Sonhando



DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.

BETA READER: Shey Snape – muito obrigada!


N. A.: Capítulo trinta e um! Nathan ajuda Severo a aprender algumas coisas sobre realidade e sonhos.





Capítulo 31: Sonhando


Fogos Espontâneos Weasley explodiram no dormitório, e meninos pularam de suas camas como se o mundo estivesse acabando.

Nathan ria tanto que nenhum deles teve dúvida sobre quem tinha plantado os fogos, acordando todos eles.

— Não teve graça nenhuma — Andy resmungou quando passou pelo amigo que sorria abertamente a caminho do banheiro.

— Só porque você não viu a cara de vocês — Nathan retrucou, rindo da memória. — Um estouro! — Ele riu.

— Um estouro vai ser você usando cabelo rosa por uma semana depois que eu azarar você — Kevin ameaçou, olhando feio de sua cama.

Nathan sorriu com malícia, sabendo que Kevin estava blefando. Nada podia destruir o bom humor de Nathan nesta manhã, nem mesmo ter o cabelo tingido de rosa em retaliação a essa peça. Ver seu pai de verdade no dia anterior lhe alegrara o espírito, trouxera de volta sua esperança. Agora ele sabia que nem mesmo Prof. Snape podia esconder seu verdadeiro eu o tempo todo. Ontem em Hogsmeade, seu pai de verdade viera à tona muitas vezes. Fora sutil, nenhum um pouco evidente a princípio, mas ao final da noite, Nathan estivera certo que a passara com seu pai de verdade ao invés do rígido professor.

Seu pai lhe dera um presente! Um livro! Nada podia refutar o que aquilo significava, e nem mesmo o retorno do frio Prof. Snape destruiria o bom humor de Nathan esta manhã.

Nathan tinha certeza que teria seu pai de verdade cedo ou tarde, e decidira que iria ajudar a alma do homem a encontrar escape, para que fosse cedo ao invés de tarde. Nathan tinha um novo propósito esta manhã, um que levaria a cabo não apenas hoje, mas até que fosse bem sucedido. Ele não abandonaria seus sonhos; não abandonaria.

— Vou verificar uma coisa na biblioteca. Vejo vocês no Salão Principal — ele anunciou, pegando sua mochila e marchando para sue novo campo de batalha dentro dessa guerra contra a infelicidade.

— Eu ficaria esperto se fosse você! — Kevin gritou para ele.

Nathan riu novamente; não conseguia se segurar.


~o0oOo0o~


Pontualmente, Severo fechou a porta da sala de aula com um aceno de varinha. Ele estivera cuidando de sua papelada desde manhãzinha, e não teve vontade de interromper o trabalho para receber os alunos do primeiro ano – o fato de Nathan ser um deles não tinha nada a ver com o sentimento.

Severo revirou os olhos consigo mesmo.

— Abram na página duzentos e quarenta e seis. Sigam as instruções. — Ele olhou feio para os alunos para deixar patentemente claro que ele não estava de bom humor e que eles não deveriam testar sua paciência, depois encontrou o sorriso calmo de Nathan.

O sorriso cresceu quando seus olhares se encontraram.

Uma pontada fisgou o coração de Severo, culpa o puxando em todas as direções. A vontade que Severo sentira por essa vida de sonhos ainda estava lá, pedindo para ser atendida.

Novamente.

Ele não sorriu de volta, mas também não conseguiu encontrar em si mesmo forças para repreender Nathan. Severo simplesmente voltou à papelada, em sua maior parte trabalho que ele teria completado no dia anterior se a Hermione não tivesse sido tão determinada a virar sua vida de cabeça para baixo. Levaria três vezes mais tempo que o normal para corrigir todas essas redações numa sala de aula cheia de caldeirões fervendo com sabe-se Merlin o que as mentes desses cabeças-ocas inventariam hoje.

Quando o primeiro caldeirão começou a aquecer, Severo foi forçado a deixar sua mesa para supervisionar os preparados. Por que ele ainda estava lecionando?

Por que estava se questionando?

Era Hermione e aqueles malditos sonhos! Sonhos dela, não dele. Ele não ousava sonhar ou pensar sobre como as entidades cósmicas decidiram conduzir sua vida medíocre. Não era dele; nunca fora, e ele aprendera a não se apegar a ela. Também não era decididamente dela, então por que ela estava se metendo numa vida tão desgraçada quanto a dele? Ele já não perdera o suficiente? Deveria perder sua sanidade também? Porque o tipo de indulgência a que se rendera na noite anterior o levaria provavelmente a perder o fio estreito de controle que ainda tinha de sua vida: sua mente.

Caldeirões.

Ele pegou um pedaço desfigurado de cauda de salamandra da tábua da Srta. Peterson. — Isso é um cubo, Srta. Peterson?

— É... Talvez?

Por que eu ainda tento? — Severo pensou. Mas por sua sanidade, ele zombou assim mesmo: — Se isso é um cubo, Srta. Peterson, você não estaria prestes a explodir seu caldeirão, sua cabeça-oca! — Quando essas crianças estúpidas vão aprender a me ouvir? Ele acenou com a varinha e fez desaparecer o ingrediente destruído. — Cinco pontos a menos para a Grifinória. Comece de novo!

Bem mais ele mesmo.

Severo tirou mais um pouco de pontos em sua ronda pela sala de aula, e então chegou à bancada de Nathan. Limpa, organizada; a quantidade exatamente medida de água estava começando a ferver no caldeirão, e a cauda de salamandra já estava picada com destreza em...

— Por que a cauda de salamandra está picada na diagonal ao invés de em cubos, Sr. Granger?

— É que eu sei que é nesse formato que as propriedades serão mais bem preservadas. Vai ser mais fácil para a espinha de peixe-leão dissolver quando eu adicioná-la mais tarde.

Espertinho — Severo pensou, sem nenhuma malícia. Severo não deveria estar sonhando acordado, sóbrio como estava. Então, ele não deveria precisar lutar contra a vontade de responder o sorriso fácil que esse menino lindo estava lhe dando. Ele não podia aceitar esse presente. Severo não podia ter um filho tão maravilhoso... Ele podia ouvir a ira dos deuses o amaldiçoando pela ousadia.

Mesmo assim, aqui estava, sonhando em ousar.

