Ensinando e Aprendendo



DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.

BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!

N. A.: Capítulo vinte e oito! Um conflito entre o professor e o pai, e Nathan acorda.



Capítulo 28: Ensinando e Aprendendo

Severo não sabia como reagir à preocupação óbvia dela.

— Trabalharemos através dos fantasmas. Serei capaz de passar informações que o Nathan não pode — ele disse, tranqüilizando-a desajeitadamente.

Ela lançou os braços ao redor dele antes que ele pudesse predizer as ações dela. Estranhamente, ele se sentiu apoiado pelo gesto, aumentando o desconcerto do momento para ele. Severo queria estar enlaçado pelos braços dela – porque eram os dela – ao mesmo tempo em que não queria – porque eram os dela. Misericordiosamente, pesarosamente, ela se afastou.

— Fique com a cara fechada o quanto quiser — ela lhe disse, e somente então ele percebeu que estava franzindo a testa —, não muda o fato de que eu me preocupo com você. Vá se acostumando. — Correndo uma mão pelo seu braço, ela agarrou o livro em sua mão. Ele não soltou, nem mesmo com o arrepio que o toque dela provocou. — Onde vamos fazer isso? Uma cama parece apropriado. Nos seus aposentos ou nos meus?

Ele puxou a mão para longe da dela, tentando se virar e esconder a cor começando a aparecer e esquentando seu rosto contra a sua vontade. Sua boca ficou seca de repente. Ele limpou a garganta, decidido a dizer algo para cobrir seus pensamentos corrompidos, quando ouviu um “Oh!”. Severo fechou os olhos.

— Severo, eu não quis dizer...

Merlin tenha piedade — ele pensou.

— Meu Deus, isso é embaraçoso. Certo, nos aposentos de ninguém. A Ala Hospitalar tem camas; o Nathan está lá.

Severo empalideceu com o pensamento em seu filho – a alma do menino ainda estava provavelmente na sala, ouvindo a isso. Palavras não consertariam as coisas, então ele saiu a passos largos sem um olhar de relance para trás.

Ela seguiu, é claro, mas em silêncio, pelo menos. Mulher impossível. Se ele pudesse confiar em mais alguém para ajudá-lo com o Nathan, ele a teria azarado por... por... tocá-lo, por se importar com ele.

Ele parou abruptamente em frente à cama onde o corpo de seu filho descansava e esqueceu-se da mulher e de seus sentimentos imediatamente. Observando o rosto sem cor do menino, a mensagem do Barão ficou vívida, as palavras no livro mais significativas. Severo apertou sua varinha com mais força.

— Se eu não estiver consciente em meia hora, ache um fantasma — ele disse à Granger.

Ele estava se sentando em uma cama próxima quando a voz dela o fez estremecer.

— Severo... — Ele olhou para ela pela primeira vez desde o abraço desajeitado deles. — Diga a ele o quanto eu o amo. — Ele viu no brilho dos olhos dela o amor que ela sentia pelo filho deles e foi forçado a assentir.

Deitado na cama, a determinação moveu o braço da varinha e o latim fluiu de seus lábios. Para sua mente, seus olhos nunca se fecharam, mas ele se sentia leve como se o sono o tomasse. Forçosamente, ele piscou.

Seu menino brilhante estava em pé ali emoldurado pela forma sólida demais da mulher preocupada olhando de cima para baixo para ele. Nathan sorriu.

— Você está aqui.

Severo virou a cabeça para olhar para si mesmo, indefeso na cama, e depois de volta para Nathan.

— É estranho, não é? — seu filho observou.

Era desorientador, para dizer o mínimo. Severo experimentou um tumulto de sensações de que não conhecia a origem. Ele olhou para as mãos, flexionando-as, tentando sentir a matéria de que eram feitas. Ele podia ver as pernas de carne e osso através delas.

— Acho que é como ser um fantasma ou coisa assim... — seu filho sugeriu, e Severo ergueu os olhos, de volta para o sorriso agora não tão alegre dele.

— É uma matéria mais sutil do que isso — Severo apontou.

O fundo se moveu, levando sua atenção com ele. Granger passou por Nathan e se aproximou da cama. Ela chegou perto demais para o seu gosto, fazendo-o notar uma energia repleta de sentimentos. Severo deixou a cama momentos antes dela tocar a testa do seu corpo e olhou desaprovadoramente para ela.

— Não podemos sentir nada. — Severo olhou para o filho, que também o observava ser atacado pela bruxa intrusiva. — Você acha que o contra-feitiço vai funcionar? — A pergunta fez Severo se focar no porquê ele estava experimentando tudo aquilo. Os olhos esperançosos de seu menino virados para ele faziam seu peito vibrar – medo, esperança, determinação?

— Mostre-me o que tem feito, Sr. Granger.

