A Terra das Sombras




Capítulo dedicado à minha amiga Bia Ribeiro – ou Liz Lupin, como preferirem – que completou dezesseis anos no dia 29 do mês de Outubro, a qual eu nem pude desejar um feliz aniversário! E venho, por meio deste mero capítulo, tentar te homenagear em toda sua grandeza, baixinha genial!



Capítulo 17
A Terra das Sombras


Algo a incomodava. Abriu os olhos, e sentiu o conforto de sua cama na casa dos Weasley. Estava quente debaixo das cobertas, aparentemente sem nenhum problema. De repente, uma luz ofuscou seus olhos e ela fechou-os automaticamente. Abriu-os novamente e fitou aquele fenômeno desconhecido preocupada.

- Tracy? – indagou uma voz masculina perto dela.

- Ah, Harry – ela suspirou. – Que é que está acontecendo? Onde você está?

-Aqui, ao seu lado – ele apagou a varinha. – Fale baixo, não quero que ninguém acorde e faça perguntas incômodas. Levante.

- Que horas são? – ela indagou num sussurro.

- Meia noite. Se você não se apressar, demoraremos para chegar lá.

- Em que lugar?

- No Ministério, para salvar o Sirius. Você estava insistindo bastante para ir junto, então resolvi chamá-la. Ninguém sabe que resolvi ir agora.

Tracy levantou-se pesarosa, amaldiçoando o momento em que concordara com aquela idéia. Agora estava com sono, frio e ainda com muito medo de toda aquela aventura.

- Tem mesmo certeza que quer ir? Não é muito arriscado, Harry? – ela perguntou.

- Absoluta. Nós já decidimos isso – ele respondeu em tom repreensivo. – Arrume-se enquanto eu escrevo um bilhete para os Weasley.

Ela abriu o malão de Hogwarts, onde ainda estavam suas coisas, e agasalhou-se. Não queria mais passar frio enquanto andasse naquela moto, causadora de toda sua preocupação.

Desceu para a cozinha, silenciosa, e encontrou Harry em um canto. Este terminou o bilhete e fechou o tinteiro, indicando o pedaço de papel a Tracy.

Sra. Weasley,

Tracy e eu demos uma saída esta noite. Fomos resolver um assunto de suma importância. Não vou falar o que é para que a senhora não fique preocupada, só saiba que nós estamos bem e vamos nos cuidar direito enquanto estivermos fora. Talvez a gente volte com uma grande surpresa, logo pela manhã.

Até mais,

Harry.


- Estaria ótimo se não fosse deixá-la preocupada – comentou Tracy, colocando o bilhete em cima da mesa, num lugar bem visível.

- Espero que nós possamos voltar antes que ela precise lê-lo – falou Harry. – Está pronta? Então vamos.

Eles dirigiram-se até a porta e saíram do casarão. Caminharam o mais rápido que puderam entre a neve para chegar até onde tinham deixado a moto, e a tiraram de lá. Harry subiu e Tracy, logo atrás. Harry fez o feitiço de Desilusão, e guardou a varinha dentro da jaqueta.

- Harry – sussurrou Tracy, já com a voz abafada por causa do frio. – O Ministério não vai implicar com os feitiços que você está fazendo?

- Não, pois aqui é a residência de bruxos adultos. Eles jamais vão saber se os feitiços foram feitos por mim, por você, ou pelo Sr. Weasley...

Mais calma e confortável, Tracy segurou-se na cintura de Harry e sentiu a moto levitar enquanto cerrava os olhos. Aos poucos sentiu que ganhavam muito mais altura e velocidade, pois o vento aumentava.

- Sabe a direção em que devemos ir, Harry? – perguntou ela.

- A moto sabe, tem um sistema ótimo para isso.

- Você andou a estudando? – impressionou-se Tracy, enquanto tentava ajeitar-se mais comodamente naquele banco.

- É lógico. Posso parecer, mas não sou tão maluco assim.

Ele empinou a moto, fazendo com que os dois escorregassem pelo banco e quase caíssem, arrancando de Tracy um grito que cortou os ares.

- Eu não tenho tanta certeza disso – ela resmungou ofegante.

Harry riu.

- Não faça mais isso, é desnecessário – falou Tracy, nervosa.

- Tudo bem – o garoto concordou, ainda rindo.

O restante do percurso foi mais calmo, sem tantos sustos. Algumas vezes eles se desequilibraram, afinal, estavam com um pouco de sono e muito mal acostumados com o tratamento da Sra. Weasley, que os mimava muito.

Passaram muito frio durante o tempo em que ficaram sobrevoando aqueles campos. Apesar de estarem acostumados com a neve, aquele vento gélido deixava a pele de ambos ressecada e, às vezes, influenciava nos movimentos que Harry dava ao veículo.

Num determinado momento, quando eles já sobrevoavam a cidade há algum tempo, um dos botões luminosos que ficavam próximos à direção começou a piscar.

- É algum problema, Harry? – indagou Tracy, imediatamente.

- Não – respondeu o garoto, com a voz estranha. – Só indica que é aqui que devemos descer.

Com outro movimento pouco delicado, Harry fez com que a moto voltasse a descer, tocando o chão poucos – e assustadores – minutos depois.

As luzes, que eram minúsculas vistas de tão longe, tornavam-se grandes à medida que chegavam ao chão. Já dava para discernir o que eram as luzes de postes, as luzes dos faróis de carros acesos e até mesmo as que eram de janelas, apesar dessas últimas serem bem poucas.

