Miôni Gandhi




Miôni Gandhi era uma garota muito feliz que nasceu na Bahia, mas foi morar em Londres. Seus pais eram filhos de Gandhi e, matematicamente falando, isso fazia com que ela também fosse. Miôni era muito inteligente: já lera vários livros, sabia o alfabeto grego de cor, sabia boiar com a pranchinha na piscina, sabia imitar uma foca, sabia fazer batata-frita igual à do Mc Donalds, sabia desenhar o Pikachu, sabia comer biscoito Cream Cracker (crêmi cráqui) com manteiga sem fazer barulho, sabia dar um salto triplo Daiane dos Santos de Costas, sabia subir num coqueiro, sabia pilotar um Boeing 747 e sabia controlar qualquer pessoa na hora que quisesse... porque sabia fazer vudu.

Seu poder de persuasão também era muito grande, mas não porque ela tinha habilidade e sim porque ninguém aturava ela enchendo o saco:

-Moço, eu quero um espetinho de camarão, dois churros, um Corneto, um salmão ao molho de alcaparras, três bib-esfiha de carne, um picolé de tamarindo, um milkshake de laranja, beterraba e molho inglês e quinze óculos escuros das meninas superpoderosas. Tudo pra viagem.

-São três mil e quinhentas libras.

-Ô moço, eu não tenho esse dinheiro todo não, me dê de presente, vaaaaaai!

-Ah, não!

-Vai, por favor, por favor!

-Tu acha que eu vou desperdiçar três mil e quinhentas libras?

-Por favor, por favor, por favor!

-Nããããããão!!!

-Por favoooooor!

-Chega, menina! Leve logo e suma daqui!

Certo dia, seus pais lhe deram uma passagem pra ela passar as férias em Salvador.

-Tchau minha filha, boa viagem!

-Tchau mãe, não esquece de cuidar dos meus fofuxos!

Os fofuxos de Miôni eram sete hamsters de estimação que foram pintados de rosa-choque em uma de suas experiências. Eles se chamavam Chester, Mike, Rob, Mr. Hahn, Brad, Phoenix e Hamtaro.

Miôni Gandhi entrou no avião e sentou do lado de um menininho muito pequeno (era menor que ela) de mais ou menos quatro anos de idade que estava chorando como um porquinho indo pro matadouro. Seus pais o consolavam:

-Filhinho, quando você voltar eu compro a coleção inteira dos DVDs dos Cavaleiros do Zodíaco!

-Buáááááááááá!!!!!!

-Eu também compro uma montanha–russa pra colocar no seu quarto!

-Buáááááááááááá!!!!!!!!

-Eu compro um elefante colorido!

-Buáááááááááááá!!!!!!!!

-Eu compro o boneco do Barney!

-Legal!

Miôni colocou sua bolsinha do Garfield no colo e sentiu que havia algo se mexendo dentro dela. Com medo de que fosse algo estranho, achou melhor não abrir e desviou sua atenção para o menininho:

-Pokémon, temos que pegar, isso eu seeeeei! Pegá-los eu tentarei; vai ser grande a emoção! Pooooooookééééééééémo-on!!!

Oito horas depois, quando o menininho parou de cantar e quando todos estavam dormindo, a mochilinha do Garfield sacodia tanto que Miôni estava tendo dificuldade para segurá-la. O garotinho nem percebeu e abriu um pacote de Cheetos sabor requeijão:

-Eu vou ganhar o boneco do Barney, yes! Lá lá lá lá lá lá! E você não vai ganhaaaar!

Mas isso foi o cúmulo. Nessa hora o zíper da bolsinha se abriu e sete bolinhas peludas rosa-choque saíram correndo pra dentro do pacote de Cheetos.

-Fofuxos!

-Ahhhhhhh!!!!

-Calma, eles não mordem!

-Não é isso, é que eles vão comer o meu tazo do Dragon Ball Z!

-...

