erguendo o véu



Blood & Love

Capítulo VII
– erguendo o véu


“Sinto muito. Você não pode entrar aqui”, explicou o homem na recepção, pacientemente.

“Como não? Eu tenho o direi--!”

“Segurança!”

O tumulto se agigantava cada vez mais na recepção do St. Mungus. Os médicos e seguranças já não conseguiam manter os repórteres do lado de fora do hospital: eram dezenas! Todos os jornais do país, desde os maiores e mais importantes, como o Profeta Diário, até os de colunas de fofocas, como o Witcheen News, tinham seus representantes ali, causando um grande alvoroço.

“Harry Potter acordou! As pessoas têm o direito de saber o que ele tem a dizer!”, argumentou um dos repórteres enquanto os seguranças os cercavam.

“Ele não está disponível no momento”, respondeu a enfermeira, irritada. “O Sr. Potter está sendo examinado e depois descansará.”

“Ah, então a senhorita o tem visto! O que me diz de uma entrevis--?”

Fora!”, ordenou o médico, impaciente. Virou-se ao segurança, “Certifique-se de que a imprensa não pise aqui, entendeu?

“Entendi”, afirmou rapidamente frente a veemência do outro, empurrando o aglomerado de repórteres, câmeras, microfones e milhares de protestos para fora do prédio.

Não muito longe dali, mais um aglomerado se formava, agora de médicos, em torno do Menino-Que-Sobreviveu. Eles o examinavam com muito cuidado para que nenhuma cicatriz fosse esquecida, fechando ferimentos, estancando sangramentos e certificando-se de que tudo estava em ordem. Harry não parecia se importar, de qualquer maneira. Por mais que os médicos o examinassem, os orbes de esmeralda líquida não se despregavam da figura feminina por detrás do vidro fumê.

Ginny o observava, ansiosa e preocupada. Harry não dissera uma só palavra desde que acordara, mas a continuava observando.

Ron estava ali ao lado, os olhos fixos em Harry, o estômago embrulhado. Ele estaria bem? Lembrar-se-ia do que houvera? Bem, ao menos ele acordara. Esse era o primeiro passo para a recuperação, certo?

“Estou feliz por ele ter acordado”, murmurou à Ginny enquanto os olhos azuis se desviavam do moreno para encontrarem-se com a ruiva. Ela sustentava o olhar de Harry, em silêncio, mas Ron a podia sentir tensa, nervosa. Com medo. O ruivo pousou uma das mãos no ombro de Ginny, para tentar acalmá-la, mas de certo que não o fez.

Não importaria o que tentasse, falharia.

Ginny via nos olhos de Harry algo que não deveria. Calafrios lhe subiam pela espinha enquanto tentava desbravar os mares verdes, onde as ondas revoltosas a arrastavam para mais e mais fundo...

Ginny lia em seus olhos a definição do próprio medo: ela via a morte.

E para além dela.

Sentiu a garganta secar enquanto o peito pesava e levou uma das mãos até a de Ron, que descansava sobre seu ombro, apertando-a com força. Harry trazia a morte nos olhos... Que traria no próprio peito? Ainda restaria um pouco de coração?

Ron segurou a mão dela na sua, com cuidado, e aproximou-se mais um passo da irmã, com medo de que talvez ela viesse a cair. Observou o tom róseo das maçãs do rosto da ruiva ser substituído pela cera.

“Ginny, você está bem?” Ela fez que sim com a cabeça, temendo que sua voz pudesse falhar. Ron temeu pela sua irmã, mas o que poderia fazer, afinal? “Acho melhor você se sentar um pouco...”

“Não”, ela recusou simplesmente.

Passados alguns instantes, a enfermeira adiantou-se até eles, cansada.

“Ele – o Sr. Potter – já pode receber visitas, mas só uma. Entendam, ele precisa descansar...”, ela dizia, mas eles lhe pouparam palavras, assentindo.

