Nós sempre soubemos



O tempo passou e um sopro de alegria veio na vida da pequena bruxa, seus dias eram coroados com gargalhadas de sua parte e meios sorrisos da parte Dele. O casamento seria no dia seguinte e ela estava muito ansiosa.
-Como posso merecer tamanha felicidade?

Sua imagem no espelho sorriu, contradizendo com a expressão atônita dela.
-Você não merece essa felicidade. Nunca a buscou. Nós não queremos ser felizes. Ser o Eixo é excludente de ser feliz. Eu nunca vou amar. E vou viver bem. Assim que você morrer. Eu nunca vou amar.
Ann sorriu e perguntou à imagem:
-E qual é o seu nome, criança sem coração?
-Mary, Mary Jane.
-Lindo nome.
-Lindo rosto.
As duas sorriram, Ann não sabia, mas Mary era uma parte do seu ser, uma parte que logo ganharia vida própria. A imagem tocou o rosto com a mão, Ann fez o mesmo, como se a imagem fosse ela, não a menina.
-Que cheiro bom...Sua pele é muito macia, você tem consciência disso?
Ann estava imóvel, extasiada, manipulada, como uma bonequinha nas mãos de uma criança traquinas. Apenas fechou os olhos e fez uma expressão de ingênuo prazer. A porta foi aberta e Voldemort estava parado nela. Ao ver a cena achou que Ann havia enlouquecido de vez, mas, ao ver a expressão de puro prazer de Ann e a expressão de crueldade horripilante da imagem, começou a achar que não era Ann a louca da história. Ann se virou, copiando o sorriso da imagem.
-Olá, vovô.
Deu uma gargalhada aguda e sádica que fez os pêlos da nuca do Lorde das Trevas se arrepiarem. “Ann” deu alguns passos à frente e tocou com sua mão gélida o rosto dele.
-Acho que nós só vamos nos conhecer, efetivamente, daqui a alguns anos...Mas...Ainda assim...Quero gravar essa expressão atônita do seu rosto e tentar entender o que Ela viu em você. Nós sempre soubemos, você sempre soube. Machuque-a e eu acabo com você. Pode esperar. Disse essas duas últimas frases ao pé do ouvido de um confuso bruxo. Ann deixou escapar um suspiro e caiu pesadamente em seus braços. Voldemort a encarou, olhou aquele doce rosto e se perguntou como poderia haver criatura que passasse tanto medo.
=Vovô?=
Pensou voldemort erguendo uma de suas sobrancelhas. Passou o dia pensando na menina que aparecera no espelho...Certamente não tinha nada haver com Ann.
Dia seguinte. Ann estava no altar e seu coração batia descompassado, finalmente ela e seu Príncipe poderiam ser felizes. Como nas histórias que ela adorava ler, ou pedir para alguém ler, se houvesse alguém para ler para ela. Mas, ao acabar o casamento o seu Príncipe a deixou sozinha quase que imediatamente, nem mais um beijo, nem mais uma palavra de carinho. Chorando. O que havia acontecido? Lembrou-se da imagem no espelho e se lembrou do sorriso de Tom, os dois tinham o mesmo brilho no olhar.
=O que isso quer dizer?=
Ouviu os passos de seu esposo do lado de fora. Ela não queria vê-lo, não agora.
-Ah Tom, será que eu nunca vou merecer a felicidade?
Ele abriu a porta.
(plagiando...)


“Ann?” – Chamou gentilmente, enquanto trancava a porta magicamente atrás de si.
A garota não respondeu. Estava chorando; a cabeça afundada no travesseiro.
Voldemort afastou uma mexa do cabelo fora do coque desarrumado que cobria seus ombros e lentamente abaixou a cabeça até seus lábios tocarem a pele quente e macia, rescindindo a jasmim. Ann soltou um suspiro sufocado pelo tecido do travesseiro e virou-se para encarar o marido.
“O que é que você quer de mim?” – Ela perguntou, arredia, mas não afastou o corpo.
“Você não sabe? Você não me viu tantas vezes em seus sonhos? Você já não seria capaz de reconhecer seu Príncipe “Encantado?”
“Você não é meu príncipe! Eu não sei quem é você!” – Ela gritou, e se lançou para fora do alcance de Voldemort, quando a cauda de seu vestido se prendeu na barra da cama e Ann foi ao chão, rasgando um pedaço do tecido.
“Um vestido tão bonito; você não devia rasgá-lo.” – Sussurrou Voldemort, se aproximando mais, como uma cobra prestes a dar o bote.

