Turma de 76



==================================================================================

Capítulo V – Turma de 76

==================================================================================







_Ora, ora... o persa alaranjado da Srta Granger... quanto tempo não aparece por
aqui, Crookshanks?





O gato entrava faceiro pela sala reservada nas masmorras. Sendo um gato,
apreciava muito mais lugares quentes. Não gostava das suas patinhas nuas tocando
aquele chão de pedras álgidas, nem do ar frio que ali se respirava... mas a
companhia valia esse sacrifício.





Severus Snape, o professor de poções, postava-se novamente atrás de sua
escrivaninha, onde estavam dezenas de rolos de pergaminho, em que ele lia
pacientemente cada um, na maioria das vezes com uma expressão medonha no rosto,
outras apenas com um leve erguer de sobrancelhas. O silêncio da masmorra era
quebrado apenas pelo chiar da pena de Snape sobre os pergaminhos com os
trabalhos dos alunos.





O gato era mesmo abusado e parecia não temer absolutamente nada daquele
professor tão detestado e temido por todos. Subiu na escrivaninha onde Snape
trabalhava, pondo-se sentado, envolto da própria cauda, num porte altivo e
parecia dirigir um olhar inquisitivo e curioso para o que o professor fazia.
Snape poderia até jurar que o gato entendia tudo o que se passava e até mais que
isso: parecia entender perfeitamente os garranchos escritos naqueles
pergaminhos. Por uma ou duas vezes, teve a impressão que o gato se arrepiou com
uma monstruosa estupidez escrita sobre a poção “morto-vivo”, a que ele mandara
fazer uma redação a respeito, na última aula de Grifinória e Sonserina.





_Por acaso essa redação é de Neville Longbottom, o protegido da sua dona... você
está aqui a mando dela? Não se preocupe, nem preciso ler o que ela escreveu para
dar-lhe uma nota 10. Ela é a melhor aluna de Hogwarts em 20 anos... mas, você
não se atreva a contar a ela que eu disse isso!





O gato, como resposta, apenas dirigiu um olhar curioso ao professor, revirando
suas orelhas.





_Sabe, gato... ouvi algumas coisas estranhas sobre a sua dona de alguns alunos
que conversavam animadamente, até demais. Seria verdade que a Srta Sabe Tudo
Granger finalmente estria surtando?





Crookshanks lançou um último olhar fulminante à Snape, que lhe dirigia aquele
irritante sorrisinho sarcástico tão característico, antes de pular da mesa,
bufando. Snape limitou-se a acompanhar os movimentos do gato. Era estranha para
si mesmo a afeição que desenvolveu, quase instantaneamente, por aquele felino.
Não que chagasse a detestar animais, mas nunca sentiu qualquer afeição por um,
como as pessoas costumam fazer. E Crookshanks era um gato feio de cara
emburrada, que parecia olhar implacavelmente para todos; além de ele mesmo não
ter qualquer simpatia por sua dona, Hermione Granger, então, por que essa
afeição pelo animal? Mas havia algo naquele gato... talvez ele próprio estivesse
surtando... pena a Legilimancia não funcionar em animais, senão tentaria, ao
menos, descobrir algo sobre ele, se é que há algo naquela cabeça grande além de
pêlos laranjas.





O gato, de forma elegante e precisa, pula num único salto até o console sobre a
lareira da sala particular de Snape. Lá, alguns porta-retratos com fotos antigas
e outros objetos esquisitos para decoração. Andando garbosamente entre os
objetos, sem ao menos encostar em qualquer um deles – ainda bem, pois alguns se
quebrariam se caíssem dali! – pára em frente a um porta-retratos de metal,
derrubando-o sobre o console com a pata. Na foto antiga em preto e branco, havia
muitos rapazes e moças juntos, todos com uniformes de Hogwarts, sustentando o
brasão da Sonserina no peito da capa negra. A foto, como era costume nas fotos
bruxas, as pessoas se mexiam. As meninas davam tchauzinhos, jogavam beijinhos e
coisas do tipo. Os garotos brincavam uns com os outros, alguns se mantinham
sérios e outros faziam poses altivas para seu espectador. O garoto sério, de
braços cruzados, Crookshanks reconheceu sendo Severus, uns 20 anos mais jovem...





O professor levantou-se intrigado da escrivaninha, indo direto à lareira e
pegando o porta-retratos que o gato derrubou e estava olhando tão interessado.