Harry fez um sinal para que Tracy se aproximasse dele. A noite ainda continuava muito escura, apesar de muitas luzes estarem ligadas. Tracy voltou a acompanhar o garoto enquanto ele entrava, seguido por ela, em uma comum cabine telefônica trouxa.

- Bem... vamos lá, vamos lá. Seis, dois, quatro, quatro, dois – discava Harry, enquanto pronunciava os números em voz alta.

Eles se encararam firmemente por alguns instantes antes de ouvir uma voz dentro da cabine.

“Bem vindos ao Ministério da Magia. Por favor, informem seus nomes e o objetivo da visita.”

- Harry Potter e Tracy Mignonette – apressou-se Harry em informar. – E... bem, nós viemos para salvar alguém.

“Obrigada”, disse a voz tranqüila. “Visitantes, por favor, apanhem os crachás e os prendam no peito das vestes”.

Dois crachás saíram da fenda de devolução de moedas. Tracy apanhou o seu, com certo desagrado, fitando o Tracy Mignonette, Missão de Salvamento com a face levemente rosada.

“Visitantes do Ministério, os senhores devem submeter-se a uma revista e apresentar suas varinhas para registro na mesa da segurança, localizada no fundo do Átrio.”

A cabine transformou-se em um elevador, e eles começaram a descer. Rapidamente tudo foi ficando muito escuro e todas as luzes da cidade sumiram. Quando o elevador parou e as portas dele se abriram, os garotos deram de cara com um enorme salão vazio, com lareiras por todos os lados e uma fonte solitária ao centro.

- Amigos mágicos? – riu Tracy. – A quem o Ministério está querendo enganar?

Harry riu também, enquanto enfeitiçava a moto para novamente levitar ao lado dele. Ele indicou a Tracy um outro elevador, e eles entraram por ele.

- As coisas estão muito fáceis. Não deveria ter alguém por aqui? – indagou Tracy.

- Sim, deveria – falou Harry. – Mas não tendo é melhor.

Os dois riram enquanto entravam no elevador e observavam suas portas se fecharem. Harry apertou o botão de número nove. Eles começaram a descer, e o elevador fazia muitos barulhos estranhos. Eles se entreolharam e saíram para o grande corredor escuro quando uma voz anunciou “Departamento de Mistérios”.

Harry adiantou-se e abriu a porta preta e simples. Os dois entraram. Tracy observou muito atentamente os detalhes daquela sala, jurando que se pedisse uma sala assustadora à sala do sétimo andar em Hogwarts, seria exatamente aquela que ela revelaria. As luzes azuis em candelabros bruxuleavam pelas paredes e as pequenas portas sem maçanetas a sua frente davam um ar estranho ao local.

- Temos que tentar abrir as portas – falou ele. – Quando entrarmos na correta, saberei dizer qual é.

Tracy assentiu e fechou a porta no momento em que Harry pensou em alertá-la para que não o fizesse. A sala girou arrancando um gritinho da garota que se apressou em acompanhar Harry na primeira porta.

- Alorromorra! – o garoto ordenou à varinha.

A porta abriu-se, revelando uma espécie de aquário imenso, repleto de cérebros que se movimentavam agilmente.

- Não é essa – falou Harry. - Fragate!

Um imenso “x” vermelho postou-se em frente a porta, antes da sala girar novamente. Harry disse a mesma coisa às três seguintes, apenas ao olhá-las. Tinham encontrado uma a qual Harry não conhecia. Dentro dela havia várias plantas sem catálogo. Estavam separadas em várias redomas de vidro. Algumas tentavam quebrar essa redoma para poderem atacar as outras, mas isso parecia não ser possível.

Finalmente, eles chegaram à sala correta. Entraram rapidamente por ela.

- E agora? – indagou Tracy.

Ela desceu os degraus e aproximou-se do véu. Ao longe, parecia ser algo muito simples e sem importância. Mas de perto atraía atenções para si, e muita curiosidade para o que seria e qual era a utilidade do objeto.

- Vamos passar pelo véu – falou Harry. – Com a moto.

Decidida a se arriscar totalmente, ela subiu os grandes degraus de pedra novamente e, antes de subir na moto, fitou o véu negro que parecia estar sendo embalado por uma brisa invisível.

Agarrou-se em Harry e fechou os olhos, respirando profundamente. A idéia de que poderia ser o último suspiro de sua vida não deixou de atormentá-la por alguns instantes, nos quais ela apenas ouviu o ronco da moto e o vento com o qual já se habituara. Ainda com os olhos fechados, apreciou aquele momento, sentindo que agora o veículo cortava os ares com extrema velocidade, descendo em direção ao arco.

Tudo mudou quando eles ultrapassaram aquela barreira. O vento já não mais existia e os sentidos foram todos alterados. Os batimentos cardíacos desaceleraram completamente, e toda a exaustão da viagem pareceu passar. Antes, era angústia e aflição, depois, era calmaria e paz.

O ar tornou-se leve, como se uma pluma guiasse seu corpo para onde ela mais desejasse ir. Soltou as mãos da cintura de Harry, ou melhor, o próprio ar fez isso. A conduzia pelos claros caminhos a sua frente. Ela caía lentamente ao chão, não tinha mais o amparo da moto, nem de nada. Descansou a cabeça sobre um colchão de maciez inconfundível.

Todos os movimentos eram feitos lentamente, com muita calma. Não porque a garota o quisesse, mas sim por causa daquele ar estranho que predominava no local. Abriu os olhos. Viu-se completamente envolvida por uma massa de um azul extremamente claro, parecia não ser feita de nenhum material conhecido.

