As pessoas mudam



- Pequena Weasley! Com quem ele pensa que esta falando?

Ginny era uma mulher agora. Claro que era bem mais nova que seu chefe, mas os dois haviam lutado lado a lado na guerra contra Voldemort, e os dois haviam vencido junto à Ordem da Fênix e Harry Potter. Ela já havia provado que não era somente a caçula de uma família de Bruxos respeitados no mundo da magia. A família Weasley havia sido consagrada com a Ordem de Merlin, primeira classe. Nas palavras do próprio primeiro ministro bruxo, “pela bravura e demonstração de amor e amizade”.

Havia mudado. Seus cabelos continuavam vermelhos como o fogo e os olhos verdes como o mar, mas seu corpo havia se transformado, sua voz não soava mais tímida, era a voz de uma mulher decidida que estava acostumada a lhe dar com todo o tipo de gente. Era verdade também que hoje era mais sensata e centrada, e não havia mais aquele amor por Harry Potter. Não. Depois de declarada a guerra, ela e Harry haviam deixado seus corações de lado e resolveram que eles eram muito perigosos se estivessem juntos, seria um trunfo para Voldemort.

Hoje ela era a estrategista de guerra (se bem que eles não precisavam mais disso) e ataques (esses sim continuavam acontecendo) do departamento do Aurores do Ministério da Magia. Sua inteligência intimidava até mesmo ao Ministro.

- Hum! Se os homens têm medo de mim, só posso sentir pena deles. – falou sozinha e indignada.

Era uma mulher bonita, sem dúvida, alias, era magnífica. Muitos se perguntavam como Harry conseguiu deixa-la. E muitos o culpavam pela mudança brusca a qual sofreu a “Pequena Weasley”. E era isso que seu chefe, Quim Shacklebolt, havia lhe dito. Claro que não com estas palavras. “Você precisa voltar a ser um pouco daquela menininha que eu conheci há oito anos atrás. A pequena Weasley era doce, e você esta tão amarga quanto este café na sua xícara.” Todos estes anos de esforços e era isso que ele lhe dizia? Conseguira chegar ao cargo que tanto ambicionava e era a primeira mulher a chegar lá. Claro que também conseguiu ser temida pelos homens, uma úlcera e o vício pelo cigarro trouxa e o café.

E era por isso que estava naquele beco nos fundos do prédio onde ficavam os andares subterrâneos do Ministério da Magia. Ninguém gostava de fumantes por lá, e ela sempre ia para aquele lugar para fumar e pensar um pouco.

- Ora, ora... Se não é a Weasleyzinha! Bem que me disseram que você havia mudado bastante! Nossa... Você até fuma agora! Não é mais a “Perfeita Weasley” namorada do “Santo Potter”!

Ela sabia que ele havia chegado do Japão. Teve que ser afastado da Inglaterra para fazer seu curso de Auror. Ninguém acreditava que Malfoy havia se tornado alguém melhor. Sofrera diversos atentados vindos tanto dos Comensais da Morte, quanto de pessoas “De bem” quem não acreditavam nele. Agora ele voltara, e trabalhava no mesmo departamento que ela, chefiado por Harry. A vida era mesmo muito engraçada.

Ele continuava o mesmo arrogante de sempre pelo o que ela pode sentir. Seus cabelos ainda eram loiros platinados, mas agora se arrumavam displicentemente, sem muita ordem. Os olhos ainda eram frios, mas muito mais brilhantes e vivos, de um azul belíssimo.

- Pois é Malfoy! Não sou santa, não sou namorada do Potter, e muito menos Weasleyzinha! Pode me chamar de Weasley, ou Guinevere Weasley, o que você preferir.

- Tudo bem, não vou mais te irritar. – Disse ele risonho e sincero. – Só quis relembrar os tempos do colégio. Me empresta o isqueiro?

- Malfoy se rendendo aos hábitos trouxas? Seu pai deve estar se revirando no túmulo! – Disse ela passando um isqueiro tipo Zippo, todo prateado com uma Fênix gravada.

- Pois é! – Disse ele com o cigarro nos lábios e o acendendo, e depois devolvendo o isqueiro para Ginny. Tragou longamente e soltou a fumaça, extasiado. – Ele e todos os Malfoy’s. Mas eu descobri que a cultura trouxa tem muito a oferecer. Agora eu consigo entender como eles vivem sem magia.

- Isso é verdade. Mas eu fico feliz em saber que tem alguém naquele departamento de falsos moralistas – ela deu uma risada da cara de chateação de Draco – que não vai me recriminar por fumar. Eles sabem ser chatos quando querem. Harry vive me dando sermões de horas.

