Palavras



Ofegante, Harry Potter aparatou entre plantas exóticas e estranhas num imenso jardim, na propriedade dos Lovegood. Olhando adiante, ele vislumbrou a enorme e estranha mansão térrea numa parte mas elevada do terreno, mas ao invés de se dirigir para a casa-sede, virou à esquerda, entrando numa espécie de pântano, com água até os joelhos, de onde podia se ver gnomos aquáticos todos enlameados, observando-o com ávido interesse. Ao cruzar o pântano, adentrou numa enorme clareira, rodeada por castanheiras muito velhas e retorcidas, e no centro dela uma enorme estufa de madeira com vários vidros coloridos: o laboratório de Luna.
Parou a meio caminho da porta circular, que estava entreaberta. Fechou os olhos por um instante, exausto, não o corpo, mas sim a mente. Luna era uma grande amiga sua, e sua morte arrebatou-o do mesmo jeito que a de Hagrid. Lembrou-se do dia em que a verba de seu projeto de pesquisas por novas cruzamentos de plantas mágicas fora aprovado pelo Departamento de Mistérios, há vários anos. A amiga convidara várias pessoas para celebrar essa conquista naquele mesmo local, mas ainda sem a construção do seu tão sonhado laboratório. Lágrimas silenciosas escorreram ao abrir os olhos, ainda vendo o sorriso de felicidade no rosto da amiga.
Decidido, fez menção de entrar na estufa, mas ao ouvir um estalio mínimo perto das castanheiras virou-se e sacou a varinha rapidamente, apontando para o local onde tivera a certeza que alguém aparatara.
- Sou eu cara!
- Rony?
- Isso! Lupin acabou de me contar. A Luna...Não, esse maluco tem que parar!
- Estou me arrependendo de ter aceito o cargo de professor Rony. Eu deveria estar nesse caso, acompanhando de perto, evitando essas mortes.
- Não fale assim, não é culpa sua dessa vez! Pelo menos, também estou metido nisso, você sabe.
Harry olhou para o amigo. Seus cabelos vermelhos pareciam se incendiar devido a luz alaranjada do entardecer. Sorriu meio sem jeito para ele. Sabia que Rony falava da eterna culpa que Harry sentia pelas vidas perdidas na Guerra. Mas seu maior medo era que esses acontecimentos tinham a ver com o que acontecera no passado. E tudo isso era ligado a ele.
- Bom... – Rony começou tímido ao sentir o prolongamento do silêncio - Já a levaram, bem..levaram o corpo dela. Foi hoje no começo da tarde pelo que Lupin me disse. McGonagall estava no Ministério, se encarregou de te avisar enquanto Lupin avisava a mim e a Hermione em casa...
- Mione estava na sua casa?
- Sim...Ela foi lá se distrair com as gêmeas, tem ficado muito no ministério depois das Festas, se afundado em trabalho...Em todo caso, ela disse que precisava passar na casa dela antes de vir pra cá. McGonagall lhe avisou...?
- Sobre a idéia de Lupin de virmos investigar depois dos aurores? Avisou...Bom, não podemos esperar por ela, vamos entrar?
Juntos, ele e Rony entraram na estufa, um enorme espaço sem divisórias com milhares de mudas de plantas, vasos, sacos de estrume de dragão, e todo tipo de instrumento mágico para a prática de Herbologia. Impressionados, caminharam em silêncio entre as milhares des coisas, muitas das quais jogadas e quebradas.
- Houve uma grande luta aqui.
-É, a Luna foi muito corajosa até o fim...
Eles chegaram até a mesa da amiga, num local no canto do laboratório. Inexplicavelmente todas as suas anotações estavam intactas, as gavetas em total ordem, o enorme arquivo atrás de sua cadeira intocável.
- Eles a queriam morta apenas...
A morte de alguém tão querido, pura a simplesmente fez Harry fechar as mãos de ódio. Quem poderia querer matar aquelas pessoas? Será que para atingi-los apenas? Será que a morte faria algum sentido para alguém?
-Harry? – Ele ouviu a voz de Rony o chamando ao longe. Virou-se lentamente para o amigo, que o olhava receoso.
- Eu estive pensando cara... – Ele começou, avaliando o silêncio do amigo como uma confirmação para continuar – E sei, bem..., e se tudo isso tiver haver com ele. Com...Voldemort?
Harry se segurou para não rir.
- Não Rony, definitivamente não. Ele está morto e derrotado. É passado. Mas isso também tem algo bem maligno.
- Como Horcruxes?
- Também acho que não seja isso. Mas mesmo assim, está se tornando um mistério muito grande. Precisamos parar isso. Precisamos...
