Parte I



A sineta havia acabado de tocar, sinalizando o final da aula do professor Flitwick. Rony, como de costume, saíra correndo em direção ao Salão Principal, pois era a hora do almoço. Hermione colocara a mochila nos ombros e rumara em direção a porta, mas olhou para trás procurando por Harry e viu que o amigo estava agachado mechendo em algo no chão.

-O que houve? – ela perguntou, olhando para baixo e vendo todo o material do garoto esparramado ao redor.

-Não sei... Minha mochila simplesmente rasgou, acho que preciso de uma nova... – ele disse, meio confuso.

-Deixa eu ver... – Mione pegou a bolsa da mão do amigo – Reparo! – ela disse o feitiço e o rasgo da mochila se restaurou, embora a costura parecesse ainda um tanto instável.

Harry começou a recolher as penas e pergaminhos que haviam no chão. Hermione colocou o próprio material de lado e se agachou, sussurrando feitiços para limpar a tinta que havia derramado. Eles ouviram a porta bater atrás deles, e se apressaram.

-Vamos, Harry, todos já saíram. – Hermione apanhou novamente sua mochila e andou até a porta. Harry foi em seu encalço, segurando bem o material, como se temesse que fosse cair novamente.

Hermione segurou a maçaneta, mas a porta continuou imóvel. Ela puxou com mais força e nada... Harry colocou suas coisas em cima de uma cadeira para deixar as mãos livres e puxou para ver se conseguia, mas nem sua força parecia abrir aquela porta. Por fim, Hermione puxou a varinha e murmurou o feitiço:

-Alorromora! – mas fôra em vão. A porta parecia decidida a não sair do lugar.

-Oh não! – Hermione sussurrou.

-O que? – perguntou Harry, meio curioso com a aparência aflita da amiga.

-Harry, o prof. Flitwick deve ter lançado um feitiço de proteção na porta, quando saiu da sala... Nós estávamos agachados e ele não nos viu...

-Mas você sabe sair, não sabe? – Harry perguntou calmamente.

-Não há como... A porta só poderá abrir pelo próprio professor e pelo lado de fora... – disse Hermione, parecendo tristonha e jogando o material a um canto.

-Bom, parece que vamos ter que esperar então, não é? – Harry disse simplesmente, mas não parecia muito chateado com a idéia.

Hermione pegara um livro de dentro de sua bolsa, e se sentara no chão, se encostando na almofada que um dia fôra usada quando praticara o feitiço convocatório, com Harry, há algum tempo atrás.

-Ah, Mione! Você não vai fazer isto,vai? – Harry perguntou incrédulo.

-O que? – Hermione estava confusa.

-Vai ler e me deixar sem fazer nada nesta sala vazia!

Hermione, por um momento, pensara em sugerir que o amigo também fosse ler alguma coisa, afinal os NIEM’s estavam chegando e tudo o mais... Mas, por alguma razão, ela pensou que realmente era uma tolice estudar numa hora daquelas, e seu estômago estava começando a roncar de fome.

-Tudo bem – ela fechou o livro, com um pequeno sorriso – Podíamos conversar, o que acha?

-Ok – Harry pareceu surpreso, nem sempre era fácil convencer Hermione a parar de ler.

-Poderíamos falar sobre, bem... você sabe... – Hermione parecia insegura.

-Não, não sei. – E nesta hora a fisionomia de Harry se fechou. Ele sabia sim, mas não estava a fim de falar disso agora, e não com... bem, não com a Mione.

-Ela diz que sente muito... - Hermione disse baixinho, com um tom de súplica na voz.

-Ah! Parabéns pra ela! – Harry falou alto – Que bom, espero que ela sinta mesmo! – Hermione se calou, e Harry foi se acalmando, parecendo descobrir que não pretendera gritar com a melhor amiga. Teve uma pausa, e depois Harry continuou, falando calmamente.

-Sabe, Hermione... Acabei descobrindo que não me importo... – a menina pareceu surpresa e o olhou nos olhos. Então Harry continuou – O que senti, foi... raiva. Por saber que fui traído. Mas, não me dói porque não estou mais com ela, sinto até uma certa liberdade em relação a isso...

Hermione passou a mão nos cabelos do amigo, tentando consolá-lo. Depois de um tempo ela disse...

-Mas você poderia tentar perdoa-la. – ela sussurrou, temendo que o amigo voltasse a gritar outra vez. Mas, para sua surpresa, ele permaneceu calmo. Então ela continuou...

-Só não gosto de ver você triste, Harry... – Hermione completou, sinceramente. Harry queria dizer a ela que não estava triste, que na verdade se sentia bem feliz e que ela, Hermione, foi com certeza o seu maior apoio.

Ele teria dito isso tudo, se não tivesse percebido, de repente, que a distância entre o corpo dele e o da amiga parecia mínima. E apesar de isto nunca ter sido problema antes, neste instante seu estômago deu um salto, demonstrando que se Hermione se aproximasse mais um pouco ele...

-Estou morrendo de fome! – Mione disse, se afastando e parecendo ligeiramente agitada, e Harry se perguntou se ela sentira a mesma coisa que ele. – Harry, coloquei alguns sanduíches embrulhados na minha mochila, porque acordei tarde e deixei para comer no intervalo das aulas... Mas acabei esquecendo...

