O anel dos Gaunt



Voldemort sentiu novamente o vento gélido da noite cortando seu rosto. Descia atrapalhado a mesma trilha pedregosa no morro, tomando o caminho de volta à casa de Morfino Gaunt. Se ao menos soubesse aparatar...
Mas para onde iria? Para o Orfanato? Era menor de idade, de qualquer maneira, e daria muita sorte se o Ministério não descobrisse o autor dos feitiços.
Chegou ofegante ao casebre de seu tio, que ainda jazia inconsciente no chão imundo, posicionado de uma maneira incômoda com a cabeça a um triz de pegar fogo na lareira, e a mão com o anel escondida atrás das costas.
Voldemort sorriu. Sempre se orgulhara de seu feitiço estuporante. Se quisesse, poderia deixar Morfino dormindo assim a noite toda, e ele só acordaria no dia seguinte totalmente atordoado.
Abaixou-se e puxou a mão do homem de trás das costas. Morfino soltou um ronco particularmente alto quando rolou para o lado, metendo a cara num monte alto de sujeira no chão.
O anel saiu com inesperada facilidade do dedo médio de Morfino. Esperava que o tio o tivesse prendido ao dedo com um feitiço colante permanente, ou algo do tipo. Depois lembrou-se de que o homem estivera em Azkaban por anos, sem varinha.
Colocou o anel que ajustou-se magicamente à sua mão. Era uma pedra ônix adornada por finas linhas douradas e presa de algum modo que parecia flutuar sobre a circunferência de ouro envelhecido. A pedra era inesperadamente quente, como se tivesse sido exposta diretamente ao calor da lareira e emitia um brilho hipnotizador à luz bruxuleante do lampião aceso sobre a mesa.
Tom olhou ao redor, como que se certificando de que ninguém o observava. É claro que ninguém está observando...
Então começou o complicado procedimento de apagar memórias selecionadas de Morfino e substituí-las por suas próprias. Quando o último fio prateado desceu enroscando-se pela boca entreaberta de Morfino, Voldemort deu-se por satisfeito.
Enervate” – Murmurou, apontando a varinha para o homem esfarrapado à sua frente.
Morfino abriu os cansados olhos escuros e injetados e fitou o rosto empolgado de Tom Riddle.
“O que você acabou de fazer, Morfino?” – Perguntou Voldemort em voz baixa, deixando transparecer uma falsa nota de preocupação na voz.
Morfino olhou-o com desespero por um breve momento, mas pareceu voltar a si rapidamente. Então sorriu um sorriso desdentado e maníaco e apertou os olhos quase invisíveis debaixo da farta cabeleira imunda.
“Os trouxas... Eu matei os trouxas... TROUXAS IMUNDOS!” – E então arremessou o lampião contra a parede, fazendo os cacos de vidro caírem num tilintar delicado espalhando-se pelo chão e causando o início de um pequeno incêndio nos farrapos de cortina que cobriam a janela.
“Mas eles tiveram o que mereceram, não foi? Ah, foi... Já não era sem tempo; alguém tinha que dar cabo deles,e foi Morfino, eh? Morfino matou os trouxas...” – Morfino sorria de uma forma demente e falava como se pedisse a opinião de Tom sobre o assunto. Depois soltou uma gargalhada fria e doentia.
“Tsc, tsc, Morfino...” – Disse Voldemort lentamente e em voz baixa, recuando lentamente em direção à saída. - “Você vai ficar quietinho aí e contar tudinho pro Ministério, não vai, Morfino?”
Morfino respondeu com mais uma gargalhada fria e então deixou-se cair sentado no chão novamente.
“Isso, agora tome sua varinha. Não se esqueça de falar a verdade, só a verdade, Morfino...”
Voldemort atirou a varinha aos pés de Morfino e então saiu, mas tomando o cuidado de não dar as costas ao tio.

[...]

