Mudança de hábito

Tonks abriu os olhos mas preferiu não se levantar da cama. Sabia perfeitamente onde estava: na sede da Ordem da Fênix. "Largo Grimmauld, número 12", pensou, recordando o bilhete que McGonagall lhe entregara.

Ela tinha escutado toda a explicação de Dumbledore. Tinha pensado. Tinha aceitado. Estava feito agora, ela era parte da Ordem, tinha responsabilidades e sabia o perigo que estava enfrentando. Com esse peso todo nas costas, só havia uma coisa que ela queria...

- Panquecas!

Tonks virou-se para a porta, com um susto. Molly Weasley estava parada diante dela.

- Café da manhã, querida?

- Ah, sim, claro. Já vou descer, senhora Weasley, obrigada.

Mas levantar da cama foi muito difícil. Ela não entendia ainda a reviravolta que sua vida iria sofrer, mas sabia que seria assustadora. Além do mais, trabalhar como agente dupla, ao lado de Dumbledore e ainda sim continuar no Ministério da Magia lhe deixou com dúvidas. Seria certo fazer isso? Tentou ficar em pé e começar a se arrumar para descer, mas seu pé ficou preso nas cobertas e...

- Ah! Que droga de chão frio e duro! - reclamou, ao cair.

Alguns minutos depois, já estava na cozinha. Percebeu que havia uma quantidade muito grande de comida para só três pessoas: ela, Molly e Sirius, que estava berrando com o que quer que fosse embaixo do aquecedor. O motivo do exagero foi logo esclarecido. Pela porta da frente, entraram o senhor Weasley e Lupin acompanhados de Rony, Gina, Fred, Jorge e Hermione. Os garotos, muito impressionados ainda com o local, foram levados para a cozinha.

Molly abriu um grande sorriso quando eles entraram e logo providenciou que todos recebessem grandes canecas fumegantes para compensar o frio da viagem. Todos olhavam curiosos para Tonks. Ela estranhou um pouco, pois ainda mantinha os cabelos como na véspera, discretos.

- Ah, sim, como fui esquecer, vocês ainda não se conhecem. Meninos, essa é Tonks, nossa nova companheira. Tonks, esses são...

Todos gostaram dela. Alguém mais novo, divertido, bem-humorado. Era de que precisavam após terem convivido com pessoas sempre preocupadas e com pressa, entrando e saindo d'A Toca durante o início das férias. Hermione e Gina divertiram-se muito tão logo descobriram as habilidades de Tonks em mudar de aparência.

- Então você entrou para a Ordem ontem? Aposto que fizeram uma seleção muito grande para chegarem a você. Sabe, papai diz que é algo muito sério e que todo cuidado é pouco. - disse Rony durante o animado café-da-manhã.

- Bem, digamos que as pessoas que estavam presentes aqui ontem sabem mais da minha vida que meus próprios pais!

- Não é bem assim. Nós não temos culpa se basta dar um pouco de corda para a senhorita nos contar sua história desde o primeiro ano de escola. - Sirius deu uma risadinha. - Como era mesmo o nome daquele seu namoradinho?

Tonks sorriu:

- Bem, vocês obviamente deram muita risada com as histórias.

A porta de entrada foi aberta mais uma vez. Snape entrou e também foi para a cozinha.

- Professor! Ora, não o esperava tão cedo, mas... sente-se, pode tomar o café conosco. - disse Molly, muito atrapalhada com o visitante inesperado.

"Não, não, não", murmuraram Rony, Hermione e Gina.

- Não, obrigado. Só passei para entregar uns relatórios a Arthur. - Snape entregou alguns pergaminhos ao senhor Weasley e, depois, virando-se para Tons, disse:

- Vejo que não nos abandonou. - fez uma pequena reverência com a cabeça, que Tonks retribui, corando levemente.

- Bem, Dumbledore deixou algumas coisas para você levar. Caixas, não sei o que são. - continuou Molly. - Tonks, será que você pode mostrar ao professor Snape as caixas que nós deixamos separadas perto da entrada ontem, antes de nos deitarmos?

- C-Claro, senhora Weasley. - Tonks ainda mantinha a cabeça um pouco abaixada. Seguiu pelo corredor com Snape. Ao passarem por um porta-guarda-chuvas "perna de Trasgo", a garota tropeçou e fez um grande barulho. Uma cortina na parede abriu-se e o quadro da senhora Black, mãe de Sirius, começou a berrar:

- Ralé! Escória! Mestiços sujos se atrevem a invadir minha casa!

Os berros continuavam. Molly e Arthur fizeram cara de impaciência, como se não fosse a primeira vez que aquilo acontecia. Lupin parecia um pouco constrangido ao olhar para Sirius. Este levantou-se rapidamente e correu em direção ao quadro. Os garotos Weasley e Hermione seguiram-no, curiosos.

Mas, no momento em que cruzaram a porta da cozinha para o corredor, pararam diante da cena. Tonks estava petrificada, colada na parede oposta. Snape, por outro lado, apontava a varinha para o quadro e berrava, um certo momento, sua voz ficou mais alta que a da velha Black:

- Um quadro não fará falta alguma nessa casa. Cale-se ou eu não terei pena de acabar com sua última lembrança por aqui. Atreva-se a chamar mais alguém de mestiço sujo e você desaparecerá!

Quando a mulher se calou, o professor virou-se para a porta, recolheu as tais caixas e saiu. Hermione e Gina correram para consolar Tonks, ainda em choque, com o coração disparado. Um susto enorme. Todos voltaram lentamente para a cozinha.

- Estranho. - disse Fred para Jorge e Rony- em quase sete anos, é a primeira vez que vejo Snape defender os mestiços. Bem, vocês sabem, ele é da Sonserina e já foi comensal da morte. Gosta do ideal de raça pura, não?! O que o faria mudar de idéia?

Um pouco depois deles, Hermione, Gina e Tonks voltaram para a cozinha.

- Não se preocupe, Tonks. Eu nasci trouxa, mas não fico irritada com essas coisas, não me afetam. Aquela mulher quis me ofender, mas não conseguiu.

- Não - disse Tonks-, a mestiça que ela estava xingando... sou eu.

Fred, Jorge e Rony olharam para ela. Um estranho olhar de compreensão passou pelos seus rostos.

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