Reações





DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.

AVISO: Esta história se passa no futuro e contém spoilers do livro 6! Esteja avisado/a!

BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!

A/N: Capítulo Dezenove! A Hermione quer saber o que o Severo tem em mente, e o Harry intervém na educação do Nathan.



Capítulo 19: Reações

Hermione se juntou aos outros ajudando Molly na cozinha. O café da manhã de Natal sempre dava muito trabalho, mesmo com Dobby tentando fazer tudo sozinho. Independente disso, logo a comida estava espalhada pela mesa grande, e os lugares foram ocupados um por um enquanto a casa acordava.

Harry chamou as crianças do pé da escada.

– É claro que estão acordados. Eles devem estar muito entretidos com os presentes para lembrar do café da manhã – Harry disse reunindo-se aos outros. Não demorou muito depois que Harry se sentou à mesa para as crianças chegarem à sala de jantar. Aquela altura, a conversa enchia a sala e a refeição natalina adquiriu sua alegria típica.

Finalmente, alguém tocou no assunto dos presentes. Sirius estava discursando animadamente sobre sua lista de presentes, e quando ela acabou, ele disse:

– O Nathan ganhou um colar super legal!

– Verdade? – Harry perguntou voltando sua atenção para o seu afilhado. – Podemos vê-lo? – perguntou sorrindo.

Nathan parecia relutante em concordar, mas puxou a corrente devagar, trazendo o vidro redondo para fora da blusa.

– É muito bonito, Nathan. De quem você ganhou? – Harry perguntou então.

Nathan tomou o vidro, agora preenchido de roxo, na mão protetoramente. Ele abriu a boca para dizer algo, mas não conseguiu articular nada; Lílian foi mais rápida. – Do pai dele – ela disse, preparando-se para morder sua torrada, até que as reações que seguiram sua revelação a fizeram baixá-la de volta no prato.

O falatório diminuiu instantaneamente e cessou completamente no momento seguinte, deixando apenas um silêncio absoluto na sala. Olhos correram de Nathan para Hermione e permaneceram lá. Ela podia ver choque, curiosidade, confusão e simpatia, tudo dirigido a ela, tudo no mesmo instante; ela estava tão chocada, curiosa e confusa quanto eles. Severo mandou um presente para o Nathan? Piscou por mais tempo que o normal, virando a cabeça para focar seus olhos em Nathan; eles se encontraram quando ele olhou na sua direção.

– Isso é possível, Hermione? – Harry perguntou quebrando o silêncio.

Hermione não registrou a indagação dele. Ela olhava para a mão direita do Nathan agarrando o pingente e segurando-o perto ao coração. Por que ele mandou um presente? Ela não era boba de acreditar que foi pela alegria de mandar ao filho um presente de Natal. Não, tinha mais por trás disso. Qual é o jogo dele?

– Hermione – Harry chamou novamente.

Ela piscou e focou nele.

– Isso é possível? – Harry insistiu.

Os olhos verdes do Harry estavam indecifráveis, frios até, e isso a inquietou. Hermione desviou seus olhos dos dele, apenas para encontrar outros nela.

– Sim – respondeu, e foi como se tivesse dado um sinal para que começassem a falar novamente, e todos ao mesmo tempo.

Sua mente estava ficando ainda mais confusa com as perguntas e a conversa deles, acrescentando às suas próprias perguntas e conversas internas. Hermione levantou-se abruptamente do seu lugar, não querendo agüentar mais aquilo. Deu a volta na mesa e pegou Nathan pelo braço, fazendo-o levantar-se também.

– Chega! – rugiu, e sem dizer mais nada, arrastou Nathan para dentro da biblioteca e fechou a porta.

A palavra de Hermione não foi o suficiente para trazer silêncio aos ocupantes da mesa de café da manhã, nem foi o som da porta da biblioteca fechando com certa força. O que finalmente trouxe ordem à sala foi uma única palavra de Harry: – Silêncio!

– Eu sei que isso é uma surpresa para todos nós, mas vocês já mandaram a Hermione embora – ele disse em seguida.

– Papai, o que eu disse de errado? – Lílian perguntou ainda um pouco assustada com as conseqüências das suas palavras.

– Nada, querida. Você não disse nada de errado.

– Então por que vocês ficaram tão quietos, como se eu tivesse dito algo de errado? – ela perguntou, agora mais confusa que receosa. – E por que a Tia Hermione levou o Nathan?

– Nós estamos preocupados com o colar do Nathan – Harry respondeu.

– Mas por que, se é um presente do pai dele? – ela insistiu.

Os olhos do Harry ficaram mais frios. Gina, parecendo perceber isso, assumiu as respostas às perguntas da filha. – Você já viu o Nathan com o pai dele? – Gina perguntou.

A menina pareceu estar procurando na memória. – Não – respondeu finalmente.

– Isso é porque nós não o conhecemos – Gina completou o raciocínio.

– Nem mesmo o Nathan? – Sirius perguntou então.

Gina voltou sua atenção a ele. – Nem mesmo o Nathan.

– Isso é triste – Lílian observou, baixando a cabeça para olhar as mãos no colo.

Outro silêncio se seguiu.

– Você sabe algo que não sabemos? – Rony perguntou ao Harry. – Você é o padrinho do Nathan; ela nunca lhe contou quem ele é?

Harry tirou os cabelos dos olhos. – Não, ela não contou – respondeu. – Eu nem sabia que ela mantinha contato com quem quer que ele seja.

– E se o homem só os encontrou depois que o Nathan foi para Hogwarts? – Arthur destacou. – Eles viviam no mundo trouxa até então.

– Papai tem razão – concordou Fred. – Ela poderia ter abandonado o mundo bruxo procurando proteção.

– Ela nunca explicou por que não aceitou aquele posto no Ministério depois da guerra – Jorge acrescentou assentindo com a cabeça.

– Eu ofereci proteção – Harry disse balançando a cabeça em negação. – Ela sabia que era seguro ficar. Ela escolheu o mundo trouxa por outro motivo. – Ele franzia a testa, irritado com as suposições repetidas. – E nós já discutimos isso antes.

– Se o que está dizendo é verdade, se ela manteve contato com o homem, então por que ele decidiu aparecer só agora? – Rony perguntou. – Quem é esse homem?

– Eu não acho que ela planejou nada disso – Remo interveio. – Ela não sabia que o pai do Nathan mandaria o colar.

Harry olhou para ele com suspeita. O jeito que o lobisomem dissera aquilo fez Harry acreditar que Remo sabia mais do que estava deixando transparecer. Remo o pegou olhando para ele e não disse ou fez qualquer coisa que traísse ou negasse as suspeitas de Harry – o que em si só era peculiar.

– Tem acontecido alguma coisa em Hogwarts ultimamente? – Harry perguntou ao professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. – Alguma coisa envolvendo o Nathan ou a Hermione?

Harry continuou a estudar Remo, que levou um tempo antes de responder:

– Nathan e Devon Malfoy andam brigando um com o outro.

– Por quê? – Harry insistiu.

– Devon descobriu que o Nathan não conhece o pai e vem provocando ele desde então – Remo esclareceu.