Sentia-se bem. Suspirou, inalando aquele ar novo, aquela sensação nova.

- Harry? – chamou ela.

Não via nada a sua frente, que não fosse o ar. Nem a moto aparecia em seu campo de visão.

- Harry? Você está aí?

Nada, o silêncio prevaleceu.

- Harry? Comigo está tudo bem, deu tudo certo – ela respondia com certa alegria, apesar de, como tudo naquele lugar, expressar muita calma. – Você está aí?

Deu um passo à frente, deixando de lado o medo de explorar tudo que havia ali. Os movimentos continuavam lentos, como anteriormente. Olhou para cima e pode distinguir uma abertura no que seria o teto do recinto. Era por ali que eles sairiam, logo mais.

Repentinamente todo o bem-estar esvaiu-se, e o medo apoderou-se do pensamento da moça. Olhou ao redor o mais rápido que o local lhe permitia e, muito ao longe, viu a moto jogada no chão. Harry não estava por perto. Ela começou a caminhar lentamente, apesar de querer correr para alcançar seu objetivo. Algo a impulsionou e a fez descer o que seria um andar abaixo naquela dimensão, mas sem fazê-la cair. Apenas sentiu o choque da mudança, e assim pode associar ao que havia acontecido. Via-se próxima do objeto, e abaixou-se para contemplá-lo.

Esticou a mão direita para pegar o guidão e tentar levantar a moto, para que ela pudesse tentar conduzi-la até a saída. No momento, pouco se importava com o que aconteceria. Se Harry não quisesse voltar com ela, deixá-lo-ia ali.

Tentou encostar a mão no guidão para puxá-lo, mas, surpreendentemente, sua mão atravessou-o. E foi aí que ela percebeu. Deu um enorme pulo e fitou, boquiaberta, a mão prateada que agora tinha. O braço também estava igual, bem como o corpo inteiro.

- Harry! – berrou. – Harry! Por Merlim, onde você está!?

A garota ofegava, olhava ao redor e buscava uma saída para onde correr.

- Harry! Harry! Harry! – gritava cada vez mais alto, as lágrimas vinham-lhe aos olhos, deixando-os marejados.

Nada ainda. Só silêncio. Aquele lugar era realmente muito estranho, por mais que Tracy gritasse, nada dava eco.

- Harry! Por favor, me responda! Onde está!?

Começou a chorar copiosamente. Como sairia daquele lugar, sendo que só subiria aos andares superiores daquela dimensão se a própria dimensão quisesse? Ela não podia encostar-se em nada e estava sozinha.

- Harry! – gritou novamente, sem perder as esperanças. – Por favor, Harry! Por favor... Por favor...

Repentinamente o garoto materializou-se em sua frente, como do nada.

- Tracy – dava para notar certo alívio em sua voz. – Aconteceu alguma coisa?

- Harry, eu... – ela continuava a chorar. – Harry, olhe!

Ela apontou um dos dedos para a outra mão prateada.

- Eu morri Harry! Eu estou morta! Eu morri!

Harry fitou o próprio corpo. Notou que estava na mesma situação que Tracy, morto. A sua coragem sumiu durante um momento. Sentiu suas pernas tremerem e tudo ficar pavoroso.

- Tracy, não sei o que dizer – ele falou. – Será que... que estamos mortos mesmo e que jamais vamos – ele hesitou – voltar?

- Não sei, Harry – ela jogou-se sobre o amigo, num grande abraço.

- Olhe, uma vantagem. Podemos nos encostar – disse o garoto, dando um sorriso nervoso. – Já é uma grande coisa, não? Agora pegamos à moto e voltamos para o Departamento de Mistérios.

- Não dá. Não dá, nós não podemos encostar na moto – ela choramingou.

- Seja forte – falou Harry, tentando demonstrar mais coragem do que realmente sentia. – Nós vamos achar uma solução. Vamos, é só pensarmos um pouco.

- Como vamos encontrar Sirius aqui? – Tracy indagou para ninguém.

- Vamos arranjar um jeito, qualquer um. Mas para sairmos daqui.

- Vamos deixar o Sirius? – ela indagou.

- Temos que deixar. Eu... eu sinto muito, mas temos que deixar. É para nossa própria segurança.

Aquele não era Harry. Ele jamais deixaria de arriscar sua vida por alguém que gostasse muito ou por algum de seus objetivos. Estava estranhando o rapaz, mas não falou nada. Precisava muito do apoio dele naquele momento.

- Por que será que não podemos encostar na moto? – perguntou Harry.

- Quem sabe por que ela não está na mesma matéria que nós – sugeriu Tracy. – Eu quero voltar Harry! Não quero ficar aqui, não quero!

- Nós vamos voltar, só espere alguns instantes até arranjarmos um jeito – disse Harry. – E está tudo bem, nós não devemos estar mortos mesmo, pode ser apenas um feitiço ou algo assim.

- Não sou tão otimista – choramingou Tracy. - Por favor, precisamos fazer algo. Temos que sair daqui, imediatamen... O que foi aquilo?

Harry virou-se imediatamente para observar o que Tracy tinha visto logo atrás dele.

- O quê? – perguntou.

- Foi uma sombra. Algo muito estranho – ela falou, virando a cabeça rapidamente para todos os lados a fim de achar o que vira.

- Uma sombra?

- Sim. Tem mais alguém aqui, Harry. – ela fitou o amigo com uma expressão fúnebre.

- Quem será? – ele também pareceu preocupado. – Quem está aí?

