Cela nº 52, Azkaban



Enquanto a grande balsa não atracava na distante ilha adiante, Harry organizava seus pensamentos.

Tinha conseguido permissão especial para falar com Mundungo, graças aos contatos do Sr. Weasley dentro do Ministério.

E agora ia direto em direção ao que parecia uma velha e tortuosa construção de pedra, sobre uma grande ilha de aparência selvagem, a muitos quilômetros da costa britânica. O prédio escuro parecia à beira da ruína, e Harry não pode deixar de se perguntar como o ministério confiava que os presos não sairiam de lá. Mas a resposta era óbvia. Pura magia.

Ao seu lado, estava Rony, o único com permissão de acompanhá-lo naquela missão. Parecia assustado, mas permanecia firme ao lado do amigo.

Depois de longos e silenciosos minutos, a balsa atracou em terra firme, e um velho bruxo de perna manca, estendeu a mão aos garotos.

-São cinco sicles... –cobrou ele, um tanto rabugento.

Harry revirou os bolsos e pagou ao velho senhor a quantia desejada. Encaminhou-se então em direção ao prédio.

-Ei, aonde pensam que vão? –chamou ele, as suas costas. –São cinco sicles de cada!

-Mas que roubo! –exclamou Rony. –Não pode fazer mais barato não?

-Se fosse eu você, não reclamaria dos preços! Poucas pessoas estariam dispostas a visitar Azkaban duas vezes por dia! –falou o velho, ligando os motores da balsa e voltando a praia de onde saíram. –Volto aqui em duas horas!

-Então... Isto é Azkaban? –comentou Rony, dando um longo assobio ao examinar o local.

Havia muita vegetação ao redor da sinistra torre de Azkaban, mas mesmo com uma grande variedade na flora, os animais não habitavam a região. Estranhos sussurros chegavam aos ouvidos dos dois rapazes, e faziam seus jovens corpos estremecerem. Caminharam de encontro a quatro guardas que guardavam a entrada principal.

-Estamos aqui para visitar um prisioneiro... Marcamos hora com... –declarou Harry, hesitando por um momento para procurar um pergaminho nas vestes, onde anotara o nome da aurora com quem se correspondera. –Aurora Constance Kenedy.

-Oh sim, a diretora... –respondeu um dos guardas, com aparência dura. –Não se importam de passar por um detector de magias ocultas, não é? –perguntou ele, apontando a varinha em direção ao nariz de Harry.

-De forma alguma! –respondeu Harry, quase que imediatamente.

Após uma grande revista, Harry e Rony foram liberados para entrarem no aposento hostil de pedra, para esperar a auror diretor do lugar.
Mesmo sem a presença dos dementadores, Harry notou que o ar era gélido, rarefeito, e sem alguma esperança. Uma velha mulher apareceu por uma porta lateral, e apertou energicamente as mãos dos garotos.

-Jovem Sr. Potter! –exclamou ela. –É uma honra conhece-lo! Sou Constance, e estou dirigindo as coisas por aqui no momento! Espero que não se sintam mal aqui, mas devido aos dementadores terem passado um longo período aqui, o ar não é dos mais convidativos.

Seu olhar pousou demoradamente na cicatriz na testa de Harry, e este esperou por alguns instantes.

-Devo dizer que voe é a cara de seu pai... –falou ela. –Exceto pelos olhos! Os olhos são de Lílian!

-Sempre me dizem isso, obrigado! –respondeu Harry.

-Seus pais foram grandes bruxos, Harry, deve sentir orgulho deles! –falou ela, abaixando a voz, num tom confidencial. Respirou profundamente. –Mas sei que o senhor está com pressa, então vou pedir para que o levem direto a Mundungo, está bem? –falou ela, num tom profissional. –Hobbs, para cela cinqüenta e dois, está bem? –completou ela, a um homem que Harry não havia reparado antes.

-Certo! Por aqui, por favor! –chamou Hobbs, indicando outra porta lateral.

Harry e Rony o seguiram desconfiados, sentindo ligeiros arrepios percorrerem-lhe a espinha. Conforme avançavam no escuro e gélido corredor de pedra, era possível ouvir os gemidos e lamúrios vindos de trás das celas mais adiantes. O bruxo chamado Hobbs cabeceava o grupo, e andava distraidamente, assobiando, e fazendo malabarismos com sua varinha.
Um grito ensurdecedor pode ser ouvido vindo de uma cela a esquerda deles, e Rony levemente deu um pulo assustado.

Hobbs riu.

-Não se preocupe, é só um velho vagabundo que passou tempo demais na presença de dementadores, e agora, mesmo sem sua presença, ele quase não dorme de pavor... Sabe-se lá as coisas que viu quando aqueles seres rondavam estes corredores. –declarou ele num tom monótono. Deu um leve sorriso aos garotos e estendeu a mão em direção a uma suja cela, onde havia pedaços de jornais que forravam o chão. –É aqui! Cela cinqüenta e dois! Ei Mundungo, acorde, você tem visita! –chamou ele, batendo com a varinha nas grades.