— É Nathan
— o menino corrigiu, já dando a volta na cama onde o próprio corpo permanecia imóvel. Com o equivalente energético de uma varinha nas mãos, seu filho entoou o contra-feitiço.

Severo franziu a testa.

— Novamente.

Nathan repetiu os movimentos e as palavras para o mesmo resultado: nenhum. Severo não conseguia ver onde estava a falha, tão perfeitamente o seu menino estava executando o feitiço.

— Novamente.

Impecável.

— Novamente.

Nathan suspirou irritado, mas executou o feitiço mais uma vez, tão perfeitamente quanto antes. Sem ser ordenado, Nathan executou novamente.

— Será que você não vê que não está funcionando?! — E bravo, seu filho repetiu o feitiço e praguejou quando ele falhou e falhou e falhou...

— Sr. Granger — Severo chamou, tentando quebrar o transe que ele parecia estar inserido. — Sr. Granger. — E no terceiro chamado...

— É Nathan! — o menino gritou, tremendo, à beira de sucumbir. — É Nathan — ele miou, afastando-se da cama e indo para um canto, onde escorregou para o chão e abraçou os joelhos.

A aflição irradiava de Severo, incapaz de ser contida pelas camadas que ele não tinha com ele no momento. Seu filho era tão pequeno... Sua mente foi rápida em lembrá-lo das palavras da Granger... Nathan era apenas uma criança, um aluno do primeiro ano...

Nathan...

— Nathan — Severo começou, aproximando-se da bola de luz que era a alma de seu filho.

— Você também não pode me ajudar, pode? Ficaremos assim para sempre, até morrermos, e então seremos fantasmas, porque estamos deixando esse negócio inacabado. — Seu filho olhou para ele com olhos suplicantes. — Eu não quero ser um fantasma.

Ele estava assustado. Severo tentou executar o contra-feitiço nele e apenas o olhou fixamente quando este não teve nenhum efeito em seu menino. Ele não fez mais nada – não podia fazer mais nada além de olhar. Uma vibração estranha o impelia a fazer mais, mas não podia se deixar mover nenhum centímetro para mais perto.

— Não vamos desistir — ele conseguiu dizer, esperando que o ímpeto diminuísse.

Nathan gesticulou em direção ao corpo dele na cama.

— Não funciona.

— Até eu descobrir por quê.


O menino ficou quieto, e Severo seguiu o olhar dele para onde a Granger acariciava ternamente o rosto de Nathan. Severo podia reconhecer apreensão nos olhos dela, mas duvidava que o menino estivesse olhando para ela e vendo o mesmo, então se surpreendeu quando Nathan disse:

— Ela está preocupada.

— Sim
— concordou.

— Assim como você — o menino acrescentou.

— Isso deveria ser óbvio — Severo declarou defensivamente.

Nathan olhou para ele, e Severo sentiu o olhar profundamente, como se os olhos do filho brilhassem diretamente no seu núcleo, vendo tudo. O menino se levantou, recompondo-se o melhor que podia, e perguntou:

— Como vamos descobrir? — Severo soube que ele mudara o assunto de volta ao feitiço pela determinação na voz dele.

— Primeiro, eu preciso tentá-lo em mim mesmo. Se tiver sucesso, trabalharemos dali. — No mesmo momento que Severo disse aquilo, ele sentiu algo pesado atingi-lo, mas soube que não podia ser nada material. Nathan olhava intensamente para ele. — Eu voltarei para buscar você — Severo lhe disse, incerto de por que o fazia. A pressão aliviou um pouco, e depois mudou para um tipo diferente de pressão quando o Nathan se aproximou.

— Prometa — o menino pediu.

— Sou um homem de palavra, Nathan — Severo garantiu.

— Então prometa que não vai me deixar aqui sozinho — seu filho insistiu.

— Não vou — Severo prometeu.

O menino hesitou antes de assentir com a cabeça. A angústia no peito de Severo mudou mais uma vez, e agora ele sabia que vinha de dentro. Era assim que um pai que gostava do filho se sentia? Essa mistura de dor e relutância; essa necessidade desesperada de fazer todo o mal se tornar bem para que este menininho não sofresse? Isso o fez querer tocar o Nathan, embora ele não o fizesse. De certa forma, entendeu que o tocar de alma para alma tornaria as coisas ainda mais confusas e complicadas. Ele olhou de relance para a cama que estavam do lado, observando o rosto pálido ao invés do brilhante, e a mão que entrava e saía do seu campo limitado de visão. Será que era isso que a Granger sentia pelo Nathan? Um ímpeto de confortá-lo e protegê-lo maior do que...

Tudo? Será que ele já sentiu algo mais forte do que o que sentia pelo seu menino?

— Ela ama você. — E eu também?

— Sim. — A voz do menino o salvou de seus pensamentos. Eles travaram olhares.