– E deixe-me adivinhar – Harry disse num tom de ironia amarga –, o Snape não fez nada para parar o Malfoy.

– Não é tão simples assim, nós não podemos ficar de olho nos meninos o tempo todo – Remo explicou, visivelmente tentando defender o sonserino.

– Eu avisei – Harry disse ignorando a explicação do Remo. – Ele não pode tratar o Nathan como me tratava. Não vou permitir isso, e ele foi avisado.

– Isso não é sobre o Snape, Harry – Gina interrompeu o marido. – Isso é sobre o pai do Nathan.

Harry se levantou da mesa. – Vou descobrir o que está acontecendo, agora. – E com isso, foi até a biblioteca, batendo forte na porta.

*-*-*-*


Hermione recostou-se, descansando a cabeça na velha porta de madeira da biblioteca, e suspirou, fechando os olhos. Quando os abriu, viu Nathan a estudando, parecendo confuso. Ela sacou sua varinha e colocou algumas proteções de silêncio pela sala.

– Deixe-me ver o colar – ela exigiu.

– Não – Nathan negou.

Hermione suspirou novamente. Acalme-se – pensou. – Não vou tirá-lo de você. Só quero examiná-lo – assegurou-lhe.

Nathan fechou a mão protetoramente sobre o pingente mais uma vez. – O que você quer ver?

– Você pensou que poderia ter algo que lhe causasse mal nele? – ela destacou.

– É um presente de proteção – ele declarou erguendo o queixo em desafio.

– Como você sabe? Como você sabe que é do seu pai, e não de alguém fingindo ser seu pai? – Ela estava começando a perder o pouco do controle que recuperara. – Existem pessoas que gostariam de lhe causar mal, pessoas que perderam muito no final da guerra, com a derrota de Voldemort. E se alguém lhe mandou um amuleto azarado? Você é muito novo para entender...

– Mãe.

– ...o que aconteceu durante a guerra e o fato que há pessoas...

– Mãe.

– ...que me odeiam, e ao Harry, e ao Rony, e você não consegue reconhecer magia negra...

– Mãe! – ela ouviu o filho gritar, efetivamente interrompendo-a. – É um presente de proteção. Estava na carta que o meu pai me mandou, e ele não é um criminoso ou nada assim. Ele lutou ao seu lado naquela guerra.

– Como você pode ter tanta certeza? – ela perguntou surpresa com o aparente conhecimento dele sobre as alianças do pai.

– Dumbledore me disse.

Dumbledore? Seus olhos se arregalaram. – Como o Dumbledore pode... – Calou a boca antes que dissesse algo mais. – Ele já era um retrato quando você nasceu, Nathan. O que ele pode saber sobre isso? Além do mais – continuou –, não estou dizendo que o seu pai lhe mandaria um presente azarado, só que poderia ser de outra pessoa fingindo ser o seu pai. Agora, deixe-me ver o colar.

Ele ainda hesitou. Hermione sabia que ele podia ver as razões dela pelo olhar dele. Ele finalmente largou a mão do pingente, e ela pôde ver o frasco de vidro oval cheio com um líquido azul escuro – uma poção – ela percebeu. Definitivamente do Severo – concluiu em pensamento. O que está passando pela cabeça dele? O que ele quer com isso? Não conseguia encontrar uma razão plausível para os atos do Severo.

– Deixe-me ler a carta – ela pediu então.

Nathan levou a mão ao bolso e tirou um pedaço de pergaminho, mas não deu para ela.

– É muito difícil ler quando está dobrado na sua mão – ela ponderou irritada.

Nathan desdobrou a carta, mas não fez menção de entregá-la para ela. Segurou-a aberta, com as inscrições voltadas para ela, para que pudesse ler das mãos dele.

Hermione revirou os olhos e jogou as mãos para o alto, pedindo aos Deuses por mais paciência. – Isso é ridículo! Eu não vou queimar ou rasgar a carta em pedaços, Nathan!

Ele contraiu-se com o seu tom. Ela fechou os olhos; aquilo não era o que tinha em mente. Hermione foi para uma poltrona, sentando-se. – Venha aqui – ela ordenou a Nathan num tom muito mais calmo. Ele obedeceu vagarosamente, a carta dobrada novamente na mão. Ela gesticulou para que ele se sentasse no seu colo, e quando ele se sentou, o envolveu num meio-abraço, puxando-o para si.

– Eu entendo a importância desse presente para você, mesmo – ela esclareceu correndo os dedos nos cabelos finos dele. – Mas eu preciso saber se ele é legítimo; se é realmente um presente do seu pai. Não vou mentir para você – acrescentou –, e você já sabe disso.

Ela esperou por um sinal de que ele concordava, e quando ele assentiu levemente, ela disse:

– Agora, vamos ler a carta juntos. – E descansou a cabeça no ombro dele. Ele desdobrou o pergaminho novamente, e ela o leu.

Use o tempo todo, e estarei com você quando mais precisar. É o meu presente de proteção – repetiu mentalmente. Um arrepio correu sua espinha. Severo queria proteger Nathan, de um jeito bem sonserino – ela considerou, mas aquilo aqueceu seu coração assim mesmo.

– É verdade, não é? O meu pai me mandou um presente – Nathan perguntou, procurando com incerteza no rosto dela a reação à carta.

Ela sorriu para ele. – Sim, ele mandou.

Um sorriso largo encheu o rosto dele. Ela o abraçou com mais força, e ele recostou-se no abraço, descansando a cabeça no seu ombro, até que uma batida bem dura na porta quebrou o momento.

– Hermione – ouviram vindo do outro lado. – Eu sei que esta é uma proteção seletiva de silêncio e que você pode me ouvir. Abra a porta para podermos conversar. – Era Harry. – Só você e eu, se preferir – ele acrescentou depois.

– Mãe – Nathan disse olhando de volta para ela depois de surpreendido pela batida de Harry. – O Tio Harry vai querer ver meu colar também, não vai? Eu vou ter que mostrar para todos eles?

– Não sei, Nathan – ela respondeu –, mas eu acho que sim. Deixe-me abrir a porta para ele, e vamos descobrir.

Ela se moveu sob o peso do seu filho, e quando ele se levantou do seu colo, ela também se levantou. Pegando a varinha, desarmou algumas das proteções e abriu a porta, permitindo que Harry entrasse na biblioteca.

– Por que você deixou a mesa? – Harry perguntou para ela.

Ele agora olhava fixamente para o Nathan, para o colar dele. Nathan o apertou protetoramente mais uma vez.

– Vá terminar seu café da manhã – Hermione falou para o filho.

– Eu quero ficar – Nathan respondeu.

– Faça como sua mãe diz, Nathan – Harry insistiu.

Nathan olhou do Harry para a Hermione, e depois que ela sorriu para ele, assentindo, ele deixou a biblioteca. A porta se fechou atrás dele, e Harry colocou suas próprias proteções na sala desta vez.

– Diga-me, Hermione. Quem mandou o colar?

– O pai dele – ela respondeu sucintamente.

Harry a encarou. – E quem seria ele?