-Massa! Como é que eles ficaram dessa cor?

-Você gostou?

-Não. É só pra eu tomar cuidado pro meu mico-leão-dourado não ficar igual!

-...

-É claro que eu gostei!

-Ah...

Miôni ficou alegrinha porque era raro alguém dizer que gostou de uma experiência sua...apesar de aquele garotinho parecer meio afetado.

-É assim: você pega um litro e meio de água oxigenada, duas colheres de sopa de mel, um colgate tripla ação, uma bacia cheia de água destilada com sal grosso...

-O quê, tudo isso? Se eu não tiver um desses ingredientes em casa eu posso substituir por algum que não seja parecido?

-...dois pacotes de fermento para bolo, um cebion efervescente e papel crepom da cor que você quiser pintar o seu pet. Aí você lava o pêlo dele com shampoo Monange...

Distraída, Miôni não percebeu que seus hamsters estavam fugindo. Mas ela começou a perceber a partir do momento em que viu uma placa: “Proibido o transporte de bichinhos fofos de estimação”.

-Senhoras e senhores passageiros, a partir de agora estaremos servindo o seu lanchinho. Joguem os chicletes fora, mordam as balas e coloquem o babador porque se cair farelo no chão sou eu que vou ter que limpar e vocês vão se ver comigo!

Quando Miôni recebeu o lanchinho (dois pacotes de bolinho Ana Maria e uma garrafinha de Yakult), viu Rob batucando na saída do ar-condicionado e Chester gritando e pulando em cima de uma mala do Piu-Piu. Miôni raciocinou de um jeito que só ela sabia:

-Êta! Eu tenho que dar um jeito de resgatar os meus fofuxos!

E, quando todos terminaram o lanche (menos ela), subiu na poltrona, sacodiu os braços como um boneco inflável de posto de gasolina e gritou:

-Quem quer bolinho Ana Mariaaaaa?!

-Eeeeeeeeeuuuuu!!!!- disseram todos os passageiros do avião, inclusive os hamsters. Miôni estava tendo dificuldades em colocá-los de volta na bolsa porque duzentas pessoas estavam brigando pelo bolinho Ana Maria, derramando farelo na sua cabeça. Quando foi parar debaixo do banco, guardou seus pets na bolsa enquanto ouvia o grito histérico da aeromoça (“vocês vão ter que lavar o chão!”). Mas ela perdeu a paciência e resolveu sair logo dali. Pegou seu kit “Vudu: lições para sua autoproteção”, preparou o que devia ser feito e se concentrou:

-Vuuuuuuuuuuuuudu!

Miôni Gandhi foi parar em Salvador, no meio do Pelourinho.

-Hum... cadê a minha mala? Ah, deixa pra lá, o importante é que meus fofuxos tão aqui...

Miôni subiu a ladeira do Pelô enquanto ligava o seu walk-man (I-Pod é muito caro) e colocava o CD pirata do Coração Melão:

-Pira pirá pirô; pira pirá piro-ô; pira pirá pirôôô; pirô em Salvador!

Cantando a música que estava no volume máximo, Miôni não era capaz de ouvir uma outra musiquinha mais ou menos asiim:

-Eu amo você; você me ama; somos uma família feliz; com um forte abraço e um beijo que te dei; meu carinho é praaaaaaa vooooocêêêêêêê!!!!!!!

Alguém vestido de Barney com a máscara deformada na frente animava uma multidão junto com o Olodum, que batucava no ritmo da música. Miôni não podia ouvir nada, mas pôde perceber que muitas pessoas dançavam ao redor de Barney e do Olodum com os olhos estranhamente vidrados. Ela não se importou e foi comprar cocada sambando no ritmo de “Pira pirá pirô”. Foi inevitável o fato de tomar um susto do tamanho do Elevador Lacerda quando um buraco negro se abriu no chão e puxou Miôni Gandhi em destino a um lugar que ninguém sabia qual era...

-Aaaaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!

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