Os sonhos dela?

O filho deles voltara ao trabalho e triturando a espinha de peixe-leão enquanto Severo permanecia ali, perdendo a cabeça. Ele não podia perder a cabeça, simplesmente não podia!

Então se segurou a ela, sequer ousando olhar na direção de Nathan até que a aula terminasse e o menino fosse embora.

Até encontrar o filho de novo.

Ou a mãe de seu filho.

Pesadelos!


~o0oOo0o~


Nathan estava sentado, cercado por livros e mais livros, numa mesa afastada na biblioteca. Eram livros sobre sua nova obsessão: sonhos. Ele estava determinado a encontrar maneiras de ajudar seu pai a se conectar com a alma dele, a ser mais como aquele homem dentro dele. Mas desde que Nathan começara a pesquisar, não encontrara nada que fosse ajudar em seu empenho. Ele tinha a impressão que esses eram os últimos livros sobre o assunto em toda a biblioteca de Hogwarts, e isso era preocupante, porque ele ainda não tinha encontrado o que estivera procurando – nenhum feitiço, nenhuma poção, nada.

Na verdade, ele sabia onde deveria ter mais livros sobre sonhos, mas ele estava evitando a Secção Restrita como se fosse uma praga e não entraria ali se tivesse qualquer outra opção.

Qualquer uma.

Porém, se ele não tivesse... Bem, ele teria que voltar lá dentro, não teria? Não tinha outro jeito.

A não ser que conseguisse pensar em alguma outra coisa, e ele estava tentando.

Nathan precisava de ajuda, e achava que sabia quem poderia ter algumas respostas. Se ele fosse agora, teria tempo suficiente para encontrar o bruxo antes do jantar. Ele fechou o último livro e recolheu suas coisas, deixando a biblioteca com pressa.

Dois andares acima e muitos corredores depois, Nathan se viu batendo à porta do escritório.

— Entre — uma voz aguda chamou.

— Boa tarde, Prof. Flitwick — Nathan cumprimentou.

— Sr. Granger? Que surpresa! — O pequeno professor deixou sua mesa e veio receber Nathan pessoalmente. — Seu trabalho com a varinha é tão preciso que não esperava que fosse precisar de mim durante o horário para dúvidas.

— Obrigado, professor. — Nathan sorriu educadamente ao elogio. O professor de Feitiços sempre tivera Nathan em grande estima, e isso ficou apenas mais evidente depois que seu parentesco com o Prof. Snape se tornou público. — Na verdade, professor — Nathan começou —, minha visita não tem muito a ver com a tarefa desta semana.

— Não? — O tom era de curiosidade e não de repreensão, Nathan percebeu.

— Não, professor. Tenho feito um pouco de pesquisa extra sobre sonhos, mas li tudo que está disponível na biblioteca sobre o assunto, e ainda não consegui encontrar o que estava procurando. Tinha esperança que você pudesse me ajudar.

— Sonhos... Que tipo de informação você está procurando? — o professor inquiriu, desaparecendo atrás da mesa e reaparecendo em uma plataforma para chegar a uma estante. Ele apontou para a cadeira em frente à mesa, e Nathan se sentou.

— Estou procurando por um encantamento ou feitiço que faça uma pessoa se lembrar de seus sonhos quando estiver acordado.

— Hm.

Prof. Flitwick procurava dentre seus livros e provavelmente tentava se lembrar de qualquer um que tivesse tal feitiço. Nathan esperou com expectativa pela busca do professor. Se tal feitiço estivesse disponível, seus problemas estavam resolvidos! Prof. Snape se lembraria o quanto podia ser legal, e Nathan teria seu pai de verdade o tempo todo.

— Sonhos nunca foram um interesse meu, Sr. Granger. — Prof. Flitwick se voltou para outra prateleira de livros, ainda procurando.

Aquilo não era o que Nathan queria ouvir, e ele passou os olhos pela sala, inconscientemente tentando ajudar na procura. Seu olhar foi capturado por um tabuleiro de xadrez com um jogo em andamento. Ele analisou o jogo; as brancas estão bem encrencadas.

— Você joga? — o professor perguntou, agora de volta a mesa dele.

— Sim — Nathan respondeu. — O senhor está jogando com as pretas, professor?

— Infelizmente devo admitir que estou levando as brancas à destruição. — O Diretor da Corvinal deu um riso curto. — Seu pai é sempre as pretas.

— Prof. Snape? — Nathan perguntou surpreso.

— Ele é um grande jogador. Conheci apenas um igual a ele: Alvo Dumbledore. — O professor tinha um olhar distante no rosto.

— De qualquer forma — ele voltou ao presente novamente —, temo que sonhos sejam mais um assunto de Adivinhação, e Adivinhação nunca foi meu campo de especialidade... — o professor continuou. — Eu não tenho nenhum livro sobre o assunto aqui. Tem algum motivo para você querer lembrar seus sonhos?

— Não, não é para mim. — Nathan não podia dizer para quem era, então simplesmente escolheu algo vago... — É para um amigo. Nós estávamos apenas conversando sobre isso dia desses, e eu fiquei imaginando se seria possível.

Prof. Flitwick sorriu. — É um assunto curioso mesmo — concordou. — Infelizmente, não poderei saciar sua curiosidade. Talvez a Profa Trelawney seja de mais ajuda? — ele sugeriu.

— A professora de Adivinhação? — Nathan confirmou.

— Sim, sim. Sonhos estão até na ementa dela, se não estou enganado, e ela seria a especialista, em todo caso.

— Ah. — Nathan franziu a testa. Adivinhação era um dos campos ao qual Nathan sempre olhara torto. Não parecia muito mágico para ele, e embora acreditasse em profecias, não havia muito mais que pudesse dizer sobre a precisão das outras artes de Adivinhação. — Obrigado mesmo assim, professor. — Nathan se levantou para sair.

— Queria poder ter ajudado mais. Volte para tomar um chá se descobrir algo interessante para compartilhar. — O professor sorriu novamente.

Nathan saiu logo depois, pensando que não ia doer nada ouvir o que a professora de Adivinhação tinha a dizer e muito intrigado com o tabuleiro de xadrez com a partida em andamento entre seu pai e o Prof. Flitwick.


~o0oOo0o~


— Entre.