Quando Ginny precipitou-se até o quarto, num impulso, Ron tentou detê-la, segurando-a pelo pulso, mas não pusera muita força no aperto, de modo que, com um passo, ela livrou-se dele, passando pela porta e fechando-a atrás de si.

A ruiva caminhou até parar ao lado do leito onde o moreno se encontrava, sentando-se na cadeira que haviam deixado para a visita. Harry a acompanhou com o olhar.

Ficaram em silêncio por alguns instantes, sentindo o peso do tempo passado e da distância que puseram entre eles. Haviam se passado longos e difíceis quatro anos desde a última vez que se viram.

“Você está bem?”, ela perguntou, tentando não desviar o olhar. Agora que estavam sozinhos, frente a frente, Ginny sentia uma enorme vontade de não o encarar. Não conseguiria o olhar nos olhos e fingir que as coisas continuavam na mesma entre eles. Não era verdade. Nem meia verdade.

Harry meneou a cabeça, em concordância, e então sorriu. Ginny se sentiu dez, não, mil – melhor: um milhão de vezes pior.

Harry Potter, aquele que já fora seu, digno de se pertencer, o Menino-Que-Sobreviveu nada facilmente, o herói da Guerra Bruxa, que carregava a morte nos olhos e tinha todos os motivos para ser a pessoa mais infeliz do mundo, e mais alguns – não poucos – para odiá-la para sempre, através de toda a eternidade, sorria para ela, só para ela: Ginny Weasley, a mais vil, indigna, desprezível e vergonhosa criatura que já ousou pisar na Terra.

Ginny não merecia nem que os orbes de esmeralda líquida a olhassem nos olhos, cintilando lindamente sobre aquele poço de escuridão que escondiam.

Harry arrastou uma das mãos até a beirada da cama, oferecendo a palma a Ginny, que a segurou com cuidado. Ele apertou-a de leve, com o pouco de força que lhe restava, e, num silvo quase inaudível, murmurou:

“Obrigado.”

Ela continuou o olhando, confusa. Que era aquilo que ele agradecia, afinal? Como que o continuasse fitando, interrogativa, Harry prosseguiu, desviando o olhar para um ponto qualquer do quarto:

“Eu estive bem longe nesses últimos tempos...”, ele dizia, com a voz ligeiramente rouca, trêmula, em desuso. “Mais longe do que em qualquer dia estarei novamente.”

Ela o observava, curiosa e concentrada. O que queria dizer com aquilo? Que ele...?

“Ginny, e-eu... Eu os vi... Visitei-os.” Os olhos de Harry vagavam pelo quarto, mas a ruiva tinha certeza de que passeavam é dentre as memórias do rapaz, rosto por rosto daqueles que citava. “Meus pais estavam lá, junto de Sirius e Remus. Vi Albus também e tantos rostos que só conhecera de fotografias...”

Ela tentava entender a o que, exatamente, Harry se referia. Talvez fossem àqueles que morreram na Guerra Bruxa, mas então isso significaria que Remus...

“Eles já tinham partido há muito tempo”, continuou o rapaz, distante, “Estavam dando uma festa...”

Ginny não pode ignorar um calafrio ao pensar numa festa dos mortos. Observou com cuidado os olhos de Harry. Brilhavam mais do que o normal.

“E, por um momento, eu me senti... Imensamente feliz.”

Ele pareceu quase arrependido daquilo. A ruiva apertou as mãos dele com mais força, quase com urgência, como se Harry fosse o ar que lhe faltava nos pulmões no exato instante. Se bem que talvez não fosse exatamente Harry que lhe causasse aquele aperto no peito que sentia tão nitidamente agora... Ele prosseguiu.

“Mas depois... Alguma coisa me chamou. Me trouxe de volta. Alguma coisa me dizia que não era a minha hora... E eu soube que tinha de voltar.” Ele levou os olhos de esmeralda líquida em direção a ela com um sorriso fraco esboçado no rosto, segurando sua mão com mais força. “Tinha de voltar pra ver você.”