_Essa foto de novo, Crookshanks? Não é a primeira nem a décima vez que você fica
olhando para ela... o que ela significa para você, heim? ... “idiota, Severus, o
gato não vai te responder...”





Porém, o gato olhava para o professor de forma pedante, inclinando-se para
frente, perdendo toda a sua pose garbosa... parecia que ele queria que Snape lhe
contasse a história daquela foto...





_Bom... essa daqui é a turma 76/77 da Sonserina, éramos do 6º ano... só lamento
muito dizer que a maioria, ou melhor, quase todos aqui, ou estão mortos ou estão
enlouquecidos em Azkaban... apenas esse garoto ao meu lado direito está
desaparecido até hoje, ninguém nunca soube de seu paradeiro... seus pais
morreram na primeira guerra das Trevas, eram comensais... Nicolai também era,
mas eu sentia que ele tinha segundas intenções, que não eram para seguir Lord
das Trevas, muito pelo contrário... enfim, ele desapareceu antes de terminarmos
o nosso 7º ano... pobre garoto, veio da Rússia para morrer aqui...





Colocando a foto de volta ao console da lareira, Severus dava-lhe um olhar
diferente, sem a frieza costumeira. De fato, eram lembranças dolorosas. Ver
todos aqueles jovens cheios de sonhos e esperanças, tendo suas vidas aniquiladas
por causa de tolices como ambição e poder a qualquer custo... todos, sem
exceção, receberam apenas dor e sofrimento daquele ser monstruoso, vil e
hediondo a quem entregaram até mesmo suas vidas e seus futuros!





_... e o passado se repete! Hoje, há pelo menos cinco alunos da Sonserina que
são comensais da morte... e duvido muito que eles tenham um futuro diferente
destes que aí estão, nesta foto. Tenho tentado evitar a todo o custo perder mais
crianças para as trevas, mas a ambição é um demônio astuto e poderoso!





Neste mesmo momento, alguém bate a porta da sala de Snape, que olha de forma
muito tediosa para a mesma.





_Que desagradável!... ENTRE!







Um grupinho de quatro alunos da Sonserina adentra a sala particular do Prof
Snape nas masmorras, sendo um deles Draco Malfoy, agora ainda mais intragável,
depois que o pai, Lucius Malfoy conseguiu sair de Azkaban, ao ‘comprar’ a sua
inocência pela segunda vez.





_O que os senhores querem aqui? – De forma muito tediosa e mordaz, Snape recebia
os alunos de sua casa. A paciência dele com os alunos da Sonserina já não era a
mesma de anos atrás.





_Apenas lhe fazer uma visitinha, senhor... e saber o que achou de minha redação?
– Draco estava com um irritante sorrisinho de lado e a voz monótona.





_Oh, sim! Que maldade a minha... pensei que os senhores estavam aqui
escondendo-se de alguma idiotice que tivessem aprontado no corredor! – Snape
estava cada vez mais impaciente...





Crookshanks não desviava os olhos do garoto loiro platinado, o qual ele odiava
profundamente por diversas razões, embora a que conquistou lugar de destaque em
sua lista negra fora o total desrespeito que o garoto tinha por Hermione! Pulou
do console e andou altivamente de volta a escrivaninha do professor, onde
postou-se mais uma vez, sem desviar os olhos ameaçadores para os garotos
sonserinos.





_Esse gato... parece aquele gato esquisito daquela sangue-ruim da Grifinória, a
Granger. O que ele faz aqui?





_Isso não é de sua conta, Sr Malfoy! E quanto a redação de vocês, eu já as
corrigi, se é o que querem saber. E sobre a sua redação, Sr Malfoy, se é que
posso chamar assim aquilo... sugiro que leve mais a sério seus estudos este ano,
pois neste nível não conseguirá pontos nos NIEMs nem sequer para sair de
Hogwarts!





_Isso não me preocupa, professor... meu pai tem excelentes planos reservados
para mim, pouco importa NIEMs, isso é coisa pros desqualificados que precisam de
pontinhos para se mostrarem mais dignos entre os bruxos...





O gato sobre a escrivaninha deu uma seqüência de miados mínimos que lembravam
uma leve gargalhada – supondo-se que gatos riem... – pondo-se a andar
vagarosamente em direção à Snape, sacolejando a cauda como se zombasse do loiro
platinado.