Seu pai estava na mesa dele, como sempre. Parecia que as quartas-feiras eram reservadas para pesquisa na agenda do Prof. Snape, já que sempre havia um livro ou anotações quando Nathan chegava para o chá.

— Olá — ele cumprimentou, tomando uma cadeira para esperar a hora de ir para os aposentos do pai.

— Você está adiantado — seu pai notou, fechando o livro e acrescentando mais algumas linhas no pergaminho diante dele.

— Posso esperar você terminar.

Seu pai não respondeu, mas logo enrolou o pergaminho e colocou-o com alguns outros na prateleira atrás dele. — Algum motivo para a pressa? — o homem perguntou, esperando ao lado da mesa Nathan se levantar e segui-lo.

— Não. — Nathan deu de ombros.

Os olhos de seu pai pesaram sobre ele por um breve momento. — Venha, então — ele finalmente ordenou.

Era difícil não olhar para seu pai e se lembrar de como eles se divertiram em Hogsmeade, e mesmo assim, Nathan sabia que não podia presumir o que esta noite traria baseado naquela noite.

O tabuleiro de xadrez no escritório do Prof. Flitwick estava de certa forma contribuindo para aumentar as esperanças de Nathan, e ele não sabia por quê.

A sala de estar que eles adentraram estava inalterada. Eles tomaram as poltronas de sempre perto da lareira. Chá foi servido.

O que era esse sentimento de esperança que ainda o alimentava e o deixava na expectativa? De onde vinha? Por que continuava ali sem razão aparente? Nathan não tinha ideia.

A conversa navegou por águas familiares da teoria mágica, dos livros, das poções e das atividades de classe, mas a mente de Nathan estava em outra coisa.

— Você alguma vez se lembra dos seus sonhos? — ele perguntou ao pai, ultrapassando as barreiras e entrando em águas pouco conhecidas.

A questão pareceu tomar o homem de surpresa, a xícara parada no espaço entre o pires e a boca por um piscar de olhos, depois colocada de volta no pires para que Prof. Snape pudesse olhar feio para ele direito.

Nathan quase suspirou.

— Eu não dou importância para essas frivolidades, e você também não devia dar — seu pai respondeu, visivelmente irritado.

Nathan não criou desculpa para sua pergunta, nem insistiu num assunto obviamente não bem-vindo. Ele ainda não estava preparado para outro round desta luta.

Mas Nathan se convenceu em procurar a professora de Adivinhação bem ali, naquele exato momento.

— Você sabe por que aprender sobre as Revoltas dos Duendes é tão importante? — ele perguntou, apresentando a pergunta sem relação nenhuma com a outra como uma bandeira branca.

O olhar desaprovador do homem de dissolveu vagarosamente, mas os olhos negros permaneceram agudos. — Não é.

E dali em diante a atmosfera melhorou, embora a sombra da pergunta sobre sonhos espreitasse no fundo, não esquecida por nenhum dos dois, mas deixada no ar intocada mesmo assim pelo restante do encontro.


~o0oOo0o~


Não fora fácil encontrar a sala de aula de Adivinhação, mas agora que Nathan estava lá, conseguia entender por quê. A sala estava nada mais, nada menos que escondida na Torre Norte, e ao invés de ter uma porta comum, tinha acesso por uma escada que dava num alçapão. Estava aberto, mas Nathan não conseguia ver muito além dele. Ele subiu a escada e colocou a cabeça para dentro da sala. O ar tinha um cheiro tão doce que Nathan quase perdeu seu almoço para a náusea repentina.

— Então você veio — uma voz enevoada o assustou. Ele se virou rápido para encontrar uma mulher com cabelos mais selvagens que os de sua mãe que se aproximava de trás de cortinas coloridas, vestida nos mesmos tecidos da cortina. — Estive a espera de sua visita — ela acrescentou.

Nathan ergueu uma sobrancelha. Do que a mulher estava falando? — Você é a Profa Trelawney?

— Sou, e sei quem você é, Sr. Snape — ela respondeu na mesma voz enevoada.

— É Granger — Nathan corrigiu, depois entrou completamente na sala, seu nariz franzindo com o cheiro.

— Ah, mas você é mais que um Granger... — ela insistiu.

Nathan decidiu ignorar a observação e seguir com o propósito de sua visita antes que se arrependesse de ter vindo. — O Prof. Flitwick me mandou...

— Eu sei...

Nathan franziu a testa e continuou:

— Ele me mandou aqui quando perguntei a ele sobre sonhos. Ele disse que você seria capaz de me ajudar.

A boca da mulher excêntrica se arredondou num silencioso “O”. — Venha cá, venha cá — ela ordenou insistentemente, pegando-o pelos ombros quando ele chegou perto suficiente e empurrando-o para se sentar num pufe. Ela se sentou ao lado oposto de uma mesa baixa, onde estava uma bola de cristal.

Nathan movimentou os ombros em círculo; ele não gostava de ser levado fisicamente.

— Que sonhos têm experimentado?

Nathan abriu a boca para responder, mas ela ergueu uma mão, impedindo-o.

— Pesadelos... — a voz enevoada dela sussurrou. — A morte de um ente querido.

Nathan franziu o cenho irritado com a bruxa de olhos arregalados. — Não — ele disse secamente. — Eu só quero saber como...

Um som agudo saiu da bruxa, interrompendo-o novamente. Ela apertou o nariz entre os olhos, os olhos fechados. Ela ficou assim por tanto tempo, que Nathan quase pensou que ela tinha dormido. Quando ele estava prestes a se levantar e sair, a voz enevoada dela encheu o ambiente.

— Minha Visão Interior vê... você... e seu pai! — Ela de repente abriu bem os olhos. — Uma sombra acabou de bloquear a visão. Um agouro. — Ela se levantou e agarrou as mãos do Nathan, o movimento o levando a se afastar assustado o máximo que pôde. — Sinto muito pela sua perda.

Ele puxou as mãos para longe, ficando em pé e dando mais espaço entre ele e a professora, franzindo a testa bravo. — Que perda? Não tem perda nenhuma. Eu só vim aqui para saber se havia uma maneira de fazer alguém se lembrar dos sonhos quando estiver acordado, só isso.

— Eu sei... — A voz tremulou dramaticamente. — Deve-se ter uma mente aberta para Ver e Saber, e isso é um Dom ofertado a poucos. É a mesma coisa com os sonhos proféticos.