– Não vou dizer para você, Harry. Por favor, não insista – ela pediu.

– Não, Hermione. Não vou deixar passar desta vez. Quando era só você… Eu sabia que você daria conta de quem quer que tentasse machucá-la, mas agora diz respeito ao Nathan também. Não vou ficar sentado, olhando, enquanto ele pode estar correndo perigo, só porque você não quer me dizer o nome de um homem com quem teve algo há mais de dez anos. Não vou – ele disse com firmeza.

Hermione olhou na intensidade dos olhos verdes de Harry enquanto tremeluziam nos dela, sem vacilar. – Não há com o que se preocupar – ela assegurou. – É tudo que precisa saber. Vamos voltar para o café da manhã – ela sugeriu e foi até a porta, mas esta não abriu para ela. Virou-se, irritada. – Abra a porta, Harry.

Harry, sentando-se em uma poltrona próxima, disse:

– Sente-se, Hermione.

– Eu não vou ter essa conversa com você de novo. Abra a porta – ela exigiu olhando feio para ele.

Ele não recuou sob seu olhar penetrante. – Sente-se – repetiu simplesmente.

Ela voltou a passos largos para sentar-se numa poltrona de frente para a dele. – Não há com o que se preocupar, Harry – ela repetiu exasperada. – É só um colar encantado para proteção. Se eu precisasse da sua ajuda para lidar com isso, eu teria pedido.

– Por que ele precisaria da proteção do pai desconhecido, um homem que nunca se importou em dar as caras por todos esses anos? – Harry perguntou.

– Harry, por favor... – ela implorou.

– Hermione, eu sou o padrinho dele, eu o amo como se fosse meu filho e a você como uma irmã. Eu respeitei seu segredo por todos esses anos, satisfeito em pensar que quisesse manter vocês dois longe de quem quer que esse homem seja por razões que eu posso apenas imaginar. Mas agora, ele entra na vida de vocês através daquele colar, do nada, como se fosse a coisa mais natural do mundo – Harry argumentou –, e você quer que eu acredite que não há nada de errado com isso? Não vou cair nessa – completou, balançando a cabeça e reclinando-se na cadeira.

Hermione fechou os olhos. Teria que revelar pelo menos alguns de seus segredos guardados, ela sabia. Harry perguntara antes; eles discutiram calorosamente sobre suas recusas, mas ele não insistira tanto quanto estava fazendo agora, e ela sabia que ele não recuaria depois do colar e entendia a preocupação dele. Ela balançou a cabeça, lamentando a aproximação sonserina do Severo, e o faria saber disso depois que terminasse de controlar a situação por aqui.

Abriu os olhos para pegar Harry ainda observando-a, decidido. – Ele não poderia ter procurado pelo Nathan antes porque não sabia da existência dele – revelou calmamente.

A expressão de Harry suavizou um pouco, mas não intencionalmente. – Por quê?

– Não posso lhe dizer isso, apenas que foi uma decisão só minha – ela respondeu.

– Por que contou para ele agora, ou recentemente, ou quando quer que tenha contado, então? – Harry perguntou, confuso em como se expressar devido à sua ignorância dos fatos.

– Eu não contei – Hermione declarou –, mas estou contente que ele saiba. – Ela baixou a cabeça para olhar para suas mão entrelaçadas. – Eu deveria ter contado para ele anos atrás – continuou em uma voz baixa. – Tem sido difícil para ele aceitar, tão difícil quanto para eu lidar com as conseqüências do que fiz, mas o pior é o que isso está fazendo com o Nathan. – Ela ergueu os olhos, encontrando o olhar dele. – Eu pisei na bola, Harry, e consertar isso não depende mais só de mim.

– Eu poderia ajudar – ele ofereceu, um pouco do gelo deixando a voz.

Hermione balançou a cabeça em negação, deixando a poltrona. – Eu sei que você quer, mas ninguém pode – ela disse virada para as estantes. – É uma escolha dele; é a única decisão que não posso tirar dele. – Ela acariciou o couro dos tomos, tentando reganhar controle emocional no seu silêncio, quando uma mão em seu ombro quebrou sua concentração.

– Não gosto de vê-la aflita desse jeito – Harry disse, apertando seu ombro em amparo.

– Eu fiz o que achei que fosse o melhor para os dois – ela confessou.

– Eu acredito – Harry disse suavemente, usando a mão livre para trazer a cabeça dela ao seu ombro gentilmente.

A biblioteca caiu em um silêncio contemplativo.

– Eu ainda posso ajudar com o Nathan. Ouvi dizer que ele vem tendo problemas com o Malfoy – Harry ofereceu.

Sua boca se curvou na sombra de um sorriso, enquanto saía do abraço do Harry. – Já foram tomadas providências – ela lhe disse. – Remo está tomando conta disso como diretor da Casa dele.

– Mas o Snape está tomando providências com respeito ao Malfoy? – Harry disse. – Acho que o velho morcegão precisa ser lembrado.

Hermione ficou séria novamente. – Harry, não interfira.

– Não farei nada que você não aprovaria – ele a assegurou e ergueu a varinha para desarmar as proteções. – Vamos terminar o café da manhã, se é que sobrou alguma coisa para nós – ele disse, gesticulando para que ela o precedesse de volta ao saguão.

Hermione não disse mais nada, embora não tivesse gostado da resposta do Harry ao seu pedido para que não interferisse em Hogwarts. Ela não queria levantar suspeitas com relação ao Severo, nem queria deixar o Nathan sozinho com todos aqueles Weasley certamente curiosos.

*-*-*-*


– Bom dia, Srta. Granger – Severo cumprimentou sem tirar os olhos da raiz que picava. Ele a estivera esperando a qualquer momento; até pensou que ela viria na noite anterior, o autodomínio dela o surpreendendo.

Quando ela não respondeu ao seu cumprimento e simplesmente ficou na porta do laboratório, ele finalmente olhou para ela. Não, a visão que o encontrou não era uma de felicidade absoluta, como esperara que fosse.

– O que você estava pensando? – ela disse. – Você sabe quantas perguntas eu tive que responder? Você sequer pensou na repercussão que o seu presentinho teria?

Sim, ele pensara. Teria como saber os sentimentos do seu filho e assim preveni-lo de fechar-se em si mesmo. Se o Nathan a questionara de qualquer coisa, Severo sabia que ela seria esperta o suficiente para responder as perguntas sem grandes conseqüências ao sigilo da sua identidade. Não era um preço alto para se pagar por seus olhos atentos no menino afinal.

– Tenho certeza que você tinha ótimas respostas para todas as perguntas dele; você sempre tem – ele disse, divertido com a angústia dela.

Hermione entrou a passos largos na sala e parou à sua frente, do outro lado da bancada que estava usando. Ela colocou uma mão em cada lado da tábua de corte, tirando efetivamente sua atenção das raízes. Ele ergueu os olhos para encontrar os dela. Ela estava enfurecida.

– Você acha engraçado, não é? – ela despejou. – Bem, não é! Os Weasley estavam intrigados; pensei que o Harry ia me azarar se eu não contasse o seu nome!