Não vou chorar! Não vou chorar. Ah, droga, já estou chorando...
Tom achava-se deitado em sua cama de ferro no quarto do Orfanato com a cara enterrada no travesseiro, repetindo para si mesmo que não tornaria a chorar pelo que quer que fosse. Mas não pôde fazer nada para impedir as lágrimas quentes de escorrerem com vontade pelo seu rosto.
Voldemort chorava lágrimas de ódio, diferentes daquelas que chorara sobre o túmulo de sua mãe. Naquela ocasião, ele tinha se permitido chorar. Não que tivesse tido opção; sentia-se como um cão sem dono abandonado debaixo da chuva. Mas agora era diferente, não havia razão aparente para estar se sentindo daquela maneira. Medo, preocupação, ódio, raiva e até mesmo um pouco de felicidade mesclavam-se de tal maneira em sua cabeça que ele precisava de algum modo de extravasar aquilo ou talvez pudesse explodir em um milhão de pedacinhos minúsculos e cortantes como o vidro do lampião que Morfino tinha atirado contra a parede.
Mais lágrimas grossas e quentes escorreram molhando a fronha, mas ele abafou um soluço. Não permitiria que ninguém além dele mesmo soubesse que estava sensível, choroso, fraco. Fraqueza era algo que ele não admitiria em si mesmo.
Não estava chorando por seu pai, obviamente que não. Não sentia remorso. Não sentia pena. Sentia nojo, e raiva.
Talvez chorasse por sua mãe, mais uma vez, e por tudo o que ela devia ter vivido naquele casebre fétido e imundo, ao lado do avô que ele nunca conhecera e do horrendo Morfino, que agora trataria de arrumar uma prisão perpétua em Azkaban, de onde nunca deveria ter saído.Ou talvez chorasse por si mesmo, por não ter poder de evitar aquilo que mais temia, ou por ter nascido filho de um maldito Trouxa (que agora queimaria no inferno por toda a eternidade se dependesse dele), tendo a consciência de ser uma mancha de sangue-ruim na longa e pura linhagem de Slytherin.
Levantou-se para procurar no malão a foto de sua mãe, roubada do túmulo cinzento que visitara no ano anterior, quando escorregou para sua mão, ao invés da antiga foto em sépia, seu diário encapado em couro escuro, presente de Lestrange. Era um diário comum, com a diferença de que fora enfeitiçado para que só o seu dono pudesse lê-lo, de modo que se alguém o abrisse, veria só folhas em branco. E por algum motivo obscuro, ou talvez apenas como disfarce, o diário tinha uma inscrição atrás que dizia que ele havia sido comprado numa rua trouxa.
Fazia muito tempo que Tom não escrevia ali.
Folheou as páginas aparentemente em branco, tentando se lembrar de como fazer para ler suas anotações. Quando finalmente lembrou de dar um toque de sua varinha na folha, pôde ler o que estava escrito.
Naquele dia tinha descrito com crescente excitação (visível na rapidez da letra e na grande quantidade de manchas de tinta na lateral) a ultima visita à caverna de Nagini e o ritual de criação das Horcruxes que tinha testemunhado. Descrevia passo a passo cada etapa do ritual. Então riscara as etapas que Grindewald tinha taxado de “encenação” – e voilà: Um ritual de criação de Horcruxes quase completo.
Mas é claro (concluiu, frustrado) que ainda precisava do encantamento. Tinha se esquecido completamente das palavras do encantamento pronunciado por Slytherin em sua visão.
E foi dormir, sentindo-se a última das criaturas, imaginando que nunca conseguiria cumprir sua missão com Grindewald e muito menos obter suas informações sobre Horcruxes.

Acordou dez minutos depois com um nome bem claro estampado na mente: Slughorn!

[...]

