Memórias Lacradas



Harry escoltado por Rony e Hermione, aparatou no povoado bruxo de Hogsmeade, no começo da manha de um sábado encoberto por nuvens escuras. O bruxo focalizou o olhar na rua principal e percebeu como a cidadezinha e seus aldeões haviam perdido o brilho que outrora carregavam. Tal como no Beco Diagonal, as pessoas agora andavam agrupadas, e jamais eram vistas sozinhas. As risadas que ecoavam pelo salão do pub Três Vassouras, agora era apenas uma lembrança de um tempo que passou.

Tudo havia mudado inclusive os três jovens que agora caminhavam rapidamente pela estrada, a caminho da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

-Estou ansiosa para saber como estão as coisas por aqui... –comentou Hermione, de repente. –Sinto saudades, e alguns estudantes ainda moram aqui.

-É a Gina voltou pelo que mamãe comentou... –falou despreocupadamente Rony, abrindo uma caixa de sapo de chocolate que ele levava na mochila. O monstro no corpo de Harry acordou a menção do nome da garota, e logo começou a contorcer-se de um modo febril.

-O que quer dizer com voltou? –perguntou ele, tentando fazer a pergunta parecer casual, enquanto aceitava um sapo que Rony oferecia.

-Bem, ela queria procurar os Horcruxes conosco, mas como não pode, e não queria passar o resto do ano junto com a Fleur... Ela resolveu voltar aos seus estudos... –respondeu ele, com a voz engrolada por causa do sapo em sua boca.

-Rony, mastigue direito! –o reprimiu Mione, com a cara severa, que lembrava a atual diretora de Hogwarts, Minerva Mc. Gonagal. –Neville Longbotton também retornou a escola... Vai estudar herbologia, e tentar se tornar um herbologista... Bom, pelo menos é algo que ele é bom... –suspirou ela, quando chegaram aos portões da escola. –Hagrid! –exclamou ela feliz, ao perceber que o gigante estava os esperando, com uma dúzia de chaves em um molho pendurado a cintura.

-Entrem, entrem... –falou ele feliz, enquanto abria o portão e afastava-se para permitir que os garotos entrassem nas terras de Hogwarts. –Como estão vocês?

-Estamos bem, e como estão as coisas por aqui? –respondeu Harry enquanto o gigante barbudo dava um imenso abraço de quebrar as costelas em Hermione.

-Tumultuadas... Tudo ficou difícil sem o Professor Dumbledore aqui... –respondeu ele, com os olhos marejados. Passou as enormes costas da mão sobre os olhos para enxugar as lágrimas que teimavam em cair. –Não estou dizendo que Profa. Minerva não tem capacidade... –fungou ele. –Mas Dumbledore tinha um jeito especial de cuidar das coisas por aqui...

Eles continuaram a caminhar pela íngreme subida até o castelo, conversando sobre várias coisas, até chegarem ao saguão de entrada.

-Depois conversamos melhor, vocês precisam encontrar a Profa. Minerva... –falou ele, apontando para a bruxa que se dirigia a eles.

Professora Minerva nunca parecera tão velha aos olhos de Harry. Estava mais magra que normalmente, e por detrás dos óculos quadrados, apareceram novas rugas de preocupação. Ela sorriu cansada ao cumprimentar os garotos, e os convidou para juntar-se a ela em seu escritório, que outrora pertencera a Dumbledore.

-Sentem-se! –falou ela, indicando os assentos à frente de sua escrivaninha. O local havia mudado completamente, e Harry sentiu um aperto no peito ao perceber que o poleiro de Fawkes, a fênix havia sido trocado por alguns objetos estranhos da professora. –Sirva-se de biscoitos! –ofereceu ela, apontando para uma lata de biscoitos escoceses.

-Como estão as coisas? –perguntou educadamente Hermione, após servir-se de um biscoito.

-Cada vez mais difíceis... –respondeu a professora, os observando com o olhar cansado. –Estamos em média com cinqüenta alunos na escola no momento, e mesmo assim, está cada vez mais difícil controlar a segurança. Mas eu os chamei aqui, não para reclamar dos meus problemas como atual diretora, mas sim porque o retrato do Professor Dumbledore, pediu-me para passar-lhes um recado.