Uma nova sombra passou pelo local, como se andasse em círculos. Era realmente isso, uma sombra de ser humano, tinha as mesmas formas, mas distorcidas. Não possuíam olhos, boca, nem relevo. Não passavam de sombras.

- Agora eu vi! – balbuciou Harry. – O que será isso?

- Não sei. – Tracy falou lentamente, temerosa, pois mais duas sombras haviam passado pelo mesmo local juntas.

Desta vez três sombras fizeram o círculo. Quando estas três sumiram, mais oito passaram pelo local. Tracy e Harry fitavam tudo boquiabertos, sem saber o que dizer ou como agir. Tracy apertou firmemente o braço de Harry, machucando-o, mas este estava tão compenetrado em observar os novos seres que sequer percebeu.

- Precisamos sair daqui – falou Harry. – Acho que elas não são boa coisa.

As sombras chegavam cada vez mais perto, e os garotos esquivavam-se mais delas, dando passos para trás. De repente, uma exerceu força sobre-humana sobre o pescoço de Harry, que sentiu que jamais voltaria a respirar. Sua garganta doía, e ele ofegava buscando ar.

- Optometricus – berrou Tracy, tirando a varinha do bolso e a apontando para a sombra que dominara Harry.

Uma luz extremamente forte engolfou a sombra e a fez sumir no ar.

- Obrigado – sussurrou Harry, com a voz fraca. – O que são elas?

- Não sei. Já li sobre algo parecido, mas não lembro o nome – ela resmungou. – Veja, são cada vez mais! Precisamos nos livrar delas! Ajude-me! Optometricus!

Harry fitou a garota por uns instantes e, tirando a varinha da capa, apontou para as sombras.

- Opt... Optometricus!

Várias sombras foram engolfadas e também sumiram, como a primeira. Mas conforme eram destruídas, pareciam multiplicar-se. Eles continuavam a lançar os feitiços e o número delas pareceu ir só aumentando. Vez por outra alguma se aproximava mais, numa tentativa de aprisionar, igual a primeira que atacou Harry.

Luzes tomavam as sombras, e estas começaram a emitir um grunhido estranho. Não se distinguia mais o que era dito desses barulhos, nem formas e cores, porque as luzes eram realmente fortes. Harry e Tracy sequer sabiam mais para onde apontavam as varinhas ao lançar o feitiço.

- Harry, como está? – gritou a garota.

- Nada... bem... – ele ofegou. – Está difícil controlá-los. Ah!

- O que foi?

- Ela... me... pegou... ah!

Tracy cerrou os olhos e abriu caminho para onde a voz de Harry parecia vir. Sentiu uma mão em seu pescoço e lançou o feitiço por cima do ombro no mesmo instante.

Avistou Harry sendo levado por três das sombras. Gritou e tentou correr para perto dele. Mas elas movimentavam-se muito mais rapidamente, não dando nem chance de Tracy aproximar-se delas.

Como última esperança, e num ato desesperado, Tracy relaxou o corpo e deixou que as sombras a enlaçassem e a levassem para seu destino. Ela não sentia seu toque, apenas a respiração sendo dificultada. Fechou os olhos, sem tentar revidar, e seus sentidos se perderam nos próximos instantes.


Tracy sentiu novamente o ar entrando em seus pulmões. Inspirou profundamente, apreciando o que lhe causava todo o bem estar. Abriu os olhos lentamente, observando tudo ao seu redor.

Estava num lugar estranho, em que pequenos detalhes o faziam ser pior que o anterior. Havia vários cadáveres espalhados pelo chão, alguns se deteriorando e outros já eram somente ossos. Ela tinha completa certeza de que eles exalavam um cheiro terrível, mas não conseguia senti-lo – felizmente!

Virou o rosto para não ter que fitar mais aquelas criaturas e levantou-se. Sentia-se bem, como se nada tivesse ocorrido. Mas lembrava-se das sombras. Imediatamente, olhou para seu próprio corpo mais uma vez. Também permanecia da mesma maneira. Ficou aliviada de certa maneira.

Próximo a ela estava Harry, ainda sentado no chão. Já estava acordado também e parecia muito sobressaltado e interessado pelo que estava vendo. Tracy o viu levantar-se e aproximar-se de alguns cadáveres e ossadas, como se os examinasse.

- O que será que significa isso? – perguntou a garota.

Harry virou-se para ela e arregalou os olhos, como se tivesse acabado de perceber que a garota estava ali.

- Não sei – ele respondeu, virando para os corpos quase no mesmo instante.

- Será que... que entraram como nós e – ela hesitou – e nunca mais saíram?

- E nunca mais conseguiram sair – Harry comentou. – Esse é um verdadeiro motivo para nos preocuparmos.

Tracy estremeceu.

- Para onde foram aquelas sombras?

Harry balançou ombros, em sinal de dúvida.

- Lembro-me de pouca coisa. Só que estava lá, lançando aquele feitiço que você estava usando e de repente uma delas conseguiu me pegar. Depois, fui arrastado por um momento e desmaiei, eu acho. Bem, fiquei desacordado.

- É o mesmo que eu lembro – falou a garota. – Precisamos sair daqui.

- Sim, precisamos. Mas não será tão fácil. Se eles não conseguiram... – ele indicou os cadáveres – ...vai ser muito difícil para nós também.

- Há um jeito. Eu sei que há.

- Precisamos conseguir pegar a moto. Depois disso será muito simples.

- Temos que achar o caminho de volta, então – Tracy disse.