Tom estava de volta a Hogwarts e assistia à seleção dos alunos novos sob uma máscara de falsa tranqüilidade. Era sempre assim; freqüentemente assumia a personalidade de outra pessoa e deixava de ser Tom Riddle para se tornar Lord Voldemort. Perante os professores, era o brilhante Tom Riddle; perante seus colegas, era Lord Voldemort (ainda que mantivesse o título de Lord somente para si); seu brilho deixando de ser notado pelas excelentes notas e relações amigáveis com os professores, e assumindo mais um caráter... Cruel.
O anel de Servolo brilhava em sua mão esquerda mas seu tom profundamente negro confundia-se com o uniforme e apenas brilho do ouro fosco não era suficiente para chamar muita atenção dos colegas ou dos professores. Exceto, é claro, por Dumbledore...
O Professor o encarava de um modo insistente e profundo. Odiava isso...
O esforço que tinha de fazer para que Dumbledore não penetrasse em sua mente era muito maior do que o que tinha de fazer para bloquear o acesso de Grindewald a seus pensamentos, provocando uma dormência desagradável no resto de seu corpo. Sabia que era só questão de desviar o olhar, mas não ia dar o gostinho da vitória na guerra de olhares a Dumbledore. Finalmente, para seu alívio, suas atenções foram voltadas para um garotinho de cabelos negros desarrumados que acabava de ser selecionado para a Sonserina e recebia uma série de aplausos.
Envergonhado, o garotinho se encaixou no primeiro lugar vago – que por acaso era exatamente do seu lado – e afundou até a testa debaixo da mesa. Tom riu baixinho e lembrou-se de sua primeira noite na Sonserina.

Tinha acabado de entrar no Salão ligeiramente úmido nas masmorras. Os novatos debandaram para os dormitórios, ansiosos para conhecer o quarto em que teriam de dormir nos próximos sete anos. Mas Tom Riddle ficara ali no meio, admirando tudo ao redor. Era incrível como tudo ali parecia perfeito e se encaixava exatamente com a noção que ele tinha de “casa”. Os tapetes persas, as poltronas em estofado verde, a lareira quentinha, os brasões prateados, os quadros com pinturas estranhas, até mesmo o mural com um pergaminho recém-fixado listando as cem melhores razões para ser um sonserino; era tudo simplesmente perfeito. Olhou para cima e percebeu que o teto era decorado com um intricado mosaico representando uma serpente prateada sobre um fundo verde.
“Por que tudo aqui tem cobras estampadas?” – Perguntou para o Monitor que o guiara e que agora se ocupava em pregar mais avisos no mural.
“Porque Salazar Slytherin era ofidioglota.” – Respondeu-lhe secamente.
“E o que é um Ofidioglota?” – Perguntou.
“É alguém que fala com as cobras.” – Disse o Monitor, irritado – “Agora vá para seu dormitório dormir”.
Mas o último comentários do monitor passou despercebido. Lembranças de cobras o seguindo e de Nagini conversando com ele lhe vieram à mente.
“Ora, eu também posso falar com as cobras!” – Disse, indignado.
O Monitor parou por um momento com a varinha no ar e ao invés de lançar o feitiço colante no papel para pregar no mural, deu uma risada debochada e mandou-o de volta para o dormitório. Furioso, subiu batendo os pés nas escadas. Alguns meses depois, teve a confirmação do que já suspeitava: Era o Herdeiro de Slytherin.

[...]

Tom fora promovido a Monitor Chefe, o que elevava ainda mais seu status entre os colegas. Agora tinha direito a um quarto e um banheiro próprios, além de livre acesso a (quase) todas as áreas do castelo, exceto, claro, as salas dos professores. E era ele quem escolhia e divulgava a nova senha, escolhida em conjunto com a Monitora Chefe.
Aquele era o tão esperado ano dos N.I.E.M´s, ano em que terminariam a escola e ano em que a maioria completava a maioridade.
Como Tom completava aniversário apenas no inverno, teve de esperar os próximos testes de aparatação, mais obviamente foi aprovado com louvor, sendo o primeiro a conseguir aparatar completamente e sem nenhuma ocorrência de destroncamento.

