PARTE 2
Era manhã de Sábado, dali há algumas horas um importante (não para nós, sonserinos) jogo de quadribol, Corvinal versus Grifinória, estaria sendo disputado. Eu estava na biblioteca, escondido. Não gostava de ouvir a euforia dos grifinórios. Eles eram tão... detestáveis. Estava lendo a última edição do Profeta Diário, nada de mais, quando a senhorita Granger entrou. Ela olhou em volta e pregando seus olhos em mim, veio caminhando com um sorriso malicioso e cheio de soberba. Um agouro estranho passou pelo meu corpo.
- Bom-dia, professor Snape! - disse ela sorridente.
- Bom-dia, senhorita Granger. Algum problema? - perguntei.
- Problema nenhum. A professora Minerva me disse que o senhor estaria aqui. É que eu queria entrevistá-lo.
- O QUÊ? - sem perceber eu gritei. Foi Granger quem me alertou que eu gritara, ela sussurrou e balançou a mão num sinal pedindo que eu falasse mais baixo, afinal, estávamos na biblioteca.
- Eu formulei algumas questões, se quiser respondê-las agora, seria melhor para mim!
- Res-responder agora?
- Sim. Eu lhe faço a pergunta e o senhor responde. - disse ela irritada. Ah, garota sabichona, como seu eu não soubesse o que era um entrevista.
- Me dê essa folha de perguntas! - disse envergonhado, mas com ar de quem estava ironizando. Dei uma rápida olhada nas perguntas e me assustei. Com certeza as respostas não seriam fáceis, não que eu não conseguisse, mas se eu me atrapalhasse (o que era bem provável que acontecesse, com ela ali me olhando) seria uma tragédia! - Irei respondê-las e entrego a folha a você quando terminar.
- Como o senhor quiser! - ela deu meia volta e saiu calmamente.
Era três perguntas. Três. Porém parecia que eu teria de responder a um inquérito!
Um mês se passou. A senhorita Granger não estava mais me atormentando com olhares observadores. Mas ela ainda esperava que eu lhe devolvesse a folha de perguntas com as devidas respostas. Se fossem para qualquer outra pessoa, eu já as teria devolvido porque eu já tinha respondido, mas parecia que nada que eu escrevesse seria entendido pela senhorita Granger. Eu queria impressioná-la. Queria que ela sentisse o que é ser professor ali em Hogwarts e ter que dar aulas a todos aqueles pestinhas!
Eu a via constantemente conversando com outros professores, provavelmente estaria entrevistando-os aos poucos, conforme suas dúvidas aparecessem. Poderia ter sido assim comigo também, mas o senhor Me-Dê-A-Folha-Que-Eu-Mesmo-Respondo teve que aparecer! Resolvi entregar a ela uma das respostas. Deixei um bilhete sobre a mesa dela na aula de poções. Ela foi a primeira a chegar e quando viu minha assinatura no bilhete, abriu um largo sorriso, mas não leu naquela hora. Neste ponto ela era muito correta. Tinha uma hora para tudo. Quando era hora de estudar era hora de estudar e nada mais!
Depois do almoço, a vi sair rápido do salão principal. Ela correu até a biblioteca, jogou os materiais sobre a mesa e abriu meu bilhete apressadamente.
“Cara, senhorita Granger, desculpe a demora em lhe entregar a resposta, mas como deve saber um professor tem muitas outras tarefas além de ensinar. Quanto à primeira pergunta, se eu já havia pensado em ser professor, bem, nunca pensei. Minhas intenções iam contra qualquer coisa que envolvesse voltar a Hogwarts. Não que eu não gostei de estudar aqui, mas as companhias não me foram as melhores. Andei muito por esse mundo depois de me formar. Fiz coisas das quais não me sinto muito orgulhoso, mas por outro lado ganhei muito com elas, principalmente experiência! O diretor Dumbledore viu em mim alguém em quem poderia confiar quando me deu este emprego. Ele sabia do que eu era capaz. E provei isso deixando que nenhum aluno passasse por mim sem aprender. Bem, não contando com o senhor Longbotton, é claro! Lecionar é algo que me faz enxergar além do que eu enxergava. Apesar de não ser muito paciente com os alunos, eu acho que cumpro com meu dever!