Harry espantado olhou ao redor da sala a procura do diretor. E lá estava ele, em uma parede oposta, emoldurado por ouro, os mesmos cabelos e barbas prateados, o olhar astuto e os oclinhos de meia lua encarrapitados no alto de seu nariz torto, seu ex-diretor Dumbledore. Dirigiu-se a ele sob os olhares atentos de Minerva, Rony e Hermione.

-Harry, finalmente você chegou! –falou ele, sorridente, unindo a ponta dos dedos das duas mãos, num gesto muito seu. –Gostaria de convidá-los para tomar um chá com biscoitos, mas minha atual condição... Bem, na realidade, tenho que lhe dizer algo urgente. Procure na sala precisa um local onde possa guardar os pensamentos, e veja o que deixei lá. –e com este pequeno recado, calou-se novamente, e ficou a observar calmamente o rapaz a sua frente.

-Que quer dizer com isso? –perguntou o rapaz, piscando desconfortável pelo fato de conversar com um retrato que lhe passava informações.

-Você entenderá ao vê-las! Há pistas escondidas sobre Horcruxes que eu acho realmente valiosa... E algumas coisas, bem, há mais... –respondeu o diretor, com o queixo apoiado sobre as mãos.

-Ora, se Dumbledore deixou esta memória em seu retrato, Potter, creio que o senhor deva averiguar de perto tais afirmações... –falou professora Minerva, já de pé. –Vamos rápido, por favor...

Dito isto, saiu em direção à porta de seu escritório, com as costas eretas e aparência decidida. Os três a seguiram imediatamente, cada qual organizando seus pensamentos em total silêncio.

Dobraram em um corredor do sétimo andar, e depararam-se defronte a grande tapeçaria dos trasgos dançarinos, e a grande parede aparentemente lisa. Perceberam que não mais havia sinais de luta, deixado pelos Comensais algum tempo atrás.

Harry se pôs a pensar febrilmente “um lugar para guardar lembranças, um lugar para guardar lembranças” enquanto caminhava rapidamente de olhos fechado em frente à parede, acompanhado pelos olhares apreensivos de Rony e Hermione.

Abriu os olhos devagar e deparou-se com a porta simples que surgira a sua frente. Abriu-a com cuidado e entrou acompanhado pelos amigos e a diretora.

Era uma pequena sala, com algumas estantes enfileiradas nas quais jaziam inocentes algumas garrafas com um líquido prata espiralado.

-Acho bom todos procurar as tais lembranças destinadas ao Harry... –falou professora Minerva, enquanto checava cada garrafa etiquetada postada na primeira prateleira.

Passaram-se alguns minutos em que os quatro revistavam todos os rótulos colados nas garrafas, o silêncio pairando no ar, e o nervosismo em suas cabeças.

-Aqui, Harry olha! –chamou Hermione alegre, mostrando suas pequenas garrafas empoeiradas. –Está escrito: “Para H.P”!

Harry aproximou-se e apanhou as duas garrafinhas, colocou-as cuidadosamente em um bolso interno das vestes, e dirigiu-se a saída. Os outros três o acompanharam, em direção a sala da diretora, a procura da penseira.

Mas o que Harry e os amigos não haviam percebido era outra garrafinha empoeirada, guardada mais ao fundo da estante com os dizeres: “Dumbledore e Snape”.



Harry depositou o conteúdo da primeira garrafa cuidadosamente dentro da penseira, e logo se inclinou permitindo que sua testa tocasse a superfície e deixando-se cair no vácuo.

Encontrou-se em um grande salão, de aparência presidencial, com um grande amontoado de pessoas, todas vestindo capas negras e discretas. Todos conversavam baixinho, aos sussurros, e olhavam de esguelha ao centro da sala, cujo Harry não podia ver. Hermione, Rony e Minerva chegaram logo após e caminharam junto a ele até o tal local.

Para o espanto de Harry, lá havia dois caixões fechados, com grandes coroas de flores ao redor, e um pódio logo à frente.

