O último momento de diversão



Era quase 9 horas quando a noiva chegou. Usava um vestido branco, muito detalhado e com a cauda extremamente grande para a ocasião. Era apenas um casamento simples, mas Fleur estava mais suntuosa do que muitas noivas de luxo. A cerimônia ocorreu no jardim da Toca, que fora arrumado e ampliado magicamente. Velas sobrevoavam o lugar, dando claridade à escura noite.
Era surpreendente a quantidade de pessoas que estavam na festa, em sua maioria, desconhecidos. Mas Harry pôde reconhecer alguns rostos, como os membros da Ordem da Fênix. Outra pessoa reconhecida, foi a irmã mais nova de Fleur, Gabrielli, que deu um pequeno aceno para que o garoto percebesse a sua presença. Ele não imaginou uma reação diferente por parte dela, era perceptível a gratidão por ter salvado-a do lago durante o Tormeio Tribruxo, em seu 4º ano em Hogwarts., mas a educação e elegância que certamente é de família, não permitia que ela saísse correndo em sua direção em uma festa como aquela.
Harry estava sentado junto á Gina, aguardando que a cerimônia começasse. Conversavam enquanto esperavam, mas o garoto não conseguia tirar os olhos dela. Estava linda, como sempre, usando um vestido vermelho, que combinava perfeitamente com seus cabelos, e realçava sua pele branca. O pior é que toda vez que a via, Harry ficava confuso. Sabia que ela entendera o motivo do término do namoro, e que evitava falar nisso para que o ex não se sentisse mal, mas mesmo assim, ele estava a ponto de explodir. Quanto tempo aguentaria ficar longe de Gina? Será que ia sobreviver para sentir seu beijo novamente?
O orador começou a falar, e todos se calaram. Harry não chegou à ouvir direito, estava absorto em seus pensamentos. Tudo que aconteceu em sua vida, a perda das pessoas que mais amava, agora o fim do namoro, o medo de ver os amigos mortos. E tudo isso por causa de uma só pessoa:Voldemort. Não tinha jeito, o que Harry sentia era raiva. A morte de Dumbledore fora decisiva, e ainda todas as mudanças que teve de fazer em sua vida de uma hora para outra. Mas não ia deixar que essa raiva tomasse conta dele antes da hora. Iria fazer tudo certo, destruir horcrux por horcrux, e vence-lo.
Quando caiu em si, Fleur e Gui já estavam se beijando. As pessoas começaram a se levantar e foram dançar ao som de uma pequena banda. Hermione veio em sua direção:
- Vamos, Harry, vamos dançar, você precisa se divertir!
- Não, Hermione, não estou com muita vontade de dançar.
- Pois eu não saio daqui enquanto não te tirar dessa cadeira, vamos - e olhou com aquela cara de mandona que só ela sabe fazer. Harry não viu outro jeito, levantou-se e foi dançar um pouco com os amigos.
Depois de algum tempo, foi anunciado que o buquê seria jogado. Gina e Hermione foram correndo participar. Por ser a primeira vez que Harry via um casamento bruxo, achou muito interessante a maneira com que as flores eram passadas a outra pessoa. A noiva mandava as rosas para o centro da festa, por meio de magia, e depois soltava. Daí quem pegasse primeiro, ficava. Mas a maior surpresa para Harry foi perceber quem havia pegado o buquê. Gina estav olhando tristonha em sua direção, com rosas vermelhas nas mãos. O garoto sentiu um aperto no coração, e por um instante, achou que seu corpo estava queimando. Será que aquilo era um sinal de que ele sobreviveria, e assim poder ficar para sempre com Gina? Ou que Gina conseguiria viver feliz com um outro cara depois da sua morte? Aquelas flores avermelhadas trouxeram a cor dos olhos de Voldemort à tona nos pensamentos de Harry, aquela situação o deixara desesperado. Porém, de repente, Harry percebeu que Gina jamais seria feliz com outro homem, quando a garota aproximou-se da mesa onde ele estava, depositou as flores com cuidado e disse baixinho:
- Não se preocupe, elas vão estar esperando você, ela é só nossa.