(minha autoria, agora)

Ela não sabia o que fazer, Tom era como um abismo, nos atrai malévola e irresistivelmente para suas entranhas e, mesmo sabendo que vamos sofrer se cedermos à tentação, nos atiramos sem piscar confiando em braços que nunca nos agarrarão. Ela tremia de pavor, pavor do que ia acontecer consigo mesma se cedesse ao seu “amor”. Viu aquele brilho maníaco, idêntico ao da sua imagem, surgir nos olhos dele. Optou por se atirar no abismo em vez de fugir dele. Se deitou na cama esperando que o seu carrasco lhe desse a tão esperada sentença, mal ouvindo o que ele dizia. Ouviu uma voz muito parecida com a sal gritando que não o fizesse, chamando-a de volta para a razão, Ann a ignorou, mal sabendo que, com aquele gesto, sentenciaria a morte de seu espírito.


Dentro da própria Ann, Mary, a imagem, soluçava. Estava tudo acabado, aquelas previsões horríveis se concretizariam, morte, sangue, dor, tristeza, abandono, morte, obsessão, rejeição, amor, morte, milhares de imagens explodiam em sua cabeça. Sentiu parte de seu poder ser canalizado para o homem que ela mais odiou em toda a sua existência. Enquanto Ann via naqueles sonhos o seu Príncipe Encantado, o seu salvador, Mary via um monstro, um monstro horrível que as destruiria e manipularia, fez de tudo para que Ann não fugisse, fez de tudo para que elas passassem o resto de sua existência naquela cela escura. Mas não conseguiu, aconteceu exatamente como as Nornas haviam previsto. E o pior é que Mary sabia que, no fundo, ela também se sentia atraída por aquele homem. Todo aquele poder, toda aquela confiança, tudo tão odioso e tão atraente ao mesmo tempo...Mas ela sabia, na próxima vez não se renderia aos encantos daquele homem.


Ela estava caída na sarjeta, havia sido chutada por Tom, por seu próprio esposo. Sentia o ódio fervilhar em suas veias, sentia algo que só havia sentido quando fez aquilo com sua tia. Sentia-se tão triste e tão furiosa ao mesmo tempo... De repente, algo saiu de dentro de si, de dentro da sua alma. Viu o rosto da imagem e sentiu-se estremecer de medo, era só o que faltava agora. Mas olhou melhor e não havia maldade naquele rosto tão familiar, havia dor. E aquela voz grave, tão firme e decidida, desta vez trêmula, como se fosse chorar, falou:
-Sabe, eu acho que entendi o que você viu nele. -E sorriu triste.-Eu já sabia que isso ia acontecer, tentei te avisar, mas você não me ouviu...
E ergueu um braço em direção ao céu, uma esfera negra veio pousar em sua mão, contrastando com a alvura dela. Mary estendeu a mão com a esfera e disse, numa voz rouca:
-Sabe, para merecer isso, ele tinha que amar a gente, como ainda vai demorar muito para ele aprender o significado dessa palavra, talvez ele nunca o aprenda, acho que isso nos pertence.
-O que vai acontecer comigo se isso voltar para mim?
-Uma das crianças que você parir vai ter algum problema, sério, de saúde. E nós não teremos muito tempo de vida, sabe, nosso corpo se acostumou a ficar sem todo esse poder.
-Mas eu poderei me vingar?
Mary riu.
-Acho que não somos tão diferentes assim, afinal. Sim, poderemos nos vingar. E, quando eu voltar para dentro de ti, não sairei mais, só quando for para assumir meu próprio corpo, minha própria identidade, está disposta a isso?
Ann fez que sim com a cabeça. Mary se aproximou dela, as mãos se entrelaçaram, os corpos ficaram muito próximos e, com um roçar de lábios, Mary e a esfera sumiram. Ann sentiu o corpo tremer com todas aquelas emoções, que ela já havia se desacostumado a sentir. Ficou horas na rua, tremendo. Posteriormente, Ann adquiriu uma casa, onde criou suas crianças, esperando a morte chegar.

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