— Eu voltarei para buscá-lo, Nathan.

— Você...


— O que está acontecendo aqui? — Madame Pomfrey entrou na ala, demandando controle de sua jurisdição.

Severo resmungou.

— Ela vai querer mandá-lo para o St. Mungus também — Nathan deduziu.

Severo olhou de relance para o menino.

— A mamãe não vai deixar — Nathan acrescentou veementemente.

— Estamos trabalhando no contra-feitiço — Granger disse a Papoula.

— Como? Azarando o resto do castelo? — Papoula franziu a testa indignada, acenando a varinha sobre o corpo de Severo. Quando um azul pálido iluminou seu rosto pálido, a medibruxa se virou para a Granger com um olhar hediondo. — Você... Chega! Estou comunicando St. Mungus pela rede Flú agora mesmo!

— Ah, não está, não! — Granger disse, obstruindo o caminho de Papoula para a lareira. Para a sala como um todo, ela disse: — Severo, se você pode me ouvir, faça alguma coisa!

— Tente voltar — Nathan apressou-o, ansioso em ajudar a mãe.

— Severo! — Granger gritou quando a Papoula apontou a varinha para ela.

— Ah, pelo amor de Merlin — ele praguejou antes de tentar o contra-feitiço que iria – com sorte – mandá-lo de volta para o seu corpo.

E ele piscou.

Com os próprios olhos negros de carne e sangue.

— Ninguém vai pela rede Flú para lugar algum — ele crispou.

~o0oOo0o~


Nathan ofegou quando o pai foi sugado de volta para o corpo dele.

Funcionou. O contra-feitiço funcionou.

Nathan observou seu pai se sentar e falar, prestando pouca atenção em onde e o que, mesmerizado e, ao mesmo tempo, desapontado que o pai fora bem sucedido na primeira tentativa enquanto ele ainda permanecia tristemente sem corpo.

Tristemente.

~o0oOo0o~


— Graças a Deus — Hermione suspirou quando ouviu a voz de Severo. Ela andou rápido até a cama, deixando a Madame Pomfrey para seguir se quisesse. — Como se sente? Está tudo bem? Você trouxe o Nathan com você? — Ao perguntar aquilo, ela quase derrubou a medibruxa em sua pressa de chegar até a cama do filho.

Ele não estava acordado.

Hermione se virou, esperando Severo explicar.

— O contra-feitiço funciona — ele disse a ela, massageando as têmporas com uma mão e dispensando as atenções da medibruxa com a outra.

— Deixe-me examiná-lo, bruxo teimoso! — Madame Pomfrey insistiu, usando a varinha em Severo novamente.

O fato dele estar declarando o óbvio fez Hermione querer cuidar dele ela mesma, mas como ela poderia largar a mão do Nathan, especialmente sem saber ainda por que ele não estava acordado?

Ela esperou.

Severo olhou para ela. Seus olhos se focaram, e ele provavelmente viu como ela estava preocupada.

— Não posso executar o contra-feitiço nele, como já havíamos suspeitado pelas informações que tínhamos. Entretanto, ele é perfeitamente capaz de executar o feitiço; eu o observei tentar inúmeras vezes. — Ele olhou de relance para a medibruxa.

Hermione sabia que ele não se sentia confortável discutindo isso com outros por perto, mas ela tinha que saber.

— Então, por que não está funcionando?

As sobrancelhas de Severo chegaram um pouco mais perto uma da outra, e o coração de Hermione se apertou em seu peito: ele não sabia por que o contra-feitiço não funcionava.

— Como vocês falaram com o Sr. Granger? — Madame Pomfrey se intrometeu na conversa silenciosa dos pais. — Qual contra-feitiço vocês estão tentando?

Dando mais espaço para Severo se concentrar numa solução, Hermione achou melhor responder a pergunta ela mesma:

— Nathan se azarou usando um feitiço que nós identificamos algumas horas atrás de nome Anima Libertas. A alma dele está de certa forma separada do corpo e pode se comunicar apenas pelos fantasmas. Severo pode conversar com ele quando submetido ao mesmo feitiço. — Ela terminou e se dirigiu a ele novamente, sua voz menos clínica, mais afetuosa. — Como ele está, Severo?

— Bem, dadas as circunstâncias.

Hermione não gostou daquela resposta. Na verdade, ela não gostou nem um pouco. O que ela faria para ajudar seu bebê? Por que o feitiço não funcionava, droga! Ela precisava do seu menino de volta; ela precisava que ele respondesse o aperto de mão, que abrisse aqueles olhos de besouro e olhasse para ela, que sorrisse para ela e...

— Hermione.

Ela ouviu seu nome na voz de Severo e só então percebeu que não estava ouvindo os sons da ala anteriormente. Ela também percebeu que estivera mordendo forte o lábio inferior.

