QUANDO O DIA É UM DAQUELES...

QUANDO O DIA É UM DAQUELES...



SELVAGEM...

CAPITULO UM – QUANDO O DIA É UM DAQUELES...

Uma mulher está sentada em frente a um espelho. Seus longos cabelos ruivos contrastam com sua pele alva. Leva um cigarro aos lábios e o traga profundamente.
Pelo reflexo do espelho, vê um homem. Ele está nu, deitado em uma cama, dormindo.
Ela se levanta ajeitando o vestido negro. Chega perto de uma janela aberta e aspira o ar gelado daquela manhã de dezembro. Alcança um dos sapatos altos e o põe. Ouve uma voz atrás dela:
- Onde vai?
Ela se vira e vê o homem a fitando com um olhar de interrogação.
Ela dá uma tragada no cigarro e põe o outro sapato.
- Não vai me responder?
Ela fuma uma ultima vez e joga o cigarro pela janela.
- Jess?
- Não, Gianni. Não vou. Fizemos um trato.
- Você impôs essa condição.
- E você aceitou.
Ela pega a bolsa em cima do criado mudo, e segue em direção da porta.
- Eu só ganho duas trepadas?
Tarde demais, ela bateu a porta.
X


“Se dê por satisfeito.”, pensa ela. “Duas já é muito.”
Jess anda pelo corredor luxuoso do Hotel Plaza de Nova York como se conhecesse o caminho de cor. Um casal passa por ela com duas crianças trajando grossas roupas de lã. Uma delas chora, brigando por atenção. A garotinha, ruiva como ela, murmura algo sobre um brinquedo.
Se lembrando de si mesma, sorri.
Lembra de quando era Ginny Weasley. A garotinha que foi embora aos dezesseis anos, antes de sua formatura em Hogwarts. Na verdade naquele ano ninguém havia se formado. A escola havia sido destruída durante a Guerra.
“A Guerra”. Voldemort e seus Comensais da Morte haviam quase destruído o mundo mágico. Milhares de bruxos e trouxas haviam morrido. A maior parte da população mundial sabia da existência de bruxos. E eram vistos como mutantes, aberrações. Seus poderes e seus hábitos assustam. É o medo do desconhecido.
Se fosse apenas preconceito, seria mais fácil aceitar a situação. Mas o governo tinha aumentado o medo em grandes proporções. Liderado pelo Senador Cooper, o governo baixou uma lei anti-bruxa, dando poderes a um grupo de elite da policia. Lhe dando direitos de capturar, torturar e matar em nome da ciência e limpeza da raça.
A Guerra. Por essa Voldemort não esperava. Se ele pudesse estar lá para ver...
Ginny se lembrava de sua família. Carlinhos e Percy que morreram lutando. Seus irmãos, seus pais, seus amigos. Hermione, Harry. Ah, Harry. Sua maldição e sua paixão.
O grande Harry Potter. O homem que com dezoito anos havia destruído o pior bruxo das trevas que o mundo mágico viu, Lord Voldemort.
Se contasse, quem acreditaria?
Ginny entra no elevador, onde há o ascensorista e uma senhora com um enorme casaco de peles.
Leva uma das mãos a bolsa e tira o cigarro. O ascensorista a impede.
- Não se pode fumar aqui dentro, senhorita.
- Oh, perdão. Força do hábito. – ela lê na lapela do blazer do rapaz, o crachá: Harry.
“Ah, não. Hoje é dia dos sinais.”
As portas do elevador se abrem. O imponente do saguão aparece a sua frente.
Ela anda elegantemente nos seus saltos Prada como uma modelo desfilando numa passarela.
Atravessa as grandes portas da entrada do Hotel Plaza, saindo em frente ao Central Park.
Acende um cigarro, quando o celular toca. Com dedos ágeis, o retira da bolsa.
- Oi, Mel... – ela identifica a ligação da amiga. -... estou na rua 57... é, estou no Plaza... você não o conhece... é um recruta novo... loiro, alto, olhos claros ... por que você perguntou então?... vamos almoçar sim... que tal o Tavern on the green? Chego em quinze minutos... tá, tchau. – e desliga.
Na frente dela, um caminhão com dizeres “British Orchestra” passa deixando fumaça no ar.
“British – Britânico”
Ela balança a cabeça e os pensamentos a levam de volta para Toca.
Seu pai com o olhar mais confortador que existe. Ron e sua proteção exagerada. E Hermione com a força inabalável que levantaria um defunto.
Lembra como se fosse ontem, como ela e Harry riam, só observando Ron e Hermione brigarem. Brigavam por tudo, o tempo todo.
Se pega sorrindo de novo.
“Ela e Harry.” Parece que foi há tanto tempo. Antes de tudo. Antes da Guerra. Antes de Nova York. Antes daquela maldita formatura.
Como o amava. E a promessa feita após a morte de Dumbledore era a única coisa que a fazia continuar. Uma promessa de vida, uma promessa de destino.
Acorda com uma voz, lhe tirando dos pensamentos.
- A senhorita quer um táxi?
Ela se vira e vê o porteiro do Plaza.
Ginny percebe que estava parada na calçada com um cigarro queimando nas mãos.
- Sim, obrigada. – ela responde com um sorriso.
X