Sua voz emudeceu ao perceber a presença de mais uma pessoa no local. Rony abriu um sorriso amigo e Harry pareceu se confortar. Era Hermione.
Mas uma Hermione enfurecida e muito vermelha. Ela vinha a passos largos em direção aos dois, a varinha em punho, a capa esvoaçando à suas costas. Rony deu um passo para trás mas Harry permaneceu firme; era fato que estava muito nervosa.
- Mione o q... – Rony começou mas Hermione o ignorou. Ela parou bem enfrente de Harry, a varinha apontada para ele.
- Chega Potter. Acabou, não sou auror, nunca tive intenção de ser, não vou mais me meter nessa história.
-Mas...
- Me ouça! Vou pegar minha filha de Hogwarts e vamos sumir, talvez para o sul, talvez para a França, qualquer lugar longe daqui.
- Não! – Harry disse, sua voz se exaltando. Ele via medo nos olhos dela, via desespero, mas não podia deixar isso acontecer. Rony se aproximou dela e a segurou pelos ombros, antes que ele tivesse essa reação.
- O que aconteceu Mione? nos conte! Tudo bem que você saiu meio abalada com a notícia da morte da Luna, mas não quer dizer...
- Não Rony! Você não entende? É perigoso para a Melissa, para a vida dela.
- Me diz agora o que aconteceu Hermione. – Harry disse, firme, o desespero dela surgindo dentro dele. Ela estava com medo por Melissa. E conhecia muito bem Hermione pra saber que era algo realmente sério.
Ela se desvencilhou dos braços de Rony e olhou para ele, suplicante.
- Snape... – Ela sussurrou. Rony emitiu um grunhido ininteligível mas Harry não lhe deu ouvidos. Seu cérebro trabalhava a todo vapor mas não conseguia encontrar uma lógica. “O que Snape tem haver com tudo? Será que...? Não, não pode ser!” ele pensou, certo que a menção do nome do bruxo fosse algo impossível, já que ele desaparecera 2 anos após a derrota de Voldemort, em conseqüências ainda muito vivas no cérebro de Harry. Mas apesar de tudo, ele demonstrou ser um aliado.
- Como? – foi a única palavra que conseguira pronunciar.
- Ele...Ele estava me esperando em casa, quando voltei da casa de Rony. E, bem...ele sabe o que está acontecendo.
- Então Snape é o maluco que anda fazendo tudo isso! – exclamou o amigo, como se resolvesse um difícil diagrama lunar. Harry o olhou, incrédulo.
- Não, não é ele. Bom, na verdade ele também não sabe. Ele apenas me mandou te dar um recado Harry. – Ela disse, sua voz sumindo. Estava mais calma, mais decidida, mas seus olhos demonstravam um desamparo maior que já tivera até aquele momento. Ela o olhou por longos instantes, a escuridão entrando na estufa. Não podia deixar de notar como estava frágil e bela, e como queria a abraçar por muitos e muitos minutos, longe dos olhos de um espantado e – não seria ilusão dele, cobiçosos? – olhares de Rony.
- O que ele quer?
- Pra você não quebrar seu voto. Porque, se quebrar, a Melissa morrerá! - Ela disse rapidamente, lágrimas agora brotando da face dela. Harry estava atônito, não sabia o que falar.
- Você sabe que não posso...
- Mas você quer, eu sei que quer!
- E do que adianta? Adianta eu querer? Você me impediu Hermione! VOCÊ! – Ele começou, e uma raiva e um ressentimento descomunal começou a crescer dentro dele. A atitude egoísta de Hermione, as mortes, a impotência dele, o aparecimento repentino de Snape, a ineficiência de Rony começaram a sufocá-lo, e ele precisava colocar pra fora, antes que explodisse.
- Eu fiz o que era pra ter sido feito! Você não acha que eu sofro? – Ela estava muito vermelha, o penteado sempre impecável se desprendendo aos poucos. Ele olhou de esguelha para Rony que se aproximava dos dois imperceptivelmente, embora continuasse calado e com um tom esverdeado na pele. Teve vontade de lhe dar um soco.
- VOCÊ SOFRE? Ah, Hermione! Você sofre? E EU? Você a teve perto todos esses anos, você cuidou dela e ela a ama! AMA! Eu...
- Harry... – Rony disse, num tom de aviso, mas ele não lhe deu atenção.
- E eu a amo! Ela é MINHA FILHA!
- HARRY! – Rony disse mais alto, agora indo em direção ao amigo. Ele se afastou.
