Uísque de Fogo e Cerveja Amant

Uísque de Fogo e Cerveja Amant



Capítulo 5: Uísque de Fogo e Cerveja Amanteigada


Novembro de 1995.


Snape se inclinou perigosamente e murmurou em seu ouvido, usando seu tom de voz mais quente, mais macio e mais sedutor:

_ Tenha uma boa noite, Nymphadora.

_ Tonks _ foi tudo o que ela conseguiu dizer, num sussurro, a voz trêmula, olhos fechados, enquanto um arrepio percorria seu corpo.

E quando Snape fechou a porta atrás de si e saiu para a rua, trazia ainda nos lábios o vestígio de um sorriso... um sorriso de satisfação, temperado com um leve sabor de vingança.

Enquanto isso, Tonks havia desabado no antiqüíssimo sofá dos Black e murmurava consigo mesma. O que havia sido aquilo? Estaria ela louca ou... Severus Snape estava mesmo a fim de... seduzi-la? Porque ela podia apostar todos os seus discos das Esquisitonas que sim, aquele tom de voz havia sido calculadamente utilizado para deixá-la sem fôlego e com as pernas bambas. Mas porque, Merlin, porque? Ela franziu a testa.

_ E será possível...

E Tonks se interrompeu, balançando a cabeça. Não era ali que ela havia planejado chegar, absolutamente. Quando começara aquele jogo, seu único objetivo era, pura e simplesmente, conseguir um Snape mais tratável. Mas agora...

_ Será possível... estar ficando a fim de dois ao mesmo tempo?

Talvez fosse. E não parecia surpreendente, se ela analisasse bem. O que um tinha, faltava ao outro. Eram tão diferentes quanto... quanto...

_ ... cerveja amanteigada e uísque de fogo! _ ela murmurou para si mesma, abafando uma risadinha em seguida.

Remus era agradável, quente, confortável e espalhava um calorzinho gostoso por suas entranhas sempre que entravam em contato (se bem que, ultimamente, o calorzinho aparecia só de pensar nele). Era uma bebida para todos os lugares, para se beber com quase todo mundo. Tinha um quê de álcool e a deixava um pouco fora de si, meio feliz demais e corando.

Já Snape... um tremor involuntário não muito agradável percorreu seu corpo. Snape... era tão amargo, traiçoeiro (segundo Sirius) e perigosamente viciante quanto uísque de fogo. O rastro que ele deixava não era um simples calorzinho. Ele queimava por dentro, com chamas que duravam até muitas horas depois de se haver bebido; e, se não se fosse forte o suficiente, era um vício que poderia levar à perdição. Ele não era bonito, não se encaixava em padrão de beleza algum. Mas quando aqueles olhos negros, quase sempre tão frios, resolviam se aquecer e quase... bem, quase devorá-la, bebê-la... consguiam ter o mesmo efeito que a voz aveludada tivera há pouco.

Ela suspirou; e sobrepondo-se à imagem dos cabelos negros e nariz adunco em sua mente surgiu outra. Olhos doces e meio tristes, voz rouca, cabelos ficando grisalhos caindo pela testa.

_ Ah, Remus, seu tolinho...

Ele tinha vergonha do cabelo! Na noite em que ela contou a ele o quanto os achava charmosos, ele a olhou como se tivesse ouvido o maior absurdo de todos os tempos. Tonks sorriu. Como alguém podia ser ao mesmo tempo tão forte e tão doce, tão capaz e tão frágil...? Ele era um homem feito, vários anos mais velho do que ela, mas às vezes ela simplesmente não resistia e queria colocá-lo no colo e cuidar dele como se ele fosse um garotinho.

Bem, bem... ela até podia estar se sentindo atraída pelo uísque e pela cerveja, mas, quando deixava a imaginação fluir solta, eram sempre os olhos cor de âmbar, exóticos e doces, que dominavam seus pensamentos.


*

Novembro de 1999.


Várias semanas se passaram e as coisas continuaram exatamente as mesmas: alunos rebeldes, um Harry deprimido, Ron e Hermione, mesmo que namorassem há quase dois anos, brigando como sempre; e Carlinhos Weasley, apesar de seguir perigosamente quase a mesma linha que Hagrid em suas aulas, havia se tornado um dos professores mais queridos; assim como Tonks. Snape continuava sendo o terror dos alunos. Mas, afora suas aulas, não havia quase mais nada em comum com o Mestre de Poções de três anos atrás. Para começar, ele simplesmente não conseguia olhar nos olhos o quadro de um certo ex-diretor de Hogwarts. Mesmo que Dumbledore houvesse lhe assegurado incontáveis vezes que não se importava, que havia sido um sacrifício por um bem maior, Severus ainda se sentia indigno de continuar na escola. Mas ele não podia simplesmente passar pelas grandes portas de carvalho decidido a nunca mais voltar. Várias coisas o prendiam ali. Havia, por exemplo, Tonks. Ainda fingindo que não sentia nada, ainda tentando se enganar que "aquilo" não a havia afetado tanto assim. Era engraçado, Snape às vezes pensava, que enquanto ele próprio guardasse tão firme quanto possível seus próprios sentimentos de culpa, raiva e frustração para si mesmo, o que ele mais queria era vê-la colocando para fora sentimentos muito semelhantes.