- Eu sei bem como é isso. Pelo menos você não conviveu por cinco anos da vida com um bando de “Japas naturebas” que queriam que você parasse de fumar de qualquer maneira. Tudo bem que meu pulmão não é mais o mesmo, mas o cigarro, vinho e boa comida são umas das poucas coisas que ainda me dão prazer.

Ela deu uma boa gargalhada.

- Parece que mesmo sendo tão diferentes nós temos gostos bem parecidos. Também sou apaixonada por vinho e não dispenso uma boa comida. Além de boa música também. Se estiver tudo junto, melhor ainda.

- Música? Que tipo?

- Jazz, Musica popular brasileira... Mas se for pra uma boate eu encaro qualquer coisa.

- Weasley, você só me surpreende. Gostos muito parecidos com os meus. Uma pena não ter percebido em você antes um alguém como eu.

- Mas a gente pode dar um jeito nisso. – Disse ela num tom amigável. – Você agora trabalha comigo, podemos nos conhecer melhor. É claro, se você não se importar de ser visto com uma “Weasley pobretona”. – Disse ela num tom ainda risonho.

- Sabe, eu realmente mudei! Não ligo mais pra sobrenome, sangue-puro e dinheiro. E que eu saiba você tem sobrenome, é sangue-puro, e também não é mais tão pobre não é mesmo?

- Até que pra quem chegou de outro continente você esta sabendo bastante sobre a minha vida.

- E quero saber mais. Você acredita que eu já estou trabalhando aqui em Londres há um mês e esta é a primeira conversa não profissional que eu tenho com alguém do departamento?

- É o que falo. Falsos moralistas. Eu adoro todo mundo, Harry, meu irmão, Mione, Tonks... Todo mundo mesmo... Mas eles querem que eu volte a ser alguém que eu odiava ser! Dá pra entender?

- Claro que dá! É engraçado, porque comigo é exatamente da mesma forma. Eles não querem que eu deixe de ser quem eu era! Preferem o Draco “Mau-foy”!

Os dois riram muito deste comentário de Draco e ficaram se olhando por alguns segundos. Era realmente impressionante que aquela conversa estivesse acontecendo.

- Posso te fazer um convite Weasley? Sinta-se a vontade para recusar...

- Pode sim. E pode ter certeza de que se eu não quiser vou recusar... Esqueceu? Eu mudei... – Disse ela sorrindo e jogando a “guimba” do cigarro dentro um latão de lixo.

- Você tem alguma coisa para fazer hoje depois do trabalho? Se não tiver, nós poderíamos sair para jantar e tomar um vinho...

- Vai ser ótimo Malfoy. Estou mesmo precisando relaxar, conversar com alguém interessante... E não com alguém que fica reclamando que eu como gordura demais, ou que eu bebo demais, ou fumo demais...

- Então estamos combinados. Posso passar na sua sala, ou você prefere me encontrar aqui?

- É melhor nos encontrarmos aqui... Não quero fofocas! Porque alem de falsos moralistas, nossos colegas de trabalho também têm certa tendência a fofocar! Mas... Você não esta pensando em um lugar chique não é? Porque você esta muito bem arrumado, mas eu não!

Foi então que ele reparou. Ela estava com um conjunto de moletom apertado ao corpo e tênis. A calça era verde com uma barra na cintura roxa e o casaco era de fecho na frente e também nas cores verde e roxa. Estava muito bonita. Seu cabelo estava amarrado num rabo de cavalo alto e o rosto levemente maquiado, sem batom.
Ele parecia até o pai de Ginny, tal era o contraste entre os dois. Um terno muito bem cortado e preto, com uma camisa também preta e gravata de seda verde escuro. Seu sapato era preto e brilhava de tão limpo. Um sobretudo preto completava o visual “homem de negócios trouxa” de Draco.

- Pode deixar... Gosta de comida italiana?

- A-P-A-I-X-O-N-A-D-A!

- Então esta decidido! Você vai comer a melhor pasta italiana de Londres.

- Então nos encontramos aqui no final do expediente. Ah, já ia me esquecendo... Quanto aos seus pulmões... Tem um feitiço muito simples que a Luna me ensinou... Ela trabalha no St. Mungus sabe... É Medi-Bruxa.

Ela apontou a varinha para o peito de Draco e murmurou um feitiço. No segundo seguinte uma “poeira” preta saia do local onde a varinha estava apontada e antes que ele pudesse falar qualquer coisa ela havia desaparecido no ar.

- Isso realmente me impressionou. Parece que eu tenho um pulmão a mais agora.

- Pois é, eu tenho várias formas de driblar as doenças que os trouxas tem por fumar. Depois eu te ensino algumas.

E assim ela entrou na porta velha que dava acesso ao Átrio através de uma escada. Draco só conseguiu pensar uma coisa:

“Impressionante”.

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