Um moribundo que parecia uma grande pilha de trapo se levantou preguiçosamente, e focalizou o olhar nos dois rapazes logo a frente. Harry notou que seus cabelos ruivos estavam cada vez mais ralos, e havia profundas manchas roxas sob seus olhos.

-Varinhas, por favor! –pediu Hobbs, estendendo a mão suja para alcançar as varinhas que os rapazes lhe entregavam. –Vocês pegam na saída, no saguão, certo?

Harry concordou devagar com a cabeça.

-Harry! –exclamou Mundungo quando o guarda se afastou. –Jovem Sr. Weasley! Há que devo a honra de sua visita? Vieram me tirar daqui? Sabe, não é nada aconchegante as instalações... –declarou ele, estendendo a mão e sinalizando o pequeno cubículo.

Rony e Harry observaram mais atentamente. Além dos jornais velhos colocados no chão, havia uma cama cheia de trapos sujos e fedorentos, e há um canto uma pia, e um pinico cheio. Rony virou o rosto em sinal de repugnância.

-Não, não viemos! Viemos lhe comprar algo! –falou Harry, com nojo, mostrando ao vigarista uma sacolinha de ouro que levava em seu bolso. Mundungo esfregou as mãos, e demonstrou um brilho no olhar.

-Quem me dera, quem me dera, Harry... Você sabe, depois que fui preso, todas as coisas que tinha em mão naquele dia foram confiscadas! -falou ele dando de ombros, com uma vergonha aparente na voz. –Mas o que seria?

-Escute Mundungo! O que eu quero é de extrema importância! É caso de vida ou morte, e provavelmente faz parte da minha herança... –Harry hesitou. –A qual você roubou!

-Não! Entenda Sr. Potter, foi mais um empréstimo! Pretendia devolver! –respondeu ele humildemente.

-Estou cansado, não tenho tempo para ouvir suas desculpas esfarrapadas, certo? –gritou Harry, segurando Mundungo pelo colarinho, através das grades. –Preciso do Medalhão!

-Qual medalhão? Não lembro de nenhum medalhão, juro pelos poucos cabelos que me restam! –respondeu ele, com a voz esganiçada.

-Cansei de ouvir suas lorotas, Mundungo, eu lhe pago o que quiser por ele, apenas me diga onde está!

Os olhos de Mundungo brilharam de cobiça, mas ele balançou a cabeça.

-Sinto muito, mas realmente não peguei nem sequer um medalhão! A maioria eram louças e taças... Aquelas de prata, lavradas por duendes no século XV, lembra? –respondeu ele, e aos olhos de Harry, pela primeira vez pareceu ser honesto.

-Mas então onde está? Você tem certeza de que não o viu, Dunga? –perguntou Rony, parecendo realmente preocupado.

-Tenho! Talvez o elfo doméstico tenha o pegado! –sugeriu ele, alegre. –Vi bastante coisas valiosas em seu ninho, há um tempo atrás!

Harry pensou por alguns instantes e resolveu acreditar no velho vigarista a sua frente.

-Está bem, vou procurar, mas juro Mundungo! Que se não estiver lá, eu volto e lhe mato com minhas próprias mãos! –ameaçou Harry, enquanto se afastava da cela, com Rony as suas costas.

-Com certeza está lá, Harry, procure bem! –falou em um som falso e esganiçado Mundungo. –E Harry? –chamou ele. Harry se virou com desprezo no olhar. –Será que se você virar Ministro da Magia algum dia, poderia melhorar estas celas? Os colchões fazem minhas costas doerem!

Harry não se deu ao trabalho de responder, apenas deu as costas, ao que Mundungo começou a chupar seu cachimbo, e soltando porções de nuvens de fumaça verdes e que fediam acre.



-Monstro! –chamou Harry, muito alto, ao pisar na soleira da casa em Godric’s Hollow. Hermione não havia voltado da Toca, onde havia ido para não permanecer sozinha em casa, portando o local estava vazio, em exceção aos dois elfos domésticos. –Monstro, apareça!

Com um barulho surdo, Monstro apareceu limpando as mãos sujas em sua tanga. Fez uma reverência, em que seu trombudo nariz achatou-se contra o piso gelado do hall.

-Chamou mestre Potter? –perguntou ele friamente. –Como se aquele maldito Dobby não obrigasse Monstro a fazer coisas repugnantes, agora tenho que agüentar esta ralé me dando ordens... O que a senhora do Monstro iria pensar se o visse em mãos tão imundas?

-Estou te ouvindo, seu elfo velho e burro! –falou Harry. Quero ver seu ninho agora, sem mais delongas! –Harry sabia que o velho elfo, quando emigrou para sua casa, levou um alojamento de coisas para debaixo da pia de um banheiro desocupado no porão sujo da casa.