-Eu pego! – Harry se levantou tentando não pensar na sensação que sentira há dez segundos atrás. – O garoto abriu a bolsa da menina, revirou atrás dos sanduíches, os pegou, e então percebeu que deixara cair algo.

-Ah, desculpe, Mione, derrubei o seu trabalho... – mas Harry abrira para ler, e seu sorriso se desmanchara.

-Não é um trabalho... – Mione disse se aproximando. – É uma carta do..

-Uma carta do Krum. – Harry completou, entregando a carta à amiga. – Não sabia que ainda se correspondia com ele... – ele disse, e nem ele se entendeu. Não se lembrava de ter ficado algum dia se sentindo tão mal quando soube que Hermione e Krum tinham, tinham... tinham tido o que quer que fosse.

-Não nos correspondemos. – ela se apressou em dizer. – Esta foi a última carta.

Harry teria até perguntado porque esta seria a última carta que o Krum enviaria para ela se não estivesse carrancudo demais com seu ciúmes que ele não sabia de onde surgira, mas havia tomado conta dele. Hermione pegara um dos sanduíches da mão do amigo.

-Hum... está uma delícia. – ela disse, se encostando na parede novamente. Harry dera uma mordida no sanduíche também. Mas estava entretido em seus pensamentos, bem... não exatamente em seus pensamentos, mas na pessoa que os ocupava. Ele a olhou.

Não era mais uma menina, sem dúvida. Dezessete anos, cabelos cacheados caindo pelos ombros, um olhar tão doce que ele não podia definir... Ela era a única garota que nunca o havia decepcionado, nunca. Aliás, ela o surpreendia a cada dia, com seu jeito meigo, com sua forma de conhece-lo melhor do que qualquer outra pessoa, com sua preocupação pelo seu bem-estar... Com a sua inteligência.

Hermione sorriu, corando, ao sentir que ele a observava em silêncio.

-Hermione, o que houve entre você e o Krum? – Harry perguntou de repente, nem ele sabia como tivera coragem de perguntar isto.

-Hum... Ahm...- ela pareceu se engasgar - Não entendi, Harry, você pergunta se eu e o Krum chegamos a ter algum relacionamento?

-Sim. – ele disse simplesmente.

-Bom, no baile de inverno, sabe, do Torneio Tribuxo... N-Nós nos beijamos – ela corou violentamente nesta hora, parecia querer se esconder mais do que tudo.

-Certo... – foi a única coisa que Harry conseguiu dizer, parecia engasgado. Hermione percebeu que o amigo ainda a olhava curioso então continuou...

-Ele me chamou para ir com ele para a Bulgária, eu acho que você se lembra... Durante as férias de verão... Mas eu não fui, não podia ir deixando... deixando você numa hora daquelas. – ela corou novamente.

Harry deu um sorriso e olhou para os próprios pés.

-Então, nas férias para o sétimo ano, ele apareceu na porta da minha casa... Pedindo para eu namorar com ele. Eu disse que não, não daria certo. E ele foi embora, mas continuou me mandando cartas e eu sempre respondia com uma desculpa diferente, até que um dia eu respondi com a verdadeira resposta... E ele entendeu, dizendo adeus nesta carta que você acabou de pegar.

Harry ficou em silêncio. Era incrível como ele sabia tudo da melhor amiga, menos o seu lado sentimental. Ela parecia esconder dele tudo o que tivesse relacionado ao amor. A garota estava meio triste agora, parecia segurar o choro. Harry, por impulso, pegou em sua mão. Ela corou.

-Obrigado. – ele disse.

-Pelo que? – ela perguntou baixinho.

-Porque sempre deixou tudo de lado para vir me ajudar... – ele respondeu, sussurrando.

-Não precisa agradecer, Harry, eu... – ela começou a dizer, mas fora interrompida. Quando percebeu os dois já estavam se beijando, Harry passava a mão pelo seu rosto, ela pegava em seu pescoço, era um beijo tão doce, tão intenso... Harry sentia o cheiro da menina, um perfume de morango... Seu estômago dava voltas e mais voltas, ela deslizava a mão por suas costas, mas de repente, o soltou.

Os dois estavam sem fôlego. Hermione mais corada do que nunca, parecia querer correr envergonhada, mas não podia, pois estavam trancados.

De repente escutaram um barulho à porta. Claro, Harry pensou, deveria ter acabado o horário do almoço e o professor Flitwick voltava para a sua sala. Não agora... Ele queria ter mais tempo a sós com Hermione para esclarecer tudo! E ele tinha a impressão que se saíssem por aquela porta, Hermione não tocaria mais no assunto.

-Ah, vocês estão aí! – o professor sorria, andando com suas perninhas minúsculas em direção aos garotos. – Bem que o senhor Weasley veio me perguntar se não tinha visto vocês dois, eu pensei que talvez tivessem realmente ficado trancados... – ele disse pensativo.

Hermione ainda estava corada, pegou sua mochila, colocou nos ombros e disse...

-Obrigada, prof. Flitwick. – e saiu rapidamente em direção a porta.

Harry ficou ali, parado, observando a amiga se afastar... O garoto olhou confuso para ela e para o professor e depois saiu da sala.

-Ah essas crianças... – Flitwick falou, pensativo, sorrindo para si mesmo.

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