Mas era assim que devia ser. Ele, durante toda sua vida, havia sido o melhor em ocultar seus sentimentos. Tal atitude não era novidade alguma para ninguém. Mas aquela... definitivamente não era Tonks. Então ele esperava, pacientemente. Às vezes pensava se não valeria a pena contar-lhe um de seus segredos sujos para ver a máscara se romper. Às vezes, porém, ele apenas a observava, como uma águia espreitando a presa, os olhos negros perfurando e interrogando silenciosamente... como agora.

_ O que foi? _ ela perguntou franzindo a testa depois de longos minutos sendo objeto de estudo daquele par de olhos.

_ Nada _ ele murmurou, olhando para o céu, e então mentiu _ ... quero dizer, estava pensando... preparada para a derrota?

Ela jogou a cabeça para trás e riu (e Snape sabia que era um entusiasmo falso).

_ Acho que a pessoa mais indicada para responder essa pergunta é você mesmo _ ela replicou.

_ Veremos.

A primeira partida de Quadribol da temporada, Grifinória contra Sonserina, seria no próximo sábado, dali a dois dias. Harry, a despeito de sua indiferença para com tudo o mais, ainda era o melhor apanhador que a Grifinória tivera em muitos anos; e provavelmente sempre o seria.

_ Topa uma aposta?

_ Uma aposta? _ ele repetiu, estreitando os olhos.

_ Hmm... uma noite no Três Vassouras, que tal? O perdedor paga tudo. Já vou avisando que não bebo pouco _ ela finalizou, estendendo a mão.

_ Fechado _ e ele estendeu a mão também; e depois a retirou bem devagar, as pontas de seus longos dedos roçando suavemente na palma da mão dela.

*

Novembro de 1995.


Assim que Severus pôs os pés na cozinha para deixar seu relatório sobre a mesa, antes da reunião daquela noite, Sirius lhe lançou um longo e indecifrável olhar por detrás de um cálice de bebida. Os lábios de Snape se crisparam alguns milímetros para cima; e então, Sirius jogou a cabeça para trás e gargalhou.

Pensando com seus botões sobre o quanto aquele desprezível Black estava cada dia mais louco e instável, Snape se dirigiu para a sala, a fim de encontrar sua presa. Ela já devia estar ali; ultimamente ele vinha se certificando dos horários dela e fazendo coincidir com eles, sempre que possível, suas raras aparições no número 12 do Largo Grimmauld. Ultimamente, também, ele vinha se sentindo cada vez mais ansioso por cada encontro, mas atribuía isso ao prazer de irritar Black, fingindo estar interessadíssimo naquela... louca Nymphadora. Seu sorriso aumentou um tantinho mais e ele sentiu ímpetos de rir, exatamente como Black havia feito há poucos minutos.

Mas então...

... então, seus ouvidos registraram murmúrios e risadinhas, o silêncio, e mais algumas palavras sussurradas se aproximando de dentro das sombras. Era a voz dela, sem dúvida alguma... acompanhada pela voz rouca e um pouco hesitante que pertencia, inconfundivelmente, a Remus Lupin.

Antes que Snape pudesse formular qualquer teoria, Tonks e Lupin surgiram no umbral da porta, de mãos dadas e, sem notar que havia alguém mais na sala, trocaram um longo beijo. Snape deve ter feito algum ruído, apesar de não se recordar; porque os dois se afastaram de repente e Tonks acenou, sorrindo mais do que nunca:

_ E aí, Snape! Boa noite!

Ele estreitou os olhos quando respondeu um seco "boa noite"e ignorou Lupin por completo. Enquanto voltava para a cozinha, sentia algo que nem sabia o que era queimando dentro de si e, por fora, se mantinha frio e impassível como sempre.


---

ai, será que esse capítulo não ficou novela mexicana demais? hmmm =X

ahn, e não precisam ficar com dózinha do snape... porque, daqui a alguns capítulos, pena vai ser a última coisa que ele merece. aguardem ;D

ahn, e obrigada pelos comments =)

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.