Weasley? Potter? Severo não pensou que eles saberiam do colar. Onde ele errou? Onde seu plano falhou?

– Você nunca pensou nisso, não é? Você nunca pensou que eles descobririam – ela declarou como se ouvindo os pensamentos dele.

– Por que eles se importariam? Eles não têm nada com isso! – ele respondeu, irritado. – Se um pai decide mandar um presente ao filho, isso não é da conta de ninguém.

Hermione balançava a cabeça. – Não estou reclamando. Acredite, fiquei muito surpresa com o seu presente, positivamente surpresa. O que não posso concordar é como está procedendo.

– Também não estou buscando sua aprovação, Granger – ele fez questão de deixar claro para ela. – Não me importo se concorda ou não.

– Por que está fazendo isso? Por que mostra que se importa quando está obviamente fazendo o melhor para dizer o contrário? – ela acusou. – Se não quer fazer parte das nossas vidas... Eu realmente não entendo.

– Nunca farei parte da vida de vocês, Granger; disse desde o começo – ele esclareceu. – Não como você espera que eu faça parte.

– Então por que interferiu? – O tom dela não era acusador, mas um lamento. – Pedi para contar para ele devidamente; para sentarmos, nós três, e conversar. O que você está fazendo... Como está se aproximando dele... Ele se sentirá traído quando finalmente descobrir.

– Isso não é problema meu, Granger. Sua confusão, seus segredos – ele disse. – Só estou fazendo o meu trabalho.

– E o que seria esse trabalho? Fazê-lo odiar o pai no momento que descobrir que é você? Fazê-lo sofrer...

– Assim é melhor! – ele a interrompeu, sua voz mais alta e forte. – Se me odiar irá protegê-lo, então é assim que vai ser! Estou tentando manter os olhos nele, Granger, para protegê-lo, e isso inclui de mim.

Ele olhou para ela o encarando depois da sua explosão, e ela parecia cansada. Por que ela tinha que insistir que ele se revelasse? Já decidiu que não ignoraria a existência do Nathan, só que não seria o pai do menino em todos os aspectos do papel. Isso não era suficiente?

– Darei uma semana depois que o novo semestre começar – ela disse. – Se você se importa com ele, e eu sei que se importa, nós nos sentaremos como uma família e contaremos que você é o pai dele.

Ele estreitou os olhos, colocando as mãos na bancada como apoio enquanto invadia o espaço pessoal dela ameaçadoramente. – Você acha que pode me dar um prazo? Você, que manteve ele em segredo por onze anos? Essa conversa nunca acontecerá, Granger, muito menos dentro do seu prazo estúpido! – ele rosnou.

A reação dela à indignação dele o inquietou. Tudo o que ela fez foi baixar a cabeça para olhar para a bancada, como se suas palavras estivessem sendo ditas no seu tom de aula.

– Você não precisa ficar na defensiva, Severo. Este não é um prazo que eu estou estabelecendo – ela disse e, erguendo os olhos da bancada para encontrar os seus novamente, acrescentou – Você o estabeleceu quando mandou um presente de Natal misterioso para ele. – Ela parecia resignada. – Vamos fazer isso do jeito certo, Severo. Vamos contar para ele antes que ele descubra – ela pediu de novo.

– Ele não vai descobrir, a não ser que você conte para ele – Severo disse.

– Eu nunca pensei que você, de todas as pessoas, fosse propenso a ilusões. – Os olhos dela queimavam nos seus com a proximidade. – Ele sabe mais do que pensei que sabia. Ele nem questionou se o colar fora enviado com intenções de machucá-lo. Ele sabe que o pai era um membro da Ordem, Severo, e quando ligar a poção no novo colar ao único Mestre em Poções da Ordem; quando olhar nos seus olhos como estou fazendo agora e vir os dele...

Ele desviou seus olhos e não viu Hermione baixar os dela para a bancada.

– Quando ele examinar suas mãos – ela continuou e, para o seu choque, esticou-se para cobrir a mão esquerda dele com a direita dela, delineando os nós bem de leve – e ver que são iguais às dele.

Ele se endireitou, puxando sua mão para fora da bancada e sob a dela. Severo notou que os olhos dela permaneceram em sua mão enquanto a movia, mesmo agora que caia ao seu lado. Cruzou os braços, então, desconfortável. Severo esperava que tivesse encoberto qualquer sinal de surpresa mais rápido do que ela erguera os olhos para encontrar os seus.

Ela suspirou pesadamente. – Só pense nisso; é só o que estou pedindo, Severo. – E ela se foi antes que ele pudesse considerar as implicações de tudo que ela dissera e fizera.

Severo olhou bravo para a porta. Descruzou os braços, segurando a mão que ela tocara com a palma para baixo; olhava fixamente para ela, franzindo a testa. Propenso a ilusões – repetiu as palavras dela em sua mente, delineando os nós dos próprios dedos. Quem está se iludindo? Apertou a mão e deixou-a cair, como se pudesse machucá-la com seu desprezo.

*-*-*-*


Nathan sentava-se à mesa, tomando suco de laranja e se distraindo com a seção de entretenimento do jornal trouxa. Sua mãe estava sentada a sua frente, também tomando café da manhã. Já fazia quase uma semana desde o Natal; era quase Ano Novo. Em mais uma semana, estaria de volta à Hogwarts para um novo semestre de aulas com seus amigos... e inimigos – acrescentou para si mesmo.

De repente, Nathan percebeu que o lado da mesa da sua mãe estava muito quieto. Levantou os olhos e encontrou Hermione olhando desatenta para ele, para o seu peito, para o seu colar. Ele, sem cerimônias, colocou-o para dentro da blusa, olhando feio para ela. Não era a primeira vez que a pegara no flagra; ela parecia mais distraída do que nunca nesses últimos dias. Seu movimento pareceu trazer Hermione de volta do transe, e ela voltou a comer os ovos mexidos que estavam certamente frios agora.

– Tem certeza que quer vir comigo? – ela o questionou, empurrando o prato ainda cheio e colocando os braços cruzados na mesa. – Não vai ter muito que fazer. Só vou preparar o experimento e esperar no meu escritório até que ele acabe, e assim que ele terminar, posso aparatar para casa e pegar você.

– Também não tem nada para fazer aqui – Nathan destacou. – Se o Jeremy não estivesse passando um tempo com os avós, poderia ficar com ele, mas... – Deu de ombros. – E você sabe que eu gosto de ver os experimentos.

– Só estava confirmando – Hermione disse, sorrindo – e me certificando de que posso dizer que eu avisei quando você começar a reclamar que está entediado.

– Por que eu reclamaria? Estaria dez mil vezes mais entediado aqui que na universidade.

– Ah é? – Hermione perguntou, divertida. – O que aconteceu com “vou passar o feriado inteiro lendo”?

– Já li todos os livros bons, incluindo aqueles que você emprestou do seu namorado – Nathan se defendeu, devolvendo a provocação.

– William não é o meu namorado – Hermione respondeu revirando os olhos. – Mas foi bom você falar dos livros dele. Vamos levá-los conosco; vou devolvê-los para ele.