— Não sonhos proféticos, só sonhos, do tipo normal — Nathan lhe disse, irritado. — Preciso de um feitiço ou poção para fazer o Prof. Snape se lembrar dos sonhos; é só o que estou pedindo.

— Snape anda sonhando? Hm...

A pergunta retórica e o olhar perdido dela incomodaram Nathan quando a exasperação que sentiu o fez revelar mais do que devia, embora ele fosse apenas descobrir as consequências mais tarde.

— Você conhece algum feitiço desses? — Nenhuma resposta. — Não? — ele insistiu. Ela nem parecia estar ali mais. — Então tenha um bom dia, professora.

Nathan urrou e depois saiu, andando bravo a passos largos pelos corredores – suas vestes teriam tremulado se tivessem mais pano – com a promessa de nunca mais voltar. Sua mãe tinha razão, Adivinhação era para tolos.


~o0oOo0o~


Severo estava comendo calmamente seu jantar quando sua calma foi quebrada pela fraude de Adivinhação. Sibila tomou a cadeira ao seu lado, apesar de seu olhar homicida.

Pelo menos ele já estava quase terminando a refeição. Com sorte, ele não teria que aturar o cheiro nauseante por muito tempo, ou a refeição estaria perdida, de qualquer forma.

Era uma boa coisa a bruxa não ter falado com ele desde aquele primeiro dia depois do seu retorno a Hogwarts para lecionar quando azarou e a deixou muda por duas semanas em retaliação à premonição de sua morte na manhã seguinte. Aquela fora a primeira vez depois de matar Alvo que ele se sentira bem em estar livre das reprimendas do bruxo.

Era um enigma que a bruxa estivesse agora limpando a garganta como se estivesse prestes a falar e quebrar os anos do pacto de paz silencioso deles.

— Seu filho veio a mim... — Sibila começou. Severo franziu a testa para sua refeição. O que Nathan estava pensando?! — Ele trouxe com ele tantos agouros terríveis... — a fraude acrescentou.

Severo voltou olhos de aviso para ela. Ele estava espantado com até onde Nathan estava indo para atingi-lo. Esse novo passo desagradável estava fervendo o sangue de Severo. Retirar livros sobre sonhos da biblioteca era uma coisa, mas procurar Sibila? Isso era ultrapassar a linha.

— Ele me contou sobre os seus sonhos... — ela continuou, insensível ao silêncio do bruxo. — Ele queria que você se lembrasse deles, mas eu não acho que isso seja prudente.

Nathan tinha definitivamente ultrapassado todas as linhas desta vez.

— Eu vi apenas desgraça na presença do seu filho. Minha Visão Interior foi bloqueada por escuridão... Eu não o verei no café da manhã.

Os ouvidos de Severo a tiraram de sintonia, e ele não via muito além da raiva branca queimando e consumindo-o. Nathan foi lá e envolveu outros professores, os colegas de trabalho de Severo, tipos como Sibila Trelawney, e Severo estava possesso!

Ele se levantou devagar, mascarando todos seus sentimentos com calma exterior – alguns com tanta destreza que ele mesmo não os percebia – e andou com propósito em direção às Mesas das Casas. Ele foi direto até os grifinórios, sua raiva passando de branca para vermelha, e parou atrás do menino enfurecedor.

— Uma palavra em meu escritório, Granger — ordenou.

O menino olhou de baixo para ele, parecendo confuso com sua presença ali e com a exigência feita, refletindo na falta de ação e em sinal nenhum de intenção de obedecer.

— Agora! — Severo rosnou. Essa e outras bobagens acabariam agora!

O menino finalmente deixou seu lugar sem pressa, mas a urgência que crescia sem parar em Severo com sua decisão de finalmente colocar um fim nessa tortura sentimental consumia sua paciência.

— Vamos! — ele rosnou, mostrando o caminho de saída do Salão Principal com uma mão nas costas do menino. Chega de esperança, chega de sonhos para nenhum deles, mesmo que Severo tivesse que tirar essas idéias à força de dentro da cabeça do menino. Chega de cascas de ovos.

— Não podia ter esperado eu terminar a refeição? — Nathan perguntou quando eles alcançaram o Saguão de Entrada.

Eles estavam chegando rapidamente às masmorras. — Não teste minha paciência — Severo respondeu, irritado com a mera ideia do que ouvira durante a refeição. — Isso já esperou tempo demais.

O menino teve intenção de parar de andar para olhar para ele, mas Severo o manteve andando através da mão nas costas dele.

— Pare de me empurrar! Eu sei o caminho! — o menino lhe disse, tentando tirar com os ombros a mão dali.

Severo não permitia que o menino fizesse o que queria; chegava disso. Ele segurou o braço de Nathan e andou mais rápido. — Você acha que a vida é um sonho, não é? — Severo lhe perguntou. — O pai de seus sonhos não lhe disse que era falta de educação falar da vida particular dele para seus colegas de trabalho? Então seu pai real vai lhe ensinar algumas coisinhas; já passou da hora da disciplina!

O menino tentou escapar de sua mão, mas Severo segurou firme. — Você vai até os outros professores com essa bobagem de sonhos e espera o quê? Que ser motivo de piada para tipos como Sibila Trelawney me faz pular de alegria? Que eu vou ficar sentado ouvindo os conselhos daquela imbecil sobre como eu tenho que lidar comigo mesmo e com meu filho?

Eles chegaram ao escritório dele, e Severo escancarou a porta, arrastando Nathan para dentro, e bateu a porta com força. — Que eu vou começar de repente a bater minha cabeça nas paredes porque meu moleque de doze anos acha que isso vai curar o bastardo do pai dele? Que vai mudar quem eu sou? — A voz dele estava mortalmente gélida com todo aquele sarcasmo, e Severo sabia. Eles olharam intensamente um para o outro, cada um respirando com dificuldade no rosto do outro, o olhar gelado de Severo no olhar arregalado de Nathan.

— Não é bobagem — Nathan lhe disse. Severo rosnou de frustração. — Não estava sonhando! — o menino petulante teve a pachorra de falar entre dentes para ele.

