E As Discussões Continuam



Capítulo 2 – E As Discussões Continuam



O dia seguinte amanheceu calmo e ensolarado. O sol brilhava imponente no céu, agora muito azul, limpo de nuvens. Uma brisa fresa passava pelo castelo, junto ao canto alto e suave dos pássaros, quando Lílian lentamente abria os olhos. Sábado enfim chegara, e ela finalmente poderia passar um dia inteiro sem professores, sem aulas, sem anotações. Abriu as cortinas do quarto, a fim de acordar também suas amigas, pois já estava na hora combinada com os marotos de ir até a biblioteca ver, enfim, quem havia ganhado a aposta. Não que Lílian estivesse com medo perder, lógico que não, mas não poderia negar que um frio de ansiedade passava por sua barriga.

Depois de todas as meninas acordadas e devidamente arrumadas, as três amigas desceram calmamente as escadas do dormitório feminino, e não demoraram muito a encontrar quatro rapazes em pé, próximos a saída do Salão Comunal, a espera delas.

- Teve bons sonhos, Evans? – Lílian logo ouviu a irritante voz de Tiago invadir seus ouvidos, enquanto as três meninas se juntavam aos marotos, cumprimentando-os logo em seguida.

- Ah, claro que tive... E você estava bem longe deles, graças a Merlin. – ela respondeu, com impaciência. Passou por ele sem nem encará-lo, enquanto Tiago permanecia com um incessante sorriso maroto brincando no canto de seus lábios.

- Mau jeito, Pontas. – Sirius disse, rindo logo atrás dele, após dar um selinho em sua namorada.

Tiago balançou a cabeça, demonstrando que não tinha se dado ainda por vencido – na verdade, ele nunca se dava. Quando todos saíram do Salão Comunal, indo para os corredores do castelo, Tiago apertou um pouco o passo, até alcançar Lílian novamente.

- Preparada para realizar o seu maior desejo, ruivinha? – ele perguntou, passando as mãos pelos cabelos castanho-escuros, no que ela revirou os olhos.

Lílian simplesmente odiava aquela mania de Tiago de despentear o cabelo toda hora. Dava-lhe a impressão de metido, de se importar muito com a aparência, e eram exatamente essas coisas que a ruiva tanto repugnava.

- Potter, eu dispenso os seus apelidos totalmente detestáveis, ok?! – ela disse, bufando. Como odiava quando ele a chamava assim. Custava ficar apenas nos sobrenomes? Será que deveria ser assim tão difícil para ele entender que ela repugnava qualquer tipo de maiores intimidades com aquele garoto? Com aquela cabeça de titica que ele tinha, Lílian pensou, realmente deveria ser muito difícil para Tiago entender isso. – E que diabo de “maior desejo” é esse que você está falando?

- O de sair comigo, assim que você perceber, na biblioteca, que eu ganhei a aposta. – ele respondeu, sem deixar o seu belo sorriso desaparecer.

Sorriso este que encantava a maioria das meninas daquele castelo, mas não Lílian. Não, de jeito nenhum. Para ela, aquilo se assemelhava mais a uma atitude debochada do que a um meio de conquista. Aliás, tudo o que vinha de Tiago Potter, sendo bom ou ruim, certo ou errado, bonito ou feio, ela levava para o lado negativo, sem o menor peso na consciência. Já tinha se acostumado a isso, e assim seria para sempre. Potter e Evans eram dois nomes que não combinavam; eram como a água e o vinho, o branco e o preto, o doce e o amargo. Eram exatamente o que poderíamos chamar de opostos.

- O meu maior desejo, Potter, é que a vassoura que você tanto vangloria te leve para a China, e nunca mais o traga de volta. – Lílian disse, gesticulando impacientemente, enquanto evitava olhar para o garoto ao seu lado. Nunca soube explicar o porquê, mas não gostava muito de encará-lo nos olhos. Na última vez que lembrava de ter feito isso, sentiu-se um pouco atordoada, confusa, e desde de então nunca mais repetiu o feito. – E não, eu não vou perder a aposta.

Tiago deu de ombros, exibindo um olhar extremamente travesso, como se sugerisse para ela esperar para ver. Resolveu não comentar mais nada durante o caminho, até que todos finalmente adentraram a biblioteca, que agora estava praticamente vazia graças ao dia e ao horário.