— Precisamos ajudá-lo, Severo. Por que você acha que o contra-feitiço não está funcionando? — ela perguntou a ele, confortada pela proximidade dele agora que ele estava em pé ao lado dela.

— Algum conhecimento que ele não tem está atrapalhando. — Ele fez uma pausa na explicação, então ela desviou o olhar de Nathan para Severo. — Você estava certa quando disse que a idade dele era relevante. Ele é apenas um iniciante em Feitiços. — Ele deu as costas para ela e para a cama onde Nathan estava. O conforto se foi.

— Onde você vai? — ela perguntou.

— Prometi que voltaria.

— Seu nível de magia está exaurido — a medibruxa advertiu, lembrando-os da presença dela. — Você não vai executar esse feitiço desconhecido novamente.

Ele olhou feio para a matrona, mas Hermione sabia que Madame Pomfrey tinha razão em se preocupar. Então, Hermione não tinha outra opção. — Eu vou no seu lugar.

— Não! — os dois disseram ao mesmo tempo. Severo franziu a testa e acrescentou: — Você precisa estar aqui para quando ele acordar.

Sua mão ainda segurava a de seu filho, e sua determinação diminuiu.

— Nós não podemos ficar aqui sentados fazendo nada! — ela protestou infantilmente.

— E não vamos — Severo garantiu, e antes que Madame Pomfrey pudesse objetar, ele já estava inconsciente na cama.

Hermione suspirou.

~o0oOo0o~


Severo observava a alma de seu filho mover a boca, mas não conseguia ouvir o que ele dizia, fazendo-o balançar a cabeça para limpá-la da névoa.

— ...e o senhor está brilhando diferente, professor. O senhor está bem? — Severo finalmente ouviu o que Nathan perguntava, o menino o observava com olhos grandes e preocupados.

— Estou bem — ele se sentiu obrigado a dizer, embora soubesse muito bem que não estava na melhor das formas. — Papoula estava apenas tentando tomar o controle de uma situação que não é da conta dela, como sempre. Não cabe a ela saber o que eu posso ou não posso fazer com a minha magia. — Severo já se sentia melhor, ele pensou. Ele endireitou os ombros.

— O senhor dormiu apenas um pouquinho ontem à noite, e já é noite novamente.

A insinuação de que ele poderia estar cansado demais fez Severo instantaneamente querer chamar a atenção do menino e dizer que não era da conta dele se ele dormia ou não, mas alguma coisa o fez segurar a língua; era aquela vibração estranha novamente.

— Não precisa se preocupar. — Apenas depois de dizer aquelas palavras de confiança foi que Severo reconheceu os sentimentos do Nathan.

— Eu não quero que o senhor... — Nathan dizia, mas...

— Você se sente diferente? — Severo interrompeu, tanto para mudar a direção da conversa como por uma preocupação recém nascida. Talvez seu filho estivesse experimentando os mesmos desconfortos.

O menino balançou a cabeça que não, e o silêncio podia ser ouvido e sentido. Severo olhou em volta, notando então que as bruxas estavam mantendo uma vigília silenciosa ao lado das camas.

— O que o senhor acha que eu estou fazendo de errado? — Nathan perguntou. Severo não conseguia encarar o menino, muito menos admitir que não sabia o que o Nathan estava fazendo de errado. Depois de algum tempo, ele ouviu o Nathan suspirar; seu filho não era bobo.

— Estou aqui para descobrir — Severo tentou tranqüilizar o menino. — Preciso que me diga como está executando o feitiço, me explique o que está fazendo.

— Novamente, estou fazendo exatamente o que o livro estúpido diz!
— Ele jogou os braços no ar, visivelmente frustrado.

Severo suspirou então, precisando de paciência. — Mas como você interpretou o que está exatamente no livro estúpido? — Sua escolha das próprias palavras do Nathan pareceu envergonhar o menino.

— Eu faço o movimento de varinha — ele disse calmamente, cooperando e movimentando a marca de sua varinha exatamente como o livro instruiu. — Depois eu digo o encantamento. — Nathan disse as palavras em latim claramente. — E depois nada acontece — ele acrescentou num tom seco de voz e uma expressão grave.

Severo vira aquela mesma expressão de insatisfação no rosto do Nathan antes, agora ele se lembrava. Fora na última vez que o Nathan visitara seus aposentos, quando ele estivera tentando levitar uma xícara de chá usando um feitiço não-verbal, falhando e saindo pisando duro e bravo da sala. Severo esfregou os olhos cansadamente quando percebeu que estavam lidando com o mesmo problema agora: um feitiço não-verbal.

— Você não saberia.

— Posso ver que não está funcionando, professor
— Nathan disse de mau humor, e Severo percebeu que tinha falado em voz alta o que pensara.