— Nunca vai acontecer! — Ele chacoalhou o menino. — Esqueça o que quer que ache que viveu fora da realidade e viva no mundo real! — ele gritou na cara do menino. — Eu sou seu pai; esse bastardo feio na sua frente! Não existe outro eu! Acorda, menino! — berrou, chacoalhando Nathan, com o nariz quase encostando no do filho.

— Me solta! — Nathan pediu, balançando o braço, lutando para se libertar da mão dele. — Me solta!

A mão de Severo apertou ainda mais. — Chega!

Aquilo só fez o que tinha começado como petulância se transformar em urgência, escalando rápido para pânico. Nathan puxou com cada vez mais força para se libertar, respirando rápido, fazendo sons cheios de desespero. A mão de Severo ficou repentinamente quente, e ele soltou o braço do filho em choque.

O que foi que eu fiz?

Nathan foi imediatamente para a porta, mas as proteções de Severo estavam ativas, trancando-a. Entretanto, Nathan continuou tentando, e Severo podia ouvir a respiração do menino de onde estava, agora pasmo com onde sua raiva os trouxera; o que ele fizera.

— Nathan...

Um choramingo.

— Nathan, por favor.

— Abra — seu filho ofegou. — Abra.

— Nathan, escute. — A voz de Severo estava baixa e suave, um completo contraste ao tom áspero de antes. Seu coração batia forte de medo. — Desculpa. Eu não tive intenção de... — Ele não podia dizer... admitir que machucara seu menino, tal qual o pai que tivera o fizera. Severo caiu debilmente de joelhos ao lado do filho. — Nathan...

Seu menino chorava, lágrimas correndo livremente. Partia o coração de Severo em mais pedaços do que jamais fora partido antes, sua alma sangrando.

— Não chore — sussurrou, como se falar alto demais machucaria Nathan ainda mais.

— E-eu choro se q-quiser — Nathan retrucou, soluçando.

— Por favor, Nathan — sussurrou.

— E-eu estou cansado d-disso. — Nathan tentou secar os olhos e bochechas com as mãos. — A-abra a porta — pediu de novo.

Severo esticou a mão para tocar o ombro de Nathan, para implorar, para mostrar como estava arrependido e como fora cego.

Nathan saltou para fora do alcance, assustado.

Com medo.

— Abra!

Severo abriu, e Nathan fugiu.

— Sinto muito — Severo sussurrou para a sala vazia, ainda com um joelho no chão frio das masmorras. — Sinto muito mesmo.


~o0oOo0o~


Nathan correu sem rumo da desolação e do desapontamento. Correu quase o caminho todo de volta ao Saguão de Entrada, mas seus passos bambearam quando soluçar fez seu peito doer com a falta de ar, e Nathan foi parar numa alcova, escura e sombria. Escorregou pela parede e se sentou segurando a cabeça, tentando respirar.

Ele queria tanto ir para casa, esquecer que jamais conhecera o pai e ficar longe de tudo que dizia respeito ao homem. Não queria ir para as refeições e vê-lo. Não queria ir às aulas e vê-lo. Não queria tomar chá, nem jantar, nem nenhum tipo de encontro com o homem.

Nathan não queria mais um pai.

Chorava porque desistir doía. Chorava porque sentia que a jornada da sua vida o levara a lugar nenhum. Sua família era sua mãe. Deus não quis que ele tivesse um pai; o destino o privara dessa alegria.

Simplesmente não era para ser.

Snape apenas não conseguia amá-lo, apenas não conseguia. Não haveria riso, nem conversa, nem preparo de poções juntos... Nada de brincadeira, nem admiração, nem abraços... Absolutamente nenhum amor.

A noite que passaram na Torre de Astronomia fora o que, então? Um sonho — a voz cortante do pai em sua mente forneceu.

Nathan balançou a cabeça. — Não foi sonho — disse ao homem e a si mesmo, fungando. Não foi sonho. Tinha acontecido! Eles riram, conversaram, brincaram… Snape o abraçara. — Eu achei que ele me amava — Nathan choramingou.

Ele daria tudo para voltar no tempo, àquela noite, quando colocar a cabeça no peito de seu pai era possível, os lábios do homem roçando sua testa.

— Não foi sonho — choramingou.

Ouvi a voz de seu pai dizendo que tinha sentido saudades.

— Não foi sonho — disse novamente, mais alto.

Então por que não era real?

— É real — Nathan respondeu.

Então por que ele desejava esquecer aquilo? Deixar tudo para trás?

Doía, e era como se nunca fosse parar de doer. Tanta raiva nos olhos do homem, segurando-o com força... Sim, doía.

Doeria para sempre, porque ele não esqueceria seu pai de verdade e o que poderia ter sido. Suas lágrimas eram agora mais do pesar que cobria seu coração enquanto o desapontamento passava, deixando apenas a tristeza e o sentimento de fracasso.

Nathan tinha falhado.

Mas como? Ele não tinha feito nada de errado, tinha? Como ele podia falhar tentando ajudar seu pai a entender como as coisas poderiam ser se ele acreditasse?

Uma imagem do pai de joelhos pedindo perdão veio clara na mente de Nathan.

— Eu não fiz nada de errado — raciocinou, secando o rosto na manga das vestes. — Ele estava errado, e pediu desculpas.

Ainda doía, mas a dor era quase tolerável com aquela compreensão, e nenhuma lágrima nova manchou seu rosto. Doía, mas talvez seu pai também estivesse se sentindo mal.

Como deveria! — a mente de Nathan condenou.

Mas ele pediu desculpas... de joelhos...

Talvez houvesse esperança, mas como Nathan saberia? Ele teria que voltar lá. Será que era capaz? Será que poderia encarar o pai novamente?

Nathan se lembrou da alma que o pai tinha por baixo do homem áspero que ele parecia ser e se levantou. Tomou um fôlego fortificante, depois outro, e deixou a alcova escura. Ele não tinha falhado, e não desistiria. Não agora.

Vagarosamente, mantendo os minutos que compartilhara com a alma do pai como uma âncora para sua resolução, Nathan andou. À porta do escritório do pai, medo puxou seu estômago, e Nathan engoliu em seco.

Se ele tentasse a maçaneta e ela não virasse... Se a porta estivesse trancada...

Nathan fechou os olhos. Alcançou a maçaneta e a virou. Ele segurou a respiração e empurrou.