Ele arrastou a outra mão para junto da primeira, a fim de envolver a de Ginny por completo, e segurou-a por algum tempo, em silêncio, como se fosse um de seus pequenos tesouros. A ruiva o continuava mirando nos olhos, um nó atado na garganta, emudecida. Então, ele deixou suas últimas palavras escaparem.

“A guerra acabou, Ginny... Acabou.”

A ruiva engoliu em seco, digerindo a última informação. A guerra acabou? Quando...? Como...? Mas havia algo mais além que haveria de se compreender. Havia mais que o moreno quisera dizer com aquela informação.

Com a guerra acabada, significava... Que Harry queria cumprir a promessa que lhe fizera há tanto tempo: depois da guerra, nós seremos felizes, Ginny. Juntos.

Mais um calafrio lhe percorreu pela espinha e aquelas lágrimas que rolaram pela sua face logo em seguida – aparentemente de alegria – denunciavam o fogo, a chama viva que queimava-lhe por dentro. Chama essa que não queria morrer.



Ron os observava por meio de vidro fumê. Não podia entender exatamente o que diziam, mas pudera sentir a tensão e intensidade. As lágrimas de Ginny o deixaram preocupado, ainda que acompanhassem um de seus sorrisos fáceis. Harry tinha a mão dela nas suas. Ron não conseguia parar de pensar em como aquilo se sucedera tão rapidamente.

Não demorou muito, boa parte da família Weasley chegou. A Sra. Weasley, os gêmeos... O Sr. Weasley logo se juntou a eles e todos se puseram de pé ao lado de Ron, acotovelando-se por vezes para ver como Harry estava.

A Sra. Weasley, como sempre, não custou a cair em prantos, balbuciando, entre um soluço e outro, como não se perdoaria se algo houvesse acontecido a Harry, em como se sentiria culpada e o quanto estava feliz por vê-lo acordado e sorrindo – ainda que tivesse deixado bem claro que era melhor o hospital arrumar a comida de Harry direitinho ou ela faria um escândalo.

Os gêmeos passaram para uma espécie de comemoração neandertalóide, com direito a alguns saltos e cantos de conteúdo duvidoso, numa mistura de línguas que mal lembravam aquelas capazes de serem pronunciadas por homens – Ron duvidava até que macacos chegassem a tal ponto.

De qualquer maneira, o ruivo manteve-se em silêncio, observando-os dentro do quarto. E não importaria que estardalhaço os gêmeos chegassem a fazer, ele continuaria sentindo-se o único ali naquele corredor, contemplando algo que estava muito além de onde seus braços pudessem alcançar, preso num silêncio mortal e angustiante, incapaz de livrar-se dele.

Ron sentia-se, acima de tudo, como se estivesse perdendo algo que estivera há muito tempo dentro dele, que já pertencia a um lugar especial, entre as costelas e o pulmão, talvez... Ou só estaria tomando consciência daquilo que nunca chegara a ter? A pior coisa que já sentira: a cabeça cheia, o vazio do coração. Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Em vão.

Que era aquilo, afinal? Fosse o que fosse, não era hora ou lugar para tomá-lo. Harry havia acordado e parecia estar bem: era tudo o que importava. Não havia tempo para ser egoísta e pensar só em si: era a vez de Harry.

E, assim, concluiu que aquilo era vão.

Embora conservasse uma pontada incômoda num lugar estratégico: bem ali no coração.



Ginny saiu do quarto e já fechara a porta com um cuidado quase exagerado quando o Sr. e a Sra. Weasley se precipitaram até ela e adentraram o recinto – sem permissão médica. Ginny voltou a postar-se ao lado de Ron e eles partilharam de um silêncio estranho, incômodo, tomando cuidado para não deixarem seus olhos procurarem os do outro.