_Se quer confiar o seu futuro ao seu pai... mas eu ainda insisto que o senhor
cuide você mesmo de seu futuro, enquanto ainda há oportunidade para isso.





_Ah, tá, mas peraí! Esse gato ridículo, ele tá caçoando de mim? Não, isso só
pode ser coisa daquela maldita sangue-ruim, ela deve ter ensinado isso a ele!





Os outros três colegas que estavam com Draco e Snape olham para o gato, que
mantém-se altivo, sentado sobre a escrivaninha, mas abanando a cauda
nervosamente. A expressão do gato, que normalmente já era feia, era de ódio pelo
garoto, com os olhos formando meio globo, brilhando com a difusão das luzes.
Vendo nada anormal no gato, os quatro espectadores voltam-se curiosos e
inquisitivos para Draco, que se incomoda com os olhares incrédulos em sua
direção.





_Ah! Qual é! Eu tô falando sério! Não é a primeira vez que vejo esse bicho agir
assim, parece até gente! Isso deve algum feitiço que aquela sangue-ruim fez para
ele agir desta forma!





_Você tá avariando, Draco! O bicho é só um gato idiota, e gatos são assim mesmo!
– Blás Zabini falava com um sorrisinho sarcástico.





Antes que Draco retrucasse ou os outros dessem seus comentários, Crookshanks
pulou da mesa, em direção da porta da masmorra, que não estava completamente
fechada. Saindo no corredor, olha para os lados, encontrando o zelador Argo
Filch furioso, acompanhado de sua fiel dedo-duro, a gata Madame Nor-r-ra.
Crookshanks dá um miado feio e agudo, chamando a atenção da gata, que corre em
sua direção. À porta da sala particular de Snape, Madame Nor-r-ra fareja algo,
lançando um miado agudo e longo para Filch, que corre em direção aos felinos com
sua expressão sádica muito satisfeito.





Filch empurra com raiva a porta, encontrando os quatro alunos da Sonserina
estáticos e temerosos, enquanto Snape observa a tudo de forma monótona e
tediosa, já prevendo o que ia acontecer.





_Desculpe, Prof Snape! Mas esses quatro alunos estavam lançando azarações em
alunos da Lufa-Lufa agora a pouco no corredor, quando alguns alunos saíam de seu
Salão Comunal!





Os quatro sonserinos ficaram ainda mais estáticos e boquiabertos quando
perceberam Crookshanks passando arrogante pelas pernas de Filch, colocando-se ao
lado de Madame Nor-r-ra, lançando um olhar altivo e satisfeito para os garotos.
Os outros três sonserinos – Zabini, Crabbe e Goyle – olhavam estranhos para o
gato, ignorando Filch... fora o persa laranja que chamara o zelador?!





_Mas que gato filho-da-puta... ele dedurou a gente?! – Zabini exclamava com a
voz falhando, quase inacreditando em suas próprias palavras. Draco olhava do
gato para Zabini, escondendo sua confusão.





Draco tentou consertar a situação, disfarçando a surpresa que sentiu. Ele
realmente andava notando algo esquisito no gato da Granger, mas ele não esperava
que o bicho fosse tão ardiloso quanto uma pessoa. Ele tinha a intima certeza de
que o gato percebeu que eles aprontaram algo e que Filch os procurava, e fora
chamá-lo... afinal, até mesmo aquela gata nojenta do zelador fazia isso, talvez
isso seja mesma uma característica desses animais...





Virando-se para o professor, com seu olhar desdenhoso e sorriso torto, tentava
ridicularizar o pobre zelador.

_Esse pobre diabo do Filch está cada vez mais estouvado... como poderíamos ter
feito qualquer coisa se estamos aqui com o senhor preocupados com o que é
realmente importante, os nossos trabalhos...?





_Mentiroso! Garoto insuportável como todo Malfoy! Os alunos atacados disseram
claramente quem os azarou! Só não consegui alcançá-los em tempo!





_Cale a boca, maldito aborto! Quem você pensa que é par...





Draco é abruptamente interrompido pela voz grave e fatal de Snape que parecia
reverberar pela sala.





_Pelo que saiba senhores Malfoy, Zabini, Crabbe e Goyle, os senhores acabaram de
entrar em minha sala particular, um tanto exasperados para uma simples visita.
Sugiro que acompanhem o Sr Filch e resolvam esse mal entendido com ele.





_Mas Prof Snape, o senhor dev...





