Viver a Morte



Hoje à noite está frio. Bem mais frio do que nos outros dias. Olho para o lado e vejo tudo escuro. O que se passa? Ainda ontem via-me ao lado de Harry, e agora vejo-me deitada numa cama que não reconheço, num sítio que me aparenta ser completamente desconhecido. Onde se meteram todos?
De repente algo me vem à cabeça. Uma memória. Não…não me faça isso!

*Flashback*

- Gina? Gina, onde você se meteu? Gina! – dizia Hermione, tentando procurar pela moça, que tinha ficado de a esperar na biblioteca. Hermione sai e decide procurar no jardim, talvez ela estivesse lá. – Gina, por amor de Deus, aparece! GINA! – gritava ela perto do lago. Que estranho, Gina nunca faltou a um compromisso. Porque não aparecia ela? Ela não podia estar em mais lado nenhum, ela nunca ia a mais lado nenhum em seus tempos livres, principalmente quando tinha algo combinado com Hermione.
- Gina!! Gina, por favor! GIINAA!!! – ela agora estava perto dos arbustos, já mal se ouvia as vozes dos outros estudantes que passeavam pelo gramado. Mas, de repente, duas vozes, em vez de se afastar, vinham se aproximando mais a cada passo que Hermione dava. – Estranho, nunca ninguém anda por aqui. Quem será? – se perguntava ela, quando, atrás de um arbusto, ela identificou duas pessoas. Uma com cabelo muito ruivo, uma rapariga. Outra, um rapaz de cabelo preto e despenteado. Eles se beijaram. Hermione não conseguia dizer nada, apenas tentava processar estas últimas imagens em seu cérebro.
- G-Gina? – disse ela, ainda incrédula.
- Hermione… Hermione, desculpa! Desculpa, eu… eu não sei o que dizer, mas eu posso explicar tudo!
- Harry… - sussurrou ela, como se não tivesse ouvido nada do que a outra havia dito. As lágrimas estavam queimando em seus olhos, mas ela fez um esforço. Apenas permanecia imóvel no seu lugar, de olhos esbugalhados perante o casal, como se estivesse admirando algo inexplicável.
- Hermione, ouve-me…vamos falar! Vamos embora daqui, vamos para um lugar mais confortável, onde possamos falar! Só nós as duas, conversa de raparigas! Pode ser? Peço-te, deixa-me explicar…tudo! – dizia a ruiva, na esperança que Hermione a ouvisse.
- Não, Gina. Eu acho que Hermione é inteligente demais para ser enganada desta maneira. Qualquer explicação que nós daríamos, seria fazê-la de parva. – disse, finalmente, Harry, que até ali apenas havia permanecido calado. – Hermione, vamos falar a sós. Quero que saibas tudo o que aconteceu. Por favor, será que pode ser?
- Eu…eu…pode ser… - disse Hermione, desistindo de aguentar suas lágrimas, que agora escorriam grossas e cheias de dor, uma a seguir a outra, queimando a face da moça.
Eles se afastaram e foram até ao pé do lago. Começava agora a cair neve, e os estudantes começaram a entrar para dentro do castelo. Mas Harry e Hermione mantiveram-se ao pé do lago. A rapariga observava os flocos de neve cair no lago, dissolvendo-se logo de seguida nas águas geladas deste. Ela não ia pronunciar uma única palavra. Estava à espera que o rapaz começasse. Afinal ele é que tinha de dar as explicações, não ela. As lágrimas dela continuavam a cair, mas agora mais suavemente. O frio começava a fazer-se notar.
- Ouve, Hermione…eu sei que provavelmente nada do que eu te diga te vai convencer a nunca mais me falar, nem a mim nem a Gina! Por isso mesmo vou explicar tudo tal como aconteceu. Não te quero enganar! Eu…eu sempre fui apaixonado por você, Hermione. Mas quando começámos a namorar senti que me faltava alguma coisa. Depois falei com a Gina, ela sempre havia sido sua amiga! E quando falei com ela senti com ela algo que eu nunca havia sentido com você. Senti amor! Amor verdadeiro. Mas não tinha a certeza de que era aquilo que eu queria por isso não disse nada a ninguém. Até que Gina veio falar comigo e me disse que me amava, mas que não ia fazer nada para nos separar pois você era a melhor amiga dela. Mas aí eu não resisti e a beijei. E a partir daí temos mantido uma relação às escondidas. Eu pretendia falar com você, Hermione! Mas não conseguia. Você sempre me parecia tão feliz! Eu não queria acabar com essa sua felicidade!
- Mas se você não quisesse acabar com minha felicidade tinha falado comigo logo quando sentiu isso! Se você não pretendia me magoar, devia ter desabafado comigo! Você me deixou na ignorância, não me disse uma palavra, fingiu que tudo estava perfeito! Você pensava o quê, Harry? Que se eu ficasse a saber mais tarde, a raiva seria menor? Pois, se enganou redondamente! Eu nunca me senti tão mal em toda a minha vida! Nunca pensei que você me pudesse fazer tal coisa! Eu tenho tanto nojo de você, Harry Potter! Eu te odeio tanto! Tanto!!! – Hermione disse tudo de uma vez e correu para o castelo. Tanto seu cabelo como suas vestes estavam cobertas de pequenos flocos brancos de neve. Ela estava chorando em pranto. Se escondeu numa das salas de aula vazias que havia por ali. Chorou alto, muito alto. Durante horas e horas.
Dias se passaram e Hermione não parecia mais a mesma. Nunca mais havia participado nas aulas, apesar de ainda ter notas excelentes. Comia antes de todos, ia dormir muito cedo e quando ia lá para fora, andava sempre sozinha, escondida por entre as árvores. Até que um dia Hermione saiu da sua cama no meu da noite. Os seus olhos estavam vidrados, chegava até a dar um certo ar de loucura. Hermione subiu, subiu e subiu, até chegar à torre mais alta do castelo. Se empoleirou numa das pequenas aberturas, que nem se chegavam a denominar janelas. Sentiu um vento suave percorrer-lhe o corpo. Seus cabelos balançavam, tal como suas vestes. Respirou fundo e sentiu todo o seu corpo mais pesado. De olhos fechados, perdeu todos os seus sentidos.

*Fim do flashback*

Eu morri. Mesmo. Mas agora que vejo, não me arrependo nem um pouco. Eu amava-o tanto, meu Deus! Aposto que agora estão chorando pela minha morte, só pode! De que me valeu viver se foi para viver aqueles momentos? Não, não vou chorar mais. Vou ter com os meus novos amigos. Vou viver a minha morte.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.