Severo Snape.”
Na aula de poções seguinte, ela me agradeceu e disse que esperava ansiosa pelas outras respostas. À partir daquele momento, passei a vê-la de outra forma. Ela não era muito diferente de mim. Éramos os dois inteligentes e aplicados, discretos e sérios. Granger se diferenciava de mim por querer se exibir quando se tratava de responder perguntas dos professores, enquanto eu, ficava no meu canto, sabendo tudo, mas não me vangloriando.
Passada mais uma semana, entreguei a ela a segunda resposta. Mandei através de uma coruja. Ela deve ter recebido à noite, imagino que a lia enquanto estudava debaixo dos lençóis, da mesma forma que eu fazia!
“Cara senhorita Granger, vejo que pensou bastante nas perguntas que me faria. Fez as mesmas aos outros professores ou personalizou-as? Bem, pensei muito sobre como via Hogwarts e seus habitantes. Minha infância aqui não foi uma das melhores, como já havia citado. Os sonserinos naquela época era perseguidos por causa de Voldemort e comigo não foi diferente. Não via a hora de me formar e sair daqui. Mas o destino foi tão irônico, ele me ajudou, hoje sou eu quem persigo. Porém, faço isso com um propósito, acentuo o defeito de cada um para que a própria pessoa se corrija. Eu não sou uma pessoa que demonstra o que sente através de sentimentos. Sou sempre o mesmo, todos os dias, ninguém pode dizer que sou falso, duas caras. Não sou hipócrita! Se não gosto de alguém esta pessoa saberá e não há jeito de eu tratá-la de forma falsa. Não há muitas pessoas que eu goste em Hogwarts. Há as que convivo e as que ensino, ajo conforme cada uma age comigo. Como qualquer outra pessoa que vive aqui, passo muito mais tempo em Hogwarts do que em minha casa, sendo assim, é difícil não se apegar. Podemos nos considerar pessoas de muita sorte, pois Dumbledore não deixa faltar nada! E até realiza desejos especiais! Hogwarts é muito melhor que qualquer outro lugar no mundo. Aqui se tem um pouco de cada coisa. Se tem paisagens maravilhosas, lagos, rios, florestas e o principal, um castelo! Eu perco horas nos jardins caminhando e observando sua magnificência! E quem mais viveria num castelo senão reis e príncipes?
Severo Snape.”
Algo pareceu ter acontecido com a senhorita Granger. Ela, agora, passava por mim nos corredores e me cumprimentava sorrindo!! Fiquei realmente impressionado com o poder de poucas palavras. Mas o que mais me impressionou foi a carta que recebi duas noites depois do dia que entreguei a ela a segunda resposta.
Um gatinho amarelo apareceu na minha porta naquela noite. Ele trazia um pedaço de papel na boca. Assim que eu me abaixei para acariciá-lo, ele pulou no meu colo e deixou cair o bilhete nas minhas mãos. Acariciei seu sedoso pêlo e ele começou a ronronar, mas assim que eu tentei fechar a porta, o gatinho correu para fora, desaparecendo pelo corredor escuro. Sorri pensando no quanto eu gostava dos animais. Pelo menos eles não falavam, só ouviam! Sentei na beirada da cama e abri o bilhete. Era da senhorita Granger.
“Professor Snape, respondendo à sua pergunta, eu formulei questões adequadas a cada professor. O que mais eu poderia perguntar ao professor Binn senão o que ele considerava ser professor eternamente?”
Eu tinha que admitir, ele era tão irônica quanto eu quando queria!
“Não há muito o que saber sobre o professor Binn, ele não quer falar da vida... enquanto estava vivo! Eu teria muitas outras coisas para perguntar. Bem, quanto aos outros professores, não foi difícil, me dou muito bem com eles e até me ajudaram com as perguntas. Mas em relação ao senhor, como deve saber, foi o único que se prontificou a responder manualmente às questões. Ambos sabemos que nossa relação é estritamente professor-aluno e olhe lá, por isso, achei melhor mesmo o senhor responder dessa forma.