Naquela noite finalmente seu misterioso anel havia sido notado. Avery ocupava-se em tentar concluir um dever de poções, quando ao pedir a pena emprestada a Tom, percebeu o estranho objeto em sua mão.
“O que é isso?” – Perguntou Avery, apontando para o anel.
Tom escondeu-o rapidamente atrás da cabeça e fingiu coçar o pescoço.
“Um presente.”
“Um presente? Quem te deu?” – Perguntou seu colega, desconfiado.
“É uma espécie de herança.” – Explicou, antes de cortar o assunto e se levantar da mesa em direção às masmorras, para mais uma das reuniões do Clube do Slug.

Slughorn recebeu-os sentado em sua confortável bergére, mal tendo o trabalho se levantar para abrir a porta. Tom entrou primeiro, seguido de seu grupinho de puxa-sacos habitual e depois, por uma fileira de alunos mais novos, todos da sonserina – alunos das outras casas não gostavam de serem recebidos pelo chefe da Sonserina e se verem cercados dos sonserinos mais ‘talentosos’ – Toda Hogwarts sabia muito bem que um Sonserino talentoso era por definição um elemento perigoso. Principalmente Tom Riddle e seu grupinho. Corria o boato de que Riddle ensinava a seus amigos mais “chegados”, as piores formas de tortura, técnicas especiais de duelo e feitiços de Magia Negra avançada. A bem da verdade, isso não era exatamente mentira, pensou Tom, rindo para si. As aulinhas particulares de Grindewald e os livros que achava na Sala Precisa e na sessão reservada eram bastante úteis.
Então Slughorn pigarreou fortemente, chamando a atenção dos presentes.
“Boa noite meus caros alunos” – Disse, e limpou novamente a garganta - “Chamei-os aqui mais uma vez para que possamos desfrutar da companhia uns dos outros, e que essas companhias não nos sejam privadas após o término desse último ano de uma etapa tão importante em nossas vidas.”
Os alunos aplaudiram, animados.
“O que dizer sobre Hogwarts? Sobre seus mais de mil anos de mistérios e surpresas, esse castelo tão especial que abrigou e abriga os maiores bruxos de nosso mundo, e...”
Slughorn continuou seu enfadonho discurso durante quase uma hora. Era sempre assim no início de cada ano. Aquelas reuniões estavam se tornando cada vez mais chatas, mas também cada vez mais proveitosas. Era uma maneira ideal de fazer contatos e amizades influentes. Até agora já tinha recebido pelo menos três propostas de emprego no ministério; todas recusadas. Mas teve de admitir a si mesmo que teria de começar a pensar no que fazer da vida após terminar Hogwarts.
Slughorn continuava seu discurso.
“Espero que esses tenham sido os sete anos mais proveitosos de suas vidas. Não é coincidência que sejam sete anos, sete é um número mágico, o mais poderoso... Espero que um pouco desse poder possa protegê-los no que terão de enfrentar daqui para frente.”
E então batendo as mãos, convocou um dos elfos da cozinha e mandou que ele trouxesse bandejas de comida e bebida.
A reunião prosseguiu entediante como sempre, entremeada de fofoquinhas do Ministério e pelas longas histórias de Slughorn sobre seus ex-alunos mais famosos.
Naquele momento, Rodolfo Lestrange narrava as últimas de seu tio Ogden que trabalhava no departamento de Execução das leis mágicas. Tom ainda estava perdido em pensamentos, respondendo mecanicamente qualquer pergunta que lhe fizessem, até que um nome em particular lhe chamou atenção.
“É claro, ele já tinha ido para Azkaban, mofou lá uns dois anos, mas parece que não foi suficiente pra ele aprender. Matou três trouxas esse verão; uma trabalheira para os Obliviadores, a polícia trouxa até agora não conseguiu determinar a causa mortis deles! Pegou prisão perpétua, o velho Morfino Gaunt...”
“Morfino Gaunt foi preso?” – Perguntou de repente, despertando de seu torpor, antes que pudesse se conter.