“Você está bem?”, ele forçou as palavras pela garganta, tentando quebrar o silêncio que não o deixava.

Ela fez que sim com a cabeça.

Por um estranho motivo, ele não se sentia muito à vontade. Talvez fosse a vergonha de lhe implorar perdão... Mas um nó havia se formado em sua garganta e ele tentava desatá-lo.

“Olha, Gi... Me desculpa, eu...”, ele começou, mas ela o interrompeu.

“Está tudo bem.” Ginny soou indiferente. Ron não se sentiu muito bem com o pouco caso que ela fizera – estava se esforçando! – mas o nó acabou por vencê-lo e como lhe faltavam palavras, emudeceu.

Ficaram ali, juntos, longamente, em absoluto silêncio.

Não demorou muito para que a imprensa acabasse conseguindo invadir o St. Mungus e os repórteres choveram, procurando pelo “assunto da semana”. Enquanto seguiam pelo corredor em que deveria estar o Menino-Que-Sobreviveu, ou o Eleito, assim como preferissem, reconheceram os Weasley, que nunca foram de se perder na multidão.

“Você seria quem?”, um dos repórteres adiantou-se a Ron, “Têm tantos...”, soltou uma risadinha que não agradou em nada o ruivo, “Seria talvez um dos gêmeos? Ou...?”

Deparou-se com Ginny, com quem, por ser a única mulher dos herdeiros Weasley, não poderia haver erro, e lembrou-se de um romance passado que ela tivera com o menino Potter.

“Você deve ser a caçula... Cadê o fotógrafo?!”, berrou, fazendo o coração de Ginny acelerar com o susto. “Então, você já viu o Sr. Potter? Diga, como ele está? Está bem? Está inteiro? Vocês voltaram? - Por Merlin, alguém está tirando as fotos?! – Ah, querida, não se acanhe. Pode falar!”, ele terminou com um tom falsamente agradável.

Ron tentou afastar Ginny da multidão de repórteres, fotógrafos, máquinas e microfones, mas um homem baixinho e barrigudo a segurou, enquanto o primeiro gritava para que não a deixassem escapar calada.

Ginny tentou desvencilhar-se do aperto, mas o homem a segurava com força.

“Me solta! Está me machucando!”

“Só depois de alg--”, mas não teve tempo de concluir, já que Ron desferira-lhe um soco e, enquanto se ocupavam de segurá-lo para que não caísse, tratou de levar Ginny para o mais longe que pudessem no hospital, antes de aparatarem de volta para casa.

Apareceram do outro lado da cerca, como de costume, e tiveram de passar por ela e atravessar o jardim até a porta, chegando à sala.

Ginny passou direto pelo aposento, entrando na cozinha. Ron a seguiu.

“Por que você foi até o hospital?”, ela perguntou, irritada, de costas para ele, servindo-se de um copo d’água. Ele ficou em silêncio por alguns instantes.

“Porque... Eu queria... Porque eu queria me desculpar com você”, falou, quase num murmúrio, muito rápido. Ela continuou, porém, a usar o mesmo tom imperativo, elevando a voz de quando em quando.

“Se desculpar pelo o que? Não há nada pelo que se desculpar!”, retrucou, impaciente.

“Eu só...” Ele pôs as mãos nos bolsos e desviou o olhar para o chão, embalando-se de leve nos pés, sem jeito. “Não quero ficar brigado com você”, confessou.

Ginny esvaziou o copo num gole só. Então, suspirou.

“Eu também não quero ficar brigada com você” – mas talvez fosse mais fácil, ela ponderou. Talvez fosse mais fácil se sentisse raiva dela. Sabia, no entanto, que não a manteria por muito tempo. Virou-se para ele e o olhou nos olhos. Ron prendeu a respiração. “Ron... A guerra acabou.” Ginny sorriu de leve, os olhos úmidos.