Harry olhou para os lados, confuso.

- Por onde começamos? – ele sorriu nervosamente.

- Por qualquer lugar. Que horas são?

- Faltam quinze minutos para as quatro. – Ele mostrou-se levemente sobressaltado. – Deveríamos voltar para A Toca antes do amanhecer, mas acho que não será mais possível.

Tracy baixou a cabeça. Também estava extremamente preocupada com o que aconteceria. Por estar a um bom tempo acordada, começara também a sentir fome. Mas iria se conter, precisava se conter.

Eles tomaram um caminho às escuras e seguiram por ele. Caminhavam lentamente, pois apesar de não existirem paredes, nem chão e nada do gênero, sabiam que o lugar guardava inúmeras surpresas. Estavam também extremamente atentos a um novo ataque das sombras, já haviam sofrido o suficiente nas mãos delas. Havia ainda certa preocupação acerca de qual seria o motivo para elas não os haverem matado ou feito algo igualmente ruim.

Repentinamente, eles avistaram um local diferente dentro de toda aquela imensidão. Parecia realmente ser uma sala, havia paredes de concreto e também uma porta de madeira comum. Harry e Tracy entreolharam-se e, como se concordassem que tentar entrar ali seria a melhor escolha a ser feita, giraram a maçaneta. A porta abriu-se com muita facilidade e os dois entraram.

Tudo era normal e se tivessem acordado ali, não teriam a menor dúvida de que estavam fora do véu. As paredes eram totalmente brancas e pareciam receber algum tipo de iluminação desconhecida, pois estavam muito claras. Em uma parede, havia um grande quadro com um longo texto escrito.

Harry aproximou-se e leu em voz alta:

Sala de Reuniões


14 de agosto de 1489

Para ter acesso à sala de reuniões dos Inimigos Perpétuos, basta atravessarem este arco com o véu sempre que o verem em sua frente. Eu, Thomas Sloug, o criei com base nas mais antigas idéias, suposições e feitiços das trevas.

Toda vez que ele surgir como mágica diante de si, entre. É encantado para aparecer diante de todos que forem convidados a participar da reunião. Os convidados são de um grupo extremamente seleto e já formado há muito tempo, ao qual não serão efetuadas mudanças. O arco reconhece esse grupo e, se alguém que não for dele entrar na sala de reuniões, um grande exército de Clófusos o atacará.


- Clófusos? – indagou Harry. – O que serão esses?

- As sombras, Harry. As sombras que nos perseguiram – explicou Tracy, fascinada com o que estava lendo. - É magia negra muito antiga e pouco conhecida atualmente. Observou a data? Essa sala existe há mais de quinhentos anos! Eu e Hermione já estudamos sobre esse grupo de bruxos. Porém, não fazíamos idéia que fossem eles os criadores do véu!

- Ah, Tracy, me explique melhor, sim? – pediu Harry, encarando a garota com expressão confusa.

- Claro – ela disse. – Olha só, Thomas Sloug e seus colegas Edson Owf, Matt Sclareg, Ludovic Formman e Paul McTavish foram os maiores causadores dos problemas de magia negra da Idade Média. Formavam um grupo que atuava somente de dia e reuniões eram marcadas num lugar secreto logo após todos os acontecimentos. Eles sempre escapavam e nunca ninguém achou onde era esse lugar. Agora nós sabemos que era aqui, atrás do véu. Lógico, eles provavelmente marcavam as reuniões em uma hora em que os duelos e roubos já haviam terminado e ela aparecia em frente a eles. Simples, não?

- Fantástico! – admitiu Harry.

- E os Clófusos são essas sombras, também magia negra antiqüíssima. É esplêndido. Elas são seres das trevas que tinham a missão de guardar esse lugar para que ninguém entrasse aqui e descobrisse os segredos do grupo nem ouvisse as reuniões. Eu estou impressionada, é muita inteligência junta – falou a garota.

Os Clófusos irão atacar os estranhos e levá-los até uma câmara feita exatamente para que eles esperem até o bruxo responsável chegar. Essa é a única forma de morrer estando aqui, a não ser que fique tempo suficiente para morrer de fome. Fugir é impossível, nosso exército está muito bem montado.

Sempre que entrarem aqui, irão se sentir diferente, muito leves. Não há com o que se preocupar, é normal. Seu corpo vai mudar de forma, ficar mais inchado e transparente. Você poderá achar que morreu, mas não. Todos os seres que entrarem aqui vão ficar assim e, se conseguirem sair vivos, voltarão normais à Terra.

- Espere aí! – gritou Harry, enquanto eles liam. – Isso significa que...

- Sim, Harry. – afirmou Tracy, com um sorriso enorme no rosto. – Sim! Sirius deve estar por aqui! As sombras não matam, esperam que o bruxo das trevas responsável venha e mate o intruso!

- Claro, e isso ainda explica o porquê de tantos cadáveres pelo local! – disse Harry. – Foram mais de quatrocentos anos sem aparecer ninguém!

- Até o Ministério recolher o véu e escondê-lo aqui no Departamento de Mistérios, não é? Aí deve ter diminuído consideravelmente este número.

- Sim...

Os dois estavam empolgados com o que estavam descobrindo e, ao mesmo tempo, extremamente fascinados com todas aquelas informações. A mente de ambos não conseguia processar tudo tão rapidamente e queria saber mais e mais detalhes.
- Precisamos voltar para aquele lugar – falou Harry, rapidamente. – Precisamos voltar para lá, encontrar Sirius.
- Pelo que eu me lembro, antes você queria sair daqui o mais rápido possível – falou Tracy, sorrindo.
- Antes eu achava que estava morto – ele também sorriu.