-Posso pedir por que da idéia repentina, senhor? –perguntou o elfo, tornando a lhe fazer uma reverência, e com a voz mais fria possível.

-Não lhe devemos respostas, Monstro! Agora! –ordenou Rony, de repente.

Com os olhos claros esbugalhados e em lágrimas, o elfo saiu arrastando os pés em direção ao porão, ainda resmungando em alto e bom tom.

-Esse pirralho, traidor do próprio sangue, pensa que dá ordens no velho Monstro...

Chegaram ao velho banheiro sem uso, e Harry abriu lentamente a porta do balcão embaixo da pia e se deparou com uma enorme surpresa. Era como uma espécie de santuário aos Black. Havia alguns quadros em preto e branco, com o vidro quebrado, e a moldura de prata oxidada, mas ainda assim os moradores observavam-nos com os olhos frios e cheios de suspeitas. Havia um trapo surrado que o elfo usava para dormir, e alguns objetos de louça, e algumas poucas jóias.

-Cadê o medalhão, Monstro? –perguntou Harry, com a voz perigosa.

-Que medalhão, jovem senhor? –perguntou Monstro com os olhos calmos, fingindo ignorância. Suas orelhas, com tufos de pelos brancos saindo pelos buracos, murcharam ligeiramente ao olhar de Harry.

-Nada de gracinhas, agora Monstro, quero o medalhão que você pegou da casa de Sirius! –ordenou Harry, com a mão estendida para o elfo.

Monstro tinha de obedecer a uma ordem direta do dono, e com lágrimas escorrendo por seu grande nariz, agachou-se e recolheu o medalhão que Harry havia visto nas lembranças de Dumbledore. O medalhão que havia sido tirado daquela caverna escura muito antes de Harry e Dumbledore terem conhecimento dos Horcruxes.

O medalhão roubado por R.A.B, ou como Hermione acreditava, Régulos Black, irmão de Sirius.
Harry sorriu ligeiramente ao perceber que mais um pedaço da alma de Voldemort seria destruído. Lembrando mentalmente, percebeu que faltavam poucos. Como se lesse seus pensamentos, Rony murmurou.

-A taça de Hufflepuff, a Cobra Nagigi e a alma que está no corpo do Maldito! –murmurou ele. –Harry falta pouco! –comemorou ele, com os olhos iluminados.

-É, é muito bom, mas está tudo muito fácil, Rony... –resmungou Harry pensativo. –Você realmente acha que tudo deveria ser assim tão fácil? Será que as coisas que estamos destruindo, será que elas são mesmo Horcruxes? E se não forem?

-E se forem, cara? Estamos matando Você-sabe-quem, com a maior facilidade! –respondeu Rony ainda alegre. –Anda vamos chamar a Mc. Gonagall para mandar essa coisa a Hogwarts para ser destruída, certo?



Naquela tarde, a campainha da casa tocou, e após alguns instantes, Professora Minerva Mc. Gonagall estava de pé diante da lareira da sala de estar, olhando orgulhosa para Harry e Rony. Seu chapéu cônico levemente desalinhado pela pressa com a qual aparatara.

-Não acredito que vocês encontraram mais uma! O retrato de Dumbledore ficará muito, muito satisfeito! –exclamou ela, observando o objeto que havia sido entregue em suas mãos. –Mas por que vocês mesmos não vão a Hogwarts para destruí-lo?

-Não podemos... –respondeu Harry lentamente, cutucando o braço da poltrona fofa onde estava jogado.

-Hermione chega daqui a algumas horas! Queremos estar aqui quando ela chegar! –justificou Rony, com um súbito brilho no olhar.

-Está bem então, vou levá-lo em segurança a escola, e o destruirei pessoalmente! –respondeu ela, criando fogo na lareira, e nele jogando uma quantidade de Pó de Flu. As chamas tornaram-se verde esmeralda, e ela pisou firme por entre elas. –Hogwarts! –ordenou, e num rodopio, sumiu.
E naquele exato minuto, Hermione aparatou bem ao lado deles, sorridente, porém, cansada.

-Mione! –exclamaram os dois rapazes juntos, correndo para abraçá-la.

-Como se sente? –perguntou Harry.

-Está bem? –perguntou Rony, a ajudando para sentar-se na poltrona, que outrora ele ocupara.
-Estou, obrigada... –respondeu ela, num sorriso cansado. Harry percebeu os profundos cortes em seu rosto.

-Mione... –falou ele baixinho. –Desculpe por fazer você passar por isso...

-Não, eu não desculpo Harry, por que não tem pelo que desculpar-se! Eu quis abrir a passagem, eu também quero encontrar todos Horcruxes! –respondeu ela, amável.

-Certo... –riu Harry. –Bom, acho que vocês dois devem conversar um pouco, eu vou sair e arejar os pensamentos...

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