O ar pesado deixou os pulmões de Nathan quando a porta se abriu. Ele abriu os olhos e viu seu pai em uma das cadeiras que ele reservava aos seus alunos, a cabeça nas mãos. A esperança de Nathan se acendeu. Ele entrou e fechou a porta atrás de si com um clique.

O olhar vivo de seu pai se encontrou com o de Nathan no mesmo momento, surpresa escrita em seu interior.

O silêncio ficava menos urgente com os segundos que se passavam e seus olhos se comunicavam. Nathan se sentia cada vez mais certo de sua decisão de voltar ali e deu o próximo passo, um passo mesmo, para mais perto de seu pai.

Os lábios do homem se partiram, e Nathan esperou. O que ele diria? Qual seria o tom? Será que ele gritaria de novo? Mandaria Nathan chorando de volta à Torre da Grifinória? Só pensar nisso trouxe uma lágrima aos seus olhos, e ele piscou ela dali, rosto abaixo.

Seu pai enterrou o rosto nas mãos novamente. — Como você pode voltar aqui depois de tudo que eu lhe fiz?

Nathan engoliu uma nova onda de lágrimas que tentavam vir à tona. — Você pediu desculpas.

O homem assentiu mais de uma vez com a cabeça nas mãos.

— Você me odeia? — Era tudo que Nathan queria... precisava... saber.

A pergunta fez seu pai erguer a cabeça das mãos e o encarar. O homem abriu a boca novamente, e mais uma vez ela não soltou nenhum som. Mover a cabeça parecia ser tudo que ele era capaz de fazer, e agora ela balançava de um lado para o outro.

Nathan deu mais um passo em direção à cadeira que seu pai sobrecarregava, encorajado pela resposta negativa à sua questão, mesmo que não tivesse sido tão vocal e final quando Nathan preferiria. Tinha mais uma coisa que Nathan precisava saber...

— Você quer... Você quer ser... meu pai? — Sua voz falseou um pouco quando disse a última palavra.

A dor que Nathan viu no rosto do homem era quase física, e isso fez o estômago de Nathan gelar imediatamente, trazendo lágrimas aos seus olhos. Era isso. Os lábios contorcidos e a sobrancelha franzida diziam tudo.

— Por que não? — perguntou, então, agudo e molhado.

— Eu... Eu não sei como — o homem finalmente disse, sua voz rouca e angustiada.

— Sim, você sabe — Nathan discordou. — Você é meu pai.

— Nathan... — Não era mais que um sussurro.

E Nathan soube o que tinha... queria... fazer, e em dois passos estava nos braços do pai, abraçando-o bem forte. — Você é meu pai.

— Eu não mereço você — seu pai disse, mas o puxava para o colo para devolver o abraço.

Nathan fungou, se segurando ao abraço e não às palavras. Ele começava a aprender que seu pai nem sempre queria dizer o que falava.

— Estou sempre fazendo você chorar — o homem sussurrou com pesar, secando as bochechas de Nathan com o dedão.

— Então me faça rir de novo — Nathan lhe pediu, esperando que este momento da verdade os levasse até lá, deixasse isso mais fácil.

— Você está falando de sonhos que não podem se tornar realidade. — Derrota era o que a voz de seu pai carregava, e Nathan respirou fundo para questionar, mas o homem se antecipou. — Por favor, Nathan, não faça isso consigo mesmo.

— Você quer que eu desista? — Ele se afastou do peito do homem com as mãos, sem acreditar no que ouvia, mas incapaz de ignorar os olhos do pai. — Você quer! — acusou indignado, tentando se afastar, mas preso no lugar por braços fortes.

— Acalme-se — Nathan ouviu, e teve uma reação instantânea oposta nele.

— Não! — Ele lutou. — Você está fazendo de novo! — O chiado suave de seu pai alimentava seus sentimentos de aflição e confusão. Nathan fechou a mão no pano das vestes de professor do homem. — Não — ele ofegou, e seu pai chiou novamente, mantendo-o em braços seguros. Ele urrou, bravo com o homem por tratá-lo de um jeito e pedir o oposto.

— Você está desistindo! — Nathan o atingiu com um murro no peito, urrando de novo. — gritou, acertando o homem mais uma vez.

— Shhh, Nathan.

— E-eu não vou deixar! — soluçou, enterrando as lágrimas no pescoço do homem.

— Shhh. — O homem o embalava de leve.

Minutos se passaram, e Nathan estava exausto, suas lagrimas secando. Ele permaneceu no colo do pai, uma mão grande em sua cabeça, segurando-o de encontro ao calor. Momentos se passaram na prevalência do silêncio, calmante e contemplativo.

— Pai? — sua voz rouca chamou.

— Você é muito corajoso, meu filho — seu pai respondeu, o tom suave.

Nathan se afastou do peito do homem, tentando ver o rosto dele. — Você não vai desistir, vai? — Nathan perguntou quando não conseguiu encontrar o que procurava nos olhos do homem.

Seu pai respirou fundo, soltando-o com um baixo:

— Não.

Nathan assentiu com a cabeça em aprovação, sabendo que as admissões difíceis eram geralmente as que seu pai dizia com sentimento.

Uma mão alcançou seu rosto e correu quente e desajeitada por suas bochechas molhadas. — Seu nariz está escorrendo.

Nathan se endireitou no colo do pai, envergonhado, e se preparou para passar a manga das vestes no nariz, mas teve o braço segurado.

— Não na manga — o homem escarneceu.

Sem saber o que fazer, Nathan fungou fundo, tentando se livrar da bagunça.

Seu pai suspirou. — Para o laboratório — ordenou gentilmente.

Nathan obedeceu, deixando o colo do homem para ir até a porta oculta com ele logo atrás.

— Lave o rosto — seu pai lhe disse, apontando calmamente para a pia.

Nathan usou seu tempo para lavar os olhos e o nariz. Sem o contato físico para lhe dizer o que o pai estava realmente pensando, Nathan tinha receio do que estava por vir. O homem ainda parecia calmo quando lhe ofereceu uma toalha que fez com mágica. Nathan secou o rosto, se deleitando com a maciez do tecido fornecido pelo pai. Talvez seu pai tenha finalmente entendido que a única direção que Nathan aceitaria era adiante.

Ele se virou e encontrou o pai ainda o observando. — Vou levá-lo à sua sala comunal.

