Eu juro que volto...



O peru jazia em ossos sobre o centro da mesa. Os pratos estavam vazios, e os convidados estavam satisfeitos. A Sra. Weasley parecia carregar nas mãos um dom divino, que mais se via quando preparava aquelas suas refeições. Harry nunca comera tão bem... nem mesmo em Hogwarts, durante as festas, nem no caldeirão furado, os cozinhados da mãe de Ron era únicos e especiais, e mais especial fora aquele por ter sido dedicado a ele.

Uma hora depois, e após uma longa conversa sobre os ultimos acontecimentos do mundo mágico, as pessoas, uma uma, foram-se retirando, deixando por fim, e na casa que pertencera a Sirius, cada vez mais abandonada e sombria, os membros mais unidos da ordem da Fénix.

Estavam na sala, onde a lareira crepitava em som relugar e reconfortante, como se temesse quebrar o silêncio que se havia instalado na sala. Harry observava as brasas que lentamente tomavam uma coloração cinzenta, à medida que libertavam de si todo o aroma a pinho, e eram queimadas pela fúria das labaredas.

Ao seu lado, Hermione observava-o, como se o analisasse psicológicamente, e do lado dela, de fronte para Harry, estava Ginny, cujos olhos lambiam a figura do seu príncipe.

- Harry. - murmurou por fim fazendo levantar algumas cabeças desatentas - Podemos falar?

Olhares seguiram-nos até que por fim desapareceram por trás da porta, deixando no ar a atmosfera pesada que até ali se abatia sobre eles.

Subiram as escadas rangentes, penetrando pelos corredores negros e sombrios, que carregavam em si a aura do falecido Sirius Black, que insistia em não desaparecer, mesmo depois de um ano após a sua morte.

Era incrivel como Dumbledor partira sem deixar atrás de si aquele ar sofrido e melancólico. Morrera injustamente, levantava atrás da sua morte o desejo de vingança, mas não era como Sirius... não. Sirius fazia questão de lembrar a todos, que algum tempo antes, ele percorrera aqueles corredores, deixara neles a sua presença e não admitiria que fosse esquecido. A dor da sua morte era ainda mais forte que a de Dumbledor... apesar de ambas gritaram furiosamente por vingança.

Haviam entrado numa pequena divisão, mal iluminada, cuja finalidade ele não conseguiria definir. Aquela casa, era cheia de salas, salinhas e salões, que para não mais serviam do que ocupar espaço e estar vazia na sua própria existência.

- Vais partir assim? - perguntou Ginny fazendo ecoar a sua voz - Nós terminamos assim?

- Pensei que tivesse exclarecido todos os meus motivos, Ginny. - murmurou - Não quero colocar-te em risco. Não posso fazer sofrer todos os que amo, por minha causa. Amo-te demais para arriscar perder-te... se te acontecesse alguma coisa não sei o que seria de mim!

- Mas e se eu preferir morrer a deixar-te?! - aproximara-se tanto dele quanto podia, emanando-lhe aquele calor que só ela sabia dar.

- Não posso deixar-te fazer isso. Não vai acontecer.

- Mas a Hermione e o Ron vão contigo! - reclamou - Tu contas-te o que vais fazer e no entanto não me contas a mim.

- Tenta entender-me. Se pudesse impedi-los de ir, juro que impediria. Mas eles não seguem aquilo que eu digo.

Olhava-a nos olhos, como se tentasse achar neles um poço de compreensão e carinho.

- Então eu vou desistir da escola e ir com vocês! - decidiu ela imediatamente - E não podes impedir-me.

- Posso. - agarrou-a apertando-o contra a parede enquanto a olhava no olhos carregando a fome que nutria à tanto tempo. - Eu não posso vencer se estiver com a cabeça centrada em ti... se assim já quase não tenho hipoteses de vencer um combate directo, tendo de me preocupar se estás salva então... volto morto, se voltar. - beijou-a ternamente num beijo que ela aceitou, mas ele não profundou além de um leve toque nos lábios - Dá-me um chance de voltar vivo, de novo para ti... espera por mim na escola, que é o teu lugar, e eu juro que volto...

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