— É um feitiço não-verbal — ele elaborou.

Nathan franziu a testa.

— Eu não deveria estar dizendo o encantamento em voz alta? — Ele imediatamente tentou o feitiço novamente, agora silenciosamente. Não funcionou, é claro.

— Não é apenas uma questão de falar ou não falar o encantamento. — Severo sabia das capacidades de seu filho, mas também estava bem ciente da inexperiência dele com magia. As habilidades dele estavam longe das de um aluno do sexto ano. Era assim que um feitiço aparentemente simples ficava complicado.

— Então... — Nathan hesitou, fazendo careta para si mesmo — o senhor não estava tirando sarro de mim quando me pediu para levitar uma xícara sem dizer o encantamento naquele dia.

Severo foi desarmado por aquela declaração. Seu filho pensar que ele pedira algo apenas para humilhá-lo, quando suas intenções foram o contrário, mostrou claramente como ele estava inepto à paternidade.

— Eu não estava — ele admitiu incomodado. — Você mostra um grande controle das suas habilidades mágicas, especialmente para feitiços, e eu achei que você seria capaz de executar um feitiço não-verbal se tentasse.

— Não sou
— Nathan discordou, ainda franzindo a testa para si mesmo, a cabeça baixa.

— Eu ainda acho que você é — Severo lhe garantiu, escondendo a insegurança atrás de sua expressão calma.

O menino ergueu a cabeça para olhar para ele.

— Prof. Snape — ele começou, o título soando entranho aos ouvidos de Severo nestas circunstâncias —, eu tentei com todas as minhas forças levitar aquela xícara, mas não consegui. Eu não posso fazer um feitiço funcionar se não falar o encantamento.

— Eu vou lhe ensinar.


Uma expressão de dor tomou o rosto de Nathan – uma mostra da falta de fé dele nos métodos de ensino de Severo. Decidindo ignorar o desrespeito do menino, Severo começou a discursar:

— É uma questão de concentração e força da mente. Entretanto, não acredito que seja onde você terá dificuldades com os feitiços não-verbais, não mais do que em que se concentrar e aplicar a força da sua mente. Feitiços têm muitas camadas que transformam algumas poucas palavras e movimentos de varinha selecionados em atos mágicos com fins deliberados. — Severo fez uma pausa para deixar o Nathan assimilar aquilo. — No que você pensa quando levita um objeto?

Nathan franziu a testa – uma melhora da expressão de descrença – e respondeu arrogantemente:

— Em dizer o encantamento certo e movimentar a varinha corretamente.

— Isso é tudo?
— Severo inquiriu.

— Sim — Nathan respondeu, a expressão se abrindo relutantemente.

— Então toda vez que você movimenta sua varinha e diz Wingardium Leviosa, um objeto – qualquer objeto – voa no ar livremente, é isso?

— Não qualquer objeto, mas aquele que você está apontando com a varinha
— Nathan corrigiu.

— Isso seria verdade para o feitiço de levitação, talvez, porque normalmente podemos ver o que estamos levitando. Quando não temos um objeto delimitado para apontar a varinha, ou quando o alvo tem vida própria, o nível de excelência do lançador do feitiço deve ser maior para suprir àquelas novas variáveis. O mesmo acontece na transfiguração de criaturas vivas e em poções encantadas.

Nathan olhava intensamente para ele, e Severo sabia que ele estava se esforçando para assimilar toda informação.

— Almas — Severo prosseguiu — são ao mesmo tempo vivas e abstratas. Apontar sua varinha para si mesmo, movimentá-la corretamente e dizer um encantamento não garantem o sucesso. — Ele fez nova pausa, dando tempo ao Nathan para seguir o raciocínio antes de perguntar: — O que você tinha em mente quando fez a xícara que levitava se mover no ar sem olhar para ela?

— Eu...
— Nathan inclinou a cabeça, provavelmente tentando se lembrar exatamente o que aconteceu naquela noite. Severo entendia que o filho não sabia a teoria por trás do que fizera, mas a teoria podia esperar até o terceiro ano. O que ele precisava era que as habilidades naturais do Nathan em Feitiços o ajudassem a entender o que era necessário para mandá-lo de volta ao corpo. — Eu apenas pedi que a xícara se movesse e esperei que fizesse o que eu pedi.

Menino esperto
— Severo pensou com orgulho.

— Trabalhar com feitiços não-verbais pede um nível parecido de concentração. Só que, além de imaginar sua alma se religando ao corpo, você precisa fazer as palavras do encantamento serem sentidas e carregadas também, apenas pensando nelas.

Nathan voltou a franzir a testa. Severo podia sentir o desconforto dele com suas palavras.