Remo liderou o grupo até uma das estantes no fundo do local, pegando um livro sobre recordes bruxos e entregando outro a Ana sobre Quadribol. Quem achasse primeiro o tal recorde do ex-apanhador Plumpton, avisaria.

Não demorou muito, e Ana já mordia os lábios, soltando risinhos pelo canto da boca.

- Eu achei, gente. – ela disse, levantando os olhos do livro e passando a encarar os amigos.

- Ótimo, agora finalmente todos vão ter a confirmação de que eu estive certo o tempo todo. – Tiago disse, levantando-se da cadeira que havia puxado para sentar minutos antes, enquanto olhava de esguelha para a ruiva ao seu lado.

- Cale a boca, Potter. – falou Lílian, revirando os olhos e procurando nem dar atenção às baboseiras do maroto. – Você só fala besteiras mesmo...

- Na verdade, Lils, dessa vez ele não falou besteira. – Ana começou, preparando-se para a explosão que sua amiga provavelmente daria a seguir. – Tiago estava certo, o recorde foi de três segundos e meio, ele ganhou a aposta.

- Há, engole essa agora, Evans! – Tiago exclamou, antes de cair na gargalhada.

Começou a rodar em volta da garota, na intenção de festejar e ao mesmo tempo implicar com ela, no que Lílian o empurrou e tirou os livros das mãos de Ana. Precisava ver para crer. E, realmente, lá estava o parágrafo que dava a Tiago a vitória na aposta. Ela piscou os olhos várias vezes, como que para ter certeza de que aquilo tudo era real, de que realmente teria que sair com o trasgo do Potter.

- É, parece que você realmente ganhou. – Lílian disse, virando-se novamente para o maroto.

Mas, em seguida, a garota cometeu um erro que sabia não poder cometer: o encarou nos olhos. Aqueles olhos castanho-esverdeados que, por mais que estivessem atrás de um par de óculos, não deixavam de brilhar, não deixavam de exibir um ar maroto que só ele possuía. Mais uma vez, a ruiva viu-se confusa, atordoada, e não soube mais o que falar diante do sorriso empolgado que Tiago lhe lançava. Fez um enorme esforço para desviar seu olhar do dele, até que finalmente conseguiu, e saiu às pressas da biblioteca, sem conseguir dizer mais nada.


[...]


O fim-de-semana passou rapidamente, assim como todos os outros, e quando os alunos de Hogwarts lembravam de ter respirado os ares tranqüilos da manhã de sábado, já adentravam novamente a sala de aula no primeiro tempo de segunda-feira. Lílian, por sua vez, passara os dias de descanso apenas conversando com as amigas e lendo alguns livros; evitara ao máximo encontrar Tiago, e mais ainda falar com ele.

A aula de Transfiguração, primeiro tempo daquele dia, começou agitada, com McGonagall ditando muitos itens importantes sobre os N.I.E.Ms, no que Lílian tratou de anotar tudo rapidamente, já que aquela era a única matéria em que a menina encontrava certa dificuldade, e sempre dedicava um tempo a mais de seus estudos para aperfeiçoá-la.

- Psiu, Lily! – sussurrou Ana, que fazia dupla com a ruiva.

- O que foi? – Lílian sussurrou de volta, impaciente com a amiga. Sempre odiava ser interrompida nas aulas, ainda mais na de Transfiguração.

- Eu vi como você ficou sábado na biblioteca só de olhar para o Tiago. – Ana começou, no que a ruiva imediatamente revirou os olhos. – Quando você finalmente vai assumir que o que sente por ele não é simplesmente ódio e raiva?

- É... – disse Lily, dando de ombros de um jeito estranhamente displicente. – Você tem razão.

Ana arregalou imediatamente os olhos, muito surpresa com a resposta da amiga. Já tinha tocado tantas vezes nesse assunto e apenas recebido patadas em troca que, dessa vez, realmente não esperava que sua abordagem surtisse algum efeito. Bom, parece que todos mudam de opinião às vezes... mesmo aqueles que parecem totalmente irredutíveis.