Nathan fechou os olhos, uma vontade de gritar, mas condensou sua frustração nas mãos e estrangulou a toalha. Ainda era macia. Ele respirou fundo para se acalmar. — Isso não acaba aqui; eu ainda não terminei. Estou pesquisando sonhos e como fazê-lo se lembrar deles — disse ao homem calmamente. — Se você não quer que eu vá até outros professores com minhas perguntas, você vai ter que me ajudar.

— Nathan...

— Porque eu não vou desistir até você acreditar! — ele ergueu a voz para sobrepor a do pai para dizer, ainda calmamente, sem gritar.

Seu pai olhava intensamente para ele, e Nathan segurava o olhar com determinação.

— Eu não vou desistir — Nathan garantiu.

— Então nos encontramos em um dilema, porque sonhos são apenas isso: invenção de uma mente imaginativa. Tolos acreditariam que eles podem ser mais que isso, Nathan, e eu não sou tolo, e você também não deveria ser.

Nathan teve que estudar as palavras do pai, mas mais que isso, teve que descobrir o que elas realmente significavam. Se havia um erro que Nathan não cometeria mais era o de acreditar que as palavras do pai tinham apenas seus significados literais. Continuou estudando o homem, até que decidiu desafiá-lo.

— Sei que não acredita em mim, mas também sei que o que vivi foi verdadeiro, Pai. Não foi um sonho. Eu não consigo fazer você se lembrar do nosso tempo juntos como eu me lembro (ainda), mas apostaria minha vida que nossas almas se encontram todas as noites, quando estamos dormindo e elas estão livres.

Seu pai balançava a cabeça com irritação. — Não era eu, Nathan.

— Era sim! — ele contrariou, também irritado.

— Quando foi que você um dia me viu fazer algo remotamente parecido com o que você diz que esse místico pai dos sonhos criado por você fez?

Nathan abriu a boca e os braços, exasperado. — Onde você estava na última hora, Pai? Não consegue ver? O homem que me abraça enquanto eu choro, que toma conta de mim, que se importa comigo, é um único homem, e ele é você, Pai! Você! — Ele apontou com veemência.

Tudo que o homem fez foi olhar fixamente por alguns momentos de silêncio.

Nathan jogou os braços para cima, deixando-os cair com um tapa barulhento nas coxas. — Pai — disse novamente, sem deixar de lado o novo título... uma âncora de motivação... e mantendo o tom trivial —, você esteve mais perto de sua alma do que nunca esta noite. — Antes que as lágrimas que faziam o fundo dos olhos queimar realmente condensassem, Nathan parou, e quando sentiu que estava no controle, ajustou o tom de voz e sugeriu calmamente: — Veja você mesmo que o que digo é verdade; use o feitiço para me visitar esta noite, e verá que não estou mentindo, que é tudo real, e nunca mais teremos que discutir isso novamente.

Seu pai estreitou os olhos com a sugestão. Nathan não o deixaria esmagar sua esperança novamente.

— Você disse que não ia desistir. Bom, então prove. — Uma lágrima rolou em seu rosto, teimosa, arruinando a calma e autoridade exterior que ele tentava projetar.

Seu pai apertou o nariz entre os olhos e se virou para o outro lado.

— Use o feitiço. Você não tem problemas com o feitiço e o contra-feitiço. Será fácil para você, Pai. Por favor — Nathan implorou.

— Vou levar você para sua sala comunal — o pai respondeu, ainda virado para o outro lado.

— Pai... — ele urgiu. Se seu pai não concordasse, independente do que dissera antes, Nathan ficaria descorçoado.

O homem jogou os cabelos para trás antes de se virar e ir em direção à porta.

— Venha, Nathan. Está tarde.

Nathan seguiu o homem pelos corredores do castelo até a Torre da Grifinória em silêncio triste. Não havia nada que Nathan pudesse dizer que já não tivesse dito, e tentar expandir seu pequeno arsenal de opções que ainda restavam ao seu dispor fazia sua cabeça doer muito. Exausto, Nathan resmungou a senha para a Mulher Gorda e se virou para dar uma última olhada para seu difícil pai. Incapaz de resistir ao pedido de seu coração, Nathan disse: — Você disse que não desistiria. Por favor, Pai, use o feitiço esta noite. — Sem esperar uma resposta e preferindo a esperança, ele entrou na sala comunal e foi direto para cama.

Levou um tempo e algumas páginas de um livro bem chato, mas Nathan dormiu. Seus últimos pensamentos foram do pai e do encontro que ele esperava que teriam muito em breve em seus sonhos.


~o0oOo0o~


Severo olhava fixamente para a Mulher Gorda com olhos cansados – um espelho de seu coração. Fora abalado e espremido, puxado e empurrado, nas mãos de seu filho de doze anos, que tinha simplesmente jogado a coisinha de volta para ele, esperando que Severo soubesse o que fazer com um peso tão machucado. Severo piscou e viu que a Mulher Gorda também o olhava fixamente com mais que curiosidade moderada.

Ele começou a voltar para as masmorras, ignorando os retratos, alunos, e Filch, mas incapaz de fazer o mesmo com o menos material de todos que encontrou pelo caminho. O Barão Sangrento assentiu educadamente para ele, Severo respondendo o gesto, mas pensando apenas no desafio lançado por Nathan.

O menino era terrível.

Meu menino.

Severo suspirou e entrou em seus aposentos.

Ele teria feito tudo que estivesse ao seu alcance para fazer o filho feliz, e embora Severo fosse um bruxo muito poderoso, ele ainda era incapaz de fazer o impossível, não importava o quanto seu filho achasse o contrário. Sonhos eram apenas sonhos; Severo não podia transformar sonhos em realidade.

Mas você pode fazer o que ele pediu e usar o feitiço.

— Que perda de tempo e energia — Severo resmungou consigo mesmo.

Nathan nunca é perda de nada — sua mente discordou.

Severo suspirou novamente. Algo ainda mordia seu coração, e mesmo que ele soubesse que não estava ali para machucar, ele ainda se sentia ameaçado.

A esperança era assustadora, e Severo tentava se manter longe dela. Ele puxou a varinha e mentalmente fez sua fila de botões se abrir. Não, a sensação desconfortável continuava ali.