— Eu não espero que tenha sucesso na primeira tentativa, Nathan — ele disse a seu preocupado filho, entendendo muito bem que o medo de falhar tinha que ser retirado da equação. Severo também era um perfeccionista. — Vá em frente — ele encorajou.

Nathan endireitou os ombros, concentrando-se na difícil tarefa diante dele. Ele balançou a varinha em silêncio. Sua alma permaneceu onde estava, sem corpo. Ele suspirou.

— Tente de novo — Severo pediu.

E muitas tentativas seguiram a segunda. Severo sabia que levaria mais do que o tempo de uma aula normal de Hogwarts para o Nathan completar o contra-feitiço.

— Feche os olhos e se concentre — Severo instruiu quando pode sentir a frustração do Nathan crescer.

— Por que o Severo está demorando tanto? — Granger murmurou.

— Vocês estão brincando com magia perigosa — Papoula respondeu. — Eu não devia ter deixado ele lançar o feitiço nele mesmo.

— Nathan precisa de ajuda — Granger contrariou visivelmente irritada.

— St. Mungus tem ajuda especializada para essas ocasiões. Eu achei que você, dentre todas as pessoas, enxergaria a razão, Sra. Granger. E se nós perdermos o Severo também só por causa da sua teimosia?

— Nós não perdemos ninguém! — Granger disse indignada.

Severo suspirou.

— Não consigo me concentrar com todo esse barulho! — Nathan resmungou.

— Por que eles ainda estão inconscientes, então? Se tivéssemos mandado o Sr. Granger para St. Mungus quando eu sugeri, tenho certeza que tudo estaria bem — a medibruxa insistiu na discussão.

— Como se houvesse alguém melhor que o Severo para ajudar o Nathan neste momento... Francamente, Madame Pomfrey, eu não esperaria que você duvidasse de um bruxo tão talentoso como o Severo num caso como este.

A disputa crescia em volume e calor, assim como o interesse de Severo. Elas tinham obviamente esquecido que ele ainda podia ouvi-las falando dele.

— Severo não é um curandeiro treinado!

— Não, mas a experiência dele lutando com as Artes das Trevas é maior que a de qualquer curandeiro formado. Se existe alguém que pode ajudar o meu filho, é o Severo!

— Calem a boca! — Nathan gritou, tampando os ouvidos com as mãos brilhantes. Severo desviou a atenção com culpa de volta para o menino. — Faça elas pararem! — Nathan implorou para ele.

Severo balançou a varinha, e suas palavras podiam ser ouvidas por todos na ala novamente. — Parem de discutir. — Bem, por pouco, já que eram baixas de fraqueza.

Mesmo assim, as bruxas ficaram quietas e agora cercavam sua cama, a Granger chegando por último, sem dúvidas por ter verificado o Nathan antes de vir inspecioná-lo.

— Como ele está? — ela perguntou.

— Ele não consegue se concentrar no feitiço com vocês brigando feito crianças! — ele repreendeu – Granger parecia arrependida e atormentada com suas palavras.

— Como está se sentindo? — ela o surpreendeu ao perguntar num sussurro.

— Ele está ainda mais fraco do que antes, é assim que ele está se sentindo — a medibruxa irritada respondeu por ele. Severo tentou se sentar na cama e provar que ela estava errada, mas franziu a testa quando um pequeno empurrão da Papoula o manteve no lugar – deitado no travesseiro branco. — Fique onde está, bruxo teimoso — ela lhe disse baixinho.

— Vou levar alguns minutos para me recuperar...

— Não, não! Chega de feitiços por esta noite, mocinho! — Papoula o interrompeu. — Você não seria capaz de voltar uma terceira vez, não mesmo. Seu nível de magia está tão baixo quando a sua energia física, Severo. Nem discuta!

— Ela está certa, Severo — Granger concordou com uma voz pesarosa. — Você teve tempo de instruir o Nathan? Talvez eu deva ir...

— Não — Severo a negou, sem saber por que era tão importante para ele que ela ficasse fora disso. — Ele sabe o que fazer. Eu vou descansar alguns minutos, beber Poção Reanimadora e voltar lá. Ele pode acordar a qualquer momento agora, é só uma questão de tempo. — Ele queria se sentar – ser observados de cima por aqueles olhos castanhos apreensivos e arregalados fazia ele se sentir vulnerável.

— Fique quieto, Severo — Papoula censurou. — Você não vai chegar nem perto de Poção Reanimadora. O que você precisa é de uma noite de sono reparador.

Ele rosnou, mas tinha pouca energia sobrando para protestar além.

— Durma, Severo — Granger lhe disse num tom de voz que acariciava e colocava de lado sua resolução de discordar. — Ficarei em vigília. — Ele não achou que seus olhos arenosos conseguiriam discordar também.

~o0oOo0o~


Nathan tinha os olhos fechados em concentração. Era para ele estar se concentrando. No quê? Ele já não tinha mais certeza se sabia, mas continuou tentando assim mesmo. Ele tinha que voltar para sua vida, para o seu corpo.