- Tem alguma idéia do que vai fazer?
Ginny levanta os olhos para a amiga. Mel a olha interessada na resposta.
- Na verdade, eu não sei. – diz ela, levando uma taça de vinho aos lábios. – Isso é só uma bobagem que eu venho alimentando há alguns meses.
- E a causa?
- É, então? Não sei. Queria muito ir, mas...
- Jess, você não vai fazer tanta falta assim. É uma semana.
- Talvez. Na verdade, não queria perguntas, sabe.
- Perguntas de quem?
- Cash, claro.
- O que ele diria?
- Talvez é melhor eu não dizer.
- Por que?
- É melhor eu ir sem ele saber. Afinal de contas, Cash acha que os Riders são minha vida. Só isso que importa. Nem sei se ele sabe que eu tenho uma família. Pais e quatro irmãos na Inglaterra. – ela balança a cabeça desconsolada. – Uma família que eu minto a quase seis anos. Uma família que acha que eu vendo Porshes.
- Por que eles nunca te visitaram?
- Porque eu nunca deixei. Os meus pais são bruxos, bem bruxos sabe? Eles nem sabem o que é uma televisão. Se eles pisarem numa rua de Manhattan, eles são presos no segundo seguinte.
Mel afasta o prato de comida vazio, e afaga a enorme barriga de grávida.
- Eles nunca insistiram?
- E como! Insistem todo ano. Eu digo que as coisas aqui são difíceis, e com a Lei Anti-bruxa agora, as coisas são piores.
Ela suspira. É outro pesadelo. Uma guerra acaba e outra começa. Voldemort deixou um rastro de destruição.
Os sobreviventes da Guerra tinham que lutar mais uma vez. Mas agora com que armas? Empunhar uma varinha tentando se defender de uma Uzi?
Por isso a maioria dos bruxos foram condenados a viver na obscuridade nos últimos cinco anos. Vivendo em vilas cada vez mais afastadas das grandes metrópoles. Vivendo como trouxas. As vezes, enganando a si mesmos. Se submetendo a fingir e deixar de lado sua natureza.
- Então eu sugiro que vá. – diz Melanie.
- Acho que eu vou sim.
- Os Riders vão sobreviver sem você.
- Acho que vão.
- Você não está lendo minha mente, está?
- Não, por que? Deveria? O que você está pensando?
- Em nada. Só naquele cara da Inglaterra.
- Que cara?
- O seu ex.
- De novo essa historia, Mel?
- Você corre o risco de encontra-lo lá, não é?
Ginny a olha impaciente. Teria que novamente falar de Harry.
- Corro.
- Como sabe que ele está lá?
- Ele trabalha com meu irmão no Ministério da Magia. E outra, ele é quase da minha família. Minha mãe considera ele como filho.
- E como vão ser as coisas? Com ele lá?
- Mel... nada. Não acontece nada. Sabe, é passado. Nós namoramos eu tinha dezesseis anos. Agora eu tenho vinte e dois.
- E aí?
- E aí, que se passaram muito tempo. Eu tenho outra vida, tenho os Riders, tenho outras perspectivas, outras prioridades...
- Outros homens...
- Exatamente. Harry não faz mais parte da minha vida. Ele casou, e eu não preciso disso. Quer dizer, dele.
