Vivendo como Trouxas



Era muito estranho acordar no meio da noite, olhar para o lado e encontrar seus dois melhores amigos dormindo profundamente, mas Harry não reclamava. Não importava a hora que fosse, só de ver seus amigos com ele, já abria um sorriso.

Tio Valter estava mantendo uma rotina estranha. Saía de casa pela manhã, e só voltava bem à noite, quando Harry, Rony e Hermione já estavam no quarto, se preparando para dormir. Mais estranha que a rotina de Tio Valter, só mesmo a dos garotos, que tinha a casa só para eles durante o resto do dia, exceto por algumas restrições. O tio do garoto fizera questão em trancar a geladeira com cadeado, proeza que Harry acreditou ter sido feita por um Tio Valter frustrado na primeira madrugada; todos os aparelhos eletrônicos tinham sido escondidos no armário em baixo da escada e por final, havia proteções nos sofás, poltronas e cadeiras. Quando acordou na primeira manhã e viu o estado da casa, não pôde deixar de pensar que talvez Tia Petúnia fosse brigar com o marido pela bagunça que ele fizera, afinal havia poeira para tudo quanto era lado.

-E então, o que vamos fazer? – perguntou Harry, examinando o cadeado com a mão, como se o movimento que ele fazia fosse abri-lo. – Não temos comida. E não podemos usar magia. – completou ele.

-Mas eu posso – disse Rony, que afinal já havia completado dezessete anos. – Deixa comigo.

Rony andou até a geladeira, fez um aceno com a varia, e na mesma hora o cadeado que a prendia se abriu com um clique e caiu no chão. Rony abriu um sorriso:

-Sabe... Até agora não tinha me ligado que eu já podia usar magia. – disse ele, entusiasmado. – Poderíamos dar uma olhada naqueles, como é mesmo, eletônicos?

-Se chama eletrônicos. – corrigiu Harry, rindo, enquanto Hermione olhava Rony de cima a baixo, sem saber se ria ou não.

De repente, um farfalhar de asas anuncia a chegada de uma grande coruja parda, trazendo um jornal no bico. Ela pousa em cima da mesa, larga o jornal, e estende a pata em que estava presa uma bolsinha de couro. Hermione correu até o quarto de Harry e voltou trazendo o dinheiro para o jornal. A garota pegou o jornal, sentou na cadeira e afundou nele.

Harry e Rony vasculhavam a geladeira de Tio Valter. Aparentemente, a falta de Tia Petúnia fez a geladeira parecer ligeiramente mais vazia do que costumava ser. Decidiram então fritar o bacon, a única opção que tinham, e Rony ficou bem interessado quando Harry colocou as fatias na frigideira. Mas uma exclamação vinda da mesa quase fez o garoto jogar tudo no chão. Harry e Rony correram até Hermione para ver o que ela lia, mas ela apenas estendeu o jornal e leu em voz alta.

TRAGÉDIA EM HOGWARTS

Chegou ao conhecimento do Profeta Diário que há apenas três dias atrás a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts sofreu um ataque de Comensais da Morte, servos d’Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Na hora do ataque, muitos alunos dormiam, enquanto outros, corajosos, enfrentaram os comensais. Dentre as perdas no ataque, estão um comensal e Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore, Ordem de Merlin, Primeira Classe, o qual era o atual diretor. Muitos estão abalados com a perda desse grande homem, que se acreditava ser o único que Aquele-que-não-deve-ser-nomeado já temeu. Testemunhas oculares dizem que Severo Tobias Snape estaria envolvido com o crime. Snape era professor de Poções em Hogwarts a mais de 19 anos. “Não acreditamos quando ficamos sabendo o ocorrido.” – revelou Minerva McGonagall, professora de Transfiguração da escola em questão, numa entrevista para o Profeta Diário. – “Dumbledore era um grande mago, de nobre coração, que foi traído covardemente. É uma tragédia. Agora Hogwarts está para fechar”. Além da professora Minerva, o Profeta Diário teve a honra de entrevistar Alvo Dumbledore, que, infelizmente, não falou muito durante a entrevista. “Infelizmente tem horas em que as coisas fogem ao nosso controle. É inevitável”. Pais e mães de alunos de Hogwarts estão realmente preocupados com a segurança de seus filhos com a ausência de Dumbledore.

Saiba mais sobre a história de Alvo Dumbledore nas páginas 4, 5, 6 e 7.