Em tal lugar, encontrava-se um Dumbledore de cabelos e barbas grisalhos, igual ao que Harry conhecera, mas com menos rugas em seu rosto. O ex-diretor apontou sua própria varinha em direção a garganta e chamou a atenção de todos, no mesmo momento em que Harry escutou uma bruxa atrás de si comentar aos sussurros: “ofereci-me a cuidar do pequeno, mas Dumbledore disse que melhor a fazer no momento é deixa-lo ir, por mais que doa em nossos corações.”

-Estamos aqui em uma triste ocasião para homenagearmos este querido casal, que entregaram suas vidas em prol a comunidade bruxa... Lílian e Tiago Potter! –Harry sentiu seu estomago dar uma cambalhota, e uma ligeira sensação de náusea. Aquela lembrança mostrava o enterro de seus pais. –Há duas noites atrás, o bruxo das trevas Voldemort... –vários bruxos no aposento tremeram ligeiramente ao ouvir tal nome. – entrou na casa deste jovem casal, e os matou, tentando matar seu pequeno filho, Harry Potter, que saiu ileso, a não ser por uma cicatriz em forma de raio. O menino já está em segurança agora, e em alguns anos, retornará ao mundo mágico.

Harry ouviu alguns fungos e suspiros atrás de si, e percebeu que várias pessoas choravam o mais baixo possível.

-Foi uma terrível perda para todos nos que conhecemos estas duas pessoas tão maravilhosas e boas de coração... Por isso vamos fazer um brinde... –continuou Dumbledore, erguendo uma taça de vinho dos elfos. –À harry Potter, o menino que sobreviveu!

Todas as pessoas murmuraram tal coisa, erguendo solenemente seus copos.

Harry acompanhou o professor Dumbledore, quando este se retirou do pódio e reuniu-se a um pequeno grupo de bruxos.

-Dumbledore! Preciso falar com você, em particular, por favor... –chamou uma voz as costas de Harry. Slughorn, um tanto mais jovem, porém com a mesma barriga protuberante, aproximava-se de Dumbledore, com um olhar muito triste. Ele e o diretor abandonaram o aglomerado de bruxo com os quais Dumbledore estava conversando, e recolheram-se em um canto abandonado da sala.

-Fale então, Horácio. –falou Dumbledore, com uma expressão cansada.

-Dumbledore, sei as coisas sobre Lílian e Victoria St. Clair! Você tentou esconder estes anos todos, mas a maioria do corpo docente já sabe! Todos sabem que elas são Bruxas de Réia! –neste momento, Hermione, que estava ao lado de Harry, levou as mãos à boca. –Sei também que a jovem St. Clair não foi enterrada com a pedra que sempre tinha pendurada ao pescoço, a pedra gêmea de Lily... –continuou ele, rapidamente. –Você-sabe-quem a levou, não é mesmo?

-Receio dizer que sim... –respondeu Dumbledore. –Você sabe os poderes místicos que existem ao redor daquelas pequeninas pedras... A pedra-mãe, que antigamente ficava em meu escritório também foi roubada por ele e seus seguidores...

Slughorn parecia apavorado diante de tais revelações, mas continuou.

-A pedra de Lílian também foi roubada?

-Novamente, infelizmente sim... –respondeu Dumbledore em tom pesaroso.

-Bom Dumbledore... Receio que eu não volte mais a Hogwarts... Não quando duas das mais brilhantes bruxas que conheci são mortas a sangue-frio! Desisto de lecionar! –falou Slughorn, apoiando-se em uma mesa, aparentemente sobre grande tristeza.

-Mas você já entregou sua carta de demissão a mais ou menos dois anos... Não entendo o que quer dizer...

-Sinto muito, Dumbledore, mas quero dizer que, não voltarei atrás, não voltarei nunca mais a Hogwarts...

Mas Harry não viu o que mais iriam discutir, pois professora Minerva os interrompeu.

-Acho que já vimos o suficiente que o professor Dumbledore gostaria de nos mostrar! Agora vamos! –chamou ela, autoritária, mas com o olhar sombrio.

Quando Harry retornou ao escritório da diretora, Rony e Hermione já andavam para lá e para cá, e a professora tamborilava os dedos no tampo de sua escrivaninha.

-Achei que Dumbledore já havia lhe situado sobre os poderes de sua mãe, e sua grande amiga, Victoria St. Clair... –falou a professora, com a voz um tanto quanto esganiçada.

