Aquela que Retorna







O silêncio na rua parecia inatingível, imutável. Ela estava deserta, iluminada por alguns poucos postes, mas nada que sustentasse uma visão clara do que se passava ali. O vento batia em seu rosto, frio e impiedoso. Mas ela já se acostumara com isso. Já se acostumara até com a umidade do ar, prelúdio de chuva. Estremeceu, mas não se importou. Estava demorando, mas sabia que não tardaria muito.


Ela esperava.









— O que você estava pensando?


Ele parou de repente e virou para trás, a encarando.


Ela começou a se perder no olhar dele, até que ela se deu conta de sua pergunta, e uma súbita indignação a possuiu.


— Perdão? O que você quer dizer com isso?


A voz dela era controlada, controlada até demais. Ela parecia se segurar para não gritar com ele. Sua raiva aumentou ainda mais.


— Você tem idéia de que se eu chegasse um pouco mais tarde, você estaria morta, ou pior, transformada?


Ela abriu a boca e depois a fechou várias vezes. Tinha vontade de pegar sua varinha do bolso e lançar o pior feitiço que viesse a sua mente. Ela podia, não? Tinha idade, força e poder o suficiente para mandá-lo pelos ares, ele e aquela pose inquisitiva e... Preocupada.


— Bom, no que isso te importa?


Ele não esperava ouvir isso. Simplesmente por que era o que ele mesmo vinha se perguntando desde o dia em que ele tomara consciência da existência dela. Por que ele se importava, afinal?


Mas ele não falou nada, e ela pensou que talvez tivesse ido longe demais. Mas... Bom, era a vida dela que iria por água abaixo se ele não tivesse a salvado. Mas quem ele achava que era para repreendê-la como sua mãe faria? Passara por perigos muito maiores, sem ninguém para atormentá-la depois. Por que ele? Por que agora?


—Quem você é para me dizer isso, por Merlin!Sou bruxa e maior de idade, sempre tomei conta de mim mesma, quer dizer... Oras, estou cansada de sempre alguém vir me defender, me ajudar! Mas ninguém nunca vem me perguntar se estou bem depois, não é? Por que não me deixam em paz? Por que não me matam logo? Por que você, que mal me conhece, se importa mais comigo do que aqueles que se dizem meus amigos...?


Sua voz foi morrendo. Ela foi falando coisas que tinham acabado de passar por sua mente, coisas que estavam dentro dela, mas que ela mal sabia da existência. Tudo o que ela desejava era que ele a abraçasse, passasse o apoio e o amor de que ela tanto sentia falta nos últimos meses. Hiram... Ela o conhecera havia dois dias (Seriam apenas dois dias mesmo?), mas já sentia tanta dependência dele como se ela o conhecesse havia anos.


Ele podia ouvir e destinguir cada nota de melancolia e tristeza na voz dela. Ela vinha guardando isso há tempos, e com ele, se sentiu apta a descarregar... Ele queria poder tomá-la nos braços e a abraçar até que toda a dor saísse do corpo dela. Mas não era tão simples, nunca fora e nunca seria. E ele não poderia deixar transpassar o que ele sentia, não poderia ser tão transparente como ela... As conseqüências eram infinitas e inaturáveis, não eram?


Ficaram parados, se olhando, se reprimindo, trancafiando o que sentiam um pelo outro, pois dentro deles era errado.










Tudo naquela rua voltara a ser silencio.


Coitados, a tensão era tanta...

E na verdade, ela era uma mulher muito pouco paciente...







Hiram, em sua distração, não captara no início aquele aroma no ar. Era diferente e conhecido. Um fio de lembrança, imagens relacionadas a ela foram se formando... E quando tudo aconteceu, ele sabia exatamente por quem esperar.


A expressão dele mudara, tornara-se mais calma, mais... Feliz? Bom, tinha algo de estranho no ar. Ela, que não era a dona da sensibilidade, recentemente começara a sentir. Mas ele era mais interessante, com aquela face suave, praticamente...


Seus pensamentos foram interrompidos bruscamente. Foi tão rápido que só tentando recapitular a cena mais tarde ela pode saber o que acontecera.