Ron não entendeu o porquê dela estar lhe falando aquilo naquele momento, mas deixou aflorar um sorriso intruso pelo canto dos lábios, acompanhando-a.

“Como assim a guerra acabou?” Era difícil de acreditar. Depois de tanto tempo... Ela fez um gesto impaciente com uma das mãos, aproximando-se um tanto.

“O Harry, Ron! Ele disse que a guerra acabou!”

“A guerra... Acabou.” Ele pareceu surpreso com o som da própria voz, mas não era para menos. Sempre estivera em guerra, desde que nascera. Uma guerra velada, silenciosa. “Isso quer dizer... Ele voltou pra você!”, concluiu.

O sorriso da ruiva pareceu falhar por um momento, para logo depois ela o alargar. Para Ron, aquilo pareceu suspeito.

Ela entregou-se aos braços do irmão, como que em comemoração, mas Ron sentiu-a mil vezes mais pesada, assim como quem se consola em seus braços, procurando um lugar onde se apoiar.

Ele a afastou de si e ela o mirou, interrogativa, quase receosa, com o rosto marcado pelo caminho das lágrimas.

“Está tudo bem com você, Ginny?” Ron voltara a pensar naquilo que o deixara perplexo não muito tempo atrás. Aquilo que pesava em Ginny... Seria a mesma coisa que era maior que o próprio Harry? Será que o que a deixava aflita naquele exato instante era o que tomara o lugar de Harry? E seria isso o que, exatamente? Um sonho? Um desejo? Uma pessoa? Que quer que fosse, estava ali agora, fazendo-a sofrer. E era seu dever descobri-lo.

“Não me ouviu, Ron?”, ela sorria, mas não era um daqueles seus sorrisos únicos e maravilhosos. Não era o seu sorriso favorito. Não importava o que dizia, se estivesse tão feliz quanto queria parecer, teria um daqueles seus sorrisos para desarmar as suspeitas. E não o trazia. Não o trazia porque mentia. O fato de ela mentir a ele, justo para ele, o deixava preocupado. “Eu lá tenho, por um acaso, algum motivo para não estar bem?”

Ginny sentiu o peso dos olhos azuis dissecando-a.

“Pode ter... Basta não querer me contar.” Ele conservava em sua face uma postura séria, concentrada, como poucas vezes o vira. Ron estava tentando descobri-la, a ruiva podia sentir. E diante daquela perspectiva, ela fraquejou, deixando-se cair em desespero.

“Isso é ridículo!”, disse, irritada. Nervosa. “Já disse que estou ótima!

Ela deu um passo para trás, mas só lhe restara um pouco de parede. A sua máscara já não a camuflava tão perfeitamente o nervosismo, o desespero por manter seu segredo.

Ron se aproximou.

“Não sei o porquê... Mas cada vez mais duvido das coisas que me conta.”

As sobrancelhas dela se curvaram num arco irritado.

“Então pare com isso!”, ordenou, numa última tentativa de livrar-se do assunto, mas não se moveu quando ele deu mais um passo em sua direção, ficando perigosamente perto.

A verdade era que estava bem presa ali, entre a vontade de juntar-se a ele e acabar com a mentira e as conseqüências que tudo poderia lhe levar: a rejeição que provavelmente teria de passar, a decepção da família e dos amigos, o sofrimento a Harry e Ron que poderia causar e a raiva de si mesmo, que não poderia controlar caso isso acontecesse. Gostaria, acima de tudo, de ser feliz ao lado de quem amava.

Mas essa não era uma opção.

“O que você não quer que eu veja?”

Meio palmo. Era tudo o que havia entre ela, o céu e o inferno. Meio palmo. A respiração falha. Meio palmo. E ela começa a puxar o ar com força. Nem um, só meio. As suas pernas tentaram ceder, mas ele a segurou pelos pulsos contra a parede, determinado a descobrir aquilo que lhe causa tanto mal de uma vez por todas. Sem fazer idéia de que apenas trazia a ela o seu próprio mal, a meio palmo.