-Eu já li sobre Réias, Profa. Minerva! –exclamou Hermione. –Li em meu terceiro ano, em algum livro da biblioteca.

-Ótimo! Então creio que pode colocar o Sr. Potter e o Sr. Weasley a par da situação... –falou ela, em um meio sorriso. Hermione começou, andando de um lado para o outro de frente a escrivaninha de Mc. Gonagall.

-Bruxas de Réia surgiram na antiga Grécia, há muitos anos atrás, em algumas poucas mulheres... Era como se fosse uma evolução na raça bruxa. Tinham grandes poderes, que eram potencializados pelos poderes da pedra da Lua. Seus sentimentos e emoções eram destacados na natureza de alguma forma... –falou ela rapidamente. –Mas foram praticamente extintas pela ignorância de outros bruxos e trouxas, na época da inquisição.

Harry estava boquiaberto.

-Mas como minha mãe poderia ser uma Bruxa de Réia? Ela nasceu trouxa! –perguntou ele, incrédulo.

-Havia indícios de réias em algum ramo da família de sua mãe... –respondeu Profa. Minerva. –Sua mãe e sua amiga foram as últimas da linhagem, pois o dom só se apresenta em mulheres. Pode me dizer, srta. Granger, qual foi a primeira réia a pisar neste castelo?

-Rowena Revenclaw! –exclamou ela, após pensar longamente durante alguns segundos.

-Exato! Antigamente sua pedra-mãe, que originou os pingentes que sua mãe e amiga carregavam que professor Slughorn referiu-se, ficava aqui em Hogwarts. Mas há algum tempo atrás, teve de ser despachada para o Ministério, mais precisamente para o Departamento de Mistérios, que por um acaso era aonde sua mãe trabalhava! –completou ela olhando para Harry. –Você-sabe-quem a roubou e a manteve no poder, sabe-se lá para o que...

O pensamento de Harry logo se desviou para outro caminho. Seria a tal pedra a Horcrux que Voldemort fizera com um objeto de Rowena?

Tal pensamento confirmou-se após eles entrarem na segunda memória do diretor, onde ele, Dumbledore conversava com duas jovens em seu escritório, há alguns anos atrás. Harry reconheceu de imediato sua mãe, sentada a frente da escrivaninha, com os olhos vivamente verdes, e os cabelos acajus. Sua amiga que devia ser a tal Victoria St. Clair possuía longos cabelos castanhos, e olhos azul-esverdeados. Dumbledore segurava dois pingentes, um em cada mão, azul escuros.

-Antes de entregá-los a vocês... –a conversa parecia já estar no fim. – Gostaria de informá-las que devem ser extremamente cuidadosas quando usarem estas pedras, pois aquele que se intitula Lord Voldemort procura por estas coisinhas preciosas para servirem em seus propósitos. Creio que ao entrega-las as senhoritas, terei sua palavra?

-Claro professor Dumbledore! –responderam ambas ao mesmo tempo, enquanto estendiam suas mãos para agarrar os tais objetos.

Harry percebeu que a pedra que sua mãe, Lílian, recebera, ao ser tocada por sua mão adquiriu um tom rosa, enquanto o de sua amiga transformava-se em uma tonalidade azul-negro.
As duas soltaram suspiros de fascinação, ao que Dumbledore completou:

-Lembre-se que cada pedra da lua adquire uma cor diferenciada da pedra mãe para cada réia existente. – falou ele meio risonho, ao que Harry e os outros abandonavam a penseira de Dumbledore.




-Você acha que Dumbledore acha que um horcrux é uma pedra da Lua, Harry? –indagou Hermione, na hora do jantar, no salão Principal, onde se reuniram a alguns estudantes que permaneciam em Hogwarts. Abaixou um pouco a voz. –Quer dizer, você acha que essas pedras foram usadas por ele para formar a ultima Horcrux?

-É o que se pode esperar não é mesmo? –retrucou Rony, com a boca cheia de batata.

-O que acho estranho é... Por que ele não me contou disso quando... Bem... Vocês sabem, estava vivo? –perguntou Harry, olhando para o antigo local que era ocupado à mesa dos professores por Dumbledore, no qual agora a professora Minerva jantava calmamente.