— Dê um tempo, Nathan — ele ouviu atrás de si. Nathan não abriu os olhos nem parou de mover a varinha. Então uma mão descansou em seu ombro. — Já chega, filho.

Ele abriu os olhos com aquilo. Baixando a varinha, ele ergueu o olhar para o rosto do pai e soube que o homem parado ali não era o mesmo que o de antes.

O Prof. Snape sorriu.

— Venha — o homem puxou, enlaçando seus ombros num meio abraço —, vamos dar uma volta.

Nathan olhou para a mãe silenciosa e para os corpos que ela supervisionava.

— Ela ficará bem — Prof. Snape lhe garantiu. — Venha dar uma volta comigo.

Eles deixaram a Ala Hospitalar e percorreram os corredores desertos de Hogwarts em silêncio. Nathan não tinha idéia para onde o professor o levava, mas aquilo tinha pouca importância no momento – sentindo-se seguro e protegido era o que importava. O braço ao seu redor não deslizou dali até eles chegarem a uma porta de madeira.

Seu pai foi na frente. Nathan seguiu logo atrás. Eles subiram a escada íngreme degrau por degrau, até Nathan sentir o vento o atingir. Sim, ele podia realmente sentir o vento soprando no topo da Torre de Astronomia.

— Nós dois precisamos recarregar nossas energias. Você pode sentir o vento?

Nathan assentiu com a cabeça, ainda maravilhado em como era bom sentir a força do ar passando por ele. Não percebera que fechara os olhos, mas não os abriu quando finalmente percebeu.

— Abra os braços, deixe a natureza harmonizar a sua alma — seu pai dizia, e Nathan obedeceu, abrindo os braços bem abertos e sorrindo com felicidade à sensação de pertencer.

Depois do que parecia uma eternidade e assim mesmo tempo algum, Nathan vagarosamente abriu os olhos, encontrando aquele estranho Prof. Snape olhando intensamente de volta para ele.

— Como se sente?

— Muito melhor, obrigado.
— Nathan respondeu o sorriso que recebeu.

O homem se virou para contemplar a floresta. Nathan foi até o lado dele, observando os jardins também. Uma mão o afagou na cabeça, esquentando toda a sua alma, mas a mente de Nathan podia apenas ser mantida longe do contra-feitiço por pouco tempo...

— Prof. Snape — ele chamou, erguendo os olhos quando nenhuma resposta veio. Seu pai franzia a testa para a lua antes de olhar para baixo, ainda de testa franzida. Nathan esqueceu o que ia dizer, distraído pelos pensamentos do que poderia ter ofendido o homem.

— Você não pode me chamar de outra coisa?

A pergunta desconcertou o Nathan.

— Eu achei que... Eu...

— Eu chamo você de Nathan, não chamo? Talvez você possa me chamar de Severo.


Era a vez do Nathan franzir a testa.

— Como você chama sua mãe?

— Bem... Eu...
— Nathan se sentiu desconfortável com a pergunta. — Mãe — ele finalmente respondeu.

— E como você chamaria o seu pai?

— Eu...
— O Prof. Snape não poderia estar pedindo para ele... Nathan fechou os olhos, sem saber se podia – se deveria...

— Nos seus sonhos — a voz aconchegante o encorajou.

Sentindo como se estivesse caindo da torre alta, Nathan articulou num sussurro estrangulado:

— Pai.

A mão de seu pai trouxe sua cabeça para o peito dele num gesto que parecia mais com uma recompensa, e toda a alma de Nathan tremeu quando sentiu os lábios rasparem sua testa.

— Eu senti saudades, filho — eles sussurraram, e foi como se o vento tivesse se banhado no sol de verão.

E poucas horas foram passadas em sonho vivido: Nathan tendo o pai que sempre quis, aproveitando cada minuto do que ele tinha certeza de ser uma oportunidade única. Eles falaram sobre coisas sérias e bobas como se o fizessem diariamente. Brincaram e riram como se o som não fosse estranho para seus ouvidos. Foi oferecido, e Nathan aceitou, e a memória estaria gravada em sua alma e seria nutrida por toda a eternidade.

Cada passo de volta à Ala Hospitalar era mais pesado que o anterior, como se ele saindo de nuvens e entrando em pedras dolorosas e pontudas. Uma mão veio alisar as linhas curvando seu rosto franzido.

— Já está quase no fim, filho. O contra-feitiço funcionará e você estará de volta à sua vida normal — seu pai lhe garantiu, muito provavelmente alheio ao que marcava a testa de Nathan com linhas.

Nathan abriu a boca para tentar explicar, mas foi interrompido, engolido por um abraço apertado dois passos dentro da enfermaria.