– Foi por isso que você perguntou tantas vezes se eu queria ir; o seu namorado vai estar lá! – Nathan continuou provocando. – Mamãe está namorando, mamãe está namorando – cantarolou.

– Não estou! – Hermione disse.

Nathan simplesmente riu.

Não muito mais tarde, Nathan ajudava sua mãe no laboratório do Departamento de Química. Estava quase tudo pronto e logo não teria nada para fazer pelas duas horas que levava para o experimento terminar. É claro que ele não admitiria que já estava morrendo de tédio na expectativa dessas horas.

– Preparado? – Hermione perguntou.

Nathan se posicionou para ligar o botão de início. – Preparado.

– No três, então; um, dois, três – Hermione contou, e Nathan apertou o botão enquanto ela adicionava o último reagente à mistura. – Ótimo – ela disse –, agora esperamos os resultados. – Hermione sorriu para ele e virou-se para limpar a bancada antes deles deixarem o equipamento por hora.

– Leva duas horas, não é? – Nathan perguntou deixando sua impaciência transparecer na voz.

– Entediado, já? Posso dizer, então? – ela o provocou, divertida.

– Quem disse que estou entediado? – ele desafiou. – Só quero entender o processo inteiro – mentiu.

Hermione tirou as luvas e o jaleco. – Sim, leva duas horas. – Ela afagou seu cabelo e o conduziu para fora do laboratório, dizendo – Vamos encontrar alguma coisa para salvá-lo do tédio.

Eles tinham acabado de entrar no corredor em direção ao escritório da Hermione quando um homem chamou por ela.

– Não esperava vê-la trabalhando entre o Natal e o Ano Novo – William comentou aproximando-se deles.

– É só por umas duas horas antes do Nathan e eu tirarmos o resto de dia. Como foi o Natal?

– Me diverti muito com a minha irmã e o marido – William respondeu e, mudando a atenção para o Nathan, disse – Então você é o famoso Nathan. É bom finalmente conhecê-lo. – O homem ofereceu a mão em cortesia. Nathan aceitou.

– Esse é o Prof. William Brice, Nathan – Hermione apresentou.

– Prazer em conhecê-lo, Prof. Brice – Nathan cumprimentou, ainda apertando a mão do homem.

– Pode me chamar de William, ou Will, como sua mãe. – O homem sorriu. Nathan assentiu. – Bem, eu só queria dizer oi – ele disse à Hermione. – Não quero impedi-la de aproveitar a companhia do seu filho.

Hermione sorriu para o William. – Não está me impedindo de nada. Na verdade, íamos procurá-lo. Você só nos poupou a busca.

O sorriso do William se abriu mais. – Procurar por mim? Por que razão?

– Queria devolver os livros que me emprestou. Estão no meu escritório.

Hermione mostrou o caminho enquanto falavam sobre os livros. Pediram opiniões ao Nathan, que ficou contente quando os dois adultos pareciam realmente interessados no seu ponto de vista. Chegaram ao escritório e a conversa mudou para o experimento de Hermione, o que levou a outros assuntos acadêmicos, depois a outros livros. Aquilo fez Nathan imaginar como seria se sua mãe fosse realmente namorar aquele homem – ou qualquer professor, para falar a verdade.

Nathan não lembrava bem da última vez que Hermione tinha namorado. Foi há um bom tempo, e não durara tempo suficiente para seu cérebro jovem registrar muitos detalhes na época. Enquanto freqüentava a escola trouxa, conhecera muitas famílias como a dele, com apenas a mãe e os filhos, ou, em alguns casos, o pai e os filhos. Muitos desses pais tinham namoradas ou namorados, e alguns deles até se casavam uma segunda vez, começando uma nova família. Por que sua mãe não fez isso? Ela nunca foi casada, pelo menos não que ele soubesse. Por que ela não queria mais casar, ou mesmo namorar?

Nathan ouvira histórias de quando a Hermione namorara o Tio Rony, quando ela ainda era aluna em Hogwarts. Além dele, Nathan sabia que ela tinha que ter tido alguma coisa com o seu pai. Será que eles namoraram? Será que ela o amava? Será que ele a amava? Por que eles não eram uma família? Nathan não sabia. Ele não podia nem começar a entender.

A poção dentro do pingente mudou de um verde claro para um azul profundo, mostrando a tristeza que invadia o seu coração. Agora, Nathan já percebera o que aquelas mudanças de cor significavam – seu humor. Por que seu pai lhe mandou um colar do humor dizendo que era para proteção? Aquilo, ele ainda não tinha descoberto. Nem o que aquele líquido dentro do colar realmente era, embora ele acreditasse que fosse uma poção, Nathan só teria certeza quando tivesse acesso à biblioteca de Hogwarts novamente.

– Nathan – sua mãe chamou.

Ele ergueu os olhos para longe do pingente em suas mãos, entrando os olhos dela. Hermione olhava preocupada dos seus olhos para o colar e de volta aos olhos.

– Ainda temos uma hora aqui – ela lhe disse. – Quer ir lá fora? Ou à biblioteca, talvez? – ela perguntou, ainda parecendo um pouco preocupada.

– Posso esperar aqui – Nathan respondeu, soltando o pingente. – Posso continuar tentando entender o que são essas reações trans. – Tentou forçar um sorriso.

– A culpa é minha, desculpe – William admitiu. – Não deveríamos estar falando de trabalho...

Hermione olhou para o colar novamente e sorriu. – Talvez armas medievais seja um assunto melhor – ela sugeriu.

Nathan seguiu o olhar dela, olhando então para o pingente, e viu que seu conteúdo estava de volta ao tom claro de verde que tinha na maior parte do tempo. – Você preferiria uma espada ou uma adaga como arma de combate próximo? Eu acho que adagas são melhores por sua discrição.

A conversa animada preencheu a hora que precisavam esperar; William acabou sendo boa companhia. Logo, Hermione e Nathan deixavam a universidade para passar algum tempo na Londres trouxa. Tinham muitos lugares para visitar antes de irem ao cinema.

*-*-*-*


Severo sentava-se no seu escritório, olhando fixamente para o frasco em forma de moeda em cima da mesa. As aulas recomeçaram, e desde então, a cor do conteúdo adquirira tons que ele nunca vira nele antes. Vermelhos de raiva, marrons de humilhação; Severo sentia falta dos verdes claros, dos laranjas, daqueles inesperados rosas... Na verdade, Severo surpreendeu-se ao observar que na maior parte do tempo muitos tons de azul enchiam o frasco de vidro, substituindo aquele verde claro confortante. Mostrava que seu menino estava muito mais reservado em suas emoções agora que estava de volta à Hogwarts que quando estava apenas com a mãe.

Pelo menos nem mesmo um vislumbre de cinza manchou a poção. Se o azul virasse cinza, teria que agir; teria que salvar seu menino de uma depressão e tristeza mais profundas, ou ao menos se convenceu que era o que faria. Esperava que não chegasse a isso e não achava que chegaria. O tempo que Nathan passara longe de Hogwarts fez bem a ele. Mesmo sem conhecer seu filho muito bem, todas aquelas detenções e esse tempo que passava observando o humor dele trabalharam a seu favor. Ele era um homem observador, afinal, e estava certo que não veria nenhum cinza ali, nem amarelo – pensou divertido. Nada de amarelos covardes para os grifinórios.

