! – gritava Felicity enquanto adentrava a sala, limpando as roupas.

- O que aconteceu? – perguntou Hermione, ao perceber que as roupas da ruiva estavam algumas muitas vezes pior do que as dos outros dois.

- Eu fui atacada por um anão de jardim. – ela disse, com uma cara de “Terei tendências homicidas caso alguém dê risada”.

Todos deram.

- Não é engraçado! É trágico! Eu poderia ter morrido, e aí, e aí?! – ela insinuou, jogando os ombros pra frente. Depois sorriu. Era difícil não o fazer com todo aquele mundaréu de gente a incentivando.

Pois é, sorrisos são contagiosos.

- Onde está minha cria? – disse Hermione de repente, notando que seus filhos não davam a cara havia já um tempo.

- Eles vieram tomar banho antes de todos nós entrarmos, tia. – disse Ewan, desanimado. – Eu vi.

- Vou dar uma olhadinha neles lá em cima. – ela disse, com um meio-sorriso disfarçado. – E aproveitar para furar a fila... – sussurrou divertida enquanto subia as escadas.

- Ela vai passar na nossa frente! – disse Melissa, indignada. – Aliás, pai, como vocês faziam para tomar banho quando eram em sete?

- Fazíamos o óbvio; querida. Tomávamos em horários diferente.

- Que bom que não tomavam juntos, né? – sorriu Felicity de algum lugar da sala, o que rendeu algumas outras boas gargalhadas.

Nathan, Genevieve e Adrian desceram as escadas e seguiram para a sala, por ordem de Hermione. Segundo ela, teriam de ficar pelo menos um pouco por ali.

- Mamãe pediu para avisar que ela está tomando banho. – disse Nathan, sorrindo ligeiramente ao se sentar em uma poltrona que estava vazia.

- Eu tinha certeza! – começou Melissa, revoltada. – Isso aqui tá virando a casa da mãe Joana, cadê os direitos dos que arrumaram as coisas, hein?

- Ô tomatinho, menos, por favor. – cortou Ewan, calmamente. – Você vai tomar banho de qualquer jeito, pra quê isso?

- Tomatinho? – perguntou Genevieve, há alguns passos dali.

- Por causa das bochechas. – sorriu Ewan, vagamente. – Sempre que ela corre muito ou faz muito esforço ela fica desse jeito.

Melissa bufou.

- Dá pra parar de espalhar isso pra todo mundo?

- Você anda estressada demais, Mel! Que droga! – arfou Ewan, se levantando e chamando a atenção de todos. – Vou tomar um ar, não precisam me olhar desse jeito.

Lançou um olhar de esguelha Genevieve, e seguiu em direção à porta da cozinha.

Era estranho ser amigo dela, quando tinha a certeza de que o que ele queria era outra coisa. Estudavam juntos desde o primeiro ano, e uma bonita amizade nasceu e cresceu; mas de que lhe valia a amizade? Às vezes aquilo lhe subia à cabeça. Sentia-se, naquele momento, um bosta, um nada. Sabia que a loira não era tão perfeita a ponto de haver a possibilidade de ela nunca gostar dele, mas eram os defeitos dela que tornavam isso impossível.

Genevieve Malfoy era galinha.

Não que todos soubessem, claro. E nem que ele não estivesse disposto a mudar isso. Mas ele sabia que, de qualquer jeito, ela nunca ficaria com ele. E o que mais o irritava era o fato de ter a certeza de que era somente para não magoá-lo.

Como se ela não o estivesse fazendo agora.” – pensou, antes de fechar a porta atrás de si.

Melissa ficara preocupada. O que o irmão tinha, afinal? Isso definitivamente não era comum. Ele era sempre tão brincalhão! Sentiu-se culpada. Nathan a observava de longe, estranhamente.

- Que foi? – ela perguntou, acidamente.

- Nada. – disse Nathan, indiferente, enquanto os outros prestavam atenção atentamente ao que acontecia ali.

Ron, Pansy, Harry e Ginny subiram as escadas, aproveitando a deixa de que a maioria não prestava atenção neles no momento para furarem a fila do banho.

- Eu sei o que o seu irmão tem. – ele continuou, depois de observar os mais velhos saindo, com um meio-sorriso.

- O quê? – disseram Felicity e Melissa ao mesmo tempo.

Nathan sorriu com gosto.

- A curiosidade matou o gato.

- Ah, você não sabe nada. – disse Felicity, voltando-se para a conversa animada que rolava entre Matt, Sarah e Vieve.

- Sabe mesmo? – perguntou Melissa, sentada a apenas alguns metros dele, sentindo que o rapaz não estava fingindo.

Nathan confirmou.

- Você vai ficar sabendo, cedo ou tarde. – ele deu de ombros e coçou a nuca, sem perceber (ou quem sabe fingindo não perceber) a cara de Melissa ao observar o movimento de seu braço levemente musculoso.

- Ei, gente! – gritou Felicity, do nada.

- Que foi? – disse Matt, rabugento.

- Eles furaram a fila! Droga!

Genevieve, Nathan e Adrian sorriram, já que não precisavam tomar banho novamente. Os outros se revoltaram.

- Calma gente, eles não devem demorar. Estão em casais, se é que me entendem. – sorriu Adrian, piscando para Melissa.

- Você é patético. – a loira disse entre dentes.

De repente, Ron aparece na escada:

- Banheiro livre! – grita e sai correndo em seguida, antes que os muitos pés que saíram correndo desesperados o atropelem. Depois de checar se a barra estava livre, desceu e avisou aos que sobraram que todos os mais velhos estavam indo dormir, e que a Senhora Weasley havia mandado um “boa noite”.

Ewan, antes lá fora, volta para dentro e sobe as escadas, sem nenhuma palavra.

Os Malfoys, sozinhos na sala, se entreolharam.

- Nem foi tão difícil assim, vai. – começou Genevieve, com os olhos fixos no fogo que crepitava na lareira.

- Não, não foi. – disse Adrian, que na verdade mal havia se manifestado muito. Estava cansado.

- Acho que deveríamos ir dormir, agora. – começou Nathan, bocejando falsamente. – Acho que estou com sono.

Não estava, na verdade.

- Certo. Vamos. – responderam Vieve e Adrian em uníssono, e seguiram na direção da escada.

Vieve, abraçada a Nathan; e Adrian na frente, absorto.

Eles podiam não ser a família mais feliz do mundo, brigar o tempo todo e parecer um bando de esnobes; mas amavam-se infinitamente. Disso, ninguém podia duvidar.


(1) Ronks: apelido carinhoso que Pansy deu a Ron.

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