Os colegas todos se viraram em sua direção para olha-lo, surpresos. Tom sentiu o rosto corar.
“Hum... Bom, ele era um conhecido. Um maluco, claro, um maluco... Mas não pare, Rodolfo, continue sua história; estava muitíssimo interessante.” – Disse, com um sorriso amarelo no rosto. Precisava aprender a controlar a boca...
A sala pareceu engolir sua desculpa e imergiu novamente na conversa.
Entediado, Tom pôs-se a brincar com uma rosquinha particularmente estranha, que lembrava muito um “G” e o brasão de Grindewald. E por falar em Grindewald - pensou - Onde andará o velho? Será que Dumbledore já deu cabo dele? Espero que não; ainda quero minhas informações sobre Horcruxes... Mas como sou idiota! - Sentiu vontade de se bater. Claro,estava ali diante de um grande conhecedor de feitiços das Trevas, quem sabe não conseguisse arrancar alguma informação de Slughorn? Era sempre tão bom nisso...
Agora eles tinham iniciado uma discussão sobre futuras profissões. E novamente, Tom se viu prometendo a si mesmo que começaria a pensar nesse assunto assim que tivesse tempo.
“E você, Tom, o que gostaria de fazer depois de se formar?” – Perguntou-lhe Slughorn.
“Não sei ainda, senhor. Presumo que talvez... Talvez gostasse de ser professor.”
“Professor? E que matéria você ensinaria?”
A resposta não poderia ser mais óbvia.
“Defesa Contra as Artes das Trevas, senhor.”
Slughorn sorriu paternalmente. Tom então começava a cogitar seriamente a hipótese... A velha professora Merrythought era mesmo uma velharia digna de museu, e sua matéria estava totalmente desatualizada a pelo menos trinta anos.
"Senhor, é verdade que o Professor Merrythought está se aposentando?".
-“Tom, Tom, se eu soubesse eu não poderia dize-lo.” - disse Slughorn, sacudindo seu dedo de modo repreensivo para Riddle, embora pestanejasse ao mesmo tempo. – “Eu devo dizer, eu gostaria de saber onde você ouviu isso, garoto, pois tem mais conhecimento do que metade do corpo docente, sabe?”
Riddle riu. Os outros garotos gargalharam e olharam admirados para ele.
“Com sua habilidade sobrenatural de saber coisas que não devia, e sua bajulação às pessoas que importam - obrigada pelos abacaxis, a propósito; você estava certo, são meus favoritos” - Vários alunos tagarelaram novamente – “Eu espero confiantemente que você chegue a Ministro da Magia em vinte anos. Quinze, se você continuar me mandando abacaxis, eu tenho excelentes contatos com o Ministro.”
Tom Riddle meramente sorriu enquanto os outros riram novamente.
“Eu não sei para que a política me serviria, senhor - ele disse quando as risadas
acabaram. – Principalmente porque não pertenço às famílias bem-nascidas.”
Um par de garotos ao redor dele riram uns dos outros.
“Absurdo” - disse Slughorn vivamente – “Não poderia ser mais evidente que você descende de uma ótima família bruxa, tendo habilidades como as suas. Não, você irá longe, Tom. Eu nunca estive errado sobre um estudante até agora”
O pequeno relógio de ouro na escrivaninha de Slughorn marcou onze horas atrás dele, e ele olhou ao redor.
“Bom Deus, já é esta hora? É melhor vocês irem, garotos, ou nós todos teremos problemas. Lestrange, eu quero seu dever amanhã ou você receberá uma detenção. O mesmo para você, Avery.”
Um por um, os meninos saíram da sala. Slughorn se levantou de sua poltrona e levou o copo vazio até sua escrivaninha. Um movimento atrás dele o fez olhar em volta: Riddle ainda estava ali.
”Fique vigilante, Tom, você não quer ser encontrado fora de sua cama após o horário, e você é monitor...”
“Senhor, eu queria lhe perguntar algo...”
“Pergunte então, meu garoto, pergunte...”
“Senhor, eu queria saber o que você sabe sobre... sobre Horcruxes?”
Slughorn olhou fixamente para ele, seus grossos dedos pressionando sem sentir seu copo de vinho.
