Dali



- Foi uma surpresa encontrá-la aqui. - Snape tentou parecer sério e distante.

Tonks estava esperando uma atitude menos dura.

- A minha mãe... Ela insiste. - afastou-se um pouco dele.

- A reunião de hoje foi muito importante...

- Severo! - ela aumentou um pouco a voz e, escondido, Draco deu um sorriso. Mas, percebendo sua falta de cuidado, Tonks voltou a falar em voz baixa. - Se você veio aqui para criticar minha ausência na reunião, saiba que eu sou bem grandinha já e não preciso de bronca!

- Eu nem sabia que você estava aqui. - Mas, tão logo falou, pensou que Molly poderia desmenti-lo. - Quero dizer, sabia que você tinha vindo até aqui, mas não imaginei que fosse ficar por tanto tempo. Vim, na realidade, falar com Lúcio. Você... Sabe.

- Sei. Sei também que não deveríamos estar conversando porque, supostamente, acabamos de nos conhecer. Vamos para a sala de jantar antes que alguém nos veja aqui.

- Depois de você. Não acho que seria apropriado chegarmos juntos. - Ele abriu passagem para ela.

Tonks dirigiu-se para a sala tentando esconder sua irritação. Por que ele agia assim? Frio, irônico, distante. Não, ela não esperava que ele a tomasse nos braços e fugisse com ela em um cavalo branco. Mas nem ao menos uma palavra simpática.

Snape também não sabia por que agira assim. Não pensou. Apenas manteve seu ar formal e pouco amigável de sempre. Mas com ela não precisava ser assim. Não deveria.

- Perdeu-se no caminho para o vestíbulo? - disse Lúcio com uma risada. - Aparentemente, Draco também está perdido por algum lugar da casa.

Tonks, que já estava sentada à mesa, olhou para Snape, que estava ainda de pé. E se Draco tivesse visto? Mas o garoto entrou naquele instante e os dois membros da Ordem desviaram o olhar. O jantar foi servido.

O silêncio e o constrangimento eram sufocantes. Andrômeda ainda tentava conversar e ser amigável, mas Narcisa não gostava de contrariar o marido e Lúcio permanecia de cara fechada e não escondia o profundo desprezo pela cunhada e a sobrinha.

- São realmente lindos os quadros que você tem nesta sala, Narcisa. - disse Andrômeda.

Snape achou que esse poderia ser o momento de redimir seu comportamento com Tonks e disse, com voz suave e simpática:

- São fantásticos, sim. De um grande pintor bruxo.

- Eles me lembram um pouco os quadros de Salvador Dali. - continuou Andrômeda, com um sorriso no rosto e sentindo um grande alívio por achar atenção.

- Não é coincidência. Philippe Noitier, esse pintor, foi grande admirador de Dali. Talvez por isso seus quadros sejam só conhecidos no mundo bruxo, já que o mundo trouxa já tinha seu gênio.

- Ou então porque ele pinta cenas onde aparecem trasgos, elfos e testrálios. - comentou Narcisa, mal-humorada.

- Não necessariamente. Dali era um grande pintor surrealista. Ele também retratava cenas impossíveis, como cavalos de pernas gigantescas, relógios derretidos e figuras absurdas. Os trouxas não estranhariam os componentes de nosso mundo.

- Bem - Lúcio parecia irritado e impressionado -, meu amigo Severo. Não sabia que você conhecia tanto da arte trouxa. Não sabia, aliás - cerrou os dentes -, que você entendia de qualquer coisa relacionada aos trouxas.

- Lúcio, a arte é universal. Infeliz é o bruxo que não se dá ao prazer de conhecer Dali, Villa-Lobos ou Shakespeare.

Lúcio não respondeu. Mas Tonks sorria. Sorriria mais se não estivesse tentando se controlar. Severo Snape era um homem difícil, de comportamento variável. Imprevisível. Fascinante.

Mas sua alegria foi quebrada logo em seguida.

- Não acho novidade que o professor Snape conheça coisas vindas do mundo trouxa. Ou pessoas. Aliás, suspeito até que não tenha conhecido minha querida prima Ninfadora hoje. Ou a conversa que eles tiveram há pouco foi informal demais para estranhos. Afinal, são poucas as pessoas que eu ouço chamar o professor pelo primeiro nome. Aliás, além de Dumbledore e de papai, quase ninguém tem essa liberdade.

Snape fechou os olhos. Não poderia pôr seu disfarce em risco. Era pela Ordem.

- Acredito que a nossa pequena Ninfadora não conheça ainda os limites da conversa civilizada. - provocou Lúcio.

Snape abriu os olhos. Não podia também ser rude de novo com Tonks.

Mas não precisou. Ela falou antes.

- Ora, tio Lúcio. Você sabe que, no nosso departamento no Ministério, somos muito informais. Aurores podem ser bastante desligados quanto aos modos distintos de pessoas como você... O senhor. Eu realmente atravessei os limites. Perdoe-me, professor Snape, isso não irá se repetir.

- Não foi problema algum. A verdade é que a senhorita Tonks estava me perguntando algo sobre poções, já que se interessa pela matéria. Parece-me que foi uma suas maiores notas na época de escola...

- Foi a pior. - afirmou Andrômeda, displicente, enquanto comia um grande pedaço da sobremesa. - Foi difícil, ela estudava três vezes mais que as outras matérias. Mas passou, claro! Por isso ela pôde se tornar auror. - completou, com orgulho.

Tonks ficou roxa de vergonha. "Ai, mamãe, mamãe". Severo a olhava com um esboço de sorriso. Ela se espantou. Imaginou que ele fosse ficar furioso ao saber que ela não tinha jeito com poções, algo tão caro na vida dele. Mas, não.

- Bem, senhorita Tonks. Vejo que nossa conversa deverá então ser muito longa para que eu possa explicar-lhe tudo. - Ainda com o seu pequeno sorriso, completou. - A verdade, Lúcio, é que sua sobrinha estava me perguntando a respeito de algo que um de seus colegas falou hoje no trabalho e ela não pôde entender muito bem. Triste, no entanto, é saber que o nosso Draco, a quem tanto elogiamos hoje, estivesse escutando escondido. Poderia ter nos avisado se sua presença.

- Eu... - Draco estava extremamente envergonhado diante do olhar de censura de seu pai - Eu não ouvi nada. Só ouvi quando ela falou seu nome, professor.

Tonks suspirou. Era tudo o que ela precisava saber. E aquela noite interminável talvez agora não fosse tão difícil de suportar.

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