“Me solta, Ron!”, ela mandou.

“Me responde! Acaba com isso!”, ele pediu, sem fazer idéia do que pedia. Ela via os orbes azuis tão próximos e tão intocáveis. Ele via os olhos castanhos, banhados em fogo líquido, tão confusos e doloridos.

“Me larga!”, ela gritou, conseguindo arranjar forças para empurrá-lo. Ele afastou-se num passo, batendo contra a mesa, desajeitado.

Ron olhou-a, ainda mais desconfiado por resistir a todas as suas tentativas. Ginny, porém, trazia nos olhos apenas o medo do que poderia se suceder dali em diante.

“Ginny”, ele começava novamente, mas fora interrompido.

“Cadê você, Won-Won?”, soou a voz infantilizada e sonolenta de Lavender, ecoando pel’A Toca. Ginny quis sentir-se aliviada por aquilo, mas só ficou enraiveceu. Seus olhos faiscaram maldosamente.

“Acho melhor você ir, Won-Won.”

Ele sustentou seu olhar por mais algum tempo antes de dar-lhe as costas e deixar a cozinha a passos firmes.

Assim que ele desapareceu pela porta, a ruiva escorregou junto ao chão, abraçando os próprios joelhos e movendo-se num ritmo infantil, para trás e para frente, enquanto as lágrimas finas rolavam silenciosamente pelo rosto sardento.

“Isso não pode estar acontecendo... Isso não...”

Não chorava por homem algum. Chorava, acima de tudo, por si mesma. Pelo que não seria capaz e fazer e, principalmente, pelo que seria.



Ron entrou no próprio quarto, fechando a porta atrás de si. Andou até a cama e passou a livrar-se dos sapatos. Lavender o abraçou pelas costas pouco depois dele ter se livrado da camisa. Desabotoava as jeans.

“Onde você estava?”

“Eu fui ao hospital.”

Ela pareceu preocupada.

“Você está bem?”

“Estou.”

Deitou-se, no que a loura o imitou, agarrando-se irritantemente ao seu peito, mas ele não se opôs. Não agora que estava tão distante. Logo, ela dormiria. Mas não ele.

Ron permaneceu acordado por horas e horas... Pensando num certo segredinho.



***
N/A: certo, eu mereço um tiro, eu sei. Mas está aí: o elemento estranheza entre ambos e o mistério finalmente incomodando a cabecinha oca do Roniquito. Ao menos eu tenho algumas coisas boas a falar...

Primeiro, agradecimentos aos leitores. Afinal, foi por causa de vocês que a B&L se tornou destaque no Aliança 3 Vassouras. E a fic recebeu quatro vassouras de cinco nas análises do The Quibbler, o que é muito mais do que eu esperava, tratando-se de um casal mais-que-incomum e o ódio patológico que algumas pessoas demonstravam apenas a citação de incesto. Enfim... Muito obrigada. (:

E, bom, pra quem ficou com raiva de mim por esse capítulo ser pequenito, novidades bastante preocupantes (ou não): próximo capítulo tem 24 páginas. O.O E ainda falta acrescentar os detalhes finais... Ou seja, muitas surpresas nos aguardam no capítulo oito.

Até logo! o/

No próximo capítulo...

Lágrimas de raiva rolavam livres pela face de Hermione.

“E quem disse que eu me importo?”, ela soltou, roucamente.

(...)

“Ron... Agora você está livre para que eu diga”, ela olhou profundamente em seus olhos, “Amo você.”

(...)

Harry fixou os olhos azuis de Ron, em súplica. “Você está comigo?”

(...)

As palavras pegaram Ginny desprevenida. Ela se livrou do sorriso quase que instantaneamente. De longe, essa era a pior coisa que poderia lhe acontecer naquele momento. A pior.

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