A matéria era ilustrada por uma grande foto da Profª McGonagall, que parecia mais fraca e abatida como Harry jamais a vira. Sentiu pena ao ver a professora tentando se desvencilhar dos milhares de repórteres que se amontoavam em volta dela e, atrás, a pintura de Alvo Dumbledore, com um expressão de quem assiste a um grande espetáculo de circo.

-Bom, isso é realmente estranho. Quero dizer, o Profeta defendendo Dumbledore? – perguntou Rony, pegando o jornal da mão de Hermione.

-Acredito que agora que sabem que ele nunca esteve mentindo, as coisas fazem mais sentido. – respondeu Hermione, confiante.

-É, pode ser. – disse Rony, largando o jornal na mesa. – O que você acha Harry? Harry?

Mas a resposta de Harry jamais veio. O garoto tinha focalizado nos olhos apenas três palavras. Severo Tobias Snape. À simples visão do nome de Snape e de Dumbledore na mesma página, Harry sentiu uma onda escaldante de fúria envolver seu corpo. Sentiu-se nauseado e perdera a fome completamente. O bacon queimava na frigideira, soltando uma fumaça preta no ar.

-Harry, você está bem? – perguntou Hermione, preocupada.

-Estou. Eu só preciso... – mas Harry viu de relance na página do jornal que agora estava aberta o nome de Tom Servolo Riddle, inserido na história de Dumbledore, e como se um flash de luz limpasse sua mente, ele teve um idéia.

-O orfanato... – balbuciou ele. Tinha acabado de se lembrar do que Dumbledore dissera para ele quando estavam conversando. – Creio que Tom tem muito a nos dizer ainda... – repetiu ele, exatamente como Dumbledore tinha dito.

Rony e Hermione não entenderam, mas nem tiveram tempo de perguntar. Harry levantou e começou a andar em círculos, tentando se lembrar o endereço do orfanato que visitara na penseira com Dumbledore. Rony observava o amigo com certa apreensão, e disse, cauteloso:

-Harry? O que está havendo?

E antes que Harry pudesse se controlar, ele estava falando mais do que havia falado fazia muito tempo. Contou tudo. Desde a conversa que teve com Dumbledore, até o que estava sentindo por Snape.

-E então agora precisamos ir até o orfanato, mas eu não me lembro o caminho que fizemos. – finalizou ele, ofegante com o tempo que ficara falando.

No momento seguinte, mais duas grandes corujas entraram pela janela aberta. Os garotos não entenderam, mas quando olharam as cartas com mais atenção, uma estava endereçada para o Sr. Harry Potter e a outra, para o Sr. Ronald Weasley. Harry e Rony se encararam durante alguns segundos, sendo observados por uma Mione interessada.

-Então, - disse a garota. – vocês não vão abrir?

Eles obedeceram e abriram a carta apressados. Ambas eram curtas e continham a mesma mensagem.

A Seção de Controle do Transporte Mágico, do Ministério da Magia inglês, anuncia que seu exame de aparatação está marcado para daqui a um mês, no Beco Diagonal. O exame será aplicado pelo Dr. Hugo Dross, exatamente às 15:00h. É necessário lembrar que o senhor deverá ter dezessete anos no dia do exame. Segue em anexo à esta carta, um panfleto com dicas de aparatação.

Atenciosamente,

Lucas S. Gannington.
Chefe da Seção de Controle do Transporte Mágico.

Após ler a carta umas três vezes, Harry fechou os olhos e se afundou em cálculos. Depois de um tempo, aliviado, percebeu que teria dezessete anos no dia o exame.

-Ótimo! – exclamou Rony, terminando de ler a carta. – Finalmente faremos os exames. Isso vai facilitar bastante se precisarmos viajar, não é?

-É. – concordou Harry, sorrindo. Estava se sentindo mais feliz agora, sabendo que poderia aparatar para onde quisesse, tornando as coisas muito mais fáceis. Esqueceu-se por um momento de Snape, e então sentiu a barriga roncar violentamente. Olhou tristemente para o bacon, que agora havia evaporado, e estava menos do que um pedaço de carvão. Correu para apagar o fogo.

-Vocês deviam ler esse panfleto com as dicas de aparatação. – disse Hermione. – Têm coisas realmente interessantes aqui.

Rony não deu ouvidos a Hermione. Caminhou até a geladeira e a abriu, soltando uma exclamação de tristeza.

-Agora sim, acabou a comida. O que vamos fazer?