- SUA FILHA HERMIONE? SUA FILHA???!!!!! – Ele perdera a cabeça, Rony o segurou, tentando lhe tapar a boca, mas se afastou como se tivesse recebido um choque. Hermione também percebeu, e correu para Harry, mas não conseguiu chegar a tempo. - A Melissa é MINHA FILHA também!
Mal terminou a frase e começou a sentir um arder enorme que começara pelos lábios e adentrava pela boca, descendo pela garganta até chegar no peito. Era um dor cruciante, algo semelhante a maldição cruciatus, porém sua cabeça era tomada por imagens de uma criança de pouco mais de 1 ano, seu corpo sem vida coberto por sangue, os gritos de uma mulher, a voz sussurrante de Severo Snape dizendo “o feitiço é mortal Potter, esteja disposto a pagar o preço.”
Durou apenas alguns segundos, porém lhe pareceram horas. Aos poucos, a dor foi cessando e ele se viu deitado no chão, pingando suor. Rony o ajudou a se levantar, Hermione estava por perto, muito abalada.
- Eu...Eu não sabia que o encantamento era assim, tão...horrível... – Ela começou baixinho.
- Isso..foi só...o...Aviso Primário... – Harry disse, ainda ofegante, os músculos do peito doendo.
Ela virou de costas para ele. Rony fez menção de se aproximar dela, mas com um gesto Harry o parou.
- Vocês sabem o quanto eu tentei impedir esse encantamento! – a voz de Hermione saiu baixa mas muito clara. – Eu...Eu só concordei com essa loucura porque sabia que o amor que você sentia por ela era maior que sua vontade de ser reconhecido como pai Harry. Mas você não sabe o quanto me dói saber que esse maldito encantamento pode matar, não uma, mas duas das pessoas que mais amo na vida...
Aquelas palavras, apesar de toda a dor e angústia que carregavam, pareceram acender algo de bom que a muito estava adormecido dentro dele. Um sentimento que aparecera em meio à dor e a decepção, mas um sentimento puro e lindo que Harry sentia por Hermione.
- Mione, podemos resolver...
- Não podemos Harry! Você sabe...Por isso que eu e Melissa temos que estar o mais longe possível de você. Porque eu quero que os dois vivam!
E sem dizer mais nenhuma palavra ela correu para fora, sem olhar pra trás. Rony a seguiu, e voltou alguns instantes depois. Harry permanecera no mesmo lugar.
- Ela aparatou Harry. Você não acha que passou dos limites?
- Não, não acho.
Os dois se encararam. Rony estava diferente, parecia frio e muito sério.
- Eu sei, não deveria ter invocado o Aviso Primário...
- Não deveria mesmo.
- Nós sabíamos muito bem que um dia isso ia acabar acontecendo. Bom, depois falamos com ela, primeiro precisamos ir atrás de Snape.
Ele rumou para a saída do laboratório, acendendo a varinha, mas se deu conta que Rony não o seguiu, permanecera parado. Exasperado, ele recuou alguns passos.
- Você não vem?
- Não.
Harry piscou várias vezes. Será que ele tinha escutado mesmo isso?
- Não?
- Não Harry, você vai atrás de Snape para resolver coisas antigas. E temos coisas mais urgentes a fazer.
- Ah sim, como o que?
- Como a vida de Hermione e da Melissa!
Harry recuou mais passos ainda.
- Você acha que não me preocupo com elas? – Ele o encarou, mais sério do que nunca. – Você acha que não me preocupo com ELA?
- As vezes não como deveria...
- Rony, você ta louco cara?
- Só acho que tem horas que você quer resolver tudo de uma vez. E existem prioridades agora, você não viu o desespero da Mione?
- Não sei se você percebeu mas ela não quer que eu me aproxime dela!
- Você já ficou longe dela mais do que deveria Harry...
- Não fui eu que fiquei longe dela quando a Vivian apareceu e...
Harry sabia que tinha ido longe demais. Por um instante pensou que Rony fosse lhe estuporar, mas ao invés disso chegou perto dele e lhe deu um soco no rosto, deixando tão atordoado quanto se tivesse lhe aplicado um estuporamento.
Com o nariz sangrando, Harry olhou em volta e constatou que o amigo havia desaparecido. Com a sensação estranha de dever cumprido com um misto de arrependimento, ele concertou o nariz quebrado e desaparatou, surgindo numa estradinha de terra estreita e mal cuidada. Andou alguns passos, já com a noite totalmente escura e fria como companhia. Acendeu a varinha e a ergueu alguns centímetros a frente, e se deparou com uma placa de estanho muito velha onde se lia “Godric Hollows – Residência dos Potters.”

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E aí gente, gostaram? Reta final da Fic hein?! Fiquem ligados!

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