Ginny não estava mentindo. A vida dela era outra. Especificamente outra. Agora era a terceira no comando de um grupo extremista anti-trouxa. Tinha responsabilidades e deveres onde Harry jamais poderia fazer parte.
Sua mente rodopiava, em parte mentira sim. Ele era passado, mas estava sempre presente.
Havia sofrido muito quando romperam. Harry havia lhe dito coisas cruéis, e Ginny sentiu vergonha e humilhação. Mas como ela mesma dizia: “A vergonha é como o amor. Você sente uma vez só”.
Então as duas coisas que lhe lembravam Harry andavam juntas: amor e vergonha. Amor, por tê-lo amado a vida toda. Desde os dez anos. E vergonha, por ter o amado. Amado um homem insensível e covarde. Um homem vaidoso e incrivelmente egoísta.
A vergonha e a humilhação foram grandes o suficiente a ponto de Ginny jurar vingança.
Não pensava numa vingança física. Machuca-lo era muito pouco. Precisava humilhá-lo. E como humilhar um homem desse tipo? Pegando no seu ponto fraco. A vaidade. Harry sempre foi conhecido por sua fama. Por ser o Eleito. O cara dotado do poder e da responsabilidade de destruir Voldemort. E esse poder lhe subiu a cabeça, lhe deixando acima de tudo, arrogante.
Então para humilhá-lo precisava exatamente disto: de poder. Muito poder.
E agora, depois de quase seis anos, alcançara mais que poder. Alçara sucesso, respeito, temor, dinheiro e inveja. Além da sua estonteante beleza, e de um poder mágico indiscutível, conseguiu uma capacidade incrível de fazer um homem se ajoelhar diante dela. A querendo, a desejando.
- Você ainda pensa nisso? – pergunta Melanie.
- Nisso o quê? – devolva ela saindo do devaneio.
- Em vingança.
Ginny a olha perturbada.
- Não se preocupe. Ninguém tem essa habilidade. Não li a sua mente. Está escrito nos seus olhos.
- Eu vou destruir ele, Mel. Vou fazer ele sentir a vontade de jamais ter me conhecido.
Melanie a olha com um olhar triste.
- Não duvido. Você consegue fazer o que quiser com um homem. Mas cuidado. Cuidado para o feitiço não virar contra o feiticeiro.
- Não vai virar, Mel. Essa dor eu sei de cor.
Melanie estica a mão, e faz um carinho no braço da amiga. Ela sabia o que era aquilo. Sabia o que era sofrer por amor.
- Eu sei. Meu medo é você se perder nessa vingança.
- Não vou. Não mais.
As duas sorriem.
O maitre se aproxima.
- Desejam algo mais, senhoras?
- Não, muito obrigada, Serge.
- Nem mais vinho, Sra. Wade?
- Não, agradeço. – diz Ginny sorrindo.
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N/A: Agradecimentos especialíssimos a Nani Potter, que me permitiu realizar essa fic. Agradecimentos também a Miaka, que me deu uma força enorme. E para Lis Potter, que foi a primeira a ler, a primeira a curtir, a primeira que me disse que tinha que continuar. Agradeço humildemente meninas. Do fundo do coração.

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