-Sei lá... Mas acho que você deveria confiar no que Dumbledore faz Harry... –completou Hermione, de um modo astuto. –Afinal, olhe para aquelas garrafas! Ele realmente não as teria deixado para trás se as destacassem como material não importante...

A conversa fora interrompida bruscamente por um pequeno garotinho do terceiro ano, que permanecera na escola. Estava segurando um pergaminho em mãos, e parecia apavorado pelo fato de conversar com Harry. Entregou sua mensagem, e saiu correndo.

-“Queridos Harry, Rony e Hermione! Que tal aparecer amanha de manha aqui na minha cabana para colocarmos a conversa em dia? Hagrid”. –Leu Harry em voz alta.

Harry rabiscou uma rápida resposta ao amigo, e Hermione a enviou com a ajuda de um feitiço de entrega rápida.



Harry precisou bater apenas duas vezes na porta de madeira da cabana do amigo para ser recebido calorosamente. Era uma manhã escura, com nuvens pesadas que encobriam o sol, anunciando a chegada do outono daquele ano.Podiam ouvir o ruído do vento batendo nos galhos das árvores, e ao fundo viram Bicuço, brincando próximo a horta de abóboras de Hagrid.

-Entrem, entrem! –falou Hagrid, muito animado. – Já preparei chás e biscoitos para comermos enquanto conversamos! Entrem... –completou ele, dando espaço para Rony, que havia ficado para trás, entrar.

Sentaram-se quietos nas cadeiras em volta da mesa de madeira, e observaram o ambiente. Havia pequenos chamuscados nas paredes, lembrança terrível da fatídica noite em que os Comensais adentraram na fortaleza de Hogwarts, e incendiaram sua cabana, com seu cão, Canino, dentro. Este já havia tomado seu lugar ao lado de Harry, e havia descansado a cabeça molemente em seu colo, deixando grandes possas de baba nas vestes do rapaz, que lhe afagava as orelhas peludas. Não havia nem sinal dos brancos pelos de unicórnio que outrora ficavam pendurados no teto, e Harry lembrou-se da noite do enterro de Aragogue, quando Professor Slughorn havia convencido Hagrid a entregar-lhe os tais pelos.

-Dormiram bem? –perguntou Hagrid, enquanto fuçava rapidamente em um armário a procura de alguns biscoitos. Depositou-os cuidadosamente sobre a mesa, em frente à Rony.

-Maravilhosamente! –respondeu Hermione, e Harry sentiu uma pontada de culpa por saber que a amiga não havia voltado a Hogwarts para lhe acompanhar em sua jornada.

-Pois é... É bom retornar ao nosso antigo dormitório... –respondeu Rony, sonhadoramente, enquanto estendia a mão cegamente à procura de um biscoito.

Hagrid sorriu, e serviu-lhes chá, em suas tão conhecidas canecas do tamanho de pinicos.

-E a sua nova casa... Como estão as coisas por lá? –perguntou Hagrid, parecendo descontraído. –Estão se virando bem?

-Oh sim, e temos um grande ajudante! Dobby... –falou Harry pela primeira vez. –Bicuço está ok?

-Melhor impossível... –respondeu Hagrid, meio saudoso, enquanto observava a janela. Lá fora bicuço bicava animadamente as abóboras gigantes de Hagrid. Fez-se silêncio, quando todos os quatro mergulharam em seus próprios pensamentos. –Muita coisa mudou, mas afinal estamos todos nos saindo bem, não é mesmo? –perguntou ele novamente, mas desta vez com uma única lágrima solitária escapando-lhe de um olho.

-Hagrid... –suspirou Hermione, correndo para dar leves tapas reconfortantes nos imensos ombros do amigo.

-Estou bem, Mione, obrigada, é que eu ainda não me acostumei... –falou ele, com a voz embargada e meio pastosa. Depois, fungou. Hermione retornou a sua cadeira, com os olhos atentos sobre o amigo.

-Todos nós não, Hagrid... –falou Rony, em tom de consolo, ao que Harry apertou a falsa Horcrux, que permanecia em seu bolso.

-Mas então... Eh... Por que a Professora Minerva os chamou até o castelo? –perguntou ele.

-O retrato de Dumbledore queria me passar uma mensagem... –respondeu Harry.