Somente quando o azul profundo mudava para o branco esverdeado era que Severo voltava toda sua atenção às redações; Nathan estava dormindo. Esta era sua nova rotina agora. Severo precisava ter certeza que seu filho estava dormindo serenamente antes de se concentrar em qualquer outra coisa e, mesmo então, ainda verificava o amuleto por sinais de qualquer mudança. Entretanto, nunca vira nenhuma significativa ou preocupante; não até que ergueu os olhos da última redação que tinha para corrigir e viu um redemoinho de amarelo cinzento invadir o sereno branco esverdeado.

Severo ficou assustado e levantou-se em segundos. Nem pensou antes de pegar o amuleto da mesa e ativá-lo para localizar Nathan, enquanto saía do escritório para o corredor frio das masmorras de Hogwarts. Se seu filho estava com medo e lúgubre, ele tinha que encontrá-lo imediatamente! Severo lembrou da pequena aventura do menino na Floresta Proibida meses atrás e seguiu o encantamento localizador mais rapidamente, até que ele o levou ao Saguão de Entrada. Lá, Severo parou e franziu a testa; o encantamento levava para as escadas ao invés das portas de carvalho.

Severo checou a poção no amuleto novamente; ainda tinha aquele tom amarelado com um traço de cinza nele. – Do que você está com medo, se está dentro do castelo? – murmurou para os corredores, subindo as escadas para onde o encantamento apontava. Somente quando chegou do lado de fora da sala comunal da Grifinória e viu que ele o guiava para dentro, foi que Severo questionou a veracidade da informação do encantamento localizador. Se o Nathan estava dentro da Grifinória, por que estaria com medo? Outra olhada no amuleto e nada mudara desde sua última inspeção.

Os únicos sinais de que estava fazendo isso contra o seu bom senso foi um suspiro e o fato de que tinha os olhos fechados quando entregou a senha dos professores para a Mulher Gorda. A sala comunal estava deserta naquela hora da noite; já era bem mais que meia-noite, afinal de contas. Mas Severo estivera quase certo que iria encontrar alguma comoção lá. Entretanto, o localizador insistia que ele deveria subir as escadas que sabia que levavam para os dormitórios. O que estava acontecendo lá em cima? Ele não conseguia ouvir nenhum som que lhe daria uma pista, ou todo e qualquer som para falar a verdade. Feitiços silenciadores? – pensou.

Ele estava mais preocupado do que consciente das suas ações agora. Severo só queria encontrar Nathan e protegê-lo do que quer que estivesse causando aqueles sentimentos. A porta para o dormitório do seu filho não ofereceu qualquer resistência, e Severo só encontrou os sons de meninos dormindo lá dentro. Estranho. Até que uma lamúria alcançou seus ouvidos, vinda de uma das camas de dossel.

Severo, varinha preparada, puxou cuidadosamente as cortinas de lado para encontrar Nathan, e somente Nathan. Embora seu menino estivesse sozinho, Severo ainda não relaxou. Nathan lutava com as cobertas, virando a cabeça de um lado para o outro, fazendo careta e choramingando; ele estava tendo um pesadelo. Severo cogitou a idéia de deixar o quarto, deixando seu filho com o pesadelo, mas seu corpo não se movia.

Nathan resmungou algo, interrompendo os pensamentos de Severo. Ele resmungou mais um pouco, e agora Severo pensou ter ouvido as palavras aranha e atrás e não algumas vezes. Ele está sonhando com aquela noite na Floresta – Severo percebeu. Mais resmungos, e ele se esforçava para escutar e entender. Além de aranha e sai, Severo podia decifrar o nome do padrinho do seu filho – Harry – e, para sua total surpresa, seu próprio nome – Snape. Aquilo o fez paralisar, ainda mais desconfortável com a situação.

Severo sabia que o melhor a fazer era acordá-lo do pesadelo, mas como ele faria isso sem ser pego no ato? Não podia acordá-lo, mas sabia quem podia. Com a leveza de seus movimentos graciosos, ele deixou o dormitório, cruzou a sala comunal da Grifinória e saiu pelo buraco guardado pela Mulher Gorda. Continuou descendo o corredor; as tochas tremeluzentes tentando acompanhar seu passo apressado. Parou abruptamente e bateu na porta de madeira. Foi aberta para ele depois de alguma insistência.

– Você precisa ir à Torre da Grifinória – Severo informou.

– Severo? O que está acontecendo? – Hermione perguntou visivelmente assustada.

– Ele está tendo um pesadelo – Severo respondeu. – Você precisa acordá-lo.

Hermione franziu a testa, parecendo confusa, o que irritou Severo.

– Deixe suas perguntas para outra hora. Não temos a noite toda – ele disse, o que efetivamente fez Hermione agir. Ela jogou uma capa sobre sua roupa de dormir e se juntou a Severo no corredor frio.

Ela se manteve em silêncio enquanto seguia sua figura de vestes esvoaçantes. Ele não disse mais nada além da senha para acessar a Torre. Podia sentir que ela o analisava, e soube que teria muitas perguntas para responder depois que terminassem aquilo. Severo verificou o amuleto; amarelo acinzentado. Ele indicou que ela devia precedê-lo nas escadas para os dormitórios.

Ele deveria ter ficado lá embaixo na sala comunal. Por que seguiu escada acima? Ele sabia a resposta. Não estava agindo com a cabeça no lugar e, quando algum senso de auto-preservação invadiu sua mente, ele já estava dentro do dormitório. Escolheu o canto mais escuro; Hermione estava sentada na cama do Nathan.

De onde estava, ele só podia ver as costas de Hermione como uma sombra delineada. Ela estava silenciando o menino. – Acorde, querido. É só um sonho. Shhh, está tudo bem. É só um sonho ruim – ele a ouviu confortar o menino na mais doce das vozes. – Estou bem aqui com você. Ninguém pode machucá-lo.

– Mãe – ele ouviu o reconhecimento alto do Nathan. O menino moveu-se para abraçá-la. – As aranhas estavam me comendo.

– Shhh – Hermione silenciou novamente, e Severo podia ouvir o som das mãos dela afagando as costas do seu filho, confortando. – Acabou. Não há aranhas aqui, foi só um sonho ruim – ela assegurou.

O som do desespero do Nathan não foi só ouvido por ele. Uma cabeça pulou para fora de outra cama de dossel. – Quem está aí? – perguntou a voz sonolenta.

– Sou eu, Andy; a mãe do Nathan. Volte a dormir.

– O que está acontecendo? – Andy insistiu.

– Nada, só volte a dormir antes que acordemos os outros – ela sussurrou.

Severo viu a cabeça desaparecer para dentro da proteção das cortinas. Porém, Nathan não parecia tão ressegurado assim. – O Tio Harry não conseguia me encontrar. O Prof. Snape estava lá, mas ele não fez nada, e então ele se foi. As aranhas estavam me comendo...