Para sair, o procedimento é muito mais simples do que tenho certeza que você está imaginando. Basta apenas recolher tudo que é seu – senão não sairá – e concentrar-se, pensando somente na saída, ou na entrada, deste lugar. Se algum objeto seu não tiver passado pela transformação que ocorre aos seres humanos que aqui entram, basta lançar-lhes um “Lence Wirme” e ficarão na mesma matéria. Então, feche os olhos e quando os abrir precisará apenas fazer um pouco de esforço físico para esgueirar-se para fora do véu. Pronto, estará fora dele. Só não lhe garanto em qual lugar, pois ele muda constantemente nesse termo. Sabem que ele é enfeitiçado para fugir das autoridades bruxas e de pessoas que possam prejudicar o andamento das nossas reuniões, e, por isso, os Clófusos as atacam também.

Thomas Sloug,
Líder dos Inimigos Perpétuos.


- Por que estou achando isso tão fantástico? É horrível – comentou Tracy, virando o rosto.

- Sim, realmente é tenebroso – concordou Harry. – Muito engenhoso também, eu diria. Veja, por esse pequeno texto podemos ter a certeza de que eles pensaram em absolutamente todos os detalhes.

- Bem, não exatamente em todos – comentou Tracy. – Estamos vivos, não estamos? E estou também com a leve impressão de que sairemos assim daqui. E não fazemos parte desses Inimigos Perpétuos, nem nada nesse sentido.

- As sombras… desculpe,… os clófusos – ele corrigiu-se ao receber um olhar de Tracy, que não pensava duas vezes quanto aos termos reais das coisas. – falharam.

Tracy e Harry se entreolharam e caíram na gargalhada, um sinal também de muito alívio provavelmente pelo pior já ter passado.

- Vamos, me acompanhe – falou o garoto.

Os dois caminharam novamente em direção ao lugar de onde tinham vindo. Estavam lentos, como antes. Mas agora estavam animados, pois sabiam que não morreriam a não ser que não conseguissem sair daquele lugar. Iriam achar Sirius e, com sua esperteza, sairiam de lá.

- Como vamos encontrá-lo? Se ele tivesse acordado, já teria nos visto – comentou Tracy.

- Agora você me assustou – respondeu. – Pensando dessa maneira, Sirius pode estar aqui em absolutamente qualquer lugar! Achá-lo pode ser bem mais difícil do que eu estava imaginando.

- Bem, e se...

- E se...?

- Harry, vocês estavam duelando quando ele caiu, não estavam? – Tracy indagou.

- Sim, ele estava duelando com aquela comensal sórdida, a Belatriz.

- E ele recebeu um feitiço antes de cair aqui?

Harry esforçou-se para lembrar. Ficara tão nervoso quando soubera que Sirius nunca mais sairia do véu, que sequer pensara em lembrar-se direito da cena, caso precisasse no futuro.

- Eu acho que ele recebeu um Estupefaça no peito. Mas não lembro direito, não consigo me lembrar bem desses detalhes. – ele falou.

- Estupefaça? E se... e se ele não recebeu nenhum Enervate?

Harry pareceu entender o que ela quis dizer no mesmo instante.

- Ele ainda não acordou.

- Então não precisou comer, dormir, nem nada. Então está bem, só desacordado – disse Tracy.

Harry sorriu, não cabendo em si tanta fora a felicidade que sentira quando ouviu a sugestão de Tracy e concordou com ela.

- Vamos, depressa! Ajude-me a olhar todos os corpos – ele pediu.

Os dois adiantaram-se rapidamente pelo local, chegando a sala em que estavam anteriormente de forma rápida e prática. Tracy logo se pôs a olhar para todos os cadáveres, apesar da angústia e ansiosidade de Harry fazerem-no olhar muito mais que ela.

Tracy só conhecia Sirius por fotos, e das antigas, o que ela tinha certeza que a impediria de identificá-lo de imediato caso o visse. Mesmo assim, trabalhava com afinco para achá-lo. Depois de alguns minutos, ela ouviu Harry gritar.

-O que houve, algum problema? – ela perguntou rapidamente ao encontrá-lo.

- Sirius! Ele está ali – Harry apontou para um dos cadáveres no chão.

- Será que nossas suspeitas irão se confirmar? – Tracy indagou, encarando o amigo.

- Espero que sim – ele aproximou-se de Sirius. – Enervate!

Foram os instantes mais ansiosos de toda a vida de Harry. Os dedos das mãos de Tracy tremiam incontrolavelmente e ela mal conseguia empunhar firmemente a varinha.

Um sorriso de extremo alívio surgiu no rosto de Harry quando o homem a sua frente abriu os olhos lentamente. O garoto cerrou os olhos e sentiu uma lágrima fluir pela sua face. Ofegava muito e ajoelhou-se diante do padrinho.

- Sirius? – chamou com a voz fraca.

- Harry – ele falou, sentando-se também. Olhou atônito para os lados. – Onde estamos?

- No lugar onde se reunião os Inimigos Perpétuos. – Harry explicou, rindo em meio às lágrimas. – Dentro do véu, Sirius.

- Dentro do véu? – estranhou. – Harry, explique-se. A última coisa da qual me lembro é que estávamos todos lutando contra os Comensais no Ministério, eu com Belatriz e, de repente, fui atingido por um feitiço...

- E caiu aqui, dentro do véu. O véu do Departamento de Mistérios.