— Onde você estava? — sua mãe inquiriu.

— Eu o levei para uma volta; ele precisava de um pouco de ar puro — seu pai respondeu por ele.

— Vocês me deixaram preocupada — ela disse ao homem. — Não podia deixar a ala num sono tão leve. — Soltando um pouco o abraço, sua mãe segurou sua cabeça nas mãos, analisando criticamente suas feições. — Você está se esforçando demais — ela lhe disse. — Um novo ramo da magia leva tempo para assimilar. Tente descansar entre as tentativas, está bem? — Depois se dirigindo ao seu pai, ela disse: — Obrigada.

— Não precisa me agradecer, Hermione
— o homem dispensou. — Senti saudades de passar tempo com o Nathan.

Nathan sentia saudade do tempo com o pai também, mesmo tendo sido apenas uma única noite para ele.

Movimento chamou a atenção dos olhos do Nathan. — Você está acordando, Pai. — Soava como um lamento.

Sua mãe tirou os olhos dos do seu pai e olhou de relance para a cama; o homem se mexeu novamente.

— Você está fazendo progresso, Hermione.

Nathan não sabia nada sobre o progresso que o falava. O olhar intenso de seu pai falava de coisas que não eram para a sua compreensão. Para ele, o pai disse:

— Ouça o que sua mãe diz e tente se lembrar de acalmar os pensamentos toda vez que tentar o feitiço.

— Vou tentar
— Nathan aceitou o conselho de última hora.

— Eu provavelmente acordarei junto com o seu pai — sua mãe acrescentou. — Saiba que estou extremamente orgulhosa de você, querido. Estarei ali para quando você acordar. — Ela beijou sua testa. — Não se canse até ficar magicamente exausto — ela avisou.

— Não vou, Mãe. — Quando ele finalmente se virou, procurando a confiança do pai, Nathan não conseguiu encontrá-lo. Olhando para a cama, ele viu o Prof. Snape piscando sonolento para o teto. — Ele se foi — suspirou. Não recebendo resposta, ele olhou por sobre o ombro e também não havia ninguém ali.

— Como se sente, Severo?

— Estou perfeitamente bem. Deixar-me dormir foi uma perda de tempo.

Nathan fechou os olhos, esperando desaparecer também.

~o0oOo0o~


Sob o olhar atento de Severo, Nathan tentou o contra-feitiço novamente. Severo não esperara o aval da Papoula para se juntar ao filho fora do mundo material. Menos de duas horas dentro da nova manhã, e Nathan estava mais perto de uma tentativa bem sucedida do que previra Severo; o menino deve ter praticado durante as horas que ele dormiu. Ele também sabiamente fazia pausas prolongadas entre tentativas.

— Pode sentir a sua mente livre? — ele perguntou. Nathan – olhos fechados – assentiu, concentrado. — Pense na reunião de corpo e alma — ele instruiu; outro movimento afirmativo de cabeça. — Transforme querer no encantamento. — Severo esperou, observando. — No três. Um... Dois... Três.

Severo olhava fixamente para o espaço vazio diante de si. Ele se virou, procurando em volta pela ala.

— Funcionou?

Ele ouviu a pergunta seguida de um ataque de tosse e soube que tinha funcionado. Alívio inundou tudo de que era feito, acompanhando o ritmo dos soluços de Granger. Severo fechou os olhos, pronto para executar o contra-feitiço ele próprio.

Desorientado, ele piscou duas vezes, virando o rosto para a comoção na cama a sua esquerda. Lutando contra a náusea, ele ficou em pé ao lado da cama, esperando sua visão embaçada clarear antes de andar até seu filho.

Ele observou Granger soltá-lo, os encantamentos diagnósticos da Papoula pairarem sobre a cama, e finalmente, o rosto pálido do seu filho, com os olhos vivos e um sorriso largo nos lábios. O olhar do menino encontrou o seu, e o sorriso vacilou. Granger deu um passo para o lado para ver o que tinha causado tal reação, e antes que Severo pudesse se afastar da reunião de família, Nathan lançou os braços ao seu redor, exclamando um estrangulado:

— Pai!



N. A.: Nathan está acordado! Eba! Agora... do que ele chamou o Prof. Snape? Foi de pai? *rs* Ora veja! O que você acha disso tudo? Será que o Nathan está enrascado, ou será que é o Severo quem está? Adoraria ouvir a opinião de vocês todos. :0)

Preciso agradecer a GinnyW por me questionar sobre este momento na estória; ela é uma beta maravilhosa. Devo também agradecer a Annie Talbot por betar, mas principalmente por segurar a minha mão durante esses meses que levei para escrever estes dois últimos capítulos. *abraça*

No próximo capítulo... A repercursão da palavra com P, e a adaptação de Nathan fora da terra dos sonhos.

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