Harry, que estava limpando a frigideira, falou:

-Poderíamos ir até um mercado que tem aqui perto.

-Sim. – respondeu Hermione, olhando com uma cara de riso para eles. – E compraremos com que dinheiro?

Harry até pensou numa resposta, mas não conseguiu soltá-la. Os Dursley nunca deram dinheiro para ele, exceto em algum momento excepcionalmente especial, mas mesmo assim, só depois de perfurá-lo com comentários sobre o que fariam com ele se ele perdesse o dinheiro.

-Não temos dinheiro. – disse Harry finalmente.

Os três ficaram calados por um momento, então Rony disse:

-É muito ruim ter que viver como trouxas!

Harry e Hermione tiveram que concordar com ele.

-Mas esperem... – continuou Rony. – Eu poderia pedir para minha mãe nos enviar alguma comida, o que acham?

-Boa idéia! – aprovou Harry, sorrindo, pensando na ótima comida que a Sra. Weasley preparava.

Assim, eles enviaram Edwiges e Pichi para a Toca com pedidos desesperados de comida. Sabiam que as corujas não voltariam na hora, portanto, tiveram que inventar alguma coisa para comerem, pois ainda não tinham tomado nem o café da manhã. Aventuraram-se a preparar omeletes, os quais comeram com alguns pães que estavam na dispensa.

Após o estranho café da manhã, os três garotos subiram as escadas até o quarto de Harry, onde começaram a discutir todas as novidades que tiveram. Hermione se sentiu um pouco triste por não ter Bichento por perto, pois ela teve que deixar o gato com os Weasley, por não ter como cuidar dele na casa dos Dursley.

A cabeça de Harry voava. Estava na Rua dos Alfeneiros com Hermione e Rony, ia completar dezesssete anos e fazer seus exames de aparatação dali a um mês, e depois visitar o orfanato de Tom Riddle. Pouco depois seria o casamento de Gui e então, finalmente, eles sairiam em busca das Horcruxes. Mal podia esperar para poder usar sua varinha a hora que quisesse. Quando Hermione também completasse dezessete anos, um pouco depois de Harry, os três estaria livres para praticar as magias que fossem necessárias.

O dia foi passando, e depois mais um, e mais um. Uma semana, duas. Tio Valter mal parava em casa, e Harry notou que ele estava muito abatido. Não tinha ânimo nem para implicar com os garotos. Numa noite chuvosa, Harry foi no banheiro, e escutou Tio Valter discutindo com alguém no telefone porque não conseguira falar com a mulher e o filho. O garoto achou aquilo muito estranho e começou a alimentar desconfianças. Depois de uns dias sobrevivendo como trouxas graças a maravilhosa comida que a Sra. Weasley mandava regularmente, finalmente chegara o aniversário de Harry, e junto, vários cartões de aniversário, bolos da mãe de Rony. Cartas de saudade de Gina e de Hagrid. Mas nada, nem mesmo toda festinha que Rony e Hermione fizeram, mexeu mais com Harry do que uma carta pequena, com um carimbo de Hogwarts. Harry reconheceu a caligrafia como sendo a da Profª McGonagall, mas pelo conteúdo, era Dumbledore quem estava falando.

Caro Harry,

Gostaria de lhe dar os parabéns pelo seu décimo sétimo aniversário. A partir da meia-noite de hoje, a magia que o protege será cessada por completo, e você poderá finalmente deixar a casa dos Dursley. Mas aconselho a só a deixar no dia em que for prestar o exame de aparatação, de onde poderá aparatar direto para A Toca. A Profª Minerva lhe manda os parabéns e todos estaremos torcendo por vocês. Não se esqueça, Hogwarts estará sempre aqui, quando você precisar.

Atenciosamente,
Alvo Dumbledore e Minerva McGonagall

Após ler a carta, Harry a classificou como o capítulo final de um livro. No dia do exame, sairia da casa dos Dursley para sempre. O pensamento o alegrara tanto, que a comemoração de Rony e Hermione pareceu vinte vezes melhor. Tirou Snape e Voldemort por um momento da cabeça, a hora deles chegaria. Imaginou o que Sirius diria quando lhe contasse que ia finalmente sair da Rua dos Alfeneiros. Por mais incrível que pareça, pensar em Sirius não doeu aquela hora, foi até reconfortante. Sorriu ao imaginar o rosto ossudo do padrinho. Não valia a pena se entristecer. Não quando tinha um caminho a frente para seguir com seus dois melhores amigos.

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