- Lílian Evans, é você mesmo?! Ou eu deveria dizer... Lílian Potter? – falou a menina, rindo abertamente, no que McGonagall olhou-a irritada de soslaio. – Resolveu enfim acordar para a realidade, é?

- Fique tranqüila, Aninha. – respondeu a ruiva, sorrindo calmamente. – Já percebi que o que eu sinto pelo Potter não é, nem de longe, apenas ódio e raiva.

- Lily, até agora estou boba com isso tudo! – disse Ana, olhando para a amiga com um ar sonhador. Realmente seria ótimo ter a sua melhor amiga namorando o melhor amigo do seu namorado. – Não acredito que você finalmente caiu em si sobre o que sente de verdade pelo Tiago!

- É mesmo... Mas não foi muito difícil perceber que, além de ódio e raiva, também sinto NOJO e DESPREZO. – falou Lílian, com a expressão novamente irritada.

Ana revirou olhos, e balançou levemente a cabeça. Realmente, não deveria ter esperado qualquer mudança de pensamentos da cabeça-dura de sua amiga.

- Sabe, Lily, às vezes você me desaponta... – ela murmurou, olhando distraidamente para o seu pergaminho em branco.

- E eu não acredito que você chegou a pensar, mesmo por poucos segundos que tenham sido, que eu estaria apaixonada pelo Potter! – exclamou a ruiva, meneando a cabeça. – Francamente, Aninha, nem em meus piores pesadelos isso passou pela minha mente.

Ana abriu a boca para responder, mas, antes que o fizesse, uma varinha bateu com força no meio da mesa que as duas amigas dividiam.

- Evans e Perks, já basta! – explodiu furiosamente a professora de Transfiguração, olhando irritada para as duas meninas que não paravam de conversar. – As duas senhoritas ficaram falando durante quase a minha aula inteira!

- Er... desculpe, professora, nós só... – murmurou Lílian, enquanto seu rosto adquiria um tom avermelhado, ficando quase da cor de seus cabelos.

- Não quero saber de desculpas agora! – interrompeu McGonagall, enquanto o sinal indicando o fim daquela aula soava por todo o castelo. – Na próxima aula espero das duas a entrega de um relatório sobre o que foi dito por mim hoje. Não aceito nenhum pergaminho com menos de 50 cm ocupados.

As duas meninas suspiraram, e logo começaram a arrumar rapidamente o seu material, para sair dali o quanto antes. Passaram por um grupo de alunos que ainda cochichava sobre o momento histórico em Hogwarts, Lílian Evans levando bronca e punição, e elas logo começaram a andar pelo corredor do castelo, em direção à próxima aula.

- Ah, Evans... nunca esperava isso de você! – Lily ouviu uma conhecida voz masculina exclamar atrás dela, enquanto sentia um braço envolvendo seus ombros.

Virou-se para o lado, a fim de saber quem era, e não se espantou muito quando avistou Tiago caminhando ao seu lado, enquanto Sirius dava um selinho em sua amiga. Ela ameaçou encará-lo, mas lembrou-se de última hora o quanto ficava desconcertada com isso, sabe-se lá porque, e acabou contendo-se em olhar apenas para o sorriso maroto que brilhava no canto dos lábios de Tiago. Sustentou seu olhar por alguns instantes, até que piscou para desviar seus pensamentos, e retirou com raiva o braço do garoto de cima de seus ombros.

- Não enche, Potter. – ela disse, com o tom bastante irritado. – Será que você não percebe que, depois de tudo isso, eu ficaria num completo mau humor?

- Que eu saiba, você já vive de mau humor! – falou Tiago, ainda sorrindo, no que Lílian lançou-lhe um olhar mortífero. – Mas era exatamente por isso que vim te procurar!

- E que eu saiba, você sempre me procura por um motivo inexistente. – a ruiva rebateu, com a expressão ainda ligeiramente emburrada.

- Claro que não, minha cara Evans! – exclamou o maroto, enquanto os dois paravam em frente à sala de aula de Feitiços. – E aqui vai uma prova disso: você sabe que eu sou muito bom em Transfiguração, aliás sou bom em completamente tudo, como você já deve ter reparado. Mas a questão é: estou cedendo o meu disputado tempo a você para te dar uma ajudinha nesse relatório!