“Um projeto para Defesa Contra Artes das Trevas, é?”
“Não exatamente, senhor”. - disse Riddle. – “Eu me deparei com o termo quando lia e não o compreendi totalmente.”
“Não... Bem... Você teria um árduo trabalho para encontrar um livro em Hogwarts que lhe desse detalhes sobre Horcruxes, Tom, isso Arte das Trevas, realmente das Trevas”. - disse Slughorn.
“Mas você obviamente sabe tudo sobre isso, senhor? Quero dizer, um bruxo como o senhor - desculpe, digo, se você não puder me dizer, obviamente - eu só saberia se alguém pudesse me contar, você poderia; então eu apenas pensei que...”
“Bem, -disse Slughorn, sem olhar para Riddle, mas brincando com a fita em cima da sua caixa de abacaxis cristalizados - bem, não fará mal lhe dar uma visão geral, naturalmente. Somente para que você entenda o termo. Um Horcrux é a palavra usada para um objeto onde a pessoa escondeu uma parte de sua alma.”
“Eu não entendi exatamente como isso funciona, entretanto, senhor.” - disse Riddle.
“Bem, você divide sua alma, sabe” - disse Slughorn – “e oculta parte dela em um objeto fora do corpo. Então, se seu corpo é atacado ou destruído, ele não pode morrer, pois resta uma parte da alma segura e não danificada. Mas, é claro, a existência sob tal forma...”
A face de Slughorn se contraiu.
“... poucos iriam quere-la, Tom, muito poucos. A morte seria preferível.”
Mas a ansiedade de Riddle era agora aparente; sua expressão era voraz, ele não poderia esconder seu desejo.
“E como se divide a alma?”
“Bem,” - disse Slughorn desconfortável – “você precisa entender que a alma foi feita para permanecer intacta e inteira. Racha-la é um ato de violação, é contra a natureza.”
“Mas como se faz isso?”
“Através de um ato de maldade - o supremo ato da maldade. Cometendo assassinato. Matar rasga a alma. A intenção do bruxo criando um Horcrux usará os prejuízos a seu favor. Ele encaixaria a parte rasgada...”
“Encaixaria? Mas como?”
“Há um feitiço, mas não me pergunte, eu não sei!” -disse Slughorn balançando sua cabeça como um velho elefante incomodado por mosquitos. – “Eu pareço alguém que tentou - eu pareço um assassino?”
“Não, senhor, claro que não.” - disse Riddle rapidamente. – “Eu sinto muito... Eu não queria ofendê-lo.”
“De modo nenhum, de modo nenhum, não estou ofendido”. - disse Slughorn rudemente.-“é natural sentir curiosidade sobre essas coisas. Bruxos de um certo tipo foram sempre atraídos por esse aspecto da magia...”
“Sim, senhor, - disse Riddle. - O que eu não entendo, contudo - apenas por curiosidade- quero dizer, um Horcrux seria de muito uso? Você poderia dividir sua alma somente uma vez? Não seria melhor, para faze-lo mais forte, dividir sua alma em mais partes, digo, por exemplo, não é sete o número mágico mais poderoso, não seria...?”
“Pelas barbas de Merlin, Tom! - ganiu Slughorn. - Sete! Não é mau o bastante pensar em matar uma pessoa? E em todo caso... mau o bastante para dividir a alma... mas dividi-la em sete pedaços...”
Slughorn parecia profundamente incomodado agora.
“É claro, ele resmungou, isso tudo é hipotético, o que estamos discutindo, não é mesmo? Tudo acadêmico...”
“Sim, é claro!” - disse Riddle rapidamente
“Mas reafirmo o que disse Tom... mantenha-se em silêncio, eu havia lhe dito - sobre isso que discutimos. As pessoas não gostariam de pensar que nos estivemos discutindo sobre Horcruxes. É um assunto banido em Hogwarts, você sabe... Dumbledore fica particularmente feroz sobre isso...”
“Eu não direi uma palavra, senhor.” - disse Riddle

E ele saiu, com a face cheia daquela felicidade que não tornava seu rosto mais, bonito, pelo contrário, o fazia parecer menos humano...

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