- Precisamos voltar a lutar! Estamos perdendo – ele disse e levantou-se rapidamente.

- Sirius, acalme-se – disse Harry. – A luta já acabou. Faz muito tempo. Depois que você caiu, disseram-me que havia morrido e não havia chances de tirar-lhe daqui.

- E os Comensais?

Harry sorriu.

- Vejo que não irá se acalmar enquanto eu não lhe disser onde estão, não é? Presos em Azkaban. Dumbledore chegou, ajudou-nos e todos foram presos. Com todos acreditando que você estava morto, voltamos para casa. O verão inteiro passou e nós retornamos a Hogwarts.

- Por Merlim! Que dia é? – ele perguntou.

- Estamos em vinte e oito de dezembro. – falou Harry baixinho.

Sirius ficou boquiaberto.

- Como sobrevivi aqui durante tanto tempo?

- Eu e Tracy temos uma sugestão – ele apontou para a garota que até agora apenas observara a cena de longe.

- Tracy...? – indagou Sirius.

- Mignonette. É francesa, começou a estudar conosco apenas este ano. É uma grande amiga e extremamente confiável. Muito inteligente também. Sem ela eu não teria conseguido chegar aqui e, muito menos, teria forças para continuar a buscar-lhe.

Tracy sorriu, encabulada.

- Prazer, Srta. Mignonette – cumprimentou ele.

Apesar dos cabelos longos, vestes rotas e sujas, Tracy não conseguia deixar de notar um charme inconfundível no olhar do homem.

- O prazer é meu, Sr. Black.

- Bem, eu e ela achamos que você não morreu, nem nada, pois estava sob o efeito do feitiço Estupefaça.

- Hum, bem provável – ele disse, pensativo. – Então eu caí no véu e todos acharam que eu estava morto. Nunca ninguém resolveu entrar aqui e me procurar. Como, então, vocês conseguiram? Não os menosprezando, mas são apenas garotos.

- Foi assim...

E Harry passou a contar tudo, desde o dia em que ele e Tracy encontraram a moto na casa de Hagrid até o momento em que começaram a procurar Sirius dentro do véu.

- Fantástico! – ele falou, quando Harry terminou a história. – Quer dizer, então, que estamos na maior obra-prima de Thomas Sloug!

- Estamos – disse o garoto. – O Ministério vai gostar de saber disso, não vai?

Sirius o encarou.

- É melhor que ele não saiba, Harry. Nem ele, nem ninguém. – falou o homem. – Imagine que maravilha Voldemort e seus Comensais continuarem achando que estou morto?

- Seria ótimo, Sirius! – concordou Harry, sorrindo. – O que acha, Tracy?

- Que precisamos voltar para a casa dos Weasley – ela falou, já ficando um pouco nervosa na menção do Lorde das Trevas.

Os outros dois sorriram.


- Lance Wirme! – disse Tracy apontando a varinha para a moto.

Nada mudou na aparência da mesma. Todos se entreolharam e Harry fitou seu padrinho por alguns instantes.

- Minha moto! Há quanto tempo – Sirius aproximou-se dela e a abraçou.

- Quer pilotá-la e sentir novamente o vento no rosto? – perguntou Harry.

- Lógico, eu... Há quanto tempo esperei por isso! Harry, meu afilhado, muito obrigado. Nem sei o que dizer, como lhe agradecer, como...

- Agradeça à Hagrid por ter cuidado dela com carinho – ele o interrompeu. – e já ficarei feliz.

Sirius subiu na moto, Harry em seguida e Tracy logo atrás. O homem encantou-a para que ficasse maior – não que isso fosse realmente possível, – e para que todos nela coubessem.

No momento em que a moto foi ligada, Harry gritou avisando aos dois que um novo exército de Clófusos adiantava-se para eles.

- Vamos, concentrem-se no local de saída, garotos! – gritou Sirius.

Tracy esforçava-se, sabendo que aquela era a única chance de saírem dali. Abriu os olhos num determinado momento e viu que as sombras estavam muito próximas a eles. Jurou sentir uma mão pesada em seu ombro antes de sentir a estranha sensação de estar caindo de algum lugar muito alto. Seus pés eram puxados para baixo e o corpo estava sem resistência alguma. Sentiu um leve baque e abriu os olhos, enquanto dava uma das mãos a Harry e o trio saía vitorioso de dentro do esconderijo de Thomas Sloug.


A viagem de volta foi tranqüila, na qual eles só tiveram cuidado mesmo dentro do Ministério, pois o dia estava clareando e algum maluco por trabalho poderia chegar lá a qualquer momento e deparar-se com uma garota quase sem melanina na pele, um garoto que deveria estar no colégio e um homem morto.

O céu tornou-se um parque de diversões, onde Sirius fazia as piores acrobacias e arrancava gritos escandalosos de Tracy e sorrisos de Harry. Num piscar de olhos, a casa dos Weasley já podia ser vista da altura em que eles estavam e um mostrador luminoso na moto indicava que chegaram ao seu destino.

Eles pararam em frente aos jardins d’A Toca. O sol já estava grande por detrás dos morros e o céu muito claro, ao contrário dos minutos atrás em que estivera meio termo. Tracy e Harry desceram da moto e fitaram Sirius por um instante. Estavam cansados, suados, machucados e ainda conseguiam admirar muito o homem à sua frente.

- Que foi? – ele perguntou.

- A Sra. Weasley irá lhe achar muito magro – comentou Harry. – Prepare-se para comer muito nos próximos dias.