Lílian soltou uma fraca risada irônica, enquanto balançava ligeiramente a cabeça de um lado para o outro, como se não acreditasse naquilo. Então, resolvendo nem responder à tamanha idiotice, a menina simplesmente virou as costas para Tiago e adentrou a sala, deixando-o sozinho para trás.

Assim que a ruiva passou pela porta, avistou Ana dividindo sua mesa com Sirius, no que o garoto estava com o corpo ligeiramente virado para trás, conversando com Remo e Pedro, e a carteira na frente do casal estava vazia. Lílian, então, andou até ela, e sentou-se na cadeira em frente a sua amiga, logo virando-se para trás também, para conversar com ela.

- Viu no que dá ficar perdendo tempo falando sobre aquele prepotente?! – bufou a ruiva, no que Ana apenas sorriu. – Agora temos um relatório gigante para fazer!

- Ah, Lily, pare de reclamar, agora já está feito! – respondeu Ana, piscando divertida para a amiga.

Antes que Lílian pudesse retrucar, Isabelle veio aproximando-se curiosa, e logo sentou na cadeira vazia ao lado da ruiva. Colocou os livros que carregava nos braços sobre a mesa, e virou-se para as amigas.

- Meninas, o que foi aquilo na aula de Transfiguração?! – Belle perguntou, enquanto colocava delicadamente uma das mechas de seu longo cabelo louro para trás. Ela era o tipo de garota que parecia ter todas as suas atitudes perfeitamente estudadas: o modo de sentar, de passar as mãos pelos cabelos, de falar calma e charmosamente, de nunca se exceder; era o tipo de garota que todas tomavam como exemplo.

- Ana e eu estávamos conversando sobre o arrogante do Potter, e a McGonagall nos pegou, só isso. – respondeu Lílian, gesticulando com impaciência.

- No que a Lily, como todas as vezes que apenas tocamos no nome dele, já ficou toda irritadinha. Para mim, isso é amor. – disse Ana, ainda com um largo sorriso brilhando em seus lábios e provocando sua amiga.

- Se eu fosse você, minha cara Aninha – começou a ruiva, olhando maliciosamente por cima do ombro da garota. –, começava a se preocupar com o seu amor.

Ana, por sua vez, gesticulou com as mãos, sem entender o que Lílian quis dizer, no que a ruiva apenas apontou com a cabeça. Quando Ana virou-se para trás, então, avistou a garota que detinha o maior e único motivo de sua raiva: Susan Harper. Era uma sextanista da corvinal, que possuía os cabelos loiros bem lisinhos um pouco abaixo do queixo, os olhos em um negro muito profundo e a pele clara como a neve. Susan e Sirius tiveram uma espécie de “rolo”, que durou cerca de duas semanas, mas logo depois o maroto e a Ana começaram a se envolver, e ele deixou a corvinal de lado. Desde então, a loira sempre gostou de mandar várias indiretas para Sirius, talvez por não tê-lo esquecido ainda, talvez só para irritar sua namorada. O fato é que, se fosse a segunda opção, ela definitivamente conseguia.


Sirius conversava distraidamente com Pedro, com a cadeira balançando levemente, apoiada nos dois pés de trás, quando Susan começou a se aproximar, sorrindo para ele. Sirius ficou um pouco indeciso quanto a que atitude tomar, pois sabia como a sua namorada ficava irritada com aquela história. Mas, antes que ele tomasse qualquer decisão, sentiu alguém puxá-lo pela gola de sua veste, colando os lábios nos dele em seguida. Logo depois, reconheceu aquele beijo calmo e ao mesmo tempo maravilhoso de sua namorada, e sorriu marotamente por dentro.





N/A: Bom, mais um capítulo! Desculpem realmente a demora, mais eu tenho 6 fics em andamento, então é bem difícil conciliar tudo. Além do que, eu não estou apenas pegando o capítulo e reescrevendo “melhorzinho”, estou mudando algumas coisas aqui e ali, para deixar a fic pelo menos um pouco mais aceitável. Espero que vocês tenham gostado, e vou tentar não demorar a postar o capítulo três aqui!

Beijos

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