Hagrid o olhou espantado, e Harry arrumou-se em sua cadeira, para relatar sua história. Hagrid a ouviu por inteiro (exceto pela parte das Horcruxes, que Harry achara melhor lhe ocultar), e no final lançou-lhe um sorriso fraco.

-Típico de Dumbledore, um bruxo tão sábio, cheio de surpresas... Mas esta história de Lílian Evans e Victoria St. Clair, eu já sei de cor.

-O quê? –exclamou Harry surpreso, ao que Rony e Hermione erguiam as sobrancelhas.

-Pois é eu sabia... Veja bem, sua mãe e a Vicky costumavam vir me visitar, quando achava um tempinho... Duas meninas maravilhosas, desde o inicio... –falou ele olhando carinhosamente para Canino. –Canino é a prova viva das habilidades das duas... Olhe bem, um cachorro não vive tanto tempo assim, eu havia o ganhado na época em que elas freqüentavam a escola. Mas aquelas duas fizeram um encantamento que apenas elas poderiam fazer, e a vida do Canino durou muitos e muitos anos... –terminou ele, de olhos fechados, como se saboreasse uma antiga memória.

-E por que nunca me contou sobre isso? –perguntou Harry espantado.

-Se o professor Dumbledore preferiu não lhe contar, eu preferi ficar de boca fechada. –respondeu ele, simplesmente. –Olhem para isso... –falou ele novamente, levantando-se e sinalizando para o guarda-chuva rosa florido perto da porta, que Harry já o virá usar várias vezes para conjurar magias. –Obra da sua mãe, Harry.

-Como assim, Hagrid? –perguntou Mione, desconfiada.

-Bom, quando o Ministério quebrou minha varinha, entregaram-me os dois pedaços que sobraram, e eu os guardei por longos anos... Então elas chegaram, e em um verão ela pediu-me para levar os dois pedaços para casa, e no inicio do outro trimestre, ela me apareceu com este presente.

Harry sorriu ao perceber como sua mãe havia sido uma grande amiga de Hagrid, como havia sido uma bruxa poderosa.

-Dumbledore nunca lhe falou, mas ele acreditava que você sobreviveu apenas por um feitio que sua mãe lançou na hora da própria morte, Harry. Você deve se orgulhar disso... –completou ele, observando o rapaz. –Ela o amava muito, a sua mãe.

-Vamos, Rony, Mione... –falou de repente Harry. –Façam suas malas e vamos voltar para casa, que eu acabei de ter uma grande idéia.

-Gárgulas galopantes, mas vocês já vão? Fiquem para o almoço! –reclamou Hagrid.

-Sinto muito, Hagrid, mas é importante! –falou Harry, dando-lhe um abraço e saindo porta afora.

Respirou o ar fresco da manha enquanto Hermione e Rony despediam-se do amigo.

-Accio bagagem! –falou Harry, apontando para o castelo. Os dois amigos uniram-se a ele, e convocaram sua própria bagagem. –Você poderia abrir os portões para nós, Hagrid?

-Mas é claro... –falou ele, tirando um grande molho de chaves de um bolso interno de eu imenso casaco de pele de toupeira. Caminharam pela longa estrada até o portão da escola e depois foram até Hogsmeade. Lá aparataram, direto em casa.

-Vou ajudar Dobby a preparar o almoço... –falou Hermione, entrando na casa.

Rony esperou ela se afastar o suficiente e virou-se para Harry.

-Então, cara, não vai me dizer o porquê de ter vindo até aqui, assim de repente?

-Tive uma grande idéia! –falou Harry, com os olhos brilhando. –Dumbledore me provou que Voldemort escondia suas Horcruxes em algum lugar importante para ele. E hoje ele me provou que acha que a Horcrux desconhecida era a pedra da Lua de Rowena Revenclaw. E que ele havia roubado as ultimas duas, da minha mãe e da sua amiga. Certo?

Rony pareceu um pouco confuso, mas mesmo assim concordou vagarosamente com a cabeça.

-Por que não estaria escondida aqui, ou na casa dos St. Clair?

-Harry, este foi o lugar dos assassinatos, não um lugar especial para Voldemort... –falou Rony.