Severo se preparou para cama, sabendo muito bem que qualquer outra atividade seria ofuscada por pensamentos em Nathan. Até mesmo dormir seria como uma tarefa esta noite, mas estava determinado a pelo menos tentar.

Foi para a cama, levando a varinha com ele ao invés de deixá-la no criado mudo. Severo ficou ali deitado, ora olhando o dossel da cama, ora fechando os olhos para não vê-lo. Usou todos seus exercícios para limpar a mente, mas sua mente estava contra ele. Brincou com sua varinha e esperou. O sono não vinha, então o que ele esperava?

Coragem, e esta vinha devagar, mas vinha.

Maldita esperança!

Já passava da meia noite quando Severo ergueu o braço que segurava a varinha e entoou o Anima Libertas, libertando sua alma.

Eram alguns minutos mais tarde quando decidiu deixar seu corpo e aposentos para trás. Levou muitos minutos a mais para levar sua alma ao sétimo andar, onde os Grifinórios dormiam, mas chegou até a entrada da torre deles e esperou. O que ele esperava?

Coragem.

Novamente.

Era mais fácil sentir sua esperança agora que seu corpo não estava lá, e Severo franziu a testa. Ele não conseguira dormir; não tirara as palavras do filho – e as possibilidades que elas representavam – de sua cabeça perturbada. Estava na hora de ver por si mesmo, de encontrar o mundo que seu filho ansiava experimentar novamente, temendo e desejando cada passo que tomava rumo a essa parte desconhecida do sonho ou realidade. Fora da proteção do corpo, graças ao Anima Libertas, Severo fechou os olhos e passou através da Mulher Gorda adormecida, entrando na Torre da Grifinória à procura do que ele não acreditava realmente que existisse.

Ficou olhando perplexo para os ocupantes brilhantes da ativa sala comunal com surpresa e medo genuíno. Alunos passaram por ele como se não o vissem ali, conversando e brincando como se nada de estranho estivesse acontecendo, como se corpos não fossem essenciais.

— Pai, você veio! — Severo ouviu, e foi envolto num abraço apertado, tremendo ao contato descoberto de sua alma com tamanhas ondas poderosas de... amor. O sorriso de felicidade direcionado a ele tornou difícil recobrar o controle, e antes que pudesse encontrar o que dizer, foi puxado pela mão. — Estou tentando ensinar magia não-verbal para eles, mas eles simplesmente não entendem — Nathan explicou enquanto se aproximavam de uma grupo de meninos em um dos cantos da sala. — Meu pai vai explicar — seu filho contou aos amigos, que viraram olhos expectantes – não medrosos, nem ansiosos – para ele.

— Oi, Prof. Snape — Wood cumprimentou com educação, até mesmo esboçando um sorriso – e genuíno.

— Boa noite, Sr. Wood — Severo respondeu com educação reservada, sem saber exatamente o que era esperando dele, como agir.

— Prof. Snape, pode dizer ao Nathan que nós não vamos aprender alguma coisa só porque ele aprendeu — Brown interpôs, direcionando um olhar fixo para Nathan.

Nathan revirou os olhos, mantendo um sorriso relaxado nos lábios. — Vocês são só preguiçosos.

Brown deu de ombros. Wood sorriu, balançando a cabeça.

— Feitiços não-verbais são melhores assimilados no sexto ano — Severo lhes disse, protegendo-se do momento incômodo atrás de sua figura de professor.

— Eu falei — Brown se regozijou.

— Podemos jogar Snap Explosivo agora? — perguntou Wood.

Foi a vez de Nathan dar de ombros, e depois ele fechou a mão em torno da de Severo novamente.

— Vou pegar o baralho! — Brown disse animadamente e saiu enquanto Severo seguia seu progresso pela sala.

— Você vai jogar? — ele ouviu Nathan perguntar e imaginou quem ele estava convidando, já que o Sr. Wood foi quem sugerira o jogo para começo de conversa. Severo baixou o olhar para observar o filho e encontrou o olhar expectante e brilhante dele direcionado a ele. As sobrancelhas de Severo se ergueram em surpresa. — Sei que você prefere xadrez, mas nós sempre rimos mais jogando Snap Explosivo, não é? — Nathan abriu um sorriso.

— Não! — ele responder, em pânico. — Claro que não!

— Ah — Nathan soltou desapontado.

— Vou convidar Jose, então — Wood disse a Nathan e saiu à procura da amiga.

— Achei que você fosse ficar.

— Eu...


Severo não tinha palavras. Será que ele se dava a jogos com o filho? Ele sabia que não, então por que estava se perguntando isso? E assim mesmo... será? Severo não conseguia acreditar, mesmo com todas as evidências que sim. Ele sonharia com isso, era forçado a admitir, mas sonhos... Isso significava que sonhar não era mais seguro?

Ele não pertencia àquele lugar. Severo se sentia um intruso em seus próprios sonhos e conhecia o sentimento que apertava seu peito muito bem. Ele tinha que sair dali.

— Tenho que estar em outro lugar.

— Está bem
— Nathan aceitou facilmente, abraçando-o e aumentando o desconforto em seu peito. — Sempre podemos jogar xadrez amanhã, certo? — Severo não tinha nenhuma resposta para dar, então deu um tapinha no ombro do filho, esperando que não pudesse morrer sem ar fora do corpo, tão apertado estava seu peito. — Você está bem? — seu filho perguntou preocupado.

— Bem — conseguiu dizer.

— Nathan! Você vem ou não?

Severo esquecera que estava no meio de uma sala cheia de alunos, e percebendo isso, se desvencilhou do abraço do filho e se afastou.

— Xadrez. — O menino sorriu. —Amanhã. — Virou-se e correu alegremente em direção aos amigos.

Severo se apressou na direção oposta, sem nem perceber que atravessara uma parede até não poder mais ver o filho. Seu peito arfava, suas mãos tremiam.

Era real.

Almas, as partes mais internas dos seres humanos, se libertavam à noite, interagindo como se estivessem acordadas, sentindo intensamente cada sentimento mascarado por seus corpos grosseiros...

— Merlin — ofegou, pensando agora em todas as noites que sonhara com Hermione Granger.





N. A.: Mudança de paradigma! Coitado do Severo.

No próximo capítulo… Severo não consegue tirar Hermione do pensamento.

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