Agradeço mais uma vez!
Hermione Granger.”
Então ela não se sentia confortável comigo. Hum! Eu nunca dei chance! Mas também, ela é uma grifinória e não seria bom que nos vissem juntos, pelo menos não fora da sala de aula. Rapidamente, peguei um pergaminho e escrevi. Isso não ficaria assim. Ou eu responderia a última pergunta a ela como todos os outros professores ou não me chamaria Severo Snape.
Era Sexta-feira, tinha a última aula da tarde com a classe de formandos. Esperei ansioso pela resposta da senhorita Granger, mas ela foi a última aluna a entrar na classe. Estava com os olhos vermelhos e os cabelos levemente desarrumados. O que quer que tenha acontecido, deve tê-la deixado acordada a noite toda, porque ela mal se mexeu naquela aula. Eu só a via escrever, escrever e escrever. Tentei espiar o que ela escrevia, mas foi difícil com tantos olhos me seguindo. Aproveitei o momento em que o senhor Longbotton fez besteira, mais exatamente a hora em que Granger o ajudou, para dar uma olhada no que ela tinha sobre a mesa. Meio escondido entre folhas soltas, estava meu pergaminho da noite passada e, logo abaixo, a resposta que ela queria me enviar, rabiscada em certas partes!
“Professor Snape, acho que o senhor me entendeu mal quando disse que o senhor se prontificou, se prontificou não foi? a me responder manualmente. Não quis dizer que queria que respondesse oralmente. Eu quis dizer que foi uma opção, cada um faz suas escolhas... Não estou querendo ser grosseira e não querer que responda...”
Esse foi o trecho que consegui ler. Me afastei rapidamente da carteira dela, mas ela me olhava assustada, deduzindo que eu havia lido o bilhete. O que ela fez a seguir me deixou em maus lençóis em frente ao resto da classe, pois eu não reagi de nenhuma forma e toda sala percebeu que algo estava acontecendo. Granger jogou todo seu material dentro da mochila e gritou para mim antes de sair:
- Professor Snape, como pôde?
Eu fiquei ali parado sem saber o que dizer, mas finalmente gritei:
- SAIAM TODOS! - e me sentei em minha mesa escondendo minhas mãos, pois elas estavam tremendo.
Eu não jantei naquela noite. Enquanto caminhava pelo castelo, fiquei imaginando o porque dela não querer sem encontrar comigo para que eu respondesse pessoalmente a sua pergunta. Era óbvio para ela e, mesmo querendo me enganar, era óbvio para mim. Ela nunca pretendeu uma aproximação com a minha pessoa. Ela me odiava por eu tratar os amigos da forma que eu tratava, com desprezo. Eu não a culpei, mas ela deveria saber que amigos são amigos e negócios são à parte! Ela preferiu perder a chance de me perguntar qualquer outra coisa que quisesse por causa dos amigos, por medo de a verem em minha companhia... nada que eu também não quisesse, afinal, o que os sonserinos diriam ao ver o diretor da casa sentado no jardim com a senhorita Sabe-Tudo? Dei meia volta e retornei ao meu quarto, me joguei na cama e tentei não pensar naquele assunto.
BAM-BAM-BAM! Acordei assustado! Que diabos, eram cinco horas da manhã, nem mesmo os pássaros haviam acordado! Abri a porta um tanto sonolento, poderia ser Dumbledore precisando de algo. Mas não era.
- Senhorita Granger?
- Des-desculpe vir assim! - disse ela sem olhar no meu rosto - É bem cedo, ninguém irá acordar até as sete horas...
- Com certeza. - afirmei irônico.
Foi quando ela olhou para mim com os olhos mais vermelhos do que o dia anterior. Senti um aperto no peito. Como é que eu pude fazer algum mal a uma criatura como aquela? Dei um passo à frente e olhei para os dois lados do corredor. Ninguém a vista, então pedi a ela que entrasse.