– Acalme-se, querido. Você estava sonhando. O Prof. Snape não o deixaria lá, deixaria? Foi só um sonho ruim, e acabou – ela assegurou ao menino mais uma vez.

O silêncio encheu o quarto. Severo podia ver a forma das sombras deles entrelaçadas uma na outra. Será que o Nathan pode ter sentido sua presença no quarto, assomando sobre ele? Não, não podia ter sentido, podia?

– Por que ele não me acordou? – a voz macia e sonolenta do seu filho perguntou, quebrando o silêncio.

– Quem? – Hermione perguntou de volta, acariciando as costas dele.

– Meu pai – o menino respondeu. – Por que ele não me acordou? Eu seu que ele estava aqui, só que ele era o Prof. Snape no meu sonho.

Severo estava tão perplexo quanto podia ver que Hermione estava. Nathan não só sentiu sua presença no quarto, mas o menino soubera também que era o pai; que ele era o pai dele. Vamos, Granger – pensou. Diga alguma coisa para despistar as suspeitas dele.

– Volte a dormir, Nathan. Você está muito cansado – foi tudo que Hermione disse, baixando Nathan de volta ao travesseiro e ajeitando as cobertas de volta no lugar. Severo a viu curvar-se e ouviu o beijo que ela deu na testa do menino. Ela continuou inclinada, e ele mal podia ouvir o som que ela fazia, sussurrando uma cantiga de ninar.

Severo não sabia de onde o calor que invadiu seu peito tinha vindo. Estremeceu. Hermione cantou por mais um tempo, e só quando ela deixou a cama e fechou as cortinas foi que ele se mexeu. Ela olhou para ele como tivesse se esquecido que ele estava ali. Ele inclinou a cabeça na direção da porta. Eles saíram.

Andaram em silêncio, perdidos em pensamentos. O inspirar profundo de Hermione chamou sua atenção. Ela falou:

– Sua semana está quase no fim, Severo, mas ainda temos tempo.

Severo não queria ouvir aquilo, ser lembrado daquilo. Ele endireitou as costas, firmando-se em toda sua glória ameaçadora, mas quando estava preparado para entregar sua resposta maliciosa, ela falou novamente:

– Já entendi. Volte para suas masmorras. Estou realmente cansada e sei que me procurará durante a semana. – E a porta dela fechou à sua frente.

*-*-*-*


Harry Potter estava finalmente livre dos deveres do Ministério nesta noite. Por que os criminosos decidiam agir durante as festas? Todo ano era a mesma coisa. Ele assinou um último relatório, mandou uma mensagem à Gina e deixou o escritório dos aurores. Tinha exatamente tempo suficiente para pegar o jantar em Hogwarts.

Harry não esqueceu da questão do Nathan. Sabia que Hermione confiava demais no Snape para seu próprio bem; tem sido assim desde os tempos da guerra. Se ela achava que ele, Harry Potter, ficaria parado de braços cruzados enquanto o velho morcegão ria do seu afilhado, ela não o conhecia mesmo.

O que o intrigava um pouco era a reação de Remo Lupin a todo o incidente do colar. Normalmente, Lupin não pularia em defesa de ninguém, mesmo que ele pensasse que estavam sendo duros nas suas acusações. Lupin ficaria quieto, observando sem envolvimento. Naquele dia, no café da manhã de Natal, o lobisomem pulara em defesa de Hermione, dizendo que ela não sabia sobre o colar, e depois de Snape, sugerindo que ele estava fazendo o melhor para cuidar do Malfoy.

Harry não tinha forças para pensar em mais nada depois da viagem via Flu. Estava em frente à mesa da Minerva quando ela o cumprimentou, surpresa:

– Sr. Potter? O que o traz à Hogwarts? Está tudo bem no Ministério?

– Está tudo bem, Minerva. Estou aqui para algumas visitas, na verdade. Nada relacionado ao Ministério – ele a assegurou. – Como vai?

– Desculpe-me, Harry – ela se desculpou. – Vou bem. A animação dos alunos depois de um longo feriado sempre resulta em mais trabalho para mim, mas está tudo bem. – Minerva sorriu para ele.

– Olá, professor – Harry cumprimentou a figura de Alvo Dumbledore.

– Olá, meu rapaz. – O retrato cintilou. – Como está Gina e as crianças?

– Estão ótimos – Harry sorriu para ele.

– Junta-se a nós para o jantar no Salão Principal? – Minerva convidou.

– Pensei que nunca perguntaria – Harry lhe disse. – É bom vê-lo, Prof. Dumbledore – disse ao retrato com grande sinceridade.

Alvo sorriu. – É bom vê-lo também, Harry. Mande lembranças aos outros.

Harry assentiu e deixou a sala circular com Minerva.

– Quem está visitando, se não se importa que eu pergunte? – Minerva disse.

– Lupin e Snape – Harry respondeu sem fornecer mais informação que necessário.

– Snape? – Minerva perguntou erguendo uma sobrancelha.

– Sim – Harry disse simplesmente. Ele sabia que Minerva não se satisfaria com aquela resposta, mas também sabia que ela interviria se soubesse a razão de sua visita. Já estavam no Salão Principal, então ele sentiu que era seguro acrescentar – Não vamos destruir sua escola – antes de tomar um lugar ao lado de Remo Lupin.

Harry atraía toda a atenção. Ele já estava acostumado com isso agora, então os únicos olhos que realmente sentiu não foram nem aqueles do olhar penetrante de Minerva; foram os da presença sombria à direta dela: Snape.

– Harry? O que o traz à Hogwarts? – Lupin perguntou, fazendo-o desviar seu olhar do mestre de Poções.

– Estou visitando – Harry respondeu. – Como vai, Remus? – perguntou sorrindo.

– Vou bem – Lupin respondeu suspeito. – Visitando quem?

– Você, a Minerva, o Dumbledore, a comida dos elfos domésticos – Harry listou enquanto se servia de batatas –, o Snape. Muitas coisas me trazem à Hogwarts.

– Snape? – Lupin perguntou, como Harry sabia que o faria.

– Sim, ele também – Harry disse sem dar importância. – Pode me passar o suco?

Lupin pegou a jarra e colocou-a mais perto de Harry. – O que você quer com Severo, Harry? – Lupin perguntou parecendo sério.

– Vamos deixar isso entre eu e ele – Harry respondeu. – Temos coisas mais importantes para conversar, como o que você sabe sobre o pai do Nathan, por exemplo. – Deu uma olhada de lado para Lupin, acessando a reação do lobisomem ao assunto. Seria aquilo irritação?

– Por que insiste que eu sei alguma coisa sobre isso? – Lupin disse.

– Por que você sabe – Harry disse simplesmente. – Caso contrário, você não teria interferido a favor da Hermione. Eu lhe conheço, e se você sentiu a necessidade de interferir, então você sabe mais do que quer que pensemos.

– Harry, eu só soube que Hermione não sabia do colar porque era o único observador o suficiente para ver o choque dela com a notícia – o mestre de Defesa o assegurou.