De repente, de cima de algum telhado, um vulto caiu na rua, negro como a noite. Um segundo, talvez até um minuto perdeu-se na escuridão. Calmamente, partes do vulto foram sendo reconhecíveis. Uma capa balançando com o vento. Um corpo feminino esguio e bem formado, usando um corpete e uma calça negra, como todo o resto. Botas de couro no chão.


Ela ergueu o rosto. Uma face iluminada pelo luar, o cabelo negro e esvoaçante não deixava que se reconhecesse tudo o que ele encobria. Mas entre intervalos, o belo rosto dela foi se revelando, os lábios vermelhos em contraste com a tez pálida, olhos cor de mel. Tudo era harmonioso e contribuinte para a expressão de mistério. Não se poderia negar que ela era bela... Sombriamente bela.


Seus lábios se moveram para formar o que parecia ser um semi-sorriso, por mais estranho que fosse para aquela pessoa de segundos atrás. Mas o sorriso se harmonizava perfeitamente com seu rosto, tanto quanto a expressão séria. Ela parecia nascida para ele, mas perfeitamente adequada às lágrimas.


A voz de Hiram a despertou de seus pensamentos, decifrando imediatamente o sentimento de familiaridade com a mulher. Era óbvio, ela era extremamente parecida com...


Depois de uma profunda observação e a absorção dos acontecimentos, o sorriso dela o trouxe de volta a realidade. Todas as palavras, todos os gestos, as lágrimas e os sorrisos eram para ela dispensados. Entendiam-se apenas com o olhar. Para quebrar o silêncio, disse apenas:

—Bem Vinda. De volta.







Há algum tempo ela perdera o entendimento a respeito do que ocorria ali. Quem era ela, de onde eles se conheciam, por que tão parecidos, como ela chegara tão repentinamente, e por que ele a tratava tão intimamente eram perguntas que enchiam sua mente agora.

—Hiram, onde está sua educação? Creio que não fui apresentada a sua amiga ...

Sua voz, aveludada e sedutora, rompera mais uma vez o silêncio, talvez dessa vez para por fim as suas perguntas. Hiram, como de tivesse mais uma vez sido retirado bruscamente de seus pensamentos, respondeu:

— Oh, sim, perdão... Hermione, esta é Ariadne, minha irmã.

Foi como uma onda de alívio se alastrasse pelo seu corpo, mas ela não sabia o porquê ...(Não sabia ou não queria saber o porquê?). Ariadne virou-se para ela, agora com um sorriso incompreensível (seria cumplicidade?).

— Muito prazer, Hermione...?

— Granger, Hermione Granger. O prazer é todo meu...?

— Oras, deixe-mos de formalidades... Estou cansada de viagem e de esperar vocês neste frio! Amanhã será outro dia, conversemos melhor... Vou procurar algum lugar para descansar... — Disse, lançando um olhar para Hiram, que por sua vez fez um sinal de compreensão. — Espero e creio que nos veremos mais vezes, Hermione. Agora deixá-los-ei sozinhos. Boa Noite.


Dito isso, ela virou-se e saiu andando (passos inaudíveis) pela rua. Ficaram ambos a olhando até que desaparecesse de vista, e quando não puderam mais vê-la, olharam-se imediatamente.


— Desculpe-me pela aparição repentina dela, mas é tão típico que já estou acostumado...

Hermione apenas sorriu, esquecendo-se que há não muito tempo atrás ela discutia com ele. Tremeu com o vento que bateu as suas costas, o que não passou despercebido aos olhos dele.


— Está frio e o dia foi longo... Creio que o melhor seja você voltar para sua casa.


Ela acenou em concordância, e tomou o rumo para sua casa. Surpreendeu-se feliz ao ver que ele a acompanhava, e relutantemente se despediu dele. Ao fechar a porta da entrada, viu que ele não estava mais lá, e temeu que ele jamais estivesse.



N/A

Oieeee! Nossa, nem eu acredito que eu terminei esse capítulo... Foi difícil! Pensei em várias maneiras de introduzir a Ariadne, minha última personagem principal... Ah, e também pensei muito em como ela seria, tinha que sair do padrão cabelos negros olhos claros...? (Mas ela não tem cabelos negros e olhos claros... He he... Mais para frente...).
Ah, agora a fic começa... Só eu mesma para engatar uma fic no sétimo capítulo, mas vamos lá... Eu fiquei pensando em todos os detalhes, todas as maneiras de fazer cada parte desse capítulo, e bom, foi essa que ficou... Espero que tenha agradado...

