Salve a nós dois



A lareira iluminou-se e, pouco depois, Snape endireitava-se na cozinha do Largo Grimmauld. Ninguém à vista. Caminhou lentamente em direção à escuridão do corredor. Ouviu passos cautelosos em sua direção.

- Snape?

- Sirius? - apertou os olhos para ver se o enxergava.

- Você também foi chamado?

- Chamado? Não. Para quê?

- Não sei bem. Shacklebolt apareceu por aqui. Estava muito agitado. Disse algo que deixou Tonks muito perturbada, algo a ver com as defesas no Ministério. Você sabe, o Departamento de Mistérios...

- Sim.

- Em todo caso... Eles dois e Lupin foram imediatamente para lá. Não se preocuparam nem um instante em me explicar o que estava acontecendo. - Sirius parou, desconfiado. - Antes que você faça mais uma piada pela minha função de faxina na Ordem, eu...

- Há quanto tempo eles saíram? - foi a resposta.

- Um pouco menos de meia hora.

Snape foi novamente para a lareira. Não, pela rede de Flu, não. O Ministério podia estar “grampeado”. Resolveu ir a pé.

- Eu poderia ir também.

- Não, Sirius! - Snape usou um tom nervoso. Sirius sentiu-se mais uma vez ofendido pelo professor. Mas seu tom abrandou. - Você precisa ficar na retaguarda. Talvez tenha de ir até Harry.

Com Sirius menos irritado, Snape saiu em direção à entrada trouxa do Ministério da Magia.



***



Eram três comensais da morte. E três membros da Ordem.

Shacklebolt tinha conseguido evitar que o líder daquele grupo passasse para o departamento de Mistérios, mas encontravam-se próximos de lá. Lupin duelava incessantemente com um dos comensais e Tonks, com outro. Uma luta até então equilibrada.

Mas a porta da sala onde estavam abriu-se bruscamente e as vestes negras de um quarto comensal da morte esvoaçaram para dentro.

O quarto elemento, o que iria desequilibrar a batalha, logo tomou o lugar do comensal que duelava com Lupin e já começava a entregar-se. Não precisou de muito tempo para deixar o ex-professor desacordado.

Shacklebolt desviou-se por um momento do primeiro comensal contra o qual estava lutando, e que também já demonstrava sinais claros de esgotamento, para lidar com aquela nova e poderosa ameaça. Mas não agüentou por muito tempo. Caiu desacordado como Lupin.

No momento em que Shacklebolt caiu, um outro barulho preencheu o ambiente. Tonks.

A garota foi atirada contra uma parede por um golpe do comensal com quem lutava desde o início. O quarto elemento, o que havia chegado por último, gritou:

- Vamos, vamos. Vamos embora!

- Está louco? Agora que podemos chegar ao departamento. - berrou um dos outros.

O quarto comensal parou para pensar por um minuto.

- Vá então.

Dois deles correram por um corredor enquanto um terceiro, o oponente de Lupin, tinha sucumbido aos seus ferimentos.



***



Lupin piscou algumas vezes. Virou-se, ainda no chão, e tentou entender o que tinha acontecido. Ele havia sido nocauteado. Mas não um Estupefaça, muito menos um Avada Kedavra. Nem ao menos um Expeliarmus. Não, tinha sido um simples feitiço de desmaio. Não estava ferido.

Shacklebolt, a um canto, fazia as mesmas considerações.

Ambos se levantaram. No centro da sala, Tonks estava deitada no chão. Sobre ela, um comensal, o quarto. Sem o capuz. Snape.

- Como ela está? - Lupin tinha corrido para o local enquanto Shacklebolt observava o corredor que levava ao Departamento de Mistérios.

- A respiração está muito fraca. O pulso também. - respondeu Snape, com a voz falha.

Mas Tonks moveu-se. Abriu os olhos. Snape pegou-a nos braços, tentando levantá-la.

- Precisamos levá-la ao Saint Mungus. - disse.

Ela ia acenar que sim, quando se ouviu um barulho no corredor. Shacklebolt tinha ido impedir os comensais de chegarem ao Departamento. Bem sucedido, tinha conseguido faze-los saírem de lá correndo. Eles vinham correndo.

- Eles... Vão... Vê-lo. - Tonks murmurou, ofegante.

- Não importa. - Snape respondeu.

- A... Ordem. - Tonks engoliu com dificuldade. - Seu... Seu... Disfarce.

- Não importam. Não agora.

Ela balançou a cabeça, incrédula. A Ordem, a luta contra Voldemort. Tudo pelo que vinham se arriscando, pelo que ela estava naquela situação. Não podiam não importar nada.

- Não importa, Tonks. Se eu não puder salvar você, não vou salvar a mim também.

Tonks reuniu forças para colocar seus braços em volta do pescoço de Snape. Ele inclinou-se. Ela murmurou:

- Então salve a nós dois.

Lupin afastou-se dos dois, colocando-se de pé. Tinha entendido. Com a varinha em punho, foi para o corredor. Os comensais desarmados por Shacklebolt não foram alvos difíceis.

Tonks foi perdendo as forças. Seus olhos se fecharam e ela deixou-se ficar, molemente, nos braços de Snape. Mas, antes que perdesse os sentidos, enquanto suas mãos ainda escorregavam do pescoço dele, esbarrou em algo. Uma corrente, um pingente.

‘Ele está usando’, ela pensou. ‘Ele aceitou.’

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