-Eu sei! Eu sei... Mas é que, e se ele não tivesse tido tempo para escondê-las melhor? Afinal, ele não pensou que eu sobreviveria para voltar a Godric’s Hollow, não é mesmo? -Rony pareceu mais confuso ainda, mas continuava concordando. –E olhe bem... A casa dos Gaunt não era grande coisa para ele esconder uma Horcrux também, não é? Ele escondeu lá seu anel, pois pensou que nenhuma vivalma voltaria a pisar seus pés lá.

-Faz sentido... –concordou Rony, com um súbito brilho no olhar. –Vamos procurar por tudo, nem que levem semanas a fio...

Harry sorriu animado, e ambos entraram na casa, para contar a Hermione o que haviam concluído.



Duas semanas se passaram sem obterem nenhum resultado. Procuraram por toda a casa vestígios de magia oculta, mas não encontraram. Procuraram por todo o jardim da casa, mas novamente, não encontraram. Faltava fazerem uma boa revista no bosque, que seria o lugar mais traiçoeiro para se procurar. Com as últimas grandes chuvas, o solo ficara enlameado, e as trilhas ficaram de difícil acesso, por isso, esperaram por algum tempo, até que o solo se tornasse firme novamente.

Harry e Rony estavam sentados diante da lareira em uma noite muito fria, conversando sobre possíveis lugares onde podia estar escondidas as Horcruxes. Todas. No total. Sabiam da cobra Nagigi, que não ficava parada em um só lugar. Sabiam do medalhão de Shyltren, que havia sido tomado de Voldemort por alguém chamado R.A.B, que podia estar destruído, ou novamente em mãos de Voldemort... O anel e o diário haviam sido destruídos. Havia a taça Huflepuff, e havia o sexto Horcrux, que eles imaginavam ser as tais pedras.

Hermione havia saído de tarde, estava indo na biblioteca pública do Ministério, a procura de mais coisas sobre as Pedras da Lua. Entrou repentinamente na sala onde os dois encontravam-se e sentou animada em um sofá de veludo. Levava um pesado livro de couro embaixo do braço, com as letras douradas intitulado “Estudo avançado na Magia - Curso Superior”. Pelo que Harry pode ver, as páginas estavam amarelas e manchadas, mas Hermione segurava o livro como se fosse uma criança recém-nascida.

-Achei isto hoje... Fala muitas coisas sobre Réias, e ainda tem uma pequena surpresinha na contracapa! –falou ela, entregando o pesado livro nas mãos de Harry. Este o abriu, e sentiu o cheiro de umidade. Lá estava escrito em tinta preta: “Doação de Victoria St. Clair – Ano de 1976”.

Harry olhou de esguelha para Hermione e percebeu que a amiga estava sorrindo.

-Ela estaria na idade de ir para a universidade... - concluiu ela.

-Existem universidades bruxas? –perguntou Harry.

-Não muitas... Não na Inglaterra ao menos... Pouca gente procura! Mas eu pesquisei muitos arquivos empoeirados de Hogwarts esta tarde, e percebi que ela de fato ia cursar ensino superior, na Universidade de Magia de Salem. Mas parece que de última hora ela desistiu, e foi trabalhar para o Departamento de Mistérios, então doou o livro.

-E você achou alguma coisa útil? –perguntou Rony.

-Bem, dentro do livro há algumas pistas do uso destas tais pedras. Parece que como a pedra mãe foi violada, sendo cortada dela dois pedaços...

-Os pingentes. –falou Harry.

-É isso mesmo, Harry, os pingentes... Bem, a pedra mãe não tem muita utilidade, se é que me entende... Perde muitos poderes... Por isso, para retomarem sua antiga forma, os fragmentos devem se unir novamente, formando uma única pedra.

-Por isso Voldemort os levou! –concluiu assombrado Harry. –Para transformá-las todas em uma só, e construir sua última Horcrux!

-Foi o que eu concluí! –falou Hermione, sorridente. –Mas há uma coisa que deve saber Harry... Não sei se você percebeu, mas está faltando uma folha aí... E no índice, está intitulada como o uso das pedras da lua e manuseio... Temos que achar esta folha! Parece ser importante! Harry?

Harry olhava fixamente o fogo crepitar na lareira, absorto em pensamentos.

-Acho que sei onde está esta Horcrux... –falou ele baixinho.

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