Antes do próximo, eu precisaria esclarecer uma coisinha... A respeito do Lestat... Eu não peguei o personagem completo da Anne Rice, na verdade foi só o nome e uns traços de personalidade (aqueles descritos em Entrevista com um Vampiro e em a Rainha dos Condenados)... Eu sou cara de pau, mas nem tanto a ponto de além de acabar, pisar e pular em cima dele... ^^... Dito isso, estamos prontas para continuar...


Respostas aos Comentários

Chiouse BlackRose: Olá irmãzinha!! Que bom que vc também apareceu por aqui!! ^^... Mesmo eu não achando minhas fics tão boas assim, fico grata pelos comentários... Ai ai, sobre o Hiram, eu não comento nada... EU sou apaixonada por ele... Ele é tudo, até quando ele é chato ele é tudo... Mas eu abrirei mão desse cara perfeito para outra pessoa... (Duh... Quem será?)... Eu vi a capa da Luna e achei não melhor comentar lá, mas deveria ter um centauro na capa... uu... Há há, Obrigada mais uma vez por perder seu tempo lendo o que eu escrevo... Bjosss!

*~*Dessa Weasley Malfoy*~* Ah… Obrigada… Por ler e comentar… Eu escrevo as minhas fics com mta paixão mesmo, é necessária para que se torne algo legível... Mas eu não sabia que dava para perceber... XP, brincadeira... Os capítulos estão ficando maiores, na verdade, não sou muito bem eu que controlo isso, visto que a própria história fala quando eu tenho que parar... Mas vou começar a ser mais detalhista (Ainda mais, neh?... ¬¬) e desenvolve-los mais... Obrigada de novo pelo comentário, espero que tenha gostado desse capítulo!


natty Oi!Nossa, você estava procurando e veio parar justo na minha?? Bem, eu realmente não sei se se eu visse minha fic pelo site, eu me interessaria por ler... Mas que bom que você leu e gostou! Eu também amo vampiros... Na verdade, eu amo quase todos os tipos de histórias fora do convencional, mas vampiros estão entre as quais mais se destaca... Eu já ouvi falar sobre o André Vianco, e eu me interessei muito por ler... Mas sabe como é... Eu tenho uma listinha quilométrica de livros para comprar, uns três que eu baixei da internet para ler, dois para minhas aulas de literatura, sem contar os didáticos... E ainda soma a falta de tempo e dinheiro... ¬¬... Eu até procurei na biblioteca da escola (onde eu encontrei a coleção inteira das Brumas de Avalon e vários outros livros legais), mas pelo menos a tiazinha que consultou para mim não encontrou... Vou tentar mais uma vez, com o cara realmente conhecedor daquela joça, mas por enquanto... Bom, eu fico muito feliz que você tenha lido e comentado, seja bem-vinda e espero falar com você mais vezes!!


Lis West Bom, a sombra se revela... Teria sido melhor se ela continuasse na indigência... ? Há há, eu realmente gosto dela, sabe?? Ah, e mil perdões para Hécate, a mulher que eu não sei praticamente quase nada sobre (visto que você não posta, né?) mas tem nome de deusa e é melhor não contrariar... Estou muito ansiosa para conhecê-la sabe... Assim como eu acho que a Sophie deveria poder continuar sua história... Se for possível, falando mais diretamente, POSTA LOGO, e obrigada por passar aqui, ler e comentar!! Beijos!!!


Titânea Wayne Bom, aqui está o sétimo, mas cadê o seu vigésimo, que está anunciado uma atualização rápida mas até agora nada, ein??? Há há... Estou esperando por ele, e obrigada por ler e comentar aqui na minha fic... Bjos e até mais!!!

Vivika Malfoy Olá... Pronto, aqui está o sétimo... Estou realmente atribulada, e não sei quando eu poderei ler todas as suas fics, mas me esforçarei, ok??? Obrigada por ler e comentar!! Beijos e até mais!!

Ah, se eu esqueci de alguém, me perdoe... Estou escrevendo aqui na pressa... De qualquer maneira, Beijos e Obrigadas a todos que leram, que comentaram, que voltaram, que fizeram todos os três, enfim... Até o próximo!

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