- É justamente o que pretendo fazer! – ele passou a língua pelos lábios, sorrindo. – Você é sempre assim, tão calada, Mignonette?

- Tracy, por favor – ela pediu. – Bem, eu geralmente sou um pouco, mas não tanto. Conheço sua história e, pelo que Harry me contou, é realmente um milagre estar aqui ainda. É um grande bruxo, como pude perceber com meus próprios olhos, e já lhe admiro muito.

Sirius sorriu, pomposo.

- Quando tinha sua idade, Tracy, ouvia isso de milhares de garotas todos os dias.

A garota riu com o comentário. Porém, não queria ficar ali por muito mais tempo e também não gostaria de ter que se explicar para a família Weasley pelo que fizera. O dia já tinha amanhecido, o sol já ajudava a derreter a neve que caíra na noite anterior e ela precisava estar bem longe daquele local quando tudo viesse à tona. Não se sentia da família para participar de um momento daquele.

- Vou subir. Quero aproveitar o pouco tempo que tenho para passar com meus pais – ela falou e abriu a porta da Toca.

Harry fez um sinal à Sirius e este também entrou, imitando os garotos.

Muito silenciosamente, Tracy subiu as escadas. Sentiu os pés doloridos e uma estranha fraqueza a dominou por alguns instantes. Abriu a porta do quarto em que estava dormindo e entrou calmamente, juntando suas coisas com um simples feitiço dentro da sua mala.

Deu um adeus silencioso à Hermione e à Gina, sorrindo para as garotas – ou pelo menos o que achava serem elas naquele quarto escuro e repleto de cobertores. – e tornou a descer aquela escada pela última vez.

Sirius comia e tomava café sobre a mesa da cozinha. Harry apenas o olhava, como se não acreditasse ainda que ele pudesse estar ali. Sentira muita falta do padrinho e tê-lo em sua companhia novamente era muito bom.

- Harry, estou indo – avisou Tracy em voz alta, com a mala enfeitiçada ao seu lado.

- Mas... já? – ele indagou.

- Preciso passar esses últimos dias na casa de meus pais, estou com saudades deles e sei também que eles ficarão muito chateados se eu não for – ela falou tudo muito rápido e o faminto Sirius a fitou rapidamente.

- Tudo bem. Vai... como?

Tracy piscou o olho direito, com um sorriso misterioso tomando os lábios.

- Nem queira saber – disse.

A garota aproximou-se de Sirius e apertou-lhe a mão calejada.

- Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Black – ela não conseguiu poupar a cortesia que sabia que aquele ser, no momento imundo, merecia.

- O prazer foi todo meu, Tracy.

Tracy sorriu e dirigiu-se à Harry.

- Nos vemos na estação – falou.

- Irei acompanhá-la até lá fora – disse o garoto, abrindo a porta para que ela saísse.

Os dois caminharam lentamente pelos jardins, até onde seria a entrada da Toca. Quando deu por si, Tracy estava sendo abraçada com muita força por um garoto alto, de cabelos negros e olhos verdes, que estava com a voz falha.

- Muito obrigado, Tracy. Muito obrigado mesmo, nem sei como lhe agradecer. – ele mal conseguia falar. – Sabe como Sirius é importante para mim e, apesar de termos trabalhado em conjunto dentro do véu, você foi de suma importância para tudo que aconteceu. Obrigado mesmo, obrigado...

- De nada, Harry, de nada. – ela sorria enquanto sentia uma lágrima vir a seus olhos. – Já me contentei com os agradecimentos.

- Você já vai? – ele perguntou, soltando-se do abraço.

- Vou. Mas nos veremos rápido, dentro de apenas dois dias.

- É, nos veremos. Até... até mais, então.

- Até, Harry.

Eles sorriram um para o outro e Harry virou-se, caminhando um pouco e entrando na cozinha da Toca novamente. Tracy sumiu no ar com o farfalhar de sua capa.



N/A: Olá, fiéis leitores! Tudo bem? Eu estou bem, apesar de um pouco decepcionada com os poucos comentários que recebi pelo capítulo anterior. Estão me abandonando, é, seres sádicos?

Para quem ainda continua acompanhando a fic, tenho um esclarecimento a fazer. Harry e Tracy conseguiram tocar em suas varinhas porque, quando eles entraram no véu, elas estavam consigo. No momento em que isso ocorreu, houve a separação dos corpos dos garotos e da moto, o que justifica eles não terem podido encostar-se a ela, no início. Okay?

Este foi um capítulo extremamente difícil de ser escrito. Desde o início da fic, eu já sabia que iria escrevê-lo. Mas, fui deixando para depois pensar nos detalhes. Quando vi, estava diante do capítulo 17, no qual seria narrado justamente o que eu achava demorar tanto para chegar. Sim, foi muito difícil. Principalmente por que eu não tinha idéias e elas teimavam em não vir. Demorei, no mínimo, três meses para escrevê-lo. E só consegui contando com a ajuda de minha amiga Jessica e também da minha adorada beta reader, Maluada Black, que ajeitou o capítulo para mim depois de “pronto”, também dando algumas dicas sobre o que havia ficado estranho.

Não vou me demorar muito hoje, só gostaria de dizer que agradeço realmente a todos que comentaram aqui na fic neste último mês. Como já disse, estou um tanto triste devido ao número de comentários ter diminuído, mas mesmo assim não vou deixar de reconhecer o que os verdadeiros leitores dessa fic estão fazendo por mim. Obrigada mesmo! E continuem comentando!


Manu Riddle

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