Harry estreitou os olhos mastigando a comida. Lupin tinha razão. Hermione pareceu um pouco chocada depois de ver o colar, mas aquilo não era suficiente para dissuadi-lo. Harry sabia melhor, e decidiu mudar de táticas.

– Só estou preocupado com a Hermione e o Nathan. Ela é minha melhor amiga, ele é meu afilhado, e eu não quero estar despreparado para lidar com qualquer dor que esse homem possa lhes causar – Harry disse. – Eu só quero ajudar.

– Eu sei como o seu coração é grande, Harry. – Lupin sorriu para ele. – Mas acho que precisamos confiar na Hermione nesse assunto. Ela não faria nada que prejudicasse o Nathan. Olhe para os sacrifícios que ela fez por ele – Lupin destacou. – E se você quer ajudar, apenas dê apoio – acrescentou, e virou-se para olhar Harry nos olhos – aconteça o que acontecer.

– Você não vai me contar, vai? – Harry disse com um suspiro. – Está bem, descobrirei sozinho, você sabe disso.

Lupin suspirou. – Apenas se lembre que Nathan é só uma criança e ele precisará de você, como padrinho, se as coisas derem errado.

– Harry olhou assustado para Lupin. – Do que você está falando?

– Só estou pedindo que você tenha cuidado – o lobisomem avisou e voltou para o jantar.

Harry franziu a testa para o seu prato. Lupin definitivamente sabia e estava tentando esconder dele. Seria aquele mais um sinal de que suas suspeitas estavam certas? Poderia aquele menino maravilhoso, esperto, feliz, inteligente ser... Não, nada bonito como Nathan poderia vir de... Não!

Harry comeu o que podia do jantar. Snape era o próximo na ordem do dia, e ele teria que estar preparado para a língua afiada dele. Perdido em pensamento como estava, Harry não notou Nathan o observando da mesa da Grifinória.

Nathan estava intrigado com a mudança de comportamento tanto do Tio Harry quanto do Prof. Lupin. A conversa deles pareceu ter preocupado os dois bruxos. Normalmente, Nathan não ligaria muito, mas agora... Ele sabia que seu padrinho estivera muito intrigado com o seu colar, com a identidade do seu pai, desde o Natal. O fato dele ter procurado pelo Prof. Lupin, a quem Nathan sabia que estava ciente de quem era o seu pai, só o fazia ficar mais atento à conversa deles.

Será que o Tio Harry descobriu? – pensou. Ele não sabia. Naquele momento, pegou Harry olhando para o Prof. Snape. Snape! – pesou irritado. Por que tudo volta para o Snape?! Nathan perdeu o apetite. Aquele bruxo tinha até tomado o papel do seu pai nos seus sonhos. Aquilo era perturbador!

Nathan tentou se distrair dos atos do Harry, o que se tornou impossível quando ele se aproximou da mesa. – Olá, meninos. Olá, Nathan – Harry cumprimentou. – Como vai você?

Nathan forçou um sorriso. – Vou bem, Tio Harry. O que o traz à Hogwarts? – perguntou.

– Precisava falar com alguns professores – Harry disse. – Como estão as coisas com Malfoy?

– Ele está na dele desde que o semestre começou – Nathan assegurou a seu padrinho. Eles tinham falado sobre o que estava acontecendo na escola durante as férias, e Harry estivera muito exacerbado com o que Malfoy estivera fazendo com ele.

– Ficou feliz em ouvir isso. Snape o puniu? – Harry perguntou.

– Acho que não, mas quem se importa? – Nathan disse.

– Eu me importo, Nathan – Harry respondeu. – Vou me assegurar que ele tenha o que merece.

– Não preciso que você me proteja, Tio Harry – Nathan disse franzindo a testa. – Posso cuidar de mim mesmo.

O mestre de Poções passou por eles a passos largos naquele momento, deixando o Salão Principal. Harry seguiu as vestes esvoaçantes com os olhos, e Nathan não perdeu nenhum movimento de nenhum dos homens.

– Eu sei que pode – Harry concordou com a última declaração do Nathan. – Ainda tenho uma última visita para fazer. Não se esqueça de me escrever de vez em quando. – Harry afagou Nathan no ombro e deixou o Salão Principal.

Nathan estava em pé no momento que Harry desapareceu pela porta. Daquela conversa ele não perderia uma palavra sequer. Pegou sua mochila, dispensou as perguntas dos seus amigos, e dirigiu-se às masmorras.

Já do lado de fora do escritório do Prof. Snape, ele podia ouvir as vozes deles. Como Nathan previu, Harry falava com o Prof. Snape. Sacou sua varinha e murmurou – Alohomora. – A porta abriu silenciosamente. Agachado, ele procurou abrigo atrás de uma mesa cheia de frascos, provavelmente amostras de alunos para dar nota.

– Eu não aceito advertências suas, Potter. Agora, saia do meu escritório antes que eu decida azarar você para fora daqui.

– Você não pode continuar protegendo seus pequenos sonserinos – Harry falou para o Snape. – Você não pode tratar o Nathan como me tratava.

Nathan nunca vira seu padrinho tão bravo. Harry estava vermelho de raiva, falando por entre dentes cerrados.

– Quem você pensa que é para me dizer como educar meus alunos? – o Prof. Snape rosnou, levantando-se da cadeira.

– E quem você pensa que é para tratar o Nathan com indiferença? – Harry devolveu, também em pé.

– Quem você pensa que é para me dizer como tratar o Nathan?! – Snape rosnou mais alto.

– Sou o padrinho dele! – Harry devolveu o rosnado, ainda mais alto.

– E eu sou o pai dele! – Snape simplesmente gritou.

Um vidro quebrou no fundo da sala. Nathan estava lá, paralisado, olhando com olhos arregalados para o homem que fizera aquela última declaração. – Você – ele sussurrou. – Todo este tempo era você. – Tinha lágrimas nos olhos.

Severo estava chocado, primeiro com sua confissão ao Potter, e depois com a presença do Nathan em seu escritório. Ele nem conseguiu reunir sua máscara vazia para cobrir seu choque. Nathan sabia; acabou. Severo deu um passo para mais perto do seu filho, mas Nathan recuou dele. Severo deu mais um passo na direção dele.

– Nathan – tentou, mas o menino afastou-se mais, olhando para ele com olhos arregalados e uma expressão de dor. Finalmente, Nathan virou-se e fugiu, chorando.

Severo fechou os olhos. Isso não era para estar acontecendo.

– Então é verdade – Harry disse, voltando de seus devaneios, perplexo com a revelação de Snape.

– Ache a Hermione. Diga-lhe que não há mais necessidade de um prazo – foi tudo que Severo disse antes de deixar o escritório.



A/N: Sim, ele sabe. Sim, foi chocante. Sim, eu vou terminar o capítulo aqui! *rs*

Acho que nem preciso mais pedir que vocês me digam o que acharam disso tudo, não é? Vocês sabem como eu amo ouvir vocês. ;0)

Um agradecimento especial à GinnyW por todas as idéias e aos incentivos à musa! :0) Ela é o anjo da guarda da minha musa. *abraça*

No próximo capítulo… A reação do Nathan à verdade.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.