_Sr Malfoy! Resolva esse mal entendido com o Sr Filch! E agora saiam todos, que
tenho muito que fazer aqui!





Filth deu o melhor de seus sorrisos sádicos, brilhando de satisfação. Os garotos
saiam porta afora, sendo que Draco se arrastava, sendo o último. Dirigia o pior
de seus olhares à Crookshanks, que permanecia parado ao lado da entrada, sentado
envolto de sua cauda. Encarava satisfeito e desafiadoramente o loiro platinado
nos olhos, com postura esguia, dando-lhe um ar majestoso.





_Gato maldito! Tinha que ser daquela sangue-ruim! Eu vou te matar qualquer dia
desses, desgraçado! – Sussurrava Draco, com voz letal.





O garoto, antes de sair, ainda tenta acerta um chute no gato, ignorando os
olhares e a presença de Filch e Snape, que se alarmaram com a abrupta reação de
Draco. O seu pé acertou apenas o ar, o gato desaparecera de sua frente como se
tivesse desaparatado. Felinos são os animais na natureza com o mais rápido
reflexo, estando todo o tempo em posição de alerta e prontos para o ataque.
Crookshanks saltou sobre a perna esticada do garoto, escalando-a e saltando
sobre o peito, derrubando Draco de costas no chão. Leva uma das patas ao pescoço
do garoto, fazendo-o sentir levemente suas garras afiadas. Olhando diretamente
nos olhos apavorados de Draco, Crookshanks dá um silvo perigoso. Mas antes que
qualquer um dos presentes tomasse qualquer atitude com o ocorrido, o gato salta
para longe de Draco e do chão salta de volta para a mesa de Snape, que por sua
vez o observa atônito. Filch se limita a puxar Draco do chão pelas vestes,
bravejando.





_Vamos logo, garoto! Já tomou demais o nosso tempo!





A porta da sala fecha num baque, deixando Snape e Crookshanks a sós novamente. O
professor continuava a olhar o gato de forma estranha, mas parecia satisfeito
com o ocorrido.





_Seja lá o que tenha dito ao Draco, tenho certeza de ser o que todos têm vontade
de dizer! Você é ousado, como a sua dona... mas prepare-se para retaliação por
parte do garoto... é provável que ele irá querer vingar-se também na sua dona,
afinal, o grande e futuro comensal da morte, Draco Malfoy, não vai engolir essa
humilhação.





Crookshanks pareceu dirigir um olhar preocupado para o professor, após ouvir
essas palavras. A última coisa que queria na vida é arranjar mais uma
complicação para Hermione... será que tudo o que ele fizesse ela iria pagar por
isso?! Será que teria que ouvir calado os outros a ofenderem sem nada a fazer?!





Snape postava-se atrás de sua escrivaninha, recolocando-se na atividade que
estava exercendo antes de ser interrompido por um gato abusado de trejeitos
humanos e um bando de debilóides da Sonserina.





_...um Malfoy ser humilhado, desafiado, já é um grande desatino... e ser
humilhado diante de espectadores por um animal?! Ah, gato! Até eu teria vontade
de matá-lo depois dessa! Tome cuidado, bichano...





Enquanto Snape, calmamente, voltava a rabiscar os pergaminhos dos alunos com sua
pena vermelha, Crookshanks pulava da escrivaninha para uma confortável poltrona
em veludo musgo quase negro. Enrolando-se, depositava a cabeça sobre as patas
dianteiras cruzadas, e mantinha um ar pensativo e preocupado... não era a
primeira ameaça de morte que recebia na vida e o garoto Malfoy não era capaz
sequer de pregar-lhe uma peça de molecagem, quanto mais cumprir sua ameaça...
mas ele poderia complicar a vida de Hermione, aprontar algo para ela, apenas
para dar-lhe mais um incomodo para se preocupar. E vê-la revoltada era tudo o
que não queria e vê-la chorar novamente... e ele conseguira de novo arranjar
mais uma dor de cabeça para sua dona! Talvez fosse mesmo a hora de começar a
assumir de vez sua condição e começar a ignorar veemente todas esses ultrajes
dirigidos à Hermione.





Os olhos de Crookshanks tornaram-se obscurecidos, distanciando-se em
pensamentos, apenas com o som da pena arranhando os pergaminhos tornando-se cada
vez mais distante, como se mergulhasse num infinito de trevas...



==================================================================================

Fim do Capítulo V – continua...

By Snake Eyes – 2004

==================================================================================



Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.