A festa continuou e mais uma vez Hermione conseguiu convencer Harry a dançar, levando Rony atrás deles. Hermione e Gina desapareciam várias vezes da pista, para a ajudar a Sra. Weasley na cozinha, de forma que deixavam os meninos sozinhos. Foi em uma dessa horas que Rony comentou:
- Não se preocupe, cara. A gente vai voltar são e salvo. E olha, eu fico meio enciumado e tal, mas eu dou o maior apoio em relação à você e a Gina.
A raiva subiu à cabeça de Harry, que não respondeu. Não queria parecer grosseiro com o amigo, mas aquelas palavras só passava mais medo. Medo de dar tudo errado, de acabar morrendo. E se ele morresse e Gina não conseguisse ser feliz de novo? Sentia raiva de Rony naquele momento simplesmente por lembrar o desespero que ele tentava esquecer. A festa continuou e a diversão mais uma vez varreu o assunto dos seus pensamentos. Quando finalmente foi se sentar com Rony, Hermione e Gina, ja eram quase 6 horas da manhã.
- Uau, esse casamento foi demais, cara. Até eu que não gosto muito de dançar, consegui ficar parado. Nem você, né? - disse Rony, dando uma cutucada alegre no amigo.
- É, foi legal.
- Foi bem divertida mesmo. Pra você principalmente, não é Rony, que foi incapaz de dar uma passada na cozinha para oferecer ajuda à sua mãe. Ela estava quase arrancando os cabelos lá dentro - retrucou Hermione, que conseguira alisar os cabelos exatamente como no baile do Torneio Tribruxo, e usava um vestido rosa-bebê.
- Cala a boca, Hermione. Festa é pra se divertir, não pra ficar servindo bandeja. - rebateu Rony, que pelo visto, conseguiu se recuperar do transe que ficou quando viu Hermione pela primeira vez aquela noite.
- Festa é para se divertir sim, mas a vida também é para ajudar.E não custava nada ser gentil, quanto mais com a própria mãe.
Rony abriu a boca para responder, mais Harry interrompeu:
- Tchau, vou dormir. Estou muito cansado. - disse levantando-se. Ele não conseguia entender como os amigos conseguiam discutir por coisas tão bobas, sabendo o que iriam enfrentar daí para frente.
- Espera, Harry, eu também já estou indo - disse Gina, pegando as flores e ficando de pé também.
- Boa noite, Harry, você também, Gina - comentou Hermione, que terminou de falar encarando Rony - Eu vou ver se a Sra. Weasley precisa de alguma ajuda.
- Haha, pois pode ir. Eu vou ficar um pouco aqui. SEM FAZER NADA - gritou Rony - Ah...Boa noite, vocês dois.
Gina e Harry mal entraram na casa quando a garota falou entre risos:
-Esses dois, não sei não. O pior de tudo é que me seguro para não rir.
- É, nem mesmo em um momento como esse eles conseguem parar de brigar por coisas bobas - respondeu Harry, iritado. Logo depois se arrependeu de ter dito isso, pois sabia que Gina ficaria muito triste em relembrar o assunto, e naõ gostava de ve-la assim. Exatamente como imaginou que faria, Gina ficou cabisbaixa e não respondeu nada.
Fizeram o caminho em silêncio até Gina chegar em seu quarto, quando disse:
- Boa noite, Harry.
- Boa.
O garoto continuou calado até chegar no quarto de Rony. Trocou de roupa e se enfiou na cama. Ficou olhando pro teto, usando as mãos como almofada embaixo da nuca. Não havia um momento que conseguisse parar de pensar em Dumbledore, nas horcruxes, e principalmente, em Voldemort. Pensava no caminho que teria de enfrentar. Sem mais nem menos viu o momento da morte de Cedrico, Rabicho recompondo o corpo de seu mestre e a imagem da alma de seus pais. Sirius caindo no arco, vários mortos-vivos vindo em sua direção e Dumbledore tombando no chão logo atrás dele. Gina olhando confiante para ele, e logo depois, sua cara tristonha com o buquê nas mãos. O rosto de Gina mudou de ângulo, ele á via desesperada, gritando:
- HARRY...Ai meu deus, ACORDA, ACORDA.
Ele estava todo suado, deitado na cama. Era perceptível que ele acabara de ter um pesadelo. Sentou-se na cama de um salto, e olhou para Gina, que estava acompanhada de Rony, Hermione e o Sr. e Sra. Weasley. Todos vestidos para dormir.
- Você está bem? Perguntou a ruivinha.
- Acho que sim - respondeu Harry. Hermione se adiantou:
- Está mesmo? Ai meu Deus, Harry, com certeza? O que você sonhou?
- Você tava se debatendo muito, cara. E gritando. Gritando coisas horríveis - falou Rony.
- O que eu estava gritando? – Harry sentou-se em um salto.
- Você gritou que ia matar alguém! Disse que a pessoa ia pagar por tudo que fez.
- Harry, você estava se referindo a você-sabe-quem, não é? – Dessa vez quem se adiantou foi o Sr. Weasley. Harry moveu a cabeça, indicando que sim, enquanto examinava os próprios pés. Sabia que não deveria pensar assim, sabia que não podia se igualar à ele, mas como poderia controlar esse tipo de pensamento? Ele existe, não tem como negar.
- Você sabe que você tem que controlar essa raiva, não sabe? – continuou o Sr. Weasley.
- Não é assim tão fácil – falou Harry, agressivamente,
- Eu sei que não é fácil, mas é preciso. Sei que não posso mandar na sua vida, sei que agora vai fazer tudo sozinho, mas eu te considero como um filho, e sei que para você conseguir alguma coisa, você tem que ser diferente dele.
Harry sentiu uma vontade de gritar, descontar sua raiva em alguma coisa, mas aquele “filho” o controlou.
- Eu vou embora amanhã.
- O QUÊ? – gritou a Sra. Weasley – Mas... já? – e olhou desesperada para o marido, esperando que desse um jeito.
- Quanto mais cedo eu conseguir encontrar as horcruxes, melhor. Eu não vou conseguir conviver com tudo isso – O Sr. Weasley ia responder quando Harry interrompeu:
- Não se preocupe. Não vou guardar raiva – e olhou com firmeza para ele. Foi respondido por um longo suspiro:
- Não tenho mais nada à lhe desejar que não seja boa sorte. E que você contar comigo para o que der e vier.
Harry sorriu, mas a Sra. Weasley retrucou:
- Mas Arthur... Eles não.... – O Sr. Weasley apenas olhou para ela, que calou-se, também suspirando.
O olhar de Harry recaiu sobre Rony e Hermione. Eles retribuíram-lhe o olhar e deram um pequeno sorriso. Virou-se para Gina, que tinha um olhar triste, porém confiante. Ela sorriu também.
- Vamos amanhã de manhã – terminou Harry, que acabara de perceber que aquele momento de diversão, que pode ser o último, tinha passado e ele nem havia percebido.

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