- Sente-se. - eu disse apontando uma poltrona ao lado da lareira.
Ela se sentou com os braços cruzados. Percebi imediatamente que era por causa do frio. As masmorras eram assim, muito úmidas e frias, mas eu já estava acostumado, tão acostumado que estava apenas com a calça do pijama, de pés descalços e sem camisa. Oh, sem camisa!? O que é que ela iria pensar ao ver o professor totalmente despido? Peguei rapidamente o lençol e me embrulhei nele, pois não havia uma camisa sequer jogada no chão ou sobre a cômoda para me cobrir naquela hora. Com um leve movimento da varinha, acendi a lareira e o calor voltou a invadir o quarto. Sentei-me à frente dela e a encarei.
- Eu não quis fazer aquilo na classe, professor! - ela começou dizendo - Desde que estou fazendo esse trabalho de entrevista e observação as coisas têm mudado de ângulo... principalmente em relação ao senhor!
- Em relação a mim? Mas não me lembro de ter escrito nada tão perturbador ou...
- E não escreveu, mas tenho falado com outros professores sobre o senhor!
- Têm? - perguntei incrédulo - Por... que? Quero dizer, para quê?
- Bem, descobri coisas sobre o senhor... que me impressionaram.
- Nem tudo da vida são flores, senhorita Granger. - respondi levantando, fazendo alguma idéia do que ela queria dizer. Andei até a lareira e continuei, de costas - Não tenho orgulho das atrocidades que ajudei a cometer e muito menos de não ter me dado conta do que Dumbledore tentou me ensinar enquanto estive em Hogwarts, mas não preciso ouvir suas besteiras adolescentes! Você tem muito mais a aprender do que eu tive na sua idade!
Falei tão rápido que nem mesmo me lembrei de tudo o que disse e quando me voltei para ela, sua cabeça balançava negativamente.
- Eu soube coisas boas sobre o senhor. - disse ela com a voz tremendo - De pessoas que imaginei não gostarem do senhor!
Sacudi a cabeça.
- Vivendo e aprendendo! - respondei erguendo os braços - Então veio aqui para se desculpar por agir daquela forma na classe. Muito bem, está desculpada. Agora, se me dá licença...
- Professor... - ela se levantou repentinamente e se aproximou de mim - Tudo isso que eu estou sentindo é novo para mim! É estranho ter uma imagem de alguém e descobrir que ela não tem nada de verdadeira!
- E...
- Bem... acho que estou pronta agora para ouvia a resposta que o senhor tem para me dar!
Fui obrigado a rir. Foi a gargalhada mais gostosa que já dei, se é que me lembro de ter dado alguma. Ela riu também, mas parou subitamente ao me ver encará-la.
- Me dá um minuto? - pedi a ela.
- Claro, professor.
Pensei em pedir para que ela virasse de costas, mas não precisei, ela o fez instantaneamente. Foi estranho me trocar na presença de alguém! Fazia tempo que isso não acontecia. Fico imaginando o que ela tenha sentido. Depois de pronto pigarreei e saímos do quarto, seguindo na direção da biblioteca, que seria um lugar neutro para ambos.
- É muito cedo ainda, acho que não há perigo de fazer um rápido jogo de palavras! - disse ela sentada em frente a mim - Vejo que o senhor não entendeu! Bem, os trouxas costumam chamar entrevistas assim de pingue-pongue! Eu direi uma palavra e o senhor me diz o que lhe vem à mente!
Ergui as sobrancelhas franzindo a testa, sem continuar entendendo onde ela queria chegar com aquilo. Mas já que estava ali...
- Pronto, professor?
- Claro. - respondi ingenuamente.
- Hogwarts.
- Um lugar de paz e reflexão!
- Ótimo! - riu-se ela, ri também - Poções.
- Uma das coisas que faço melhor!
- Feitiços.
- Devem ser usados com cuidado!
- Varinha.
- Tem muita gente por aqui que não deveria andar com uma!
- Quadribol.
- Ótimo divertimento, mas também um bom exercício para aprender a agir em conjunto!
- Colegas de trabalho.
- Ah!
- Sem palavras, professor?
- Palavras além da conta, minha cara! Acho que... um bando de debilóides, exceto por McGonagall.
- Hum-hum. - murmurou ela escrevendo algo no final da página - Alvo Dumbledore.
- Alvo Dumbledore? - repeti refletindo no que poderia falar de tal figura? Certamente ele saberia o que aconteceu ali, dias depois. Ele sempre sabia das coisas - Dumbledore - murmurei, tantas palavras e nenhuma perfeita para qualificá-lo. Só o que pude fazer foi sorrir para ela.
- O senhor gosta dele, não é?
- Quem não gosta? - perguntei - Ele é a pessoa mais correta e irreverente que o mundo mágico poderia ter!
- Então o senhor gosta de alguém. - ela repetiu - remexendo nos papéis. Por um instante as perguntas cessaram. Na verdade, ela queria me fazer mais perguntas, mas estava com vergonha.
- É só isso, senhorita Granger? - perguntei tentando estimulá-la.
- Bem, eu...
- Continue então! - indiquei com o dedo o papel que ela segurava.
- Um mestre.
- Dumbledore.
- Um ídolo.
- Dumbledore.
- Uma pessoa inesquecível.
- Mi-minha mãe. - disse fechando os olhos.
- Ela morreu?
- Sim.
- Sinto muito. - ela expressou seu pesar colocando a mão quente sobre a minha que parecia ter rapidamente congelado, mas Granger não deu importância, parecia mais triste do que eu.
- Faz muito tempo, senhorita Granger.
- Eu não sei o que faria se perdesse minha mãe. Eu a amo muito!
- Não fui um exemplo de filho. Talvez minha mãe não me amou do jeito que a sua a ama!
- Como pode dizer tal coisa? O que ela diria se o estivesse observando agora?
- Senhorita Granger, se não se importa, podemos terminar a entrevista outra hora? - disse me levantando.
Nem deixei que ela argumentasse. Me senti... desnorteado! Não, não, senti mais do que isso, algo que me indicava que minha mãe estava mesmo conosco, nos observando e cuidando com o que eu iria dizer. Saí da biblioteca sem olhar para trás. Voltei para meu quarto, me atirei na cama e me cobri com dois cobertores, mas minhas mãos continuavam mais geladas do que nunca e eu não conseguia aquecê-las. Foi então que soube, minha mãe realmente estava comigo, porque um calor envolveu minhas mãos e elas se aqueceram novamente. E isso minha mãe sempre fazia. Quando eu ficava triste ou nervoso, fosse qual fosse o motivo, a primeira coisa que acontecia era o esfriamento das minhas mãos. Minha mãe sempre percebia quando eu não estava bem e me abraçava envolvendo minhas mãos com as dela. As mãos dela eram quentes e sempre curavam meu espírito.
Uma gritaria me acordou na manhã seguinte. Eram gritos de garotas. Levantei zangado e parei em frente à porta do meu quarto com a expressão mais azeda que pude fazer. Todas as garotas ficaram quietas.
- Vocês não têm nada melhor a fazer do que me acordar?
- Desculpe professor! - disse uma delas se aproximando de mim - Mas uma garota do terceiro ano disse que viu o senhor com uma grifinória na biblioteca! Eu não pude deixar isso ficar assim! Eu tinha que defendê-lo!
- Mas eu vi sim! - gritou uma outra garota, que tinha a camisa rasgada.
- Senhoritas, por favor! Obrigado por me defender, senhorita Pavarti, mas sua colega está certa. Eu estive mesmo na biblioteca com uma grifinória.
Foi até engraçado falar aquilo e ver a reação delas, todas levaram a mão à boca tentando abafar seus gritinhos agudos.
- Acalmem-se. Ela é aluna do último ano e está entrevistando TODOS os professores para seu trabalho final! Quanto a vocês... CIRCULANDO! E NADA DE BARULHO!
Foi impossível voltar a dormir. Rumei para o salão principal, tomei café de pé mesmo, estava com pressa, e segui em direção às estufas. Precisava de um ingrediente emprestado da professora Sprout, uma descurainia que ela havia colhido para mim na lua cheia.
- Aqui está, Severo! A mais bonita de todas. - disse Sprout entregando a frutinha com todo cuidado para mim.
- Obrigado. Desculpe pela interrupção!
Eu não gostava de incomodar os professores em seus horários de aula, mas era difícil falar com Sprout em outra hora, ela sempre estava embrenhada na mata tentando encontrar mudas de plantas.
Entrei na sala de poções, coloquei a descurainia sobre minha mesa juntamente com todos os outros ingredientes e os observei. Tudo pronto para começar a próxima aula. Eu mesmo executaria aquela poção porque duvidava da capacidade dos alunos fazerem, exceto por... sim, por ela, a senhorita Granger.
- Mas o que é isso? - me perguntei quando vi uma livro sobre minha mesa que, com toda certeza, não era um dos meus. Com raiva, atirei-o contra a parede do quadro, ele caiu dentro da caixa onde estavam guardados outros materiais esquecidos por alunos - Quem diabos esqueceu esse livro aqui que procure-o sozinho!
No entanto, um pequeno papel saltou de dentro do livro. Ele caiu lentamente no chão. Ajuntei, amasse e o atirei na lata de lixo, depois, voltei ao que estava fazendo. Mas algo me fez olhar novamente para a lixeira. Caminhei até ela, ajuntei o papel e o abri.
“Caro professor Snape, me peguei pensando mais uma vez no senhor e não pude deixar de escrever estas palavras que, há alguns meses atrás, soariam ao senhor como uma peça a ser pregada, mas hoje, o senhor sabe o que elas significam na verdade... Pois bem, eu não quis fazer o senhor se sentir mal ao falar sobre sua mãe. Me desculpe. Eu senti mesmo pelo senhor... Me desculpe também por ter pego na sua mão, se foi por isso que deixou a biblioteca sem terminar a entrevista. Sei que não gosta de intimidades, mas só quis expressar o meu pesar. Eu peço que esqueça o que eu fiz e me encontre na biblioteca, na tarde do próximo Sábado, depois das aulas, para terminarmos a entrevista. Agradeço desde já, Hermione Granger. ”
Quando a encontrei na biblioteca, uma semana depois, descobri que havia algo mais naquela intenção de me ver, havia um motivo claro que não era a entrevista.
Os alunos autorizados foram passear em Hogsmeade enquanto o impiedoso e maldoso professor de poções esperava a melhor aluna de Hogwarts na biblioteca. Ela chegou calmamente, sentou-se e olhou para mim sorrindo. Ela estava radiante. Não vestia o feio uniforme grifinório e sim um belo vestido. Sentei-me em frente a ela. Um perfume suave entrou por minhas narinas, era doce e me trouxe lembranças muito felizes de minha infância com minha mãe.
- A que devo a honra de tê-la tão bonita à minha frente, senhorita Granger?
Foi uma frase impensada que a deixou embaraçada.
- Obrigada, professor. - respondeu ela prontamente, mas olhando para o caderno - Achei que o senhor não ia querer me ver com o uniforme da Grifinória num Sábado em que a Sonserina venceu o jogo! - ela me surpreendeu.
- Certamente. - respondi rindo.
Conversamos com descontração a tarde inteira. Nada sobre entrevistas, apenas sobre nós. Sobre o que gostávamos ou deixávamos de gostar. E aquele foi o último dia em que nós nos encontramos, pois a entrevista tinha sido concluída. Depois disso ela não me procurou mais, nem mandou um cartão.
No entanto, eu perdia horas observando-a debruçada sobre livros na biblioteca ou deitada no jardim sobre a grama fofa, aprimorando um feitiço. Ela parecia não me ver. Porém, quando nos encontrávamos nos corredores, ela me cumprimentava e até parava para me dirigir algumas palavras, mas ela